11/26/2006

"Aquelas canções fizeram realmente a diferença"

"... E estou eu um domingo na casa da mesma namorada, deixando algumas músicas tocarem enquanto outras coisas se desenrolavam, e vem um arranjo simples e envolventemente belo me seduzir os sentidos, enquanto uma voz grave mas nada imposta murmurava: "são os dias engolindo as idéias / tempestade que não passa mais / ontem eu vi alguém que se ama / isso é raro e já não me toca mais". Aquilo pegou. Pegou como "Jukebox", do La Carne, pega - ou seja, é uma apertada firme e impiedosa no âmago, uma coisa que tortura aquele farrapo bem remendado que chamamos de alma. E que, ainda assim, enternece.

Não demora muito, uns "ooh... oo-ooh" tal como um U2 rasgado vêm me chamar a atenção para uma explosão que gente bacana já definiu como ingênua: "não feche os olhos pra sonhar / não pare para descansar / a vida segue e procura o fim / sozinha". Talvez seja ingênua mesmo, mas o que os farrapos do parágrafo acima tentam esconder é a ingenuidade de quem, mesmo não sendo tocado pela visão de "alguém que se ama", ainda se permite ver o hoje com um tesão e até uma esperança que fazem com que a palavra "futuro" possa até deixar de ser figura de linguagem. Algo poderoso, involvidável, urgente, preciso. E emocionante e necessário."

trecho do belo e tocante texto do Leo Vinhas sobre o disco do Folhetim Urbano, e do porquê da música ser tão importante pra certas pessoas, como a gente.
Lembro de um dia um amigo perguntando retoricamente: "cara, porquê será que a gente gosta tanto de som". Sei lá. acho que a música tem o poder de "aprisionar", guardar certos sentimentos, emoções que te atingem de forma indelével em determinados momentos da tua vida, como uma pequena cápsula sonora que a cada vez que você abre, te traz de novo aquelas sensações que te invadem e te jogam em uma espiral do tempo há ponto de certas canções se tornarem parte da sua vida, como se a tua vida fosse um filme e essas canções compusessem uma trilha sonora particular. Sobre a pergunta que o Leo faz: "O que é para alguém saber que, em algum lugar, alguém está pautando uma decisão baseada naquilo que aquela canção lhe trouxe? Ou mesmo saber que as emoções, sonhos e outras coisas se desenham no imaginário e no coração de quem está ouvindo algo que você compôs e gravou junto com amigos ou até desafetos?".

Não posso responder pelo Carlão e o Renatinho, mas posso dizer que se eu fosse eles estaria muito contente com o que você escreveu, Leo, como fico muito contente pela forma carinhosa a que você se refere a "Dizem". Com certeza, saber que a tua música tocou alguém dessa forma e a esse ponto é a melhor coisa que a gente poderia querer. É como se o ciclo que começa na inspiração que te vem, se concretiza na feitura e produção da música se completasse ao provocar essas emoções no ouvinte. (sei lá, não liguem se eu estou viajando demais na maionese, mas é o resultado de um fim de semana agitado pós-Kerouac do Bortolotto, churrasco na casa do Marcelo e da Paulinha, vômito na saída e um domingo tedioso de plantão no jornal). Faz valer cada segundo de perrengue, frustração, impotência e inadequação que a gente tá tão acostumada a enfrentar nesse caminho que as vezes até esquece o porque de se insistir em algo que parece muitas vezes tão sem sentido pra maioria.
Particularmente, e sem qualquer falsa modéstia, tudo o que eu queria com a minha música hoje e sempre sempre foi isso mesmo: causar nas pessoas o mesmo sentimento "quente" e avassalador que eu sentia quando ouvia as canções que me tocavam pessoalmente, como aquelas produzidas por gente que me é tão cara como Tindersticks, Arnaldo Baptista, Morphine, Mercury Rev e tantos outros. Sempre disse que o dia em que eu conseguisse isso, poderia morrer feliz. Sinceramente ainda não fiquei totalmente satisfeito com nenhuma das nossas gravações e tal (papo de músico, eu sei, mas eu não sou músico, então posso). Mas fiquei sim, muito satisfeito com a reação de certas pessoas (mesmo que não tantas assim), pessoas cuja opinião me é muito mais cara do que a da maioria dos "criticuzinhos-profissionais-descolados" que têm por aí. Porque são pessoas que eu sei, jamais falariam (ou escreveriam) certas coisas apenas para agradar (até porque não teriam nenhum motivo para isso, pois a maioria delas a gente sequer conhecia pessoalmente ou tinha uma relação de amizade próxima).

