1/31/2008

Um Grito Rocker também em Curitiba

Jornal do Estado

Festival que pela primeira vez tem edição também na capital paranaense


Adriane Perin


Divulgação
Mordida, já tem mais tempo de estrada; Gianninis, com nova formação, Sabonetes e Anacrônica, que tocam no Grito, são de gerações recentes; Chuck Harvey é atração do Psycho Carnival

Chegou a vez de Curitiba fazer parte de um dos “novos” festivais de rock que mais vem chamando a atenção Brasil afora, por sua abrangência e formato. Em parceria com a produção do Psycho Carnival – que acontece de 2 a 4, no mesmo lugar e faz parte do circuito – começa hoje a primeira edição curitibana do Grito Rock, com uma seleção muito boa, que contempla a nova safra (Mariatchis e Anacrônica) do rock curitibano, com gente mais escaldada (Mordida, Los Diaños, Poléxia, Charme Chulo), além de duas convidadas de fora, Reino Funji (SC) e Vilania (SP). Criado há cinco anos, o Grito começou pequeno e hoje em dia se espalha por 44 cidades de 20 estados brasileiros, além de Buenos Aires e Montevidéu, que tornam esta a primeira edição internacional.
E a produção local é assinada pela novata Cachecol Coisas do Rock, que iniciou seus trabalhos em junho passado intermediando a vinda das gaúchas Graforréia Xilarmônica e Júpiter Maçã. Os produtores Timbó Deliberali e Eder Piazza já trabalham com bandas e andavam insatisfeitos com o jeito como as coisas acontecem no circuito local. Começaram a conversar informalmente sobre o assunto até que rolou a oportunidade de partir pra prática. Para este Grito, Eder diz que estão mais organizados, embora (a falta de) patrocínios ainda tenham impedido a concretização de alguns convites. O que, numa boa, não está sendo problema, já que a escalação é de alto nível.
O Grito faz parte das atividades impulsionadas pelo Circuito Fora do Eixo, projeto que envolve várias ações de estímulo e apoio à produção alternativa brasileira. O Grito Rock América do Sul, como foi batizado, começou dia 25 de janeiro e segue até 09 de fevereiro. A expectativa é de que todas as produções envolvam mais de 500 bandas.
O que não significa que o pessoal da Cachecol teve a vida ganha. Nada. Enfrentou as mesmas dificuldades de produzir shows de artista autorais que qualquer um. Mas, mostra vontade para ir adiante. “A gente conversa com as bandas, deixa claro que é um risco que todos correm. Em todo lugar tem dificuldades e não estamos prometendo nada de excepcional nem pros grupos, que conhecem a realidade. É difícil aqui como em qualquer outro lugar”, comenta Eder.
Festivais — Há anos se fala em aproveitar que Curitiba não é uma cidade forte no Carnaval tradicional, para investir neste perfil para atrair público alternativo. A Psychobilly Corporation, produtora do Psycho Carnival, que neste ano faz parte do programação internacional do Grito, merece ser louvada por aquilo que já fez. Considerado um dos maiores eventos de Psychobilly do mundo, o evento produzido por Vlar Urban e Wallace Barreto acontece há oito anos no carnaval, atraindo para Curitiba gente de todo canto do Brasil que curte o estilo. E este ano terá sua edição mais internacional. O interessante é que a entrada no Grito abre nova perspectiva de fortalecimento, já com visibilidade midiática. Quem ainda não comprou ingresso pro Psycho dá tempo, na Livrarias Curitiba.

Serviço
Grito Rock. Dia 31: Viernes, De Mefs, Gianninis, Vilania, Poléxia, Reino Fungi e Charme Chulo. Dia 01: Cosmonave, Primal, Sabonetes, Anacrônica, Mariatchis, Los Diaños e Mordida. Jokers (R. São Franciso, 164). Ingressos: R$15 ou R$25 (para os dois dias). Informações: (41) 3324-2351.

1/28/2008

“O balanço que eu faço é no violão"

Jornal do Estado

Entrevista

O baiano Hyldon era quase uma criança quando entrou no circuito de estúdios brasileiros

Adriane Perin


Divulgação
Hyldon está feliz da vida e envolvido em vários projetos

O baiano Hyldon era quase uma criança quando entrou no circuito de estúdios brasileiros. Já tinha vasta experiência, portanto, quando lançou Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda, primeiro em compacto e depois em LP, disco que estourou Brasil afora. Seu nome figura entre os inventores da Soul Music Brasileira, ao lado dos amigos e parceiros Tim Maia e Cassiano, principalmente.
Dono de uma personalidade forte, “agravada” pela inevitável virulência típica da juventude, ele acabou brigando com as gravadoras no auge de sua carreira, porque não abria mão de fazer do que jeito que queria seus discos. Se seu amigo Tim Maia conseguiu, mesmo entre altos e baixo, e com personalidade ainda mais impositora de um estilo, seguir numa carreira em destaque nacional até o fim de sua vida, Hyldon não teve a mesma sorte e pagou um preço mais alto, catapultado da mídia.
Mais maduro, hoje aos 56 anos, ele faz uma avaliação na qual reconhece “que deveria ter tido mais calma” e que sua ansiedade juvenil, digamos assim, acabou atrapalhando a trajetória musical. Nos anos 90, foi retirado do ostracismo musical com a regração de seus hits, “Na Rua, Na Chuva e Na Fazenda”, pelo Kid Abelha e “As Dores do Mundo”, pelo Jota Quest. Em entrevista ao JE, ele falou sobre os projetos atuais, dois discos e um na área da audiovisual para crianças, com as quais adora trabalhar. A seguir, trechos da conversa:

