(do nosso irmão e parceiro Rubens K)
A maior parte dos problemas deixados pra lá, na poeira que molda o contorno dos móveis e das caixas com coisas que foram guardas há muito tempo, prevendo, quem sabe, o agora. Meus sapatos estão velhos. Estou como eles, cansado de pisar os mesmos caminhos de todo o sempre, mesmo que dê uma volta maior pela quadra. A porta aberta, o quintal quase sem plantas, a grama alta, meu bunker contra os estrangeiros que passam intrigados em frente ao portão. Acabou a minha munição. Ainda bem que não podem ver isso. Gosto que pensem que posso ser muito mais perigoso que a minha aparência. Também gosto de mulheres morenas, de cabelos curtos, de preferência que dê pra ver a nuca. Gosto de mulheres que vestem jeans descompromissados, que usam camiseta branca, sem nada escrito. Gosto disso, mas não implico com os vestidos, com as diversas blusas, com o excesso de peso abstrato que nunca vejo, com a tintura no cabelo. Não implico. Gosto quando elas riem e quando elas choram. Gosto quando elas envelhecem. Gosto dos extremos das suas personalidades. Isso é uma coisa que não acho que vá mudar. Tem muita coisa aqui dentro que não vai mudar, vai ficar aqui mesmo. Isso por um lado é bom, mas por outro... São coisa que juntamos uma vida inteira e quando partimos não sabemos o que fazer com elas. Sou uma grande casa velha cheia de ruídos que aprendi a gostar e não consigo mais dormir sem eles. Sou um quintal esburacado pelo cachorro. Sou uma janela suja que não abre mais. Sou a chaminé sem os dias de frio. Sou eu olhando pra fora agora.
Rubens K
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário