4/30/2008

SOM NA CAIXA Rock adulto e sofisticado

Folha de Londrina

Banda curitibana OAEOZ chega à maturidade sonora com novo álbum ‘Falsas Baladas e Outras Canções de Estrada’


Mesmo que em seus onze anos de existência a banda curitibana OAEOZ tenha zelado pela imagem de uma banda bastante adulta, é com o novo álbum ''Falsas Baladas e Outras Canções de Estrada'' que eles chegam, de fato, à maturidade sonora. Ao mesmo tempo em que as novas músicas estão mais ricas em arranjos, o grupo limou alguns excessos do passado, principalmente em relação aos vocais, que estão mais contidos (antes, quando o vocalista era mais expansivo, a melodia se perdia).
Nas oito canções do novo trabalho, o que se ouve é rock adulto, sofisticado, de músicas geralmente lentas, mas que também tem seus momentos agitados, com inspiração nos alternativos paulistas dos anos 80, como Ira! e Fellini. É música feita por gente normal, que você encontra pela rua diariamente, sem uma produção visual, seja no palco ou fora dele.
O confronto de músicas mostram uma banda versátil. Enquanto ''Ninguém Vai Dormir'' esbanja adrenalina rock'n'roll, ''Distância'' destaca-se como a mais introspectiva do disco. Em ''Negativa'' os arranjos são minimalistas, enquanto ''Impossibilidades'' é generosa em recursos e elementos. Esta última foi lançada como single no ano passado, assim como o folk rock auto-referente ''Uma canção Para OAEOZ''.
Este lançamento pode ser considerado de luxo, pois vem acompanhado de um outro CD, ''Ao Vivo Na Grande Garagem Que Grava'', acomodados em um elegante box de papel cartão. No disco ao vivo, a banda apresenta cinco faixas inéditas. E apesar da gravação ao vivo ser crua, em relação à de estúdio, as músicas mantêm uma alta dose de sofisticação.

SERVIÇO

O álbum pode ser adquirido pelo site www.myspace.com/oaeoz

Rodrigo Juste Duarte
Equipe da Folha

4/25/2008

Falsas baladas e outras canções de estrada





Então. Semana que vem saem finalmente os dois novos discos do OAEOZ. O de estúdio "Falsas baladas e outras canções de estrada", e o "Ao vivo na Grande Garagem que Grava". Ambos serão lançados pela De Inverno Records em parceria com o Senhor F, através do Senhor F Virtual, e estarão disponíveis para download a partir de segunda. Como sempre, tudo isso só foi possível graças a ajuda dos velhos e novos parceiros e amigos, Luigi Castel, Igor Ribeiro, Giancarlo Rufatto, Fernando Rosa, Renatinho, Leonardo Vinhas, e por aí vai. Em relação ao "Falsas baladas", foram mais de dois anos de muito trabalho, idas e vindas, e tudo o que envolve uma produção independente. Sem sombra de dúvida posso afirmar que o maior responsável por esse disco se chama Carlos Zubek. Se não fosse a disposição do Carlão de enfrentar todos os perrengues que a gente viveu nesse período, provavelmente não só o disco não sairia, como provavelmente o OAEOZ já teria feito água. Por isso, faço questão de fazer esse registro, pois só eu sei tudo o que a gente passou pra terminar esse trabalho. Mas o importante mesmo é que o resultado final foi sem dúvida o melhor que a gente poderia ter tirado desse material. Ambos os discos são o testemunho sonoro de nossas vidas, nossas histórias, com tudo o que isso significa. Com o "Falsas baladas", em especial, o OAEOZ dá um passo além no sentido de assumir o controle sobre aquilo que a gente produz. O disco foi gravado lá no estúdio da casa do Carlão, agora batizado de Confraria Z, onde a gente já ensaia há anos. E mixado pelo próprio Carlão, que praticamente foi aprender a mixar pra fazer isso. Ou seja, é um disco em que a gente leva ainda mais a fundo a filosofia "do it yourself". Não é a toa, aliás, que as músicas, de certa forma, refletem esse movimento de "voltar-se pra si mesmo", que o OAEOZ, por vontade e necessidade, assumiu nos últimos anos. Não é por acaso que o disco traz uma música sobre a própria banda - "Canção para OAEOZ", sobre a vida na estrada - "Ninguém vai dormir"; e até uma canção sobre fazer uma canção para alguém que se gosta.
E o mais bacana é que nesse processo todo a gente acabou construindo as condições pra daqui pra frente ter ainda mais autonomia pra gravar e fazer a nossa música. E o que mais me anima é saber que a gente ainda pode fazer ainda mais e melhor.
Abaixo o release e um texto de nosso amigo Leo Vinhas sobre essa história toda.


OAEOZ apresenta dois novos discos de inéditas

“Falsas baladas e outras canções de estrada” sai pelo selo Senhor F Virtual e será distribuído também em formato físico em um box set exclusivo para divulgação junto com o “Ao Vivo no Grande Garagem que Grava”

A banda OAEOZ, de Curitiba faz de uma só vez neste início de 2008, o lançamento de dois novos discos de composições inéditas. Falsas baladas e outras canções de estrada é o novo trabalho de estúdio do grupo, gravado por Luigi Castel e produzido pela própria banda no estúdio Confraria Z, mantido pelo guitarrista da banda ,Carlos Zubek. Ao Vivo na Grande Garagem que Grava apresenta o registro feito com o apoio Fundação Cultural de Curitiba dentro do projeto comandado pela Chefatura Records, produtora integrada por músicos remanescentes das bandas Beijo AA Força/Maxixe Machine.
Surgido em outubro de 1997, o OAEOZ comemorou em 2007 dez anos de atividade com o lançamento de dois singles – Impossibilidades e Canção para OAEOZ, que traziam uma amostra do novo disco de estúdio. O primeiro foi selecionado para estrear o projeto Compacto.rec (http://compactorec.blogspot.com) - série de compactos virtuais lançada pelo Circuito Fora do Eixo, que reúne produtoras, selos e festivais de todo o País. “Canção para OAEOZ” saiu em outubro em formato virtual com exclusividade pelo site paulistano Scream Yell (www.screamyell.com.br), editado pelo jornalista Marcelo Costa.
Os novos trabalhos mantêm a estratégia de divulgação na internet. Tanto “Falsas baladas...” quanto o “Ao vivo na GGG” serão lançados com exclusividade no formato virtual para download gratuito a partir desta segunda-feira(28/4), em parceria com o Senhor F - um dos mais importantes sites de música independente do País, editado a partir de Brasília pelo jornalista Fernando Rosa e que está completando dez anos de atividades em 2008. Além do lançamento virtual, foi produzida uma tiragem limitada em CD de “Falsas baladas” para distribuição exclusiva para divulgação. Aproveitando o fato do novo CD de estúdio estar saindo ao mesmo tempo em que o registro ao vivo da Grande Garagem, os dois discos serão distribuídos em um box set com ambos os trabalhos em formato físico. A produção do material contou com o apoio das Livrarias Curitiba e da Tecnicópias.
O OAEOZ foi fundado em 1997 por Ivan Santos, Igor Ribeiro, Hamilton de Lócco (bateria), e Rodrigo Montanari (baixo). Com essa formação, lançou duas demos - OAEOZ (1998) e De Inverno (1999), e dois CDs - Dias (2001) e Take um (2002). Ajudou a criar o festival Rock de Inverno, que deu origem ao selo De Inverno, criado por Ivan e pela jornalista Adriane Perin. Participou das coletâneas “Novos sons fora do eixo” (2202), lançada pela De Inverno Records em parceria com o Jornal do Estado; e “Raízes da terra” (2003), pelo jornal Gazeta do Povo. Com a saída de Igor no final de 2002, o grupo incorporou André Ramiro (Índios Eletrônicos) e Carlão Zubek (Folhetim Urbano). Em 2005, lançou o CD “Às vezes céu” - com shows no teatro Paiol, em Curitiba; e em São Paulo, no clube OUTs e no Centro Cultural de SP. Recentemente, o OAEOZ também teve músicas incluídas na trilha do filme longa-metragem “Nossa Vida não Cabe num Opala”, que estreou em fevereiro no último festival de Berlim, e é baseado em texto do dramaturgo londrinense Mário Bortolotto, e dirigido por Reinaldo Pinheiro.


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Eu tinha 15 anos e sonhava em ser jornalista musical – depois que algumas aulas de contrabaixo me mostraram que eu teria “dificuldades técnicas” em seguir carreira até mesmo num “Ramones cover”. Era o começo dos anos 90, e cada descrição de um show na gringa ou mesmo na “longínqua” São Paulo (para quem morava no interior e só ia ao litoral com os pais...) valia para mim como a descrição de um épico, para dentro do qual eu era transposto graças à palavras que davam a dimensão do que eu havia perdido.
Acreditava, naquele momento, que o ofício de jornalista musical tinha a ver com saber dar aos leitores a medida exata do que eles haviam perdido, ou perdiam, não estando em determinado show, ou não escutando certo disco. E acreditava no poder transformador/catalisador/entorpecedor da música.
Hoje eu tenho o dobro dessa idade e, sendo justo comigo mesmo, continuo acreditando nesse poder da música. Mas não no jornalismo (e nem apenas no caso do musical). Cumpri meu objetivo, estive em shows, ouvi discos que ganhava de graça para resenhá-los, viajei e achei tudo isso muito frustrante e aborrecido. Conhecer os músicos era um comportamento típico da minha idealização adolescente, mas depois de certo tempo, achei melhor nem conhecer quem compunha uma canção que mexia comigo, da mesma maneira que é interessante que um fiel não conheça a vida íntima do pregador de sua fé. Os pequenos detalhes ganham demasiada importância e arruínam qualquer sonho.
A esse processo de transformação pessoal – que até aqui está restrito à música – soma-se o cinismo que parece ganhar força e tomar espaço, insidiosamente, conforme você vai abandonando a faixa dos vinte. Talvez seja uma característica de nossos tempos e nossa sociedade: começamos a trabalhar muito cedo, a dar a cara à tapa muito jovens, e a crise de meia-idade vem quando nos aproximamos do nosso suposto auge, que é a faixa dos 30 (pergunte ao seu médico, caso você já esteja freqüentando um). O fato é que quanto mais velhos, mais cínicos, e tudo parece tornar-se mais chato e menos empolgante, inclusive (e principalmente) os relacionamentos e a música. Minha geração está se sentindo velha e desesperançosa aos meros 30 anos, isso numa época em que a expectativa de vida supera os 70. Ou seja, não chegamos nem à metade de nossa existência, e já estamos rabugentos e entediados.
Aí calha que por uma série absurda de coincidências, por um ato de molecagem que parece inapropriado à sua “idade”, você faz uma viagem inesperada, cai numa cidade onde ninguém lhe conhece e você sai de lá com várias histórias para contar e até com alguns amigos. Levando ainda alguns discos debaixo do braço, passados pelos mesmos amigos.
Aí, de volta à sua casa, você escuta uma voz saindo de algum desses discos que confessa: “dizem que tenho talento para melancolia, qualquer tipo de fobia, que tenho pena de mim...” Como é que é? Eu acho que reconheço esse sentimento! Não passa muito, uma outra canção confessa que “a vida é fácil, eu é que sou complicado, sempre acabo me enroscando nesses dias tortos. A gente sempre quis ter uma vida simples, mas tudo é tão difícil quando se tenta fazer o que se quer”. Parece que todas as suas contradições adolescentes que ficaram disfarçadas sob camadas de cinismo adulto estão reveladas ali, na sua cara, prontas para ficarem reverberando até você não querer pensar mais nisso, simplesmente porque não consegue se encarar. Porém, esse mesmo disco traz uma canção sobre a estrada que, além de lhe lembrar que você nunca terá viajado o suficiente, lhe propõe que “o peso que carrego nos ombros é só bagagem”.
Foda.
Os anos passam, você passa a viajar para acompanhar aquela banda e vai vendo que, mesmo com a passagem do tempo e muitos meses de estrada, você continua cínico. Puxa, será que a música não te transformou? Será que aquilo que parecida redivivo em você foi só uma última fagulha de um brilho jovem que vai ficar permanentemente soterrado sobre essa carcaça de velho que você criou para si próprio? Live fast, die young, diziam anos atrás. Você não morreu jovem. E agora?
E agora chegam não um, mas dois discos novos dessa banda. Você nem estava esperando, mas eles chegam numa tarde rotineira, vento quente arrastando o tempo. Você tem que ir trabalhar, então coloca os discos no som do carro e nem percebe que, pela primeira vez em muito tempo, as idéias de “cinismo” e “idade” nem passam pela sua cabeça. Algumas palavras vêm lembrar que você não é mais um garoto mesmo, e daí? A esperança nunca foi privativa da juventude e, ademais, todos aqueles escritores de quem você gosta tanto, que ocupam a maior parte da sua surrada biblioteca, começaram a escrever suas melhores obras só depois dos 40. Quem é que estava preocupado com a data de nascimento mesmo?
Mas a queda do cinismo é que é mais interessante. Porque essa banda pode escrever canções a partir de uma conversa entre amigos na laje – uma canção sobre a conversa, aliás. Essa banda escreve uma canção sobre ela mesma, e a relação (não necessariamente idílica) entre seus integrantes. Caramba, essa banda escreve uma canção sobre a vontade que dá de parar com tudo e não se fazer mais o que se quer, talvez começar a fazer o que se “deve”, para evitar tantos aborrecimentos. Mas quem é que consegue viver assim? Com certeza, ninguém para quem a música importa algo conseguiria fazê-lo.
Você começa a andar com os discos na mochila (trinta e poucos anos, e ainda sai de mochila por aí?) e começa a ouvi-los quando dá tempo. Ninguém – seus “colegas” de trabalho, conhecidos, parentes – entende porque você escuta essas canções sem refrão, sem distorções óbvias ou ganchinhos saltitantes. Mas tudo bem. Eles passam suas noites de seu modo ordinário, enquanto o disco lhe recorda que “ninguém vai dormir” enquanto tivermos vontade de fazer algo mais substancial. Mesmo que estejamos de olhos fechados.
É quando você abre os olhos e vê que você mesmo está sorrindo. Sem cinismo.



Leonardo Vinhas

4/20/2008

Millie Jackson - If Loving You Is Wrong



Depois da Sharon Jones and Dap Kings, minha mais nova descoberta no mundo do soul, a cantora Millie Jackson. O disco, Caught Up/Still Caught Up, de 74/75, um petardo de hard soul, por vezes beirando o rock e até o trip hop. No video, ela interpreta a faixa de abertura, em um show em 84. Difícil falar sobre sem cair em adjetivos espetaculares. A interpretação é o mais próximo que um ser humano pode chegar do sublime, e a banda vai no mesmo nível, quebrando a cada requebrar do corpo da mulher. Incrível. Música de gente grande e de sentimentos à flor da pele.

4/16/2008

Beto Só volta em Dias Mais Tranquilos

Bem Paraná/Jornal do Estado

Lançamento pelo selo Senhor F está marcado para meados de maio em Brasília

Adriane Perin

Daniel Madsen/Divulgação

No álbum ele é acompanhado pelos músicos Beto Cavani (bateria), Ju e Bruno Sres (guitarras), Philippe Seabra (baixo) e Felipe Portilho (teclados)

Desde que um email trouxe a notícia de que estava disponível, só pra audição no My Space, o novo disco do brasiliense Beto Só que não consigo parar de ouvi-lo – agora já com as 11 canções devidamente baixadas da mesma página do grupo no site, onde o download gratuito é possível até dia 20/04. Quem preferir o disco “físico”, basta esperar o lançamento pelo selo Senhor F Discos.

Essa audição compulsiva não é fruto da falta de opção, mas provocada por mais um episódio brilhante da música alternativa brasileira. Sinais de Fumaça, o álbum anterior do songwriter Beto Só – nome artístico do jornalista Humberto Rezende - já dizia a que o rapaz veio. Para pôr ternura e delicadeza nesse mundo musical que tantas vezes é tão cheio de pose quanto qualquer outro. O songwriter tem companhia de ilustres companheiros para transformar o que sente e pensa em música apurada que combina sofisticação a um viés pop.

Dias mais Tranqüilos, o disco, é resultado da contribuição de outras mãos e ouvidos muito bem sintonizados. O “rude plebeu” Philipe Seabra mostra mais uma vez que tem mesmo uma sintonia fina e faro aguçado para detectar coisas boas nesse mar de bandas que o circuito independente se tornou. Assina a produção.

Nos créditos deste que é o décimo lançamento do selo independente Senhor F constam também os irmãos Dreher, Thomas e Gustavo, a dupla gaúcha que onde mete o bedelho deixa um marca não só de competência (que ela sozinha não é suficiente), mas especialmente de sensibilidade pra timbres e para evidenciar o melhor daqueles com quem trabalham. É só prestar atenção nos detalhes, no som de cada instrumento para notar que esse disco é resultado de uma entrega cuidadosa em todas as etapas de feitura.
E firma, definitivamente, a marca, o ritmo, a pulsação de Beto Só. Um canto que puxa a gente, desarma primeiro, para depois derrubar, enquanto vai soltando relatos de coração machucado; diário de uma vida que se sublima em canção (“Pára de ranger os dentes/ de frear a própria vida/ entra e fica em paz/ com a gente”).
Um debulhar de sentimentos; jorros de amores - perdido, desgastado, renovado, não desejado, inescapável e, por fim, irremediável (“Não me deixa/ não me esquece/ não me larga/ não me mata/ (...) vê se me esquece, vê se não liga, vê se não volta/ vê se morre”).

Tudo começa com as letras, arrebatadoras, que (não) escondem emoções intensas em baladas que entregam um coração carregado de uma busca que não acaba nunca (“Quero estar desatento pra você chegar”). Aconchego de abraços afáveis (“O pior já passou/ você me faz ver/ eu era mesmo merecedor de dias mais felizes/ de tempos menos nublados/vem aqui me iluminar com seus olhos pequenos/ me faz rir/ e me ensina aproveitar os dias mais tranquilos”). Dias tão corriqueiros quanto preciosos (“...sentar ao balcão com gente de fé/ depois trabalhar/ ... deixa cair se é pra limpar”)
Serenidade, ternura, arrebatamento, inconformismo em forma de baladas que traduzem instantes da procura incessante por algo que de tão perto, às vezes, embaça tudo (“... quero estar desatento pra você chegar”).

Dias mais tranqüilos foi gravado no Estúdio Daybreak, em Brasília, mixagem de Gustavo e masterização de Thomas. Os responsáveis pelos belos detalhes instrumentais - que nunca cansam os ouvidos - são Beto Cavani (bateria), Ju e Bruno Sres (guitarras), Philippe Seabra (baixo) e Felipe Portilho (teclados). A capa terá imagem de Cecília Mori, artista plástica brasiliense. O lançamento oficial está previsto pra maio. Até lá, só no my space.

Serviço
www.myspace.com/betoso

4/14/2008

Corsica Studios, Elephant and Castle, Londres

Esta semana nosso colaborador fala de um autêntico endereço da música independente, na capital inglesas

Marcelo Borges/Especial para o JE


The hole in the wall
O Corsica é a cruza do 92, do Hole, do Peixe-cachorro com um interminável Rock de Inverno, instalado em um barracão industrial em um bairro londrino

Conheci o Corsica Studios quando estava trabalhando no Elefest,(festival de artes de Elephant and Castle) para a Shortwave Films, a produtora que trabalho aqui como freelance. A festa de encerramento do festival foi lá. Que é uma warehouse (barracão) que fica nos arcos embaixo dos trilhos da centenária estação de trem do bairro Elephant and Castle. Nos intervalos das bandas, quando a musica não está muito alta, da pra ouvir o trem passando e sentir as vibrações dos trilhos. O casal Amanda e Adrian Moss abriram o Corsica dez anos atrás e desde então estão no circuito independente europeu promovendo festas e shows. O Corsica é a cruza do 92, do Hole (NR.bares curitibanos), do Peixe-cachorro (república que virou centro cultural improvisado também em Curitiba) com um interminável Rock de Inverno (festival independente da capital) num barracão industrial de Londres. Conversei com Amanda sobre o lugar.

Marcelo Borges — Quando decidiram ter um espaço pra musica ao vivo?

Amanda Moss — Começamos dez anos atrás com a idéia de criar um novo espaço pra musica ao vivo independente e outras formas de arte. Estabelecendo uma plataforma criativa a base de arte com regeneração de espaços vazios, e usando estes espaços com variadas formas de mídias. Nesta época, eu (artista visual) e Adrian (musico e compositor) colaborávamos em um projeto de teatro chamado The Dragon Ladies que envolvia visual arts, musica ao vivo e performances que originaram dois shows. Para nos ficou evidente que isto era uma paixão. A trilha para “The Grotesque Burlesque Revue” foi mais tarde lançada como um mini álbum pelo selo Fin de Siecle. Depois disso montamos uma casa para performances (Corsica Studios) onde poderíamos curar vários eventos, convidando artistas de várias áreas.
MB. — Qual o lugar do Corsica Studios na cena musical londrina?
Amanda — Quando mudamos pra Elephant & Castle o nosso desafio era transformar dois arcos abandonados embaixo da linha do trem em uma casa de shows. Somos uma organização independente sem apoio de investidores e tivemos que levantar uma razoável quantia de dinheiro pra fazer acontecer esta idéia de um novo tipo de casa para shows. Não tínhamos a intenção de correr atrás de apoio do governo ou empréstimos, então traçamos um plano pra levantar o capital. Começamos a fazer festas underground e para as reformas e equipamentos. Tivemos grandes festas, mais relacionadas com cena Club, que definitivamente ajudaram a construir a reputação do Corsica como um lugar Cool para festas, e assim investindo a grana para transformar o espaço no que você pode ver hoje.
Continuamos a fazer festas regulares (sextas e sábados) trabalhando com vários promotores desde o minimal techno e dubstep ate electro e house. A partir daí, criamos nossas próprias noites onde damos mais ênfase para musica ao vivo/club scene/art crossover. Sendo uma casa de arte e musica independente estamos em contato com novos promotores, o que nos da a chance de promover novos atos. Estamos próximos do que acontece em nosso bairro, e o contado com estudantes, que constantemente nos apresentam o que há de novo na musica só sedimenta nossa importância cultural. Quanto a nossa posição na cena de Londres, acho que posso dizer que o tipo de musica que programamos é Alternative/Experimental/Rock que incluem bandas como: Faust, Lydia Lunch, Silver Apples, Cobra Killer, Circle, Guapo, Pharoah Overlord, Devastations, Felix Kubin and Acid MothersTemple, só para citar algumas. O Corsica Studios nasceu pra convergência de estilos artísticos e musicais.
MB —The Electric Storm e the Baba Yaga’s Hut são duas noites curadas por vocês. Como escolhem as bandas?
Amanda — Nós sempre conversamos sobre musica, e nestas conversas sempre fazíamos nossos imaginários line-ups. Um dia falamos: vamos convidar estes caras pra tocar. Vamos convidar todos os músicos que amamos, a assim nasceu a Electric Storm uma noite que aconteceria duas ou três vezes por ano com um tema diferente. Esperaríamos até que as bandas que queríamos tivessem uma data e partiríamos daí. O Electric Storm e um evento com a nossa assinatura que tem a atmosfera de uma grande e selvagem festa. Nos programamos bandas, arte, performance, DJs, VJs, e filmes. Sempre que houver uma Electric haverá um Absinthe Parlour (absinto bar) e cakes (tortinhas mágicas). O sucesso só mostrou que mais bandas queriam tocar no Corsica e em novembro/07 lançamos a Baba Yaga’s Hut (www.youtube.com/babayagashut), uma noite regular focando musica ao vivo. Escolhemos as bandas de jeito semelhante a Electric Storm, com mais ênfase em outros elementos.
MB — O Corsica parece ter uma conexão muito forte com a cena musical de Berlim. Como isto aconteceu?
Amanda — Sempre estivemos ligados em Krautrock e na musica eletrônica que derivou desta cena (pra quem não sabe, Krautrock e a cena experimental de Berlim nos anos 60 que foi popularizada na Inglaterra graças ao DJ John Peel). Uma das nossas bandas favoritas é o Cobra Killer(www.myspace.com/cobrakiller) convidada da primeira Electric Storm. Depois de uma selvagem noite no hotel com Cobra Killer, nossa relação musical foi pra sempre sedimentada. Berlim é uma grande cidade e tantas bandas de vários lugares do mundo parecem passar um tempo por lá. Quando o Cobra Killer voltou pra Berlin a lenda do Corsica foi estabelecida.
MB — Quais são os planos pro futuro?
Amanda — O Corsica não para de crescer. Acho que o importante e mantermos as pequenas coisas que nos fazem únicos, porque existe sempre o perigo de perder a essência. Nós também temos que pensar em garantir nossa posição em Elephant & Castle que esta passando por uma revitalização. O que significa que logo teremos que mudar pra outro endereço. Queremos ficar na área em lugar onde podemos crescer. Temos ambições sociais e já trabalhamos com a comunidade que usa o nosso espaço para aulas de dança e design. Também queremos formar uma aliança com outras casas independentes do Reino Unido e da Europa, e criar um independente circuito internacional que não será ameaçado pelas grandes corporações. E finalmente queremos acima de tudo, continuar a realizar grandes eventos no Corsica que sempre deixam as pessoas com um grande sorriso na cara no final de cada noite.

4/10/2008

O que foi é blá blá blá...


Depois do Beto Só, o Myspace Brasil traz a partir de hoje como destaque outra das nossas bandas prediletas, o Pipodélica, de Floripa, que apesar de ter encerrado as atividades em março último, tá lançando disco novo, gravado e produzido antes do fim do grupo. Conheço e sou fã do trabalho desses guris deste a primeira demo, "Tudo isso", de 2001, quando eles ainda tinham uma garota como vocalista. E já nesse primeiro trabalho dava pra perceber claramente a qualidade da música, das composições do Xuxu, a riqueza dos arranjos da banda, a excelência do instrumental da banda, todos eles grandes instrumentistas. Desde o início, dava pra ver que eles tinham uma identidade própria, que foi se aprimorando ao longo do tempo, e se afirmando, desde o EP seguinte, "Enquanto o sono não vem", que trazia a hoje clássica "Blá blá blá", e depois, no primeiro disco, "Simetria Radial", de 2003, lançado pela Baratons Afins, e que eu considero um dos melhores discos desta geração de bandas brasileiras, a que, modestamente, nós do OAEOZ, temos a satisfação de fazer parte, mesmo que do nosso jeito mais acabrunhado e curitibano.
Não por acaso, foi o Pipodélica o responsável pelo primeiro show do OAEOZ fora de Curitiba, no saudoso Underground Rock Bar, literalmente nas margens da Lagoa da Conceição. Foi a nossa primeira viagem pra tocar fora. Lembro da casa que a gente ficou lá em Jurerê Internacional, das brincadeiras à beira da piscina, enfim, aquelas coisas típicas de viagem de banda. Em 2002, trouxemos eles pra tocar a primeira vez aqui, no Rock de Inverno 3. E depois, novamente pra lançar o "Simetria Radial", no também finado Camorra.
Aliás, vocês notaram como as palavras "finado" e "saudoso" se repetem nesse texto. Vendo a notícia do fim do Pipodélica confesso me bateu uma certa e incômoda sensação estranha de nostalgia. O tempo passou e muitos daqueles que tavam aí como a gente fazendo um som por esse independente brasileiro pararam ou foram fazer outras coisas. Isso faz bater um misto de saudade dos tempos em que a gente ainda alimentava certas ilusões de que isso pudesse nos levar a algum lugar, sei lá, que a gente mesmo não sabia qual seria. E ao mesmo tempo de orgulho, sim porque não, pois por mais que muitos não tenham tomado conhecimento ou não dêem valor a tudo o que aconteceu de lá pra cá, e independente de fatores mercadológicos, o que a gente vê hoje é que essa geração, se não cumpriu todas as expectativas - muitas delas irreais - que alguns e até nós mesmos podíamos ter, construiu uma obra, uma história, que não pode ser ignorada, que estabeleceu sim paradigmas, e que tem um valor inegável.
Lembro que quando a gente começou a estabelecer contatos com as bandas de outros estados que estavam aparecendo no final dos anos 90, início dos 00. O que mais me chamava a atenção é que ao contrário de em outras épocas, em que sempre existiam determinados estilos ou gêneros que prevaleciam e se tornavam predominantes - como o indie guitar shoegazer, ou o hardcore psicobilly, ou as bandas que faziam fusões de rock com música brasileira e ritmos regionais, comuns na primeira metáde da última década do século XX - naquele momento estava surgindo uma série de bandas em vários pontos do País que se identificavam não por fazerem um som parecido ou partirem das mesmas matrizes, mas por buscarem uma identidade musical própria indepentende do que tava rolando, do que seria "cool", ou então comercialmente esperado pelo mercado. Bandas como o próprio Pipodélica em SC, o Momento 68, de Sampa, o Mopho, de Maceió, o Phonopop de Brasília, o 4-Track Valsa, depois Casino, do RJ, e por aí vai. Cada uma com um som completamente diferente da outra, mas todas unidas pelo sonho de fazer boa música, sem rótulos ou fórmulas pré-concebidas. E conhecer essas bandas foi muito importante, pois fez a gente perceber que não tava sozinho, que havia um caminho, e que a gente tava nele também, do nosso jeito, tentando criar um trabalho que fosse nosso, que tivesse qualidade e que pudesse emocionar, tocar as pessoas de verdade.
Até hoje, quando a gente coloca um disco como o Simetria Radial pra tocar fica impressionado com a qualidade das canções e como elas marcaram um tempo em nossas incertas e atribuladas vidas. Como elas ficaram gravadas lá no fundo da nossa mente e impressas em nossos coraçõezinhos perdidos. Saudade de tempos ingênuos e espontâneos que ficaram no tempo.

Mas no final é isso o que conta, as canções que se tornaram a trilha sonora particular de nossas vidas e contam as nossas histórias. Pra mim pelo menos, a certeza que fica é que o Pipodélia e muitas outras bandas podem ter acabado, virado outras, se transformado em outros projetos. Mas as músicas que marcaram nossas vidas vão continuar reverberando por aí por muito tempo, pelo menos para aqueles que tiverem ouvidos e sensibilidade pra ouvir e se deixar emocionar por elas.

Deixo abaixo um texto do Bianchini que fala um pouco sobre isso e sobre o último trabalho do Pipodélica.

"Quando esse texto foi encomendado pela primeira vez, era para contar uma história diferente. Era mostrar como, após um ano de problemas pessoais e a crise que resultou na mudança de formação, a primeira desde 2003, Não Esperem por Nós (segundo “disco cheio”, o bom e velho elepê do grupo) representava não apenas a sobrevivência, mas a continuidade refortalecida do Pipodélica. Acabou que as coisas não saem sempre como o planejado e, em vez disso, veio o fim da banda, anunciado no último dia 2 de março. Triste, mas é isso.

E aí, depois que se sabe o fim da história, é fácil vê-lo como lógico, inevitável e anunciado. É fácil ouvir Não Esperem por Nós, desde o título, como uma carta de despedida. Para quem quiser achar “evidências” de que o Pipodélica caminhava para a
extinção inexorável, há letras com histórias de cansaço e decepção própria e alheia, refrões como “ando tão enrolado, ando tão ocupado e não tenho tempo de viver pra mim” (“Dedos”) ou a busca de auto-afirmação de “sim, eu acho que eu tô certo” (“Hora H”), o encerramento do disco com uma faixa chamada “Crianças Velhas” e outra chamada “Mofado” com o verso “o meu tempo é passado”.

Ou ainda o modo como há um pouco de tudo o que o Pipodélica mostrou que sabe fazer ao longo de pouco menos de uma década de carreira. A simplicidade da balada “Ela Foi…” convive com as sobreposições vocais, mudanças e cordas de “Crianças Velhas” o rockão “As Minhas Cores”, gravado em take único, a delicadeza de “Dedos”, o diálogo de guitarras de “Superlativo” e o discreto embalo rhythm’n’blues de “Mil e Um Canalhas”.

Mas, como eles mesmos dizem em “Essa História” (pop embaladinho com sotaque country), “fale o que quiser, mas deixe valer a verdade”. O problema de levar a coisa para esse lado é a possibilidade de assim roubar do ouvinte um tiquinho da pluralidade e das múltiplas interpretações permitidas por uma obra de arte, que se sustenta por si só como tal, não como crônica de apenas uma história em particular.

Até porque nada daquilo é novidade para o Pipodélica.
A determinação de envelhecer com dignidade e, por isso, necessariamente encarar a maturidade e suas conseqüências é permantente para a banda e remete a seus primórdios, assim como o cuidado nos arranjos. O fato deles estarem ainda melhores, mais texturizados, com filigranas quase imperceptíveis ou a introdução de baixo de “Já Não Mais”, do que em todos os discos anteriores é bastante lógico. E cabe a previsão: poderia ser ainda melhor num eventual futuro diferente, que acabou não sendo possível.

Em vez de lamentar o que não será, os quatro agora tratam de preparar o futuro com seus projetos, individuais ou que envolvam outros integrantes. A vantagem do fim de uma relação dessas é que deixa muitas possibilidades em aberto. E é por sempre haverem gostado de explorar possibilidades que o Pipodélica fará falta."

Florianópolis, março de 2008.

Fabio Bianchini

4/09/2008

Com leite e café



Mais um grande disco de um ano que tem nos brindando com grandes discos até aqui. To falando de "Dias mais tranquilos", do Beto Só, de Brasília, que tá saindo essa semana com exclusividade em formato virtual pelo My Space Brasil, e em seguida, em CD pelo Senhor F Discos. Já sou fã do trabalho do Beto Só desde o primeiro disco, Lançando Sinais, que é um dos mais rodados na vitrolinha aqui de casa. Gosto do jeito dele cantar, das letras singelas, dos arranjos bem resolvidos, das melodias melancólicas e ternas. Em meu mundo ideal, é o tipo de som que tocaria nas FMs e embalaria o casalzinho adolescente da novela das sete. Mas enfim, isso não vem ao caso.
O fato é que o novo disco do cara tá ainda melhor, canções fudidamente belas, arranjos perfeitos, capitaneados pelo Ju, guitarrista e irmão do Beto, que conheci quando ele veio pra cá a primeira vez tocar com o Phonopop, em um show que produzimos ali no finado Vintage, com abertura do Sofia. Deve ter sido lá por 2001/2002 isso, não sei exatamente. Mas enfim. O Beto Só faz música daquele jeito que eu gosto, ou seja, absolutamente despreocupado se o que tá rolando é newelectropósgrimesheetandfucking sei lá o que. Simplesmente boas canções, boas melodias, boas letras. Parece meio óbvio, mas é que isso me parece cada vez tão mais raro que quando se encontra é motivo de celebração. Além disso, é um disco que não deve nada em termos de qualidade de produção a qualquer disco de banda gringa ou do mainstream. E não é a toa, afinal foi gravado no estúdio do Philipe Seabra (Plebe Rude), mixado e masterizado pelos irmãos Dreher. Enfim, só fera. Tem uma resolução sonora impressionante, com guitarras e cordas te envolvendo de uma forma absolutamente irresistível.
Desde ontem, quando soube que tava saindo, não consigo parar de ouvir. Gosto em especial das baladas, a começar por "Desatento", "Abre a janela", a faixa título "Os dias mais tranquilos".