Jornal do Estado – Conta sobre seus projetos atuais
Hyldon
– O primeiro é a gravação do DVD com a banda que toco, a Zona Oeste, com músicas antigas e novas. Estamos captando os recursos pela Lei Rouanet. Nesse meio tempo fiquei meio recluso e acabei criando outro disco, completamente diferente. Nele toco violão, na banda guitarra. Entrei no estúdio e fui compondo e tocando na hora. Virou algo super brasileiro, basicamente em quarteto ou trio, com Ricardo Brasil, Ramon Torres e Cassius Teperson. Eles tocam na banda, mas este disco tem repertório de levadas totalmente diferente das coisas da banda. O nome é Soul brasileiro e tem participação de Zé Menezes, uma lenda viva de instrumentos de cordas do Brasil. Ele tocou com Carmem Miranda e tem 84 anos.
JE — Tem contrato com gravadora?
Hyldon
— Gravadora, hoje em dia, tá mais pra problema do que pra acerto. Pode ser que lance pelo meu selo.
JE — O terceiro projeto...
Hyldon
— Começou com um disco para bebê, Turminha do bebê que fiz junto com minha mulher, Zoe Medina, que é designer e ilustradora, em 2000 e que, depois, teve mais de 100 mil unidades vendidas pela Avon. Em 2003 fizemos um dos últimos VHS, com uma série de clipes das músicas. Ano passado alinhavamos os clipes, com um narrador contando uma história. Era uma vez um bebê, sai em DVD. Colocamos no youtube.com o clipe “Upa!Cavalinho” que está com mais de 150 mil visitas
JE — A música sempre ficou por perto nesse tempo que você esteve fora dos holofotes?
Hyldon
— Sempre. No máximo fui fazer música para criança que é algo que gosto, porque trabalho com imaginário. E não preciso me preocupar com mercado, deixo a imaginação fluir.
JE —E como é sua relação com mercado, já que tocou no assunto?
Hyldon
— Na época que tive músicas em primeiro lugar era muito garoto, com 20 e poucos anos - hoje tenho 56. Briguei muito com gravadoras - e sem saber brigar. Foi muito difícil um menino encarar o departamento jurídico com os melhores advogados que uma multinacional podia pagar. Não só eu, meus pares, Tim Maia e Cassiano, também. Tim chegou a fundar o primeiro selo brasileiro exatamente por causa disso. Desde o início tive problema por querer fazer o que eu sentia. Pra gravar meu disco fui ser o produtor. Eu já era músico de estúdio, comecei a gravar muito pequeno - com 16 anos já era guitarrista conhecido -, enquanto compunha também, bem água com açucar no começo. Depois conheci Cassiano, em estúdio, e daí pra soul music brasileira.
JE — Uma das coisas que o livro de Nelson Motta sobre o Tim Maia mostra é a dificuldade técnica dos estúdios brasileiros na época para conseguir chegar a sonoridade que vocês queriam.
Hyldon
— O Nelson Motta escreve muita coisa, e muita coisa errada. Ele nem era tão amigo do Tim. Acontece que o Tim queria ir pros Estados Unidos porque curtia os conjuntos vocais, The Platters, Temptations. Quando voltou, até gravar ralou muito, tanto que seu primeiro disco não deu em nada, lançado na virada dos 60 pra 70, pela CBS. Foi lá, nesta época, que cruzei com ele. E também com o grupo vocal do Cassiano. O Cassiano conheci fazendo viola para uma música minha com Vanderlei Cardoso. Aí a gente se juntou. Comecei a gostar de música negra americana e a gente também já curtia rock. Comecei a ouvir Ray Charles, Steve Wonder. Então, aconteceu a soul music, que é uma intermediária entre o rock and roll, blues e o jazz. É uma música mais rica melodicamente, com acordes que não se usava em rock, um pouco mais apurado, mas não tanto que fosse incompreensível. E, nas entrelinhas, muita informações de jazz. O que ajudou a tomar forma foi que tínhamos uma turma que se reunia para ouvir os discos importantes, que às vezes nem saíam no Brasil. Então, dividíamos um com o outro. Não tínhamos a internet. Começamos a colocar também a influência brasileira, não perdemos o que a gente carrega com a gente. É, mesmo, soul music brasileira, como a bossa nova, que usava a harmonia do jazz, mas tinha aquela batida de samba que a diferenciava. Tim e Cassiano conseguiram isso tudo. Ele vieram antes, sou mais novo.
JE — Como foi a aproximação?
Hyldon
— Em 1969 viajamos eu e os Diagonais, grupo vocal que o Cassiano liderava e mais um cantor de bolero. Eu revezava guitarra e baixo com Cassiano e cantava músicas minhas. Tinha ainda “Coronel Antonio Bento”, que o Tim depois incluiu no primeiro disco dele e “Primavera”, do Cassiano, que o Tim havia gravado mas não tinha saído ainda. Éramos cinco em um fusquinha. Foi assim.
JE — E desse estreitamento de amizade até o teu estouro nacional o que aconteceu?
Hyldon
— Conheci o Tim e logo ficamos amigos. Nessa época toquei com muita gente, Tony Tornado, Vanderléia, Eliana Pittman. Fui pra tudo quanto foi lugar, fiz muito baile.Quando tocava com Tony, em 71, o Tim gravava o segundo disco. Mostrei músicas, mas ele tava tudo pronto e ainda assim me chamou pra tocar com ele, contrabaixo, o que não era o normal, já que eu tocava guitarra. Aprendi baixo com ele. Depois, toquei guitarra com ele, que gravou uma música minha no disco que tem “Não quero Dinheiro”, “Festa de Santo Reis” e ficamos amigos. Tim foi um dos grande incentivadores pra eu gravar meu disco e foi o que fiz. Naquela época não havia milhares de canais, eram só quatro e tinha que chegar com tudo pronto. Eu levava arranjos, bateria, baixo, tudo pronto. Queria uma orquestra, mas não tinha dinheiro, então tive que eu mesmo criar a orquestra. A gente tinha maestros-chave, como Waltel Branco, Waldir Arouca. Fiquei quatro anos preprando Na Chuva, na Casa, na Fazenda.
JE — E como foi o sucesso?
Hyldon
— Juro que não foi surpresa, porque achava que meu trabalho era bom e ia tocar, porque eram músicas verdadeiras que provocariam identificação. Mas aí comecei minhas brigas com gravadora, a Polygram, hoje Universal, que queria me obrigar a gravar Rolling Stones. Eu, Tim e Cassiano éramos pessoas humildes, de famílias simples. Eu morava sozinho e não tinha uma base familiar. Fiquei revoltado com as coisas. Mesmo assim, fizeram meu disco e foi forte, então pudemos gravar outro, com “As Dores do Mundo”, que estourou também. Aí me disseram, vai gravar outro. Bati o pé novamente. Outro compacto não, queria mandar meu LP, afinal tinha 20 músicas prontas, algumas em primeiro lugar nas paradas e o cara querendo que eu fizesse versão? Então gravei um disco, Deus, a Natureza e a Mùsica, pra não tocar, tanto que não tem nem foto.
JE – Não gosta deste disco?
Hyldon
– Foi legal, um disco experimental. Eu estava cercado de muita expectativa pois o Na rua havia estourado 5 músicas. Fiz algo totalmente diferente do que se esperava e quase fui crucificado por isso. Tinha morado em Nova York e estava cheio de novidades na cabeça. Pra piorar a situação teve grandes erros, problemas técnicos no estúdio recém inaugurados e os tons super altos que eu havia escolhido. Somado a isso eu estava com problemas pessoais e nem acompanhei a mixagem. O processo de gravação também foi diferente. Chamei a banda Black Rio pra dividir com o Azymuth o acompanhamento. Duas musicas desse disco tocaram bastante “Estrada Errada” e “Primeira Pessoa do Singular”, essa uma parceria bissexta com Caetano Veloso, mas foi pouco em relação ao primeiro disco. Logo, eu estaria mudando para a Sony. Mas a minha revolta foi o problema, também. E eu queria também que a gravadora bancasse os shows, o que, sei agora, tava errado, mas na minha cabeça achava certo. Também, eles tinham na cabeça aquela visual de óculos de Elton John e queriam que eu fosse o cara do tênis.
JE – Que história é essa do cara do tênis?!...
Hyldon
– Eu era meio riponga e usava tenis, enquanto todo mundo vivia de sapato, o que nunca gostei. Juntou tudo: queriam uma sequência do que tinha feito e, hoje, acho que poderia ter feito algo experimental, mas não assim, do nada. Estava mal assessorado e ter que cuidar de tudo era muito desgastante. Nosso movimento, não existiu porque éramos pessoas que não tinham cultura, estudamos pouco. Estudar dá uma noção melhor de mundo. A gente não tinha a mínima idéia. Queria fazer música e ficávamos putos se o cara falasse não.
JE – A Internet ajuda essa história não se perder?
Hyldon
– Foi o que salvou a gente. Entre aspas, né, porque a arte sobrevive, acha um jeito. Ver uma música que fiz há 35 anos tomando outras direções é muito gratificante, prova o valor da obra. As brigas todas aconteceram porque tinhamos um comprometimento em agir como artistas, defendendo nossa obra. Mas, pros caras, era um produto a mais. Nos anos 80, a prioridde passou a ser uma coisa chamada Marketing, cada vez mais forte que a parte artística. Se começou a injetar dinheiro e nasceu o jabá e chegou um ponto em que o dragão comeu o próprio rabo. Graças a Deus a Internet apareceu e é possível manter um público que acompanha. Me surpreendo com a garotada que aparece com meus discos herdados dos pais e avôs.
JE – Nota herdeiros da sonoridade de vocês?
Hyldon
- É muita informação de uma vez. A gente ficava meses ouvindo um disco. Hoje, o cara tem dez minutos e ouve 50 músicas. Absorve pouco e faz muita copia. Mas, tem gente boa nova, sem chance de trabalho.
JE - Que balanço dá pra fazer agora:
Hyldon
– Olha só, o balanço que faço é no violão (rs). Tô tocando e cantando melhor. Parei de fumar e meu falsete voltou. Moro no Recreio e minha música nunca me deixou passar fome. Não sou um cara consumista e como não preciso de muito, posso me preservar e escolher tocar em bons lugares, com bons músicos. Se não for assim, fico em casa.

1/24/2008

bom dia!

"...vou deixar a porta aberta
e esquecer o que aprendi
correr descalço sem camisa,
a chuva fria de Curitiba
pra mim é o sol do havai ....

(...) voltar pra casa e se desculpar
olhar nos olhos
sentir vontade de abraçar
forte
deixar que os pensamentos passem
que a vida passa
feito um pulo de corda...

(...) escutar pela primeira vez aquela canção
ver pela primeira vez
sentir pela primeira vez o doce gosto da vida"

Bravo, Carlão! Bravo!

1/22/2008

No deserto de Tom Waits junto com Carlos Careqa


Carlos Careqa na pele de Tom Waits: um belo disco

Jornal do Estado

Adriane Perin

Há sete anos o curitibano Carlos Careqa “estuda” o compositor, ator e poeta norte-americano Tom Waits. Há três, toca versões de suas músicas. No show de lançamento nacional de seu novo disco, hoje, no Wonka, o mergulho é ainda mais profundo. À espera de Tom traz versões, em português, de 14 criações de Waits, um compositor cultuado, que tem no grave e na rouquidão da voz as marcas mais conhecidas de uma trajetória que se espalhou também para o cinema e, antes ainda, pela literatura. Sempre com bons resultados.
A noite é no circuito Off da Oficina de Música, da qual Careqa não participa, mas metade de sua banda sim, o que deve ter facilitado a vinda. Guello dá aula de percussão e Gabriel Levy, de acordeon. O coordenador da Oficina, Glauco Solter, faz os baixos e Mário Manga veio com Careqa. “ Muito legal conseguir fazer com a banda”, disse na entrevista, de São Paulo, onde está radicado. Careqa afirma que se tocasse o projeto do seu jeito, “mais careta”, não traduziria o espírito de Waits e trairia o original. “Comecei imitando, preferi não arriscar para não distanciar quem o conhece”. Em algumas faixas, ele força uma rouquidão e usa a combinação de instrumentos como acordeon, timbres e ambientação de forma a se aproximar da sonoridade peculiar de Waits, que é mergulhada em referências do folk e no cabaré. “É dificil reproduzir o universo dele. E é uma faca de dois gumes. Não sei se irão odiar ou gostar. Assusta no começo. Depois, você entra no deserto dele”, comenta.
Na tradução de Careqa, algumas músicas ganham uma levada que lembra o vanerão bem marcado; noutras trazem em seu bojo um clima de música brega. “Recomendo sempre que ouçam o original. O meu, é uma homenagem”, ressalta. Ele começou cantando em inglês, mas achou que isso distanciaria de quem não conhece o autor. Aos poucos fui traduzindo e apresentando ao público”, diz e emenda, ciente dos riscos. “É uma ousadia, mas foi uma decisão pensada. Tanto que trabalho com os músicos que são da minha banda. Então, foi tudo muito natural já que eles participaram desde o primeiro show, que foi cover”, conta.
O ponto de partida para as traduções foi a poesia de Waits, primeiro traduzida literalmente – e depois adaptada para a língua portuguesa. “Procurei ser fiel ao espírito original. Ele é muio respeitado como poeta e achei que assim não o traria tanto. Mas, tem que ouvir o original”, insiste. “Assim se aproximarão do universo dele que é muito mais rico do que o que consegui colocar neste disco. É também uma forma de provocação, um chamamento para que ele venha ao Brasil”, conta, comentando que não teve contato direto com o músico, mas que agora, vai atrás, “tentar entregar o disco”.

Serviço
Carlos Careqa e banda. Dia 22. Wonka (R. Trajano Reis, 326).

1/21/2008

Corriqueiro e sofisticado

Jornal do Estado

Assim é o paulistano Lestics, que tem seus discos disponíveis de graça na internet