E também faço questão de dizer que hoje em dia, boa parte dessa trilha sonora emocional da minha vida é composta por canções de pessoas que eu tenho o maior orgulho não só de conhecer como partilhar da amizade e da parceria, como "Cachorro Magro" (Íris), ou "Simples" do Deus e o Diabo, várias do Blanched, e tantas outras que agora eu não lembro de cabeça agora. Por isso, sem qualquer tipo de demagogia posso dizer que hoje, entre as minhas principais "influências" (o palavrinha horrível), estão caras como Rubens K, Igor Ribeiro, Marcos Gusso Coelio, Camarão, Linari (La Carne), e por aí vai. Porque são caras que eu não só aprendi a conviver e respeitar e desfrutar da imensa generosidade, mas que principalmente, produziram canções que eu não consigo ouvir sem sentir um "travo" no peito, e uma mistura de sensações de ternura, angústia e terna melancolia, que preenchem os meus dias como uma moldura sonora, contando as nossas histórias, pra quem quiser e tiver a coragem de mergulhar nelas.
abraço Leo, e obrigado por fazer meu domingo melhor.

Leiam a íntegra do texto no blog do Leo. Vale a pena.

11/24/2006

Tomô, papudo!

Essa eu pesquei no blog do Douglas Dickel (Blanched). Achei muito legal:

Numa recente feira de informática (Comdex), Bill Gates fez uma infeliz comparação da indústria de computadores com a automobilística, declarando: "Se a GM tivesse evoluído tecnologicamente, tanto quanto a indústria de computadores evoluiu, estaríamos dirigindo carros que custariam 25 dólares e que fariam 1000 milhas por galão (algo como 420 km/l)".

A General Motors divulgou o seguinte comentário:
Se a Microsoft fabricasse carros:

01 - Toda vez que eles repintassem as linhas das estradas, você teria que comprar um carro novo.

02 - Ocasionalmente, dirigindo a 100 km/h, seu carro morreria na Auto-estrada sem nenhuma razão aparente, e você teria apenas que aceitar isso, sem compreender o porquê! Depois, deveria religá-lo (desligando o carro, tirando a chave do contato, fechando o vidro saindo do carro, fechando e trancando a porta, abrindo e entrando novamente. Em seguida sentar-se no banco, abrir o vidro, colocar a chave no contato e ligar novamente). Depois, bastaria ir em frente.

03 - Ocasionalmente a execução de uma manobra à esquerda poderia fazer com que seu carro parasse e falhasse. Você teria então que reinstalar o motor! Por alguma estranha razão você aceitaria isso como "normal".

04 - A Linux faria um carro em parceria com a Apple, extremamente confiável. Cinco vezes mais rápido e dez vezes mais fácil de dirigir. Mas apenas poderia rodar em 5% das estradas.

05 - Os indicadores luminosos de falta de óleo, gasolina e bateria seriam substituídos por um simples "Falha Geral ou Defeito Genérico" (permitindo que sua imaginação identifique o erro!).

06 - Os novos assentos obrigariam todos a terem o mesmo tamanho de bunda.

07 - Em um acidente, o sistema de air bag perguntaria: "Você tem certeza que quer usar o air bag?"

08 - No meio de uma descida pronunciada, quando você ligasse o ar-condicionado o rádio e as luzes ao mesmo tempo, ao pisar no freio, apareceria uma mensagem do tipo "Este carro realizou uma operação ilegal e será desligado!"

09 - Se desligasse o seu carro utilizando a chave, sem antes ter desligado o rádio ou o pisca-alerta, ao ligá-lo novamente, ele checaria todas as funções do carro durante meia hora, e ainda lhe daria uma bronca para não fazer isto novamente.

10 - A cada novo lançamento de carro, você teria de reaprender a dirigir. Coisa fácil: voltaria à auto-escola para tirar uma nova carteira de motorista.

11 - Para desligar o carro, você teria de apertar o botão "Iniciar".

12 - A única vantagem: Seus netos saberiam dirigir muito melhor do que você!

11/22/2006

Distância

Onde vai dar
essa distância
que alimento há tanto tempo
e me esqueço
como voltar
quem vai achar
a diferença
se a verdade se despede como farsa
no fim

vivo a cata de motivos pra estar vivo
só o existir me empurra pro abismo
as vezes o viver também
sabemos disso
os dias passando só pra preencher o tempo
como rabiscos num caderno antigo
não me interessam mais
embora me atropelem quase sempre

onde vai dar
essa distância
que alimento há tanto tempo
que me esqueço
como voltar
quem vai achar
a diferença
se a verdade se despede como farsa
no fim

o fim que chega toda manhã
quando você fica na cama dormindo sozinho
a tv ligada, as vozes, as luzes na janela aberta
mas eu só queria te contar uma história
voltar pra casa e lembrar cada detalhe escondido
seria belo e rápido como tudo que a gente
construiu e ruiu, no instante seguinte

onde vai dar
essa distância
que alimento há tanto tempo
que me esqueço
como voltar
quem vai achar
a diferença
se a verdade se despede como farsa
no fim

Texto de Ivan Santos, com Adri Perin e Rubens K para música do OAEOZ

11/21/2006

Hoje tem...

Jam Session com leitura de textos no Porão Loquax

Então, terça feira, 21/11 vai ter Jam Session com leitura de textos no Porão Loquax, espaço anexo ao Wonka Bar. Inicialmente a bagaça toda seria com o Mário Bortolotto, mas ele teve de voltar pra São Paulo resolver uns compromissos e só estará em Curitiba quinta-feira, 23/11, para Kerouac. É uma pena, mas isso acontece. Queria dizer que os livros do Mário vão estar à venda durante a Jam toda – É só falar com o Régis, que ele é o cara. Ficou assim:Terça-feira, 21/11, Jam Session com leitura de textos (o microfone estará aberto pra quem tiver alguma coisa a dizer), no Porão Loquax, espaço anexo ao Wonka Bar. Estão todos, músicos e poetas e quem mais vier, convidados.

Serviço:Jam/TextosA partir das 22:00Ingresso: R$ 1,99Espaço Porão Loquax fica anexo ao Wonka Bar: Trajano Reis, 326

informações/reservas: Fones – 3026-6272 / 3014-6252.


a gente vai tá lá
todo mundo intimado

11/17/2006

"Nova" internet

a frase é manjada, mas continua atual. "Cada vez que um deputado deixa de ter uma idéia, o Brasil melhora". A mais nova é essa história de "controle" da internet. O comentário mais legal que eu vi sobre isso ta aí nesse link abaixo. Uma charge que ensina "passo a passo" como usar a "nova internet". hilário. fiquei com preguiça de copiar então entra lá e confere. ótimas risadas.

http://d00dz.org/~gwm/internetbr.html

11/14/2006

Kerouac, Bortolotto, santos e desertores em Curitiba


Daqui até semana que vem, Curitiba finalmente terá a oportunidade de conferir in loco o trabalho do Cemitério dos Automóveis, grupo de teatro encabeçado pelo Mário Bortolotto, e que há dez anos não se apresenta na cidade. Eles vão apresentar duas peças “Keroauc” e “Homens, santos e desertores”. Faz tempo que eu tô a fim de ver isso. Já chegamos várias vezes a planejar ir até Sampa pra ver, mas os problemas de sempre (grana, trampo, tempo), acabou não rolando. Agora não vai ter desculpa. E com certeza vai ser muito legal.
Além disso, até lá também vão acontecer várias festas e tal que vale a pena conferir. O lance começa hoje à noite, no Porão Loquax, com o Marcelo Montenegro – ator do grupo – acompanhado pelos brothers Rubens K, e o Carlão (Folhetim/OAEOZ). Na semana que vem vai ser com o próprio Mário no mesmo local. Abaixo mais detalhes da história toda.

CEMITÉRIO DE AUTOMÓVEIS EM CURITIBA
O Grupo “Cemitério de Automóveis” fundado em Londrina e atualmente radicado em São Paulo volta a Curitiba depois de 10 anos e traz dois espetáculos dos mais recentes.
O Grupo “Cemitério de Automóveis” é dirigido pelo Dramaturgo, Diretor e Ator Mário Bortolotto, mas o irônico é que justamente as duas peças que estarão sendo apresentadas em Curitiba não tem a sua assinatura na direção.
São dois espetáculos muito elogiados pela crítica paulistana.