E to viciado em "Todos logo ali", onde ele fala

"Pára de ranger os dentes
De frear a própria vida
Entra e fica em paz
Com a gente"


To ouvindo de novo aqui "Abre a janela" e pensando que é um daqueles discos que me causa uma "inveja branca", do tipo "queria ter feito essa música". Maravilhoso. Mas um dia a gente chega lá (eheh). Por hora me contento em ouvir e me deliciar em coisas como "Com leite e café", desde já uma das melhores do ano, e um clássico, com seu arranjo que começa acústico minimalista e vai num crescendo incrível. Fora a letra, de uma singeleza acachapante:


Com leite e café
(Beto Só e Ju)


Dorme agora
Esquece, me ouve:
a vida de antes ficou pra trás
Ontem e hoje, nunca mais

Espera amanhã
Tão logo, bem cedo
Vamos sair pra ver o sol
Sombras e nuvens, nunca mais

Vamos brindar com leite e café
Comemorar
Sentar ao balcão com gente de fé
Depois trabalhar

E se chover
Pode deixar
Deixa cair
Se é pra limpar


Enfim, um disco pra se curtir do começo ao fim, e que mostra mais uma vez que longe dos hypes vazios e das figurinhas carimbadas de sempre, existe sim vida inteligente e música de primeira categoria feita por gente de verdade nesse Braziú!

Fiquem atentos porque o disco estará disponível para download gratuito a partir desta quinta-feira no My Space.

4/07/2008

Back to Brixton

Jornal do Estado

No segundo artigo de sua série das segundas-feiras, Marcelo Borges fala de Brixton

Marcelo Borges/Especial para o JE

Se você sair da estação de metro de Londres e ouvir “Sssskunk…. Ssskunk,... Skunk Mate”, pode ter certeza que pegou a Victoria Line e esta saindo da Brixton Tube Station. Brixton pra mim é uma mistura de Rio de Janeiro e Salvador em Londres. Brixton Road, a avenida do bairro, era um dos famosos caminhos que levam a Roma. Em Londiniun, aquela que os romanos fundaram, Brixton Rd era o lugar do mercado das especiarias do continente. Muita historia depois, o bairro renasce como símbolo da diversidade cultural que os ingleses, ainda assustados do pós-guerra, tiveram que engolir. Aqui, nos anos 50 chegaram os caras do caribe, muitos da Jamaica - cores e culturas que mudaram a cara do bairro pra sempre. Nunca se vendeu tanto incenso em Brixton. Reggae, dub, pot, jazz, cerveja red stripe, skunk, squatters e a policia nunca mais saíram de Brixton.

Vim parar aqui a primeira vez em 1990, mas não lembro de quase nada, a não ser das cores e da musica caribenha alta nas ruas. Foi uma visita rápida, e eu e uns amigos voltamos logo para casa, do outro lado do rio, com uma sacola cheia das especiarias de Brixton. Em 2004 pela primeira vez morei por três meses em Brixton Hill escondido no quarto da Patrícia - minha cara metade. Escondido porque a landlady miss Carmem, dona Carmem para nós, não podia saber que no menor quarto do mundo tinha um clandestino. Três meses andando escondido pelos corredores da casa pra chegar ao banheiro. Foi nesta epoca que descobri lugares como o The Windmill, pub fundamental na nova cena independente de Londres, que de segunda a segunda tem no minimo três bandas por noite.

No mercado, ar livre, feira livre, se pode comer de tudo, do pastelzinho de bacalhau a Sagres do portuga; do fish and chips, ao sempre indispensável traditional english breakfast. Também é o lugar de muitas peixarias e açougues, da até para conseguir picanha e alcatra brasileiros. E na esquina, tá lá o Brixton Academy, arquitetura clássica das mais belas que já vi e um do melhores lugares para ver um show. Em qualquer lugar se está do lado do palco. Dizem as mas línguas que quase foi vendido para o Edir Macedo. Inacreditável!

Pancadaria foi reação à repressão policial
Hoje estou passando um tempo na casa de um amigo que mora em um dos squatts mais antigos de Brixton. Este lugar esta ‘escotado” há mais de 22 anos. Fica do lado da Eletric Lane, que tem este nome, por ter sido a primeira rua com eletricidade do bairro. Da janela dá pra ver o relógio na torre do Town Hall, que fica em frente do Ritzy cinema na Oval Square.
Brixton é um bairro famoso principalmente pelos Race Riots, pancadaria mesmo, que rolaram nas ruas em 1981 e 1985. A moçada caribenha cansada pelo eterno Search, geral que a polícia dava constantemente nos moradores estrangeiros e nos locais, decidiu abrir a boca.
Basta de repressão. Começou nos anos 50 quando alguns jovens ingleses, na maioria rockers americanizados, que insistiam em tomar Jack Daniels perto da Escócia, e muitas vezes inspirados pelo BNP “British Nacional Party”, partido de inspiração neo-nazista, viram a sua “pureza racial” ameaçada pelos jovens caribenhos que seduziram as meninas inglesas.
Nos anos oitenta umas mil pessoas foram paradas na rua pela polícia em apenas um mês, simplesmente por serem estrangeiros, desempregados, pretos ou seguidores de Jah. Foi a gota d’água. Os jovens negros, filhos de imigrantes, na maioria jamaicanos, geração esta nascida na Inglaterra, “British Citizens”, incorporados no Britsh Way of Life, foram pra rua em protesto.
Foram apoiados pelos Punks e pelo Partido Socialista. Quebraram tudo. Carros incendiados, vitrines destroçadas... e assim a Inglaterra nunca mais foi a mesma. A diversidade cultural estava instituída na marra na cultura britânica.
EM TEMPO: Se o leitor quiser saber mais sobre brixton, uma boa dica é assistir a The clash rude boy, filme dirigido por Jack Hasan and David Mingay, que conta a história de Ray Grange que mora em Brixton e descola um trampo como roadie do Clash. Várias imagens do mercado de Brixton nos anos oitenta e cenas de um dos riots.

4/03/2008

Veja o show, ouça o disco

E completando o nosso show pra ourselves mesmos:

Hoje


Reza


Vazio


Blues da salvação



Noturna


Um mau passo/Spiritual


E o Bad Folks tá lançando seu primeiro disco. Baixa lá.

4/01/2008

London calling

E no Jornal do Estado saiu ontem o primeiro de uma série de textos que serão publicados semanalmente de nosso amigo Marcelo Borges, direto de Londres. O primeiro é sobre um show do Portishead que ele viu por lá e sobre a cidade homônima.

