11/07/2008

Um mundo de sensações acumuladas em um disco

Jornal do Estado/Bem Paraná

O paulistano Fábio Góes mostra as músicas do álbum que marca sua estréia solo em show hoje no Wonka, com Ruído/mm

Divulgação

Fábio vem com uma banda para mostrar seu repertório autoral pela primeira vez na cidade

Adriane Perin

A banda Ruído/mm promove hoje mais uma edição de suas sextas no Wonka e, outra vez, proporciona aos curitibanos conhecer um artista brasileiro da orda dos alternativos que tem talento de sobra. O paulistano Fábio Góes surpreendeu com um belo disco, lançado em 2006, que repercutiu, na verdade, ao longo de 2007, e agora chega por aqui, ao vivo. Sol no Escuro vem marcado a ferro e fogo por uma personalidade introspectiva que afugenta obviedades, com um cantar super pessoal e um resultado que, até pode causar um certo estranhamento, nas primeiras audições, para depois ceder o espaço à sensação deliciosa que é conhecer uma obra que provoca algo, que exige mais atenção e obriga a gente a apertar o o play vezes seguidas... Foram cinco anos até ele chegar a Sol no Escuro. Esta é a estréia solo de Fábio que “levou o tempo que precisava para saber o que queria”. Isso porque seu gosto veio primeiro para a produção, na qual atua profissionalmente. “Nunca quis me juntar a outros músicos para tocar, gosto de fazer arranjos. Quando encontrei a primeira música, que dá nome ao disco, tudo se encaminhou”, comenta ele que trabalha em um estúdio de produção de som, finalizando trilhas sonoras e publicitárias. Assim foi que acabou tendo crédito nas trilhas de filmes como Abril Despedaçado e Cidade de Deus.

O disco gerou expectativas em relação ao segundo, que já está sendo criado. Ele garante que não vai mudar seu jeito de fazer música por conta disso. “Vou fazer a mesma coisa, se der errado deu, não vou mudar porque deu certo. Tenho que apreciar, se a tiver tocando algo e achar bonito, é isso”.

São vários os ecos que se nota fazendo a personalidade desse rapaz de 32 anos. No começo, com o vocal em falsete, parece coisas brasileiras dos anos 70, no clima, na ambientação. Mas também, me remete à produção contemporânea, tanto da alternativa, quanto a chamada nova MPB. “Sem Mentira” por exemplo, é um dos destaques (“eu já fingi ser/muito melhor/hoje aprendi ser/ pior/mas sem mentiras/só de viver no seu mar, de merecer seu olhar...”). e remete à Beto Só. Sopros sutis, como sussuros que desvendam entregas apaixonadas; “resenhas” de dias a dias, como em “Automàtico”, (“Ando sonhando tão pouco/ que eu nem sinto falta de pensar/ se nesse mundo/ nessa sala, nessa rua/nessa casa/ alguém precisa de mim/ eu sempre acho que não/ automático”); confissões de desvelo ou de esquecimentos para onde esses dias turbulentos nos empurram. Em algum momento, em alguma das audições, cheguei a lembrar do melhor de todos os discos do Lobão, A Noite. Em “Estatística”, um certo clima meio hip hop ronda a canção. A música dele vai ganhando a gente , sempre mantendo a delicadeza dos detalhes instrumentais, exigindo aquela atenção que comentei.

Algo intrigante na música de Fábio Góes, é que é possível sentir ali os vestígios de outras sonoridades, mas não se consegue chegar a uma conclusão fechada sobre de onde vêm aquilo, que às vezes soa tão familiar. E, enquanto isso, o disco vai te ganhando. Ele diz que, como não tem nenhum retorno financeiro, e nem espera isso do trabalho autoral, só vai fazer shows que queira muito. “Vou dar vazão a minhas músicas e seguir na boa. Sâo Paulo apesar de ser uma das mais borbulhantes cidades do Brasil, é difícil. O que tem de show vazio. Eu nunca deixei de gastar pra tocar, então pra que ficar se desgastando e aos amigos e gastando dinheiro?”. O disco foi lançado pela Reco-Head com distribuição da Tratore no final, e ecoou mais do que bem na crítica especializada. Pra ter uma idéia, na revista Rolling Stone Brasil, ficou na 13ª posição entre os 25 melhores álbuns nacionais, além de ter recebido também a atenção do exigente Pedro Alexandre Sanches, da revista Carta Capital. Cantor, compositor e multiinstrumentista, passou por alguns grupos, sendo o Paumandado , o mais duradouro. Ele também produziu o disco de estréia da incensada Jumbo Elektro.

Serviço
Ruído/mm e Fábio Góes. Dia 07. R$10. Wonka (R. Trajano Reis, 326).

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