HOMENS, SANTOS E DESERTORES
Um homem vive recluso em casa, cercado de livros. Um Garoto sente uma profunda identificação com o Homem e passa a freqüentar a sua casa. O Homem reluta em aceitar as visitas do Garoto por saber que não há saída para pessoas como ele.
A peça foi escrita em 2.002 e estreou em 2.003. Mário Bortolotto sempre afirma que trata-se do seu texto preferido. A direção ficou por conta da atriz Fernanda D´Umbra e os atores são Mário Bortolotto e Gabriel Pinheiro.

FICHA TÉCNICA
Texto : Mário Bortolotto
Direção : Fernanda D´Umbra
Elenco : Mário Bortolotto e Gabriel Pinheiro
Iluminação : Fernanda D´Umbra
Sonoplastia : Mário Bortolotto
Operação Técnica : Marcelo Montenegro
Direção de Palco e contra-regragem : Régis Santos
No Auditório Glauco Flores de Sá Brito (Mini-Auditório do Teatro Guaíra)
Rua Amintas de Barros, s/n – Centro
(próximo a Praça Santos Andrade)
De 16 a 19 de Novembro
Quinta a Sábado : 21h
Domingo : 20h
Ingresso : R$ 20
Estudante, Aposentados e classe artística : R$ 10

KEROUAC –
“Kerouac” é um projeto antigo da dupla Mário Bortolotto & Mauricio Arruda Mendonça. Os dois são escritores e fãs do escritor beat. Enfim eles conseguiram realizar o projeto.
“Kerouac” é um monólogo escrito por Mauricio Arruda Mendonça especialmente para o amigo Mário Bortolotto interpretar. Mostra o escritor Jack Kerouac, já velho e no final de sua vida. Ele está inchado de tanto beber e profundamente amargurado. Está casado com Stela Sampas, e mora na casa da mãe Gabriele, que está paralítica. Kerouac não é nem de longe o herói beat e com sede de vida do começo de carreira. É sim, um sujeito angustiado que não soube administrar todo o sucesso que teve depois da publicação de seu clássico “On the Road”. Está detonado, batido pelo peso dos anos, pelo fracasso literário, pela solidão, pelo álcool e pelas drogas. No começo da peça, Kerouac acaba de voltar de sua última viagem de carona, uma tentativa mal sucedida de repetir as façanhas de sua juventude. É madrugada do dia de natal e ele está tentando lembrar os fatos da viagem para escrever um novo livro e vender rápido para conseguir algum dinheiro. Durante o curto monólogo (a peça tem cinqüenta minutos), um cansado Jack Kerouac parece se empolgar às vezes com a história que está contando, mas logo cai em depressão. Ele alterna estados de ânimo que varia entre inocência, entusiasmo, paranóia e fúria alcoólica. A peça se passa na casa sombria onde Kerouac viveu seus últimos dias. Na peça Kerouac se queixa dos escritores, dos amigos, escancara seu lado francamente reacionário e religioso, sofre com a morte do amigo Neal Cassady e acima de tudo nos oferece um personagem demasiadamente humano, contraditório e por vezes, comovente.
Para dirigir o monólogo, Mário convidou o também amigo Fauzi Arap, diretor que já é um mito do teatro paulistano, tido como especialista na direção de atores. É dele por exemplo a primeira direção profissional do clássico “Navalha na Carne” de Plínio Marcos. “Kerouac” é o primeiro monólogo na carreira de Mário Bortolotto, que está com 44 anos e se sentiu muito à vontade na pele do personagem Jack Kerouac no fim de sua carreira. Kerouac morreu com 47, sozinho e abandonado. Totalmente ignorado em vida após o repentino sucesso de “On the Road”, hoje o escritor tem sua obra revista e cultuada por milhares de leitores que encontram em sua prosa espontânea uma das obras mais originais da literatura americana.

FICHA TÉCNICA
Kerouac
Texto de Maurício Arruda Mendonça
Direção : Fauzi Arap
Com Mário Bortolotto
Iluminação : Fauzi Arap
Sonoplastia : Mário Bortolotto
Operação Técnica : Marcelo Montenegro
Direção de Palco e contra-regragem : Régis Santos
Serviço : No Auditório Glauco Flores de Sá Brito (Mini-Auditório do Teatro Guairá)
Rua Amintas de Barros, s/n – Centro
(próximo a Praça Santos Andrade)
de 23 a 26 de Novembro
Quinta a Sábado : 21h
Domingo : 20h
Ingresso : R$ 20
Estudante, Aposentados e classe artística : R$ 10