Adriane Perin

Costuma-se dizer que ter uma banda é tão difícil quanto um casamento. Pois, me atrevo a dizer que é bem mais complicado. São mais vidas envolvidas, trazendo a tiracolo, cada uma delas, seus desejos e maneiras de ser, que precisam ser contrabalanceados. E isso vale também para quem não tem o plano de ser “profissional da música”, mas a tem como vital para sua existência. Também é comum ouvir que sempre tem um cara que toma à frente das atividades mais maçantes - produção executiva, distribuição, etc - para que um grupo deixe de existir só num quarto de ensaio e ganhe vida em outros corpos. Trabalho feito, em muito dos grupos alternativos brasileiros, entre jornadas diárias de emprego formal, para garantir o sustento.
Equilibrar-se sobres esses fios incertos da existência provoca tensão, cansaço, brigas e paradas. Foi em um desses hiatos – sem briga - do quarteto paulistano Gianoukas Papoulas que o vocalista e compositor Olavo Rocha, decidiu que queria uma produção menos complicada que as do Gianoukas. Convidou os parceiros, deixando claro que o ritmo do trabalho, neste projeto, seria marcado por ele e não pela agenda dos músicos. O multiinstrumentista Umberto Serpieri encarou e nasceu uma das mais legais bandas, na verdade, um duo, do circuito alternativo brasileiro recente, o Lestics, que em menos de um ano fez dois eps de uma beleza tão delicada quanto arrebatadora; tão pop quanto nada descartável. Com arranjos musicais marcados que remetem a uma simplicidade dilacerante, mas são sofisticados. Tal e qual o Gianoukas – mas diferente.
9 Sonhos, o primeiro disco, e Lestics, o segundo, trazem uma essência parecida. Estão lá a sonoridade, as letras despidas de pretensão, embora altamente pretensiosas, pois jamais se nivelam no lugar comum. Momentos deliciosos em diferentes levadas, beirando o corriqueiro, entre arranjos magistrais de Umberto, que é um cara capaz de produzir mágicas sonoras em seu quartinho transformado em estúdio. Violão, guitarra, baixo, teclado, escaleta, efeitos, percussão, gaita e voz. É tudo executado pelo rapaz, com sensibilidade ímpar, que provoca uma sensação de aconchego em músicas que nos abrigam em dias e noites frias. Ou quentes. A competência da dupla - já conhecida no Gianoukas - se reafirma de forma ainda mais pessoal, em faixas como “O Mundo Acaba”, “Elefantes”, “Dois Olhos”, de 9 Sonhos. Ou na ironia de “Gênio”; na delicadeza apaixonada de “Luz de Outono” (“a eternidade vai um pouco além/do que eu costumo planejar/mas no pedaço dela que me cabe/ é com você que quero estar”); na densidade de “Náusea” ou na acidez desiludida de “Ùltima Palavra” (“A última palavra é sua, fique com ela pra você/os argumentos acabaram, resta o meu silêncio pra te convencer/ a minha taça está vazia e você não tem lágrimas pra oferecer/longe demais é o lugar que a gente vai pelo prazer de se arrepender”).
História - Lestics não tem Cd a venda. Tá tudo na internet para ser baixado. Se poucos ouviram, foram donos de ouvidos que repercutiram, inclusive em listas de melhores do ano; que passaram a boa nova adiante. Olavo conversou por telefone sobre isso tudo. Começou contando que matutava a vontade de fazer algo mais rápido desde que foi gravar as guias do Gianoukas no estúdio do Umberto. Rapídamente, se deu conta que o esquema de home-stúdio do parceiro era o canal. A idéia era gravar e mandar pra internet, sem estresse sequer com divulgação. Simples assim. “Ele topou de cara e chamamos os Gianoukas, mas eles tão em um esquema muito corrido, inclusive com outro disco da banda”, diz.
Duas semanas foram suficientes para as primeiras composições nascerem. Em menos de dez dias depois, tudo gravado. Mixadas, as músicas foram pra rede. “Tivemos poucas respotas, mas muito boas críticas. Quem ouviu gostou bastante”. No meio do ano passado, começou a segunda produção, um pouco mais calma.
As músicas precisavam também, conta Olavo, serem de fácil execução ao vivo, voz e violão ou piano, tava bom. Mas, como a fissura de estar no palco foi acalmada por vários shows do Gianoukas logo depois da estréia da Lestics, os planos mudaram. Serão shows em trios, quartetos, quintetos. Ou seja, os caras estão preparando um mini-coletivo, para que o grupo não dependa de nenhum músico. “Vamos pegar multiinstumetnistas e também temos vontade de ter convidados onde tocarmos”, conta .
Estilo de vida - Ninguém no Gianoukas ou Lestics vive da boa música que faz. Mas, nem pense em falar para Olavo que seus projetos musicais são robby. Porque robby é algo dispensável na vida, coisa que a música nunca foi nos dias de músicos como estes. “Fico passado quando ouço isso, porque é a minha vida. Infelizmente não ganho com isso, mas são escolhas. Até poderíamos ganhar sem nos prostituirmos, mas é preciso um tipo de envolvimento com o trabalho que não cabe em nossas vidas. E não gosto de ficar chorando as pitangas”.
O que ele ambiciona? “Continuar fazendo o que acredito e é vital pra mim; e ter um público, claro, que ninguém faz música autoral pra ficar escondido. Queremos ser ouvidos, mas a quantidade não tem importância”. O melhor é ter retorno que já estão tendo. “Muito downlouds, citação em páginas e até indicação em muitas listas de melhores do ano. Pô, diante da divulgação restrita isso é muito”, comemora.

1/18/2008

Tem mas acabou

A revista Bizz acabou de novo. E pra fechar a tampa do caixão um dos carinhas que trabalhavam lá, Gustavo Martins, que parece também trabalha na MTV e tem uma banda chamada Ecos Falsos resolveu publicar no site uma “entrevista” com ele mesmo falando sobre o porque que a banda dele não faz sucesso, e por tabela, comentando uma série de coisas sobre o cenário independente brasileiro. O cara fala um monte de merda com a qual eu definitivamente não concordo, mas também levanta algumas bolas certeiras que no mínimo dão pano pra manga e discussão. Alguns trechos que me chamaram a atenção:

“De qualquer forma, você tem que considerar que a parcela da população que cria e consome os hypes ainda é ridiculamente pequena no Brasil, então não sei o quanto isso é representativo. Várias vezes tenho a impressão de que os indies ficam brigando por migalhas, tocando pra um público formado praticamente por bandas e jornalistas, onde a gente quer chegar desse jeito? O povo vive falando do "estouro da Internet", mas se for ver, quem são nossos Arctic Monkeys e Lily Allen? O NXZero e a mulher do "Vai Tomar no C*" [risos], são os únicos que chamaram atenção de verdade.”

“Esse papo que o indie vai tomar o poder, que agora é "a vez dos independentes", parece um mantra do Lair Ribeiro, daqueles que você repete de manhã no espelho pra se convencer que é verdade. A meu ver, o ano de 2007 foi tão ruim quanto qualquer outro para fazer rock sem dinheiro no Brasil, continuamos tocando para os mesmos abnegados, não tem nenhum sinal claro que o público vá aumentar.”

“Parece que tem duas verdades pairando no ar: que o público já existe e só precisa ser avisado, e que a "arte" já basta pra atrair as pessoas. A primeira, perdoem-me o pessimismo, é muito improvável. O público para isso simplesmente não existe, ou se existe só dá pra sustentar 10% das bandas que tem por aí. A segunda eu acho inviável, a gente tem que pensar no negócio como entretenimento ou vamos todos morrer de fome esperando ser "descobertos". Meus amigos não-indies nunca vão nos lugares que a gente toca, e como eu posso culpá-los? Via de regra regra, se o ingresso não for "caro" (R$ 15 já é "caro"), o equipamento som vai ser péssimo, os shows vão começar tarde pra burro e durar bem mais do que deveriam, não vai dar pra dançar, não vai dar pra conversar, a galera vai ir embora assim que acabar e em geral vai ser feia pra dedéu [risos]. Como a "cena" vai crescer se não for nem atraente?”

