9/30/2009

Hotel Avenida na Parada Senhor F


E já está no ar o 4º volume da Parada Senhor F, coletânea virtual editada pelo site homônimo, reunindo 13 faixas de grupos independentes brasileiros escolhidas pelo editor do site, jornalista Fernando Rosa. Esta edição inclui a versão ao vivo de "Eu não sou um bom lugar", lançada pelo Hotel Avenida no bootleg virtual com o show da banda no Rock de Inverno 7. Desde sua estreia, em junho, as coletâneas da Parada Senhor F já tiveram cerca de 2 mil downloads. Confere e baixa lá.

9/29/2009

Demônio Triste - La Carne

Como vai, demônio triste?
quer saber onde vai chegar?
Por enquanto eu tô tranquilo
ainda bobo da corte
Se eu for fim, o que vai ser de nós?

Como vai, demônio triste?
quer saber onde vai parar?
Eu já sei, não tem sentido
qualquer coisa … tão longe...

Cotovelo no balcão
uma pá de bituca no chão
Eu continuo sem saber se rezo ou saio sem pagar
Bêbado na estação
uma pá de bituca no chão
eu continuo sem saber

Como vai, demônio triste?
quer saber onde quer chegar?
Eu só sei que nosso ouvido
tá por aí respirando
se eu for fim, o que vai ser de nós?

9/25/2009

Memórias do Rockingá

Bem Paraná/Jornal do Estado

Coluna Piracema

Adriane Perin

Como vocês já sabem estive em Maringá conferindo a quantas anda a cena de lá, com a volta do agitador Andye Iore às produções. Ele fez o Rockingá, dias 13 e 14 último, e me convidou. Eu e o simpático e tão tagarela quanto eu, “Pardal”, da Dynamite fomos hospedados na casa do Gótico – ou melhor na casa da avó dele -, um figura da banda Professor Astromar & Os Criadores de Lobisomen (que, alías, tem uma personalidade bem própria). Me senti a vontade, pois alguns amigos já passaram por ali e foi legal ser recebida por pessoas que conheciam até Hotel Avenida – e tinham OAEOZ no computador. Obra do seu Rubens K, que passou a nossa ficha, pelo jeito.

Fui sem esperar muito e preparada para encontrar bandas cruas e problemas típicos das cenas que estão se firmando. Encontrei os tais problemas nas conversas, mas principalmente me surpreendi com o que me pareceu maturidade das bandas. Fazia tempo que não encarava um show num lugar “não preparado” para tal. E, bem por isso, foi bacana ver os músicos sem frescuras e vaidades inflando seus egos, pacientes e parceiros, mandando ver, apertados num cantinho do simpático Fernandes Bar - com garçons disputando espaço até com os microfones.
Sou bem chata com essa coisa de cantar em inglês e, vou dizer, até das bandas com esta opção curti muito. De Betty By Alone (bettybyalone.blogspot.com) e Hospital Doors (www.hospitaldoors.blogspot.com), em especial. Não sei dizer de qual formação gostei mais - curti muito o show da mais conhecida, A Inimitável Fábrica de Jipes. A NOVA (myspace.com/bandnova) sem duvida é a sonoridade que mais faz parte das minhas listas e foi a mais diferente do conjunto do Festival. E tem que prestar atenção na Nina Nóbrega
( myspace.com/ninanobrega), menina que já sabe o que quer ser quando crescer. Mas, talvez quem tenha me chamado mais a atenção tenha sido mesmo o figura à frente do José Ferreira & Seus Amigos (www.seusamigos.blogspot.com). Também (bom e bem humorado) compositor, o provocativo Gabriel é um daqueles tipos que não se esquece. Sarrista, não perde a chance de marcar presença. E teve a cara de pau de “testar” o batera no show. Na verdade, foi jogo de cena, porque ele já tocava com o rapaz antes. Legal foi que ele subiu no palco e o Thiago Soares, um estudante de jornalismo que entende do assunto, também metido a produtor tipo eu, que faz só os shows de bandas que curte, veio me passar a ficha do rapaz e contar de suas estrepolias no palco.

Uma coisa que chama a atenção é que muitas bandas por lá não têm myspace - têm blogs. E também a maioria, pelo que entendi, não toca fora da cidade, ainda. Isso tem que ser resolvido. O pessoal que eu vi lá tem que circular para que as pessoas saibam que eles existem.

Johnz
Quem é vivo uma hora aparece. Inclusive na “grande mídia” e não só nos blogs dos amigos. Pois é, lembra do Tulio Bragança, o rapaz que fez belas canções sob o nome de Johnz? Então, ele tá morando na linda Buenos Aires e apronta das suas. Agora caiu na rede – via UOL - a notícia de que catou seu violão e foi fazer versões de pagode. Em um inglês literal. E com direito a vídeos caseiros de suas “performances” com os hits do gênero. “Caçamba”, do Molejo, agora é “Bring The Caçamba”; “Eu Me Apaixonei Pela Pessoa Errada”, do Exaltasamba, é “I’ve Fallen In Love With The Wrong Person”; e “Que Se Chama Amor”, do Só Pra Contrariar, ficou “That’s Called Love”. O blog dele é http://aires-buenos.blogspot.com/.