PORÃO LOQUAX
Dois integrantes do Grupo que também escrevem e interpretam poesia irão aproveitar a estadia para fazerem apresentações com seus poemas no Porão Loquax.
No dia 14 – Marcelo Montenegro lê seus poemas acompanhados por Rubens K (Terminal Guadalupe/Iris), no contrabaixo e Carlos Zubek (Folhetim Urbano/OAEOZ), na guitarra.
No dia 21 – é a vez de Mário Bortolotto ler poemas de sua autoria, também acompanhado por Rubens K (Terminal Guadalupe/Iris), no contrabaixo e Carlos Zubek (Folhetim Urbano/OAEOZ), na guitarra.
Mário estará lançando, em Curitiba, seu livro “Atire no Dramaturgo”, com crônicas e poemas escritos no blog de mesmo nome, mantido pelo autor .

- Livro ''Atire no Dramaturgo'' de Mário Bortolotto. Atrito Art Editorial, 240 páginas, R$ 30,00.

Serviço:
A partir das 22:00
Ingresso: R$ 1,99
Espaço Porão Loquax fica anexo ao Wonka Bar: Trajano Reis, 326
informações/reservas: Fones – 3026-6272 / 3014-6252

Rubens,

meu, eu, outra vez meio atrasada. meu ritmo anda mais lento e tô gostando disso, quando não consigo desacelerar me cobro, e assim vou caminhando. quando esses escritos bonitos chegam perto, eu fico até meio assim, me mexendo na nostalgia e pensando que algumas lembranças valem mesmo muito, esses barulhos que são a gente, essas conversas sem sentido (?) que mostram um pouco mais do que somos, mesmo que a gente não saiba nada muito direito.
eu penso muito nos meus amigos, meus amores, minhas saudades, esses buracos que esses cachorros magros fazem nos corações da gente enquanto a gente larga, descuidados, nossos sentimentos pelos botecos desse "nosso"mundão...aliás, na esquina de casa tem o seu Kavo... também tem uma praça onde onde quero fazer uma roda de capoeira. tem vizinhos simpáticos e nos domingos a tarde alguns jovens encostam seus carros em frente a uma loja e, pelo jeito, gostam de funk carioca. as pessoas conversam com você no ponto de ônibus (agora não sou eu sempre a puxar conversa....) e parecem tão solícitas, cuidadosas.... gosto do meu novo bairro... o Abranches... joguei fora muitos papéis, mas muitos foram comigo. remexi pensamentos, encerrei fases e abri a janela pra nova estação da lua ("tenho fases como a lua"... né Cecília!)
eu também penso muito em alguns planos, em ter algo na vida. mas, sinceramente, acho que já tenho muitas coisas na vida, as mais importantes, inclusive, mesmo que as vezes até elas escapem sob essas nuvens cinzas que também fazem meus olhos arder e eles ardem quando leio um recado de amizade que tambem sabe ser de amor.
eu penso em canções, nas belas canções largadas no meio do caminho que passam despercebidas para muitos, mas não por mim. elas sempre dão um jeito de me acertar, as feitas pra mim, e me deixam assim, como as tuas palavras inspiradas nos nossos dias... querendo escrever, querendo cantar, querendo tocar baixo... querendo e sendo...desse jeito mesmo, do meu jeito desajeitado, demodê tantas vezes, acelerado que quer parar um pouco. elas, canções e palavras largadas, me servem de combustível pra encarar tanto papel na minha frente e as caixas de papelão parecem não querer me largar nunca mais, e as árvores então... nem vou falar muito delas.... hoje elas embalam mais ainda os meus dias, cantando entre os vãos da janela fazendo um lindo backing para a roquidão dos ventos
ah... os ventos, claro que o meu canto tinha que ser com vento e a chuva cantando pra mim... um dueto incomparável, são eles que quebram meu sossego... não lembro de tantas conspirações pra dar tudo certo em minha vida, como as de agora... claro que não tá tudo perfeito, mas, na real, tá sim....


e hoje começa a temporada Cemitério de Automóveis em Curitiba, no Wonka, com Marcelo Montenegro (Rubens e Carlão). Vamos ver duas peças de Mário Bortolotto que há tempos ensaiamos, né ivan, ir pra sampa ver, Kerouack e Homens, Santos e Desertores, a partir de quinta. Imperdível, no mini auditório do guaíra, um teatro bem simpático. Nos vemos lá.

abços com cheirinho de amizade. (ps. inspirados na Geisa).
adri

11/09/2006

As histórias não são iguais


“Quem aqui pode me dizer o quanto se morre pra poder viver?
Pensa que você pode ver quanta mentira consegue te convencer? (...)
Quem aqui que pode se lembrar da última vez que teve medo de chorar?
Quem sabe como é que se faz pra uma vontade se curvar? (...)
Quem aqui pode me dizer o quanto se paga por não esquecer?”