Portishead ao vivo em Bristol


O videomaker e fotógrafo curitibano Marcelo Borges, atualmente vivendo em Londres, conta sobre o show da banda inglesa ícone do trip-hop, que está com disco novo e raros shows agendados

Marcelo Borges/divulgação

Portishead: nada foi dito além do necessário

Marcelo Borges - Especial para o JE

A primeira vez que ouvi Portishead foi no show do Cores D Flores no primeiro Rock de Inverno no finado Circus Bar, em Curitiba. No palco, Marielle Loyola e Cassio Linhares (Zeitgeist Co.), num dueto nervoso, na versão deles de “Sour Times”. Ok, isso foi em 2000 e a musica é do disco Dummy de 1994. Demorei seis anos pra ouvir Portishead.
Em 2004, quando fiz uma viagem de bicicleta de Londres a Dublin, e já conhecia os álbuns da banda (Dummy, 1994, Portishead, 1997, Glory Times remix, e Roseland New York ao vivo 1998), decidi que terminaria a etapa inglesa da viagem em Portishead. Queria fumar um cigarro olhando pro rio Severn, queria estar na cidade natal de Geoff Barrow, o cara que colocou Portishead e o trip-hop no mapa. Acampei em Portishead ouvindo Portishead. Confesso que não gostei do lugar. Depois de uma semana pedalando pela Inglaterra, Portishead a mim pareceu morta, vazia, lugar bom pra quem ta a fim de ficar tranqüilo, bom pra deixar pra traz. Diz a lenda que a prefeitura da cidade desistiu de por placas com o nome do lugar, cansou dos roubos freqüentes, coisa de fan hardcore. No dia seguinte segui viagem para Cardiff no pais de Gales, e enquanto pedalava pensei que queria ver um dia Beth Gibbons cantando ao vivo. Parecia impossível.
Quase quatro anos depois, a banda que não lança um álbum de estúdio desde 1998, revela que o aguardado terceiro álbum está sendo mixado e três shows foram confirmados pra dezembro: Duas noites no All Tomorrow’s Parties/Nightmare Before Christmas, que é um festival de inverno, com a curadoria de 2007 a cargo do Portishead, e uma “gig” no minusculo Academy, em Bristol, cidade onde Barrow conheceu Beth Gibbons, e mais tarde, Adrian Utley e Dave MacDonald foram definitivamente integrados a banda.
Bristol e uma cidade portuaria, com tradição estaleira. Foi la, em 1843 que o primeiro navio de aço foi construído, o ss Great Britain que viajou em 1845 de Liverpool a Nova York. É também conhecida por ser a capital dos piratas ingleses. Sendo que o mais famoso, o legendário “Black Beard”, dizem os locais, ainda assombra o lugar.
Em dezembro, inverno por aqui, o frio e o vento só permitem ficar no máximo uma hora pelas ruas, o jeito e achar um Pub pra esquentar. Na frente do Bristol Academy, lugar do show, fica o The Hatched Inn , o pub mais antigo da cidade, aberto, segundo a placa na porta, por cerca de 1500. Fico ali tomando uma Guinnes, olhando pela janela do pub a modesta fila que começa se formar do outro lado da rua. Depois da terceira “pint”, fico pensando olhando pras vigas no teto do bar, teto que tem a idade do Brasil, que finalmente vou ver Portishead ao vivo, vou ver o show em Bristol. Um brinde barba negra, tenho que ir.
Team Brick abriu a noite, show de um homem só. Voz e pedaleiras. A voz de frei franciscano com muita distorção, e no meio o cara toca um sax nada saxofônico em cima dos loopings da voz em clima de capela. Gostei de Team brick, e por sorte vou filmar o cara em abril no meu trabalho semanal no Corsica Studios em Londres. Depois falo mais dele.
Blackout. Voz gravada em “português brasileiro” enquanto Portishead entra no palco: “.......O que você dá retornará pra você, esta lição você tem que aprender, você só ganha o que você merece.” No fundo os acordes suaves da nova “Wicca” seguida pela também nova, “Hunter”. Na terceira musica, “Mysterons” – opa, esta eu conheço. Caiu a ficha, que aquela mulher, bem mais madura, com até algumas ruguinhas na cara, era a Beth Gibbons dos vídeos de dez anos atraz. Reconheci o jeans e a camiseta preta. Reconheci a letra: “Dentro do seu fingimento/Crimes foram varridos à parte/Em algum lugar onde eles podem esquecer…..” Did you really want, mate? Só fiquei sabendo mais tarde, quando vi o set list , que aquela musica dedilhada no violão, que não reconheci, com a aquela voz de perda e desilusão, num crecendo hipnótico era a “outra” nova, a intensa “Mystic”. “Glory Box”, “Numb” e “Wandering Star” vieram na seqüência, olhei pros poucos gatos pingados atrás de mim e vi bocas abertas e olhos fixos na banda e nas projeções. Como foi bom ver mais um show com “visuals”, mas sem pirotecnias, loopings animados em flash e samplers de clichês cimematográ ficos. No palco somente meia dúzia de webcams fixas, a maioria em close-ups da banda, projetados em “Low-fi”. Simples e eficiente.
A industrial e minimalista “Machine Gun” foi a quarta musica nova da noite. “Over, Sour Times”, “Only You” e “Cowboys” fecharam o set. Nem uma palavra a mais foi dita. A banda deixa o palco e o pedido de More, more, moooooore....., é imediato. Retornam pras derradeiras “Roads” e a ultima da noite, a contagiante e também nova, “Peaches”. Portishead e uma banda que consegue falar de amor, perda, desilusão, desespero, solidão, deslocamento e rendição numa mesma sentença.
Nada em vão foi dito, nada além do necessário. Apenas um timido Thank you, fora do microfone, no final. O jeito foi tomar mais uma em silêncio no the Hatched Inn.


aqui vocês podem conferir um video do Marcelo desse show:


E abaixo mais vídeos do nosso show particular:

Venha Comigo


Hoje


Noites passadas



Desculpas