“A gente vive perdendo dinheiro convidando gente de fora pra tocar aqui em São Paulo, mas nem isso mais o povo quer fazer, ninguém chama ninguém, fica todo mundo em casa esperando ser selecionado pra festival, tentando uma boquinha no Sesc...”

“Assim, a princípio, não acho saudável que a música vire um negócio como o cinema, em que 80% do seu tempo tem que ser dedicado a convencer o governo ou os diretores de marketing das empresas que seu projeto merece dinheiro, e o resto você faz de acordo com o que liberam. A meu ver, isso é exatamente o contrário de "independência", é a dependência total. Mas também não vou ser idiota de ficar criticando o fato dos produtores finalmente terem estrutura para fazer seus festivais.”

“mas qualquer um que já leu Noites Tropicais do Nelson Motta sabe que 90% desse negócio de música são os contatos. Nesse sentido eu sou uma negação, odeio ficar "fazendo contatos", bajulando pessoas, indo a festas, cheirando pra fazer amigos... Mas isso é idiotice minha, são todos meios lícitos - tirando o último, obviamente - de se chegar nas pessoas certas, até porque pouquíssimos jornalistas ou produtores freqüentam o circuito de shows atrás de coisas novas, você tem que chegar até eles, encher o saco. É o bom e velho lobby, que existe em qualquer meio.”

“Quanto à questão política, nunca quis me envolver muito nisso, talvez porque ter uma banda de rock não te coloca numa posição muito confortável pra fazer política. Quer dizer, você sabe quanto custa uma boa guitarra, um baixo, uma bateria? Não é algo exatamente ao alcance de todos. Somado a isso, você precisa do tempo livre para se dedicar à banda, ou seja, no fundo, é um passatempo de moleques abonados, que não precisam trabalhar ou têm dinheiro pra perder.”


enfim, como eu dizia, não subscrevo metade do que o cara diz, acho que ele generaliza e fala muita bobagem em alguns momentos, mas não há como não reconhecer que ele toca em algumas feridas importantes. pra mim, principalmente quando fala por exemplo que ao contrário do que alguns parecem tentar fazer acreditar, a cena independente brasileira não virou nenhum paraíso da noite pro dia. a maioria das bandas continua pagando pra tocar e pra um público ínfimo, em condições precárias e sem grandes perspectivas concretas de mudar isso. mesmo em bandas já reconhecidas, os caras ou tem outros trampos, ou dão aula de música, trabalham como técnico de som, estúdio, roadie, produção e o caralho a quatro pra sobreviver. e os festivais, que tanto se badala, vamos ser sinceros, até agora pelo menos (enquanto não tinha entrado a grana da Petrobrás com a obrigação, no edital de pagar cachê pra todos) - a maioria não paga nem transporte pras bandas participantes que não sejam head liners. e não é pra qualquer um encarar três ou quatro dias de viagem de ônibus ou bancar quatro cinco passagens aéreas pra tocar em um festival do outro lado do país. longe de mim criticar quem quer que seja, até porque já organizei festival e sei o tamanho do abacaxi que é. se foi assim até hoje era porque foi assim que foi possível viabilizar os eventos, e eles sem dúvida são a maior vitrine para as bandas independentes no País. estou apenas colocando alguns pingos nos is em relação as condições que envolvem/envolveram esse circuito até hoje. e quem tá nessa há algum tempo sabe muito bem disso.
que o avanço tecnológico facilitou em muito as coisas pra você, por exemplo, gravar um disco, e a internet, pra divulgar e atingir mais pessoas, não há dúvida. mas a gente tá longe, muito longe do cenário róseo que alguns pintam por aí. como eu digo, a indústria musical no Brasil é decadente e viciada em mesmice. investe nada ou quase nada em novos talentos, e quando se faz, geralmente é a cópia da cópia da cópia do que já tá na moda ou estabelecido. e essa cultura dos aovivo acústico etc gerou um círculo vicioso que junto com a pirataria e a absoluta incapacidade das empresas em lidar com o mundo digital só ajudou a enterrar de vez o pouco que existia.
se é assim no mainstrean, não é muito diferente no cenário independente. não dá pra pensar na música como uma coisa que paira sobre a realidade, sem ser afetada por ela. não se trata de constatar o óbvio, mas de colocar as coisas no seu devido lugar. venho neguinho discutindo porque a música independente não tem mais espaço, mercado. o problema não é a música. o buraco é muito mais embaixo. a verdade é que a gente vive em um país em que grande parte da população tá fora do mercado de consumo propriamente dito. tem pouco ou nenhuma acesso a informação fora dos mass media, muito menos a ensino de qualidade. um terço dos jovens/adolescentes não tem emprego e tão fora da escola. ou seja são não-cidadãos, porque não podem sequer abrir uma conta em banco ou fazer uma compra a crédito. em muitas regiões metropolitanas, esse índice chega a perto da metade. e a imensa maioria dos demais que ainda conseguem chegar a escola e ter um trabalho, ganha mal e tem um ensino absolutamente indigente. é só lembrar uma pesquisa recente que mostrava que boa parte dos estudantes de São Paulo do segundo grau tinham nível de leitura/interpretação de texto de primário. como é que a gente vai querer que exista mercado pra música independente, se as pessoas mal conseguem sobreviver e ter o mínimo de perspectivas de melhorar de vida?
Fora outras questões macro que são determinantes pra todo processo produtivo em qualquer lugar do mundo. O Brasil tem uma economia estagnada, onde quem tem dinheiro não tem motivo pra investir em qualquer coisa de mínimo risco que seja, porque com os juros que se pagam é mais seguro e prático simplesmente deixar o dinheiro rendendo no banco. Pra que o cara vai correr o risco de investir em um negócio, pagar impostos, encargos sociais e o escambau, lidar com um monte de burocracia pra, se tiver sorte, conseguir uma rentabilidade de 10% ao ano, se ele pode ter isso simplesmente deixando o dinheiro no banco ou aplicando em fundos, sem praticamente qualquer risco? E se é assim com as atividades econômicas em geral, o que dirá de música independente, banda desconhecida, rock enfim, essas coisas todas que a gente dá muita importância, mas no fundo, só são importantes pra pouca gente.
Outro fato é que pra maioria das pessoas a música é tão e somente enterteniment, um negócio que toca lá no fundo do bar enquanto você ta pegando mulher ou tomando uma cerveja. É uhú e tralálá, dedinho pra cima e sai do chão galera! Quem não faz música dentro desse recorte, meu, ta fora do mercadão, pelo menos daquele mais visível. E não se trata de reclamação ou crítica, mas simplesmente de uma constatação óbvia. A realidade é que o indie brasileiro continua se resumindo a 300 pessoas em cada capital ou cidade mais populosa do País. E isso não paga as contas de ninguém. Enquanto o País não crescer, e não deixar de ser o eterno país de um futuro que nunca chega, vamos continuar chafurdando na lama, e como diz o cara da Bizz, brigando por migalhas, tentando matar um leão por dia, e recolhendo as sobras no dia seguinte. Não se trata de pessimismo ou derrotismo, mas de não querer se iludir, se enganar, apenas pra ser politicamente correto e não remar contra a maré. Quem me conhece sabe o quanto eu lutei e continuo lutando pra tentar, mesmo que de uma forma limitadíssima, ajudar a mudar esse cenário. Mas não é se enganando ou tapando o sol com a peneira que a gente vai conseguir isso. Há um longo e tortuoso caminho pela frente, e não há absolutamente nenhuma garantia de que no final, esse caminho vá nos levar pra algum lugar.