Procure
Dois belos discos que ainda não chegaram aqui já estão circulando nos fones de uma moçada aí. O novo do Soulsavers, um dos projetos com Mark Lanegan um pouco menos “soturno” me pareceu, mas interessante como sempre. E o Grant Lee Phillips, que já ficou a manhã inteira rodando na minha cabeça. A mesma pegada. “Good Morning Happiness”. Procure na rede que você acha.

9/22/2009

Bootleg Hotel Avenida por Leo Vinhas

"Música, para mim, hoje, é o que evita que eu caia nas minhas próprias armadilhas. Música é o que faz eu parar na hora em que volto pra casa, e analiso “que porra, eu não preciso ficar só na sobrevivência, posso fazer minhas coisas”. FAZER, meu amigo. Não me lamentar, chorar pelos cantos porque não tenho a oportunidade. A oportunidade ta na minha frente, sempre. Vai de eu ter timing, colhão, sabedoria, experiência, desprendimento e vontade para aproveitá-la. Nem sempre consigo. Mas a música e os amigos me ajudam a conseguir.

E a música feita por esses amigos mais ainda."


trecho de texto do Leo Vinhas sobre o bootleg do Hotel Avenida ao vivo no Rock de Inverno 7. Vai lá no blog dele e confira a íntegra.

...


Catarina se agarra nas bordas tentando não afundar totalmente. Hoje, acordou melhor, mas ontem ainda sentia aquele enjôo horroroso – boca do estômago em pânico, por alguma coisa esquisita que se esconde tão dentro dela que nem ela mesma consegue saber o que é. Mas quinta, estava pior. Só que aqueles olhos verdes que o encantaram há quase 40 anos voltaram com todo o brilho, enchendo o coração de uma alegria que há tanto andava longe. Sentou no meio do quintal e só chorou. Só chorou, balbuciando sentimentos. Medo, saudade, amor, solidão, um querer que quase explode o peito, aberto, à mostra, arranhado, machucado, mas já pronto pra encarar outra. “Seu peito doi e o sol começa a te envelhecer. De repente voce já não tem mais 15 anos e continua sozinho. Bem mais do que antes. E é do medo que eu sinto falta, do teu zelo, da tua calma”.

Ele disse pra ela hoje de manhã que está voltando aos anos 70. Ano fatídico. Pra Catarina. Pras Catarinas. E pra não Catarinas também. Mas, sua voz era de quem está pronto para outro passeio no meio daquelas lindas árvores. Aliás, por falar nisso, ontem foi o Dia da árvore, pra Catarina todos os dias são dias das arvores, e ela lembrou delas novamente, ontem, quando passava por aquela bela praça esquecida diante da antiga estação. Queria parar, sentar, conversar com elas, mas olhares estranhos não deixaram. Antigamente, ela ganhava mudas de árvores e esperou isso outra vez. Mas nada. Daí lembrou dele, que gosta de ir para o meio do mato quando está triste e também quando está bem. Ela também. Pensa, às vezes, que foi árvore em alguma outra encarnação. Ou então uma bruxa que vivia numa floresta encantada. Daquelas que dão medo e acolhem, que saltam dos livros para abrir capoeiras na vida da gente – e também pra manter tudo bem fechado sem um raio de sol quando é preciso. Sentiu uma puta saudade do tempo em que ia com ele para serra tão graciosa em suas curvas e sombras, fazer um churrasquinho segurando o guarda-chuva. É, a chuva não era páreo para eles, naquela época. Catarina também voltou a 1970 ontem. E hoje de manhã. Mas, agora está volta a 2009. Melhor, parece. Ouvindo suas músicas e outra vez encontrando ali as palavras. Não cansa nunca. E isso pode ser um problema. Voltar aos anos 70 pode ser uma alternativa. Mas, não dá mais. É aqui, o agora. E Catarina, então, fica com essa saudade boa no peito que faz parar o trabalho para conversar com ele. Esse cara apaixonado. Que a comove, tão frágil. E tão forte. E que precisa de Catarina por perto. Todos nós precisamos corrigir alguns passos, refazê-los. Reencontrar esses olhos verdes que nos deram e dão vida. É isso que Catarina quer agora: cuidar melhor dos seus dias. Quem sabe, não trabalhar tanto e ter mais tempo para esses olhos verdes meio azulados, castanhos, pretos... esses olhinhos de jabuticaba, esses olhões atentos. Esses olhares dessas pessoas que são as mais importantes na vida dela, mesmo quando ela estão tão rigiculamente centrada em seus próprios problemas e não consegue sentir a ternura e a saudade crônicas que eles – e ela – trazem dentro de si. Coisas da vida. Histórias de Catarina.

