2/03/2006

Essa entrevista saiu no site Descubra Curitiba, a propósito do show da Fnac.

Pocket com OAEOZ na Fnac

Músicas inéditas ainda em gravação compõem o repertório do pocket show que a banda curitibana OAEOZ apresenta nesta quarta-feira na Fnac. O som do grupo é intimista, ganha força com as guitarras e é influenciado pelo rock 1970’s, música progressiva e psicodelismos.
Além das novidades, o público vai ouvir algumas composições do álbum Às Vezes Céu – o primeiro da banda gravado inteiramente em estúdio, entre fevereiro e março de 2004. O CD foi lançado pelo selo De Inverno Records, criado pelo fundador da OAEOZ, Ivan Santos, e sua esposa, a jornalista Adriane Perin.
O Portal Descubra Curitiba conversou com Ivan sobre a apresentação “minimalista” que a OAEOZ fará na Fnac. Na entrevista, o editor de política do Jornal do Estado e vocalista da banda conta mais sobre o novo trabalho e a cena alternativa na capital paranaense. Confira:

PORTAL DESCUBRA CURITIBA - Vocês já estão trabalhando no novo CD?
IVAN SANTOS – Eu não sei se vai ser um CD, estamos trabalhando em músicas novas, inéditas, que vão entrar em um novo trabalho. Ainda não sei se será um disco físico ou virtual. Hoje, CD é mais para divulgação. Está caindo em desuso, é uma mídia em vias de extinção. Já gravamos a base de quatro músicas, devemos terminar até o final do 1º semestre.

Como são as novas músicas?
Na essência, seguimos a mesma linha desde o começo, que é o rock com base em folk e elementos de jazz. Há momentos mais introspectivos e outros mais experimentais. O que difere nesse trabalho é a coesão da banda. No CD anterior, o Carlos Zubek e o André Ramiro estavam há pouco tempo na banda, ainda havia um processo de entrosamento. Agora já tocamos em São Paulo, Porto Alegre, no interior do Paraná... Inclusive, no próximo disco, uma das faixas tem música e letra do Carlos. A banda está mais coesa, o som mais sólido, reflete o entrosamento maior. A maioria das composições continua minha, o som está um pouco mais pesado e mais sintético. As letras continuam bem confessionais – a música é um veiculo para contar nossas histórias.

Desde quando você compõe?
Comecei a compor a sério a partir de 1994 ou 1995. Eu e o Igor [Ribeiro], atual ESS, somos fundadores da banda. Nós e o Rubens K, da Terminal Guadalupe, começamos a compor junto e foi aí que se formou o embrião da OAEOZ.

O repertório do pocket show são as músicas novas ou as canções do CD “Às vezes céu”?
A maioria são músicas novas, com roupagem um pouco diferente. O baixista não vai participar, ele está viajando. A gente aproveitou o que seria um problema para transformar o show em uma coisa mais introspectiva, mais minimalista, com a bateria usando a coisa da percussão. O show normalmente é mais explosivo. Adaptamos até por uma questão de adequar ao ambiente e ao horário, queremos fazer uma coisa que envolva o publico.

Alguma das novas músicas já está disponível na internet?
Tem uma gravação inédita que a gente fez no Tributo a Fellini [banda de rock brasileira dos anos 1980] que a gente pôs no “my space”, é uma versão de Città più Bella do Felline. O tributo ainda não saiu.

Qual é o público da OAEOZ?
É difícil dizer, porque a gente não se encaixa nem na cena underground, nem na mainstream, a gente não se prende a nenhuma fórmula, a nossa música é muito espontânea, sempre tivemos isso como princípio básico da banda. O público vai desde pessoas mais velhas até a molecada que conheceu agora e freqüenta o festival Rock de Inverno. No show de lançamento do Paiol, por exemplo, tinha gente que eu nunca tinha visto em um show nosso.

Você está bem integrado na cena alternativa curitibana com a banda e o selo De Inverno, e é casado com uma jornalista que cobre música independente. Que análise você faz da cena musical curitibana neste momento?
O momento é muito bom, no geral muitas coisas estão acontecendo e as bandas estão se firmando. O próprio ESS está crescendo, recentemente rolou um lance envolvendo o Bonde do Rolê, um grupo de DJs que vai ser produzido pelo memso produtor da M.I.A. Há uma série de núcleos coletivos de produção, são várias cenas convivendo paralelamente: psycho, hardcore (praticamente profissionalizada), reggae, mod... O Faicheclairs está com gravadora, está para sair o DVD da Relespública pela MTV (um fato histórico, porque é a primeira banda independente daqui que consegue espaço maior na mídia nacional. Agora, é sempre tendo que matar um leão por dia. O trabalho é constante e o desafio é ter continuidade. A Relespública é um exemplo perfeito dessa persistência e continuidade

Já dá para viver de música?
Não, o mercado é muito restrito, a indústria musical no Brasil é viciada, decadente, vive na mesmice. A chance de se projetar é muito pequena e discos não vendem mais praticamente. Determinados nichos, como o hadcore (o Sugar Kane), conseguem sobreviver do que fazem. A maioria faz porque gosta, quer e tem naquilo uma forma de expressão. Não quero transformar a música em trabalho, porque seria contraproducente. Até porque a nossa não música não é de consumo rápido, fácil. Exige um grau de atenção em que o grande público não tem interesse.