Enfim, tem um monte de merda que eu poderia comentar disso aqui mas agora já to atrasado pra caralho pro trabalho.

Radio Nowhere


Quero retornar um instante a "Radio Nowhere". Há uma invocação a Elvis quando o narrador está "searching for a mystery train" (procurando um trem misterioso). O que ele busca?

Aquilo que todo mundo busca. O que é inatingível, mas que está lá, aquela parte da vida fora do nosso alcance, levemente à sombra. Mas que encerra dentro de si todas as essências e a vitalidade física bruta e a carne e o osso e o suor de viver. É aquilo que faz com que tudo valha a pena, mesmo que você só experimente com a pontinha da língua. É a nossa história. É aquele trem que corre desde que aportamos aqui, e essa coisa ruge com todos nós a bordo neste momento. É isso que gosto de buscar.


trecho da entrevista de Bruce Springsteen na Rolling Stone desse mês.

1/16/2008

Sangue novo

Estadão de hoje

Vem aí uma supersafra de bandas, estimulada por investimento em festivais e estréia do MySpace Brasil

Jotabê Medeiros


Moleza acertar previsões sobre o pop rock nacional para 2008. Por exemplo: 1) algumas das bandas novas mais interessantes serão gaúchas; 2) O rock de garagem vai dar as cartas de novo; 3) Híbridos de rock com funk carioca, moda de viola, baião, guarânia e xote serão uma constante; 3) Alguns entre os novos astros serão procurados por Caetano Veloso para uma palhinha na TV ou no palco.
Mas aí será picaretagem: essas previsões se realizariam também na maioria dos anos recentes. Ainda assim, é quase tudo verdade. Começando pelo mais óbvio: as bandas mais interessantes lançando álbuns novos este ano são gaúchas: Fantomaticos, Apanhador Só, Wonkavision e Superguidis, todas de Porto Alegre, estão no topo desse ranking.
Mas tem mais chegando de tudo quanto é rincão. Do Acre, afirma-se na cena do eixão Rio-São Paulo a notável banda Los Porongas; Curitiba, sempre pródiga em garotos que fazem sons esquisitos, revela os novatos do Goya e do Sopa, entre outros; do Ceará, já notabilizado em clubes paulistanos, agiganta-se o Montage, primeira banda de electro do Nordeste (que cresce no vácuo aberto por outros atos semelhantes, como o Bonde do Rolê, que se separou). O Montage teve um 2007 ruim: teve a entrada barrada na Inglaterra e seu palco no TIM Festival foi interditado. Mas já tem um batalhão de fãs.
Há outra previsão que dá todos os indícios de que vai se concretizar: 2008 vai ser o ano do rock independente no Brasil, uma das melhores safras de todas. Isso se explica por diversos motivos. O primeiro deles, curiosamente, vêm da ação do poder público.
Em outubro do ano passado, o Ministério da Cultura e a Petrobras divulgaram os projetos vencedores do 1º Edital Petrobras de Festivais de Música 2007. Foram escolhidos 24 festivais para receber entre R$ 60 e 200 mil (no total, R$ 2,5 milhões). Entre eles, notórios celeiros de bandas novas, como o Festival Calango, de Cuiabá (MT), o Festival Cultural Música Alimento da Alma, o Mada, de Natal (RN), o Varadouro, de Rio Branco (Acre), o Goiânia Noise Festival (GO), e o Humaitá Pra Peixe (RJ). É um respeitável empurrão.
Some-se a isso a chegada do MySpace Brasil, que já abriga páginas de bandas nacionais de todos os recantos do País, e temos já motivos para prever a ampliação do celeiro. É um ano quente para os independentes, e a emergência de premiações novas mostra isso. 'Reforçando: não valem artistas contratados por grandes gravadoras (Sony BMG, Universal, EMI e WEA)', diz o aviso do Prêmio Dynamite de bandas independentes que convoca jornalistas e crítica especializada para indicar os destaques de 2007.
Um dado bacana é que os novos guerreiros do pop rock demonstram uma consciência mais ampla e desopilada do seu papel no universo musical. 'Que ninguém mais fique esperando por um diretor artístico que o 'descubra', que o contrate a peso de ouro, que lhe dê um carro e um apartamento no Leblon para que grave um disco. Não vai acontecer. Agora, é preciso fazer música porque se ama a música, e não para virar um pop star', afirmou Diogo Soares, vocalista da banda Los Porongas, um dos melhores novos atos da cena brasileira, durante debate na ONG Cidadão do Mundo, em dezembro.
A banda de Diogo emergiu de uma situação de exclusão dupla: longe demais das capitais do eixo Rio-São Paulo, longe demais de todas as outras, ele lembra que o Acre, durante a revolta da vacina, em 1904, era o lugar para onde os revoltosos eram mandados como uma forma de exílio. 'Era um lugar para morrer', disse.
Mas o que poderia parecer handicap, deficiência, torna-se trunfo em Los Porongas: com uma levada que lembra uma mistura de Chico Science com Secos & Molhados, um sabor diferente de tudo que se vê por aí, eles vão fazendo seu caminho.
Augusto Stern, vocalista do grupo gaúcho Fantomaticos, uma das mais agradáveis notícias que vêm do Sul, não se deslumbra com o admirável mundo novo que se abre para as novas bandas brasileiras. 'As facilidades que temos, como a internet, o mp3 e o homestudio, ajudam a formar novos músicos, muitos deles, mas o que faz uma banda se destacar continua sendo o que sempre foi, a tecnologia é apenas um meio. Uma banda realmente boa vai acabar dando certo, esteja o cenário bom ou ruim', afirma. 'Um dos problemas é que bandas muito boas acabam sendo colocadas ao lado de outras nem tanto, pois a internet 'padroniza' tudo. Agora, também é ótimo poder gravar um som em casa e colocar no mesmo dia no MySpace.'
O grupo lança nos próximos dias, pela Pisces Records, de São Paulo, seu primeiro álbum, Fantomaticos no Bosque. 'Gravamos tudo por conta própria com os nossos equipamentos - simplesmente pegamos tudo e fomos morar durante 40 dias numa mansão abandonada que um amigo emprestou', conta.
O velho e bom rock'n'roll à moda setentista continua dando as caras. O guitarrista Rodrigo Casais Gomes, da banda paulistana Tomada, está com os colegas (Marcelo Bueno, baixo; Ricardo Alpendre, voz; Alexandre Marciano, bateria) em estúdio produzindo o seu terceiro disco, o primeiro com a formação atual. É uma das boas bandas do gênero. 'Eu nem sei seu nome/Meu Deus, que mulher!', diz a letra de Meu Deus, Que Mulher!.
Criaturas estranhas psicodélicas aparecem todo dia no novo cenário. Criaturas como as bandas Sopa e Goya, de Curitiba. O quinteto Sopa usa instrumentos como xilofone e gaita de boca, e o resultado é altamente experimental e psicodélico. Em 2234, usam até um theremin para obter a sonoridade esquisita que buscam. Já o Goya vai buscar suas referências em um mundo sonoro sofisticado e viajante, como a música de Frank Zappa, Miles Davis e King Crimson.
Ninguém tem mais pudor de experimentar e ser escancaradamente pop. É o que mostra a escalação do palco Tendências, do Festival de Verão de Salvador. Ali, comparecem desde a axé descarada do Chica Fé, que tende a ser hit do carnaval com Eu Quero Ter Você ('Vou trocar meu colar por um beijo') até o altcountry acústico do Aguarraz e o pop arredondado do Cof Damu.
Emergindo já como bandas grandes (entendendo-se 'grande' dentro da nova perspectiva indie), estão grupos como o Wonkavision e o Vanguart, de Mato Grosso. O powerpop dos gaúchos do Wonkavision - formado por Will (vocais e guitarras), Manu (voz e teclados moog) e Kiko (bateria)chega a 2008 com um disco produzido por John Ulhoa, do Pato Fu, que tem se mostrado um novo Rei Midas da produção nacional.
Já o Vanguart está mais do que reconhecido e aclimatado - trocaram Cuiabá por São Paulo recentemente. Boa guitar band que, em vez de se mirar no mesmo espelho de seus contemporâneos, o espelho dos Strokes, foi atrás do folk e altcountry de grupos como Wilco, sem descuidar das referências regionais. Bela banda.

1/14/2008

Jazz supremo

Folha de São Paulo

Livro de Ashley Kahn resgata a trajetória da gravação de "A Love Supreme", álbum-marco de John Coltrane

Burt Goldblatt e Katherine Hollman Goldblatt/Divulgação

O produtor de jazz Bob Thiele (ao fundo) e o músico John Coltrane em registro do começo dos anos 60

BRUNA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Durante cinco dias no fim de 1964, John Coltrane se isolou com seu saxofone no sobrado que havia acabado de comprar em Nova York. Quando reapareceu, sua esposa notou que ele estava especialmente sereno.
"Esta é a primeira vez em que me veio toda a música que quero gravar. Pela primeira vez, tenho tudo, tudo pronto", disse. No mesmo ano, Coltrane gravava "A Love Supreme", uma suíte-marco da história do jazz, e, em suas palavras, "uma oferenda a Ele".
A passagem acima é um dos relatos de "A Love Supreme - A Criação do Álbum Clássico de John Coltrane", de Ashley Kahn. O autor norte-americano recupera todo o trajeto que Coltrane percorreu até a gravação do disco, em um retrato humano do jazzista, além de um panorama do gênero nas décadas de 50 e 60.
Kahn já havia se debruçado sobre os bastidores da gravação de outro importante álbum do jazz, em "Kind of Blue - A História da Obra-Prima de Miles Davis" (ed. Barracuda). Ex-editor de música do canal VH1, professor da Universidade de Nova York, onde leciona uma matéria sobre Davis, Kahn conversou com a Folha por telefone. Leia trechos da entrevista.

FOLHA - Coltrane era extremamente dedicado a sua música. Depois de tantos anos praticando incessantemente, você acha que sua disciplina ultrapassou seu talento natural?
ASHLEY KAHN
- Acho que ultrapassar não é o termo correto, mas potencializar. Ele trabalhou muito duro para levar seu saxofone ao nível que ele queria que sua música alcançasse. Era por isso que praticava e estudava teoria e harmonia da música sozinho, mesmo depois de deixar a escola de música -e muitos artistas param de estudar depois de atingir um certo nível. Ele não era um prodígio; Miles Davis também não. Os dois chegaram à sua sonoridade com sua carreira avançada. As pessoas não falaram de Coltrane ser um líder de sua música antes de ele ter 32, 33 anos. Não acho que ninguém tenha trabalhado tão duro quanto ele.
FOLHA - O que mais lhe surpreendeu durante a processo de pesquisa de "A Love Supreme"?
KAHN
- Coltrane era muito atento e atuante no lado prático de sua carreira, do "business". Ele lidava com contratos, por exemplo; não era aquele santo que não podia tocar no dinheiro. Era bem esperto e consciente sobre o que estava fazendo com sua carreira.
FOLHA - A década de 60 foi a das religiões, de uma nova espiritualidade, material para Coltrone compor "A Love Supreme". Você acha que o disco teria a mesma aceitação se fosse lançado nos dias de hoje?
KAHN
- Provavelmente não. Também não acho que o disco teria a mesma forma. "A Love Supreme" veio na hora certa. A espiritualidade dos anos 60 começou em 1965, 1966, o que coincide com o período do disco. Obviamente, não foi a única razão pela qual as pessoas se tornaram espirituais - veja os Beatles. Mas a espiritualidade da banda parecia indefinida e barata comparada à enorme dedicação de alguém como John Coltrane.
FOLHA - Como você escreveu, é difícil falar sobre Coltrane sem parecer exagerado. Como lidou com isso?
KAHN
- Foi difícil. A verdade é que Coltrane era mesmo um indivíduo incrível. Era um herói espiritualmente e musicalmente. Don Cherry, que tocou com Ornette Coleman, conta sobre a atenção que ele tinha em viver bem, o que o tornou um músico melhor. Dia a dia, ele se preocupava em ganhar dinheiro, em montar sua banda. Isso é o que tentei fazer: mostrar o grande homem por trás da música.
FOLHA- Alguns críticos acham que Coltrane foi a última grande inovação do jazz. Você concorda?
KAHN
- Ele foi uma das últimas grandes influências. Há sempre coisas novas acontecendo no jazz, mas nada importante o suficiente para a cena se mover em outra direção. Se você quiser mesmo medir onde o jazz está hoje, terá que ir além dele para achar onde estão seus limites -a palavra "jazz" não abriga todas essas experimentações e fusões com outros estilos. E se você pensar no jazz deste jeito, ele progrediu de muitas maneiras desde a morte de Coltrane. Isso foi tão importante quanto ele? Não. Músicos como Coltrane não surgem com freqüência.
FOLHA - Depois de escrever "Kind of Blue" e a "Love Supreme", como você compara Coltrane e Davis? O que eles representam para o jazz, assim como esses dois discos?
KAHN
- Ambos representam o início do mais influente período da improvisação moderna - não me refiro somente ao jazz, porque suas influências vão além do gênero. Eles traduziram e evoluíram o som de Charlie Parker e Dizzy Gillespie -o verdadeiro começo do jazz moderno. E ainda estamos lidando com suas descobertas. Não acho que se possa dizer que estes sejam seus álbuns representativos, já que suas trajetórias compreendem muitas mudanças de estilo. Mas são álbuns que representam o retrato da música deles, a emoção de suas personalidades: a serenidade de "Kind of Blue" é Miles Davis, assim como a passionalidade e espiritualidade de "A Love Supreme" é Coltrane.
FOLHA - Seus três livros sobre jazz focam a mesma época, as décadas de 60 e 70. Você acha que este foi o período mais fértil do gênero?
KAHN
- Nos anos 60, diferentes estilos de jazz estavam acontecendo ao mesmo tempo, nos mesmos clubes e festivais. Havia Louis Armstrong, Duke Ellington, Count Basie, Dizzy Gillespie e muitos outros nomes do bebop. Havia ainda gente nova, como Davis e Coltrane, começando a acontecer; Ornette Coleman e o avant-garde. Foi um período muito especial para o jazz.
FOLHA - Seu livro é acessível mesmo para quem não é familiarizado com o jazz. Você acha que o gênero é tratado com uma erudição desnecessária?
KAHN
- Claro. Esse foi meu objetivo. Muito da literatura do jazz é feita para pessoas que já conhecem aquilo. Jazz é música que entra pelos ouvidos e vai para o coração -e é só o que você precisa para ouvi-lo. Muitos alunos me dizem que até gostam de jazz, mas que não sabem muito a respeito. O conhecimento, porém, não é necessário para ouvir.