Uma das coisas que considero mais importante pra gente que tá nessa de música, de produção cultural e tal é o registro daquilo que se produz e vive nesse caminho. Sim, porque, muitas vezes a gente tá tão envolvido na feitura da coisa que não se toca da importância de registrá-la. Ou até porque não se dá valor suficiente para achar que esse registro seja importante. E isso muitas vezes faz com que coisas extremamente importantes e de grande valor/relevância artística caiam no esquecimento ou se percam no tempo, sem que tivesse ficado um registro com o mínimo de qualidade para que outras pessoas depois pudessem tomar conhecimento daquilo. O problema é que no Brasil, um País tradicionalmente sem memória, e que sofre da síndrome de vira-lata, esse tipo de registro sempre foi precário, para não dizer, quase inexistente. Ainda mais quando se trata de música pop (ou rock) – um gênero bastardo por excelência e até hoje visto como algo “menor” em termos artísticos. E se é assim com coisas já consagradas, pelo menos pela crítica, imagine então o que acontece em relação a manifestações contemporâneas, como a cena rock independente de uma ou duas décadas atrás, da qual a gente, queira ou não, fez ou faz parte.
Por isso, trabalhos como o livro “La Carne: Desconhece o rumo mas se vai”, escrito pelo jornalista Fernando Lalli, ganham uma relevância tão grande e mostram que apesar de mesmo a gente não se tocar ou não botar fé, o fato é que a história não é um livro embolorado sobre figuras mortas. A história se faz aqui e agora, todo dia. E as nossas histórias não só valem a pena, como devem ser contadas, nem que for pra que a gente mesmo se reconheça e se descubra. Pra quem ainda não sabe, o livro foi escrito como trabalho de conclusão de curso pelo Lalli e conta a história da banda osasquense da qual a gente virou fã, irmão, parceiro desde que conhecemos e tivemos a oportunidade de dividir o palco e mesas de bar. Mas o mais legal é que o Lalli (mais conhecido como Boi) teve a competência e sensibilidade para fazer um livro reportagem que vai muito além do que simplesmente contar a história da banda. Com um texto fluente, claro e ao mesmo tempo emotivo, o Boi conseguiu fazer um livro que interessa mesmo para quem nunca ouviu falar ou não gosta do La Carne. Sim, porque o texto consegue ir à fundo em questões que vão desde o imaginário das populações que vivem nos subúrbios dos grandes centros urbanos brasileiros, a formação cultural dessa população, o choque entre gerações de jovens adolescentes nascidos crescidos ainda no período da abertura e da ética do trabalho de seus pais carregada de repressão e incompreensão. É muito legal, por exemplo, saber um pouco mais da história de Osasco, e de como o Linari, filho de pai alagoano, resistiu de todas as formas em aceitar os planos que a vida de filho de classe operária conformada tinha pra ele, representada pela escola do Senai, destino de quase todos os que estavam na mesma condição. E lembrar que eu mesmo saí de situação análoga, filho de cabelereira que planejava pra mim o destino de escriturário do Bradesco, uma casa do BNH na periferia de Paranavaí, e um fusquinha e uma mulher barriguda de preferência Testemunha de Jeová. Ou de quando o Linari pela primeira vez sentiu o gostinho do palco fazendo uma peça de teatro no colégio, e recebeu como reação a hojeriza da família, para quem ter um “artista” em casa era motivo de vergonha. Me lembrei da minha primeira “peça” na 5ª série em Jacarezinho, e de quando eu pedi um violão pra minha mãe mas ela disse que antes de comprá-lo eu teria que aprender a tocar (como aprender a tocar sem ter o instrumento é coisa que eu até hoje não entendi). Enfim, o mais legal de ler esse livro – além é claro da emocionante história desses caras – é poder perceber que a gente também tem muitas histórias pra contar. E que elas estão por aí, a espera de alguém que tenha sensibilidade para percebê-las, recolhe-las e trazê-las à tona. O problema é que a gente mesmo as vezes não percebe isso, porque não se dá valor, não acha que a nossa história seja relevante, tenha alguma importância. Que história mesmo é aquela coisa Pedro Alvares Cabral e tal ou de figuras já consagradas. E deixa essas histórias morrerem na penumbra do tempo, esquecidas.
Por isso desde que a gente começou a fazer o Rock de Inverno, colocou como prioridade registrar tudo em vídeo e de preferência também em áudio – o que depois acabou se transformando em três videos-documentários das três primeiras edições do festival, além de outros dois que a gente ainda pretende produzir e lançar assim que puder. E pra mim, particularmente, isso é tão ou mais importante do que o evento em si. Porque os festivais, os shows, é aquela coisa, que foi, tava lá viu, beleza. Agora o registro fica pra sempre e pode atingir muito mais gente que nem sabia que isso existia. E se no futuro, daqui sei lá 50/100 anos, alguém quiser saber algo sobre um pouco do que um grupo de malucos tava fazendo pra espantar a mediocridade nessa cidade, vai poder ter acesso esse material.
Voltando ao livro do Boi, me deixa muito orgulhoso também saber que a gente humildemente fez e faz parte da história dessa que não é só uma das melhores, ou a melhor banda de rock do Brasil, mas mais do que isso, um grupo de caras que faz a gente ainda ter esperança de que a humanidade não seja apenas um bando de cães brigando pela sobrevivência e querendo ver o oco dos outros, querendo se dar bem a qualquer custo, mesmo que isso signifique pisar nos outros. Foi muito bom ler os trechos em que ele fala do La Carne tocando aqui com a gente, e mesmo depois de todo o perrengue do Rock de Inverno 4, terem ficado ainda mais próximos justamente por saberem da sinceridade de tudo o que a gente sempre quis fazer:

“O festival Rock De Inverno 4, que aconteceria nos dias 30 e 31 de agosto em Curitiba, foi cancelado. Por falta de alvará de funcionamento, a casa onde aconteceria o festival não poderia abrigar os shows daquele fim-de-semana. Depois de uma viagem desgastante, de Osasco até a capital paranaense, com um congestionamento de 40 km devido a um acidente na Rodovia Régis Bittencourt, essa seria a pior recepção possível para o La Carne. No entanto, os organizadores Ivan Santos e sua mulher Adriane Perin conseguiram, no mesmo dia, mudar as apresentações para outro local, a casa Motorad. Eles tocariam no domingo, seriam a segunda banda da noite.
A despeito dos problemas inesperados com o festival, a solicitude e amabilidade com a qual o La Carne foi abraçado em Curitiba foi algo que marcou a banda – mesmo antes dela subir ao palco: na casa de Ivan, alternavam-se jam sessions ao violão e no estúdio, churrascos, bebidas e muitas histórias contadas por gente calejada pelos palcos da vida. E quando chegou a noite no Motorad, veio a recompensa em um show que a banda lembra como um de seus melhores.
E que Ivan também lembra com carinho:

– Foi uma catarse geral, porque por todos os problemas que aconteceram com o festival, o show deles acabou “lavando a alma” e nos aproximando ainda mais desses caras.

Mas restava um problema: Carlos e Sidney, que trabalhariam no dia seguinte, tinham passagens compradas para o ônibus das 23h20 – e o show terminara pouco antes das 23h. E a rodoviária estava do outro lado da cidade. Ambos jogaram seus instrumentos de qualquer jeito em seus bags, correram para a carona que os esperava do lado de fora do bar e partiram, cruzando sinais vermelhos e pervertendo todos os limites de velocidade das ruas de Curitiba. Os dois chegaram ao ônibus quando as três últimas pessoas da fila embarcavam. Sentaram em suas poltronas, encharcados de suor do palco e, ainda ofegantes, partiram para São Paulo. Seus respectivos empregos os esperavam a partir das 8h da manhã seguinte.”
(La Carne: Desconhece o rumo mas se vai - PARTE QUATRO: Contra a Corrente)

Ou dele falando do retorno triunfal da banda no Rock de Inverno 6 (a vingança):

