10/31/2013

ruas

O bairro tinha quatro ruas, todas com nomes de escritores,
mas ninguém por ali, sabia.
E a placa azul na esquina ficou pálida sem que os garotos a notassem.
E finca sua estaca na porta!
Toda manhã ela fazia o mesmo trajeto: saia de casa por volta das 8h, com um agasalho verde musgo.
Fizesse frio ou calor, ela com ele. Sempre. Combinando mais ou menos com a blusa ou camiseta.
Ela parava na esquina do ponto de ônibus, pois sempre havia algum conhecido para dizer bom dia!
Seguia, então, ao boteco da esquipa para o desjejum: café com leite naquele copo grande – mais café, que é pra acordar – e um pão d'água, ás vezes com mortadela, noutras só com a manteiguinha da casa – aquela que a patroa do boteco colocava na mesa de sua cozinha toda manhã.
Antes, o cheiro da lenha nem era algo pra ser notado, todo dia estava ali tomando conta de tudo; comum, forte – deixaria marcas que ela nem imaginava.
Nossas verdades e certezas impediram de conhecer os outros medos e inseguranças. E assim, seguimos longe, talvez mais do que gostaríamos e admitimos, daquilo que acreditamos.
E por isso ela não perdeu tempo pensando muito nisso. Só agora, que o tempo passou e ela vai sozinha tomar seu café da manhã, sem sentir o cheiro da lenha queimando no fogão de ferro, é que percebe.
Sentada no cantinho do balcão é a única mulher no lugar. Observa, tentando disfarçar, os movimentos. Martelinhos na mão, eles começam seu dia. E o deixam passar assim, sem uma razão aparente, só esperando que tudo escape entre os dedos e a lua anuncie que é hora de voltar para aquele silêncio. Não é um silêncio ruim. É só o silêncio de quem não quer dizer mais nada. De quem sente que não tem nada para dizer.
Na volta, com seus passos sem pressa, olha outra vez praquela velha placa azul com o nome do bairro e da rua. O número é mesmo. As pessoas não.


tudo errado

Às vezes eu penso que fiz tudo errado.
Você nunca?!
E um frio gelado,
com o dedo em riste na tua cara,
atravessa a sala.

sorrir

eu queria acreditar em você
conseguir,
olho no olho,
sorrir
mas esse meu peito espremido aperta a garganta
seca
a voz treme
e só o que resta é uma porta entreaberta
sorrateira,
apaga a luz depois de sair
fecho os olhos
eles ardem e doem...
deixa isso pra lá
agora, dorme!


arredia

Alheia aos dois ela dorme
e sonha entre histórias perdidas
nas noites arredias

em que se agarra nas canções

Enxurrada

Sil saiu caminhando na chuva em direção ao portão. Não havia mais nada a dizer portanto também não havia o que fazer naquela hora. Era melhor mesmo caminhar um pouco e deixar a chuvinha fina que ameaçava engrossar bagunçar as luzes fracas que iluminam o parque. Guardou o óculos no bolso, acendeu um cigarro e tentou puxar o gorro o suficiente pra formar uma aba de proteção. A imagem dele falando coisas que ela não entendia sobre coisas que não aconteceram, como se mesmo vivendo na mesma casa há 10 anos tivessem estado em terras distantes, confundia tudo que acontecera nos últimos 60 minutos.
Sil nem sentiu quando uma pessoa passou a seu lado apressada esbarrando na bolsa com seu computador, única coisa que pegara ao sair de casa correndo. Ao ver a máquina se espatifar no chão algo aconteceu e foi como se o mundo tivesse vindo abaixo, num dilúvio de frustração desencadeado por um estalo inesperado!
Largada na calçada deixou o corpo arcar e soluçou, tanto, que se sentiu sem forças até pra levantar. Então, ficou ali. Sozinha no escuro, a chuva colando a roupa no corpo; sentindo a voz e até mesmo os soluços sumirem enquanto a enxurrada deixava só aquele frio gelado.
Do mesmo jeito que veio, a tempestade foi embora. E ela recomeçou os passos de onde parou. Meia volta lenta observando a água correr pelos cantos da rua de paralelepípedo, marrom, grossa... naquela água suja da chuva formando minúsculas ondas deixou correr junto toda aquela confusão de pensamentos e simplesmente seguiu até o fim da rua. Sil estava sem um pingo de vontade de existir, naquele resto de noite.

10/03/2013

The Tumbling Tumbleweeds, Cowboy Junkies e eu



Meu primeiro contato com o Cowboy Junkies foi através dessa resenha da revista Bizz. Tempos depois, comprei o disco e foi paixão à primeira ouvida. Que embalou muitas madrugadas, desde quando eu ainda morava na garagem da casa verde em Ponta Grossa. Era um disco perfeito para se ouvir no fim de noite, quando os sentidos já estavam cansados pelos excessos e aquele som delicado, profundo e melancólico servia como moldura sonora para o alvorecer. Tempos depois a Adri comprou o Caution Horses, e desde então, seguimos a carreira dessa banda, que se tornou uma referência básica, e principalmente, parte indelével da minha memória afetiva.
Pois quis o destino que mais de vinte anos depois eu fosse convidado para participar de um projeto tributo aos Junkies. Algo que eu mesmo jamais esperava, e que me deixou absolutamente em estado de graça. Ainda mais partindo de um músico com o o JC Branco, cujo trabalho acompanho e admiro desde os anos 90, com o Woyzeck, e que depois passou (e em alguns casos permanece) por outras formações importantíssimas para a música de Curitiba, como Bad Folks, Excelsior, Svetlana e Wandula (os três últimos tendo se apresentado no Rock de Inverno).
Por isso é uma baita satisfação, honra, prazer, alegria participar hoje desta apresentação no Vox, ao lado desse grupo de músicos, e ter a oportunidade de celebrar o trabalho dessa banda que eu tanto amo e que faz parte da trilha sonora da minha vida.

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P.S: Procurando a Bizz onde saiu essa resenha, acabei vendo que ao lado, saiu também a resenha sobre o Cemitério dos Elefantes, coletânea que praticamente apresentou o rock curitibano ao Brasil no início dos anos 90. Nada é por acaso.

só shows bacanas

Hoje, quinta, 03 de outubro, tem esse imperdível aqui, no Vox, com participação do Ivan Santos. Este aqui é amanhã, abrindo a segunda temporada. Dá uma olhada na programação toda, no final, tem festa de aniversário de uma certa Adri Perin também, no dia 25 de outubro. Tão sabendo bem antes, sem desculpa, hein! E este é no domingo, dia 6, mais uma volta dos que não foram, no inesquecível, Lino's!