1/10/2008

Ano novo, vida nova para MC Marina

Jornal do Estado

Carreira solo

Ex- Integrante do Bonde do Rolê fala de seus planos musicais para o futuro

Adriane Perin

Divulgação

Marina largou o Bonde do Rolê e vai seguir carreira solo

Enquanto o Bonde do Rolê procura nova cantora, Marina Ribatski, a ex-MC do trio curitibano, está de férias em Curitiba - o que ela mais queria. Na cidade até meados de fevereiro, vai discotecar terça no Wonka e conversou com a reportagem, avisando de antemão, que não gostaria de falar sobre a saída da banda, com a qual alcançou sucesso mundial nos últimos dois anos e da qual saiu depois de uma briga em pleno palco londrino, ano passado. Prefere falar de um futuro que ela não imaginava que despontaria.
Antes de qualquer coisa, tem que enfrentar os cistos das cordas vocais, resultado do cansaço físico e do desgaste psicológico, provocados por dois anos ininterruptos de shows. Com a garantia de que se recupera tomando cuidados, como parar de fumar e fazer fono, está confiante.
Embora prefira não falar do rompimento com Pedro Deyro’t e Rodrigo Gorky o assunto vem à tona todo o tempo. Ela admite que o cansaço físico gerou o desgaste, já que antes nunca teve problemas vocais. “Da forma como aconteceu acho que o todo da situação precipitou o problema. Abraçamos mais do que podíamos”, diz e e emenda. “Mas, o Bonde sempre foi uma oportunidade, nunca considerada como algo que iria longe. Quando pular todo dia no palco como uma macaca deixou de me divertir, começou o estresse. Havia chegado a hora de mudar de emprego”, observa.
Pensou que ninguém ia querer trabalhar com ela, mas foi o contrário: choveram convites. “Pensei que não acreditavam em mim como cantora. Isso tem a ver com minha baixa auto-estima”, confessa. Marina diz que não pode detalhar as propostas, pois não tem nada definido. Mas foram os estrangeiros que demonstraram mais interesse. “Mas tem gente no Brasil com as quais já trabalhei e quero voltar”, diz, citando Edu K.
Em fevereiro ela volta para Europa de mala e cuia; vai casar com um rapaz do meio cinematográfico. Entre as possibilidades artísticas, está firme um disco solo - tanto que ela voltou a exercitar-se com a guitarra. “Mas, está tudo confuso. Eu estou confusa. Tenho muitas idéias e desde que botei o pé em Curitiba tive um surto criativo e escrevi muito”, diz sem descartar a o humor. “Não quero me distanciar da imagem que criei porque tem muito de mim. Mas quero mostrar que posso fazer mais do que ser a louca, retardada, que só berra”.
Sobre um reencontro com os ex-parceiros, é taxativa. “Não tem como. Não dá pra fingir que foi na boa, porque não foi. Mas, quero mais é que eles encontrem alguém para cantar e sema mujito felizes.
De lição nesses dois anos, ela aprendeu que é preciso saber dizer não. “Não é porque se tem muitas propostas, que você tem que aceitar tudo”, finaliza.

1/08/2008

bons dias

“onde vai dar essa distância que alimento a tanto tempo que esqueço como voltar(...) vivo a caça de motivos pra estar vivo, só existir me empurra pro abismo (...)” ouvir isso logo de manhã, chapada, pegando um sol ardido das 8h30 pela janela do ônibus.... chapa, sabe como? De cara na biografia de um certo jack e seu bando, então, não tem sacolejar de ônibus que traga de volta o mau humor. É só viajar na estrada e na música. Tenho o péssimo hábito de olhar pras pessoas. Péssimo, porque incomoda um olhar cravado em vc. Mas gosto de olhar, no ônibus, observar conversas alheias e (quase) rir da falta de sentido. da vida. ou seriam os mesmos sentidos que quase todas as vidas têm esses que a gente encontra nessas manhãs em ônibus que param em toda esquina?

penso nisso todo dia: “correr, fugir, me esconder, desistir, abandonar, jogar pro alto e encontrar algum refúgio longe dessa prisão. Eu penso nisso todo dia, até que vc me olha daquele jeito eu consigo adivinhar seus pensamentos e tudo parece quase fazer sentido. E tudo parece quase dizer a verdade sobre aquilo que eu nunca quis saber. (...) vc quebrou o encanto e me fez perceber que a vida se alimenta da perda que ausência é amiga do desejo, que a fome me sacia mais que o sonho . E quando a gente se abraça mesmo sabendo que pode acabar a qualquer instante (...)”.

... não canso de ouvir, não canso... o caminho até o trabalho vai entre risos soltos pra paisagem, pra acordar o dia bem, com o vento batendo no corpo, ao redor das árvores no meio do parque ou no meu quintal. (adri)

1/03/2008

Googleando por aí...

"CANÇÃO PARA OAEOZ" - OAEOZ (single)

O som do OAEOZ (assim mesmo, em maiúsculas) é psicodélico à maneira do Pink Floyd na fase de transição do começo da carreira - quando Syd Barrett já havia enlouquecido e Roger Waters só começava a dar as cartas, na época do disco A saucerful of secrets. E sonolento (no bom sentido), cheio de violões, slide guitars e boas baladas. O single novo traz uma "Canção para OAEOZ" bem mais tranqüila, se comparada a alguns lançamentos anteriores do grupo (como o disco Dias, de 2001), alé do blues "Loucura", do repertório de uma antiga banda curitibana, Ídolos de Matinê. Conheça em www.myspace.com/oaeoz.

do blog Discoteca Básica, por Ricardo Schott