“Mas, em um universo onde platéias em números de três dígitos são muito comemoradas, pode-se dizer que o La Carne é, sim, uma banda idolatrada em Curitiba. Idolatrada por um público que ansiava por bandas que não seguissem padrões da moda, que foi cultivado pelos festivais Rock De Inverno. Também teve importância nesse processo o próprio selo De Inverno, que apoiava inúmeras bandas de talento pouco reconhecido – incluindo a banda do “patrão” Ivan, OAEOZ, cujo disco Às Vezes Céu, lançado em 2005, foi unanimemente elogiado por sites na internet, e jornais e revistas locais. Era um foco onde a música verdadeiramente independente de convenções acontecia, onde o La Carne se sentia em casa.
Rubens K, o primeiro disseminador do som da banda entre seus amigos no Paraná, esteve a quase todos os shows que seus amigos fizeram em sua terra natal, e, assim como Leonardo, foi testemunha ocular da catarse que os shows produziam no público. – O que eu me lembro? Do barulho de todos no bar cantando. De todas as pessoas pulando e se abraçando. De uma mina comprando cerva e jogando na cabeça. Do Carlinho emocionado, porque deve ter achado que as coisas que ele faz não mexem com o coração dos outros, e via que estava enganado. Do amplificador pedindo “arrêgo”. Da voz do Linari sumindo, mas a gente continuou o refrão.”

Enfim, são essas coisas que fazem a vida valer a pena. Parabéns ao Fernando “Boi” Lalli por ter encarado essa tarefa e a desempenhado com louvor. E aos La Carnes, que foram capazes de superar muita coisa pra que essa história pudesse existir e ser tão bem contada. E que todos nós tenhamos a força pra continuar produzindo e quem sabe, em um futuro não tão longínquo, também colocarmos no papel (e em vídeo, e em fotos, e em áudio) as nossas próprias histórias, nem que for só pra mostrar pros filhos e netos.
Ivan

11/08/2006

Cascadura no Jô

Olha só o aviso que eu recebi:

"AMIGOS,HOJE, DIA 08/11/2006, QUARTA FEIRA, O CASCADURA ESTARÁ SE APRESENTANDO AO VIVO NO PROGRAMA DO JÔ.NÃO PERCAM!!!!"

Para os dias de mudança...

(do nosso irmão e parceiro Rubens K)

A maior parte dos problemas deixados pra lá, na poeira que molda o contorno dos móveis e das caixas com coisas que foram guardas há muito tempo, prevendo, quem sabe, o agora. Meus sapatos estão velhos. Estou como eles, cansado de pisar os mesmos caminhos de todo o sempre, mesmo que dê uma volta maior pela quadra. A porta aberta, o quintal quase sem plantas, a grama alta, meu bunker contra os estrangeiros que passam intrigados em frente ao portão. Acabou a minha munição. Ainda bem que não podem ver isso. Gosto que pensem que posso ser muito mais perigoso que a minha aparência. Também gosto de mulheres morenas, de cabelos curtos, de preferência que dê pra ver a nuca. Gosto de mulheres que vestem jeans descompromissados, que usam camiseta branca, sem nada escrito. Gosto disso, mas não implico com os vestidos, com as diversas blusas, com o excesso de peso abstrato que nunca vejo, com a tintura no cabelo. Não implico. Gosto quando elas riem e quando elas choram. Gosto quando elas envelhecem. Gosto dos extremos das suas personalidades. Isso é uma coisa que não acho que vá mudar. Tem muita coisa aqui dentro que não vai mudar, vai ficar aqui mesmo. Isso por um lado é bom, mas por outro... São coisa que juntamos uma vida inteira e quando partimos não sabemos o que fazer com elas. Sou uma grande casa velha cheia de ruídos que aprendi a gostar e não consigo mais dormir sem eles. Sou um quintal esburacado pelo cachorro. Sou uma janela suja que não abre mais. Sou a chaminé sem os dias de frio. Sou eu olhando pra fora agora.

Rubens K

11/01/2006

"Sad Days" - Wandula & Patti Smith



e aí, mais um belo trabalho do nosso sócio-honorário, Marcelo Borges. Wandula no Rock de Inverno 5, executando a bela e tocante balada psico-acustic-trance "Sad Days". Simplesmente um clássico. O som ainda tá meio estranho, mas mesmo assim vale a pena ver. E depois que a gente editar e mixar esse áudio, filho, vai ficar, muito, muito foda. quem viver (ouvir)verá.



e ontem, na pedreira, tivemos mais um daqueles encontros mágicos com a música. Patti Smith e seu grupo são daqueles caras que fazem você ter vontade de subir num palco. E de que um show nunca terminasse. simplicidade, bom gosto, cara limpa e coração nas mãos. ainda estou sob o impacto, não caiu a ficha direito. e o melhor de tudo, aqui, do lado de casa. muito bom.