Ps. essa foto é de uma exposição de Leila Kris, a quem não conheço. Tá lá no Jokers. Amei. (Adri)

9/18/2009

Os novos sons da cidade canção

Jornal do Estado/ Bem Paraná
Nascida em Sampa, Nina foi a razão para a família buscar um lugar mais sossegado, estuda musica desde 4 anos, é multiinstrumentista e compõe, bem. A voz vai amadurecer, ela vai ganhar mais experiên (foto: Bulla Jr/Divulgação)


O Jornal do Estado conferiu a quantas anda a cena autoral em Maringá, na primeira edição do Rockingá

Adriane Perin

Depois de dez anos meio de lado da produção de shows em sua cidade, o jornalista Andye Iore decidiu voltar. Bem a tempo de celebrar os 18 anos desde o primeiro show considerado independente por lá, com a curitibana Os Cervejas – e sob os cuidados dele. Ele fez domingo e segunda-feira passados a primeira edição do Festival de Música Independente de Maringá – Rockingá – e o Espaço 2 estava lá. Foi uma viagem pra lá de produtiva. Se a “cena maringaense” carece de estrutura, lhe sobra boa vontade e, o principal nessa conversa, bandas competentes. Das 10 vistas, de nenhuma se pode dizer que falta qualidade musical. Desde a menina Nina Nóbrega, que abriu a mostra, passando pela N.O.V.A, com uma sonoridade mais “recolhida” que se diferenciou na mostra, até chegar a uma das mais conhecidas na região, A Inimitável Fábrica de Jipes, todas mostraram bom potencial para “ganhar o Brasil” – e algumas miram o exterior, cantando em inglês e bem entrosadas.
Com entrada franca, a mostra foi no Fernandes Bar, boteco com espaço para não mais de 80 pessoas, sem palco e com equipamento emprestado das bandas. A ideia de “recuperar” dias de baixo movimento da casa, cujo dono, Leandro Fernandes é o mais novo parceiro dos roqueiros da cidade, funcionou. O arqui-inimigo de todos é o cover, em especial, e o sertanejo. É uma “cena musical” em desenvolvimento, mas Maringá tem recursos para valorizar mais sua produção que já deveria estar mais estruturada. Foi como voltar os primeiros shows que vi ao conhecer o circuito alternativo. Aconchego e camaradagem foram sensações muito presentes, renovando de certa forma, o espírito “independente” já meio cansadão. O contrapeso da crueza da produção foi a dedicação e o prazer dos envolvidos: músicos, platéia, bar, produtor e de um jornalista-agitador cultural, o jovem Thiago Soares, que participou de bate-papo acalorado na abertura.
O festival é um desdobramento do projeto de Iore, o Zombilly – programa de rádio apresentado na Rádio UEM, inspirado nas John Pell Session; shows autorais às terças no Fernandes e um blog. Nasceu um pouco mais focado nas vertentes psycho e rockabilly e se ampliou pela constatação de Iore que era preciso mostrar o que se passa ali. Há 3 meses começou a parceria com o Fernandes. “Me endividei muito e dei uma parada. Mas tava tudo tão complicado, falta de respeito e muito cover... me dei conta que ao invés de gastar para ver shows fora podia investir nas locais”, conta.“ É informal mesmo, faço questão de ter até um lado toscão”, diz.
Arregimentou o velho conhecido, agora dono do bar da família Fernandes. “Não sou tão alternativo, abro para outros estilos, mas prefiro fechar a ter sertanejo”, diz Leandro, que se surpreendeu com os roqueiros. “Pensei que seria aquela coisa punk, que iam quebrar tudo”, conta, rindo. “Nunca tive um problema”, assegura ele, que tem pouca concorrência. Apenas outras duas casas foram citadas como parte do circuito local, o Pub Fiction, que faz uma “salada musical” e o Tribo’s, esse um veterano marigaense tido como aliado. E ainda o Cotonete, que está começando a investir no circuito autoral.
Entre os produtores, Flávio Silva é citado também, mas divide as opiniões, por apostar mais nos hypes de fora, mas é considerado importante. As bandas também se ajudam como é o caso da Tiny Cables Ink, que está sendo produzida pela experiente Betty by Alone, encarregada de fechar a primeira noite. A Tiny vai participar de uma coletânea norte-americana, contato feito via My Space. “É difícil conseguir tocar em outros lugares. Os convites que chegam são pra gente bancar tudo. Sem chances “, diz Rafael, da Betty. Por falar nisso, não faltaram críticas a Associação Brasileira de Festivais Independentes, Abrafin, por “só escalar bandas amigas”. Porém, algumas das bandas maringaenses precisam investir mais em seus materiais de divulgação. Afinal, nada como se comunicar para enfrentar percalços. Rafael conta que achava que precisaria de uma gravadora. Até ouvir uma cassete da londrinense Grenade. “Vi que era possível fazer por conta”, diz, reclamando a falta de know-how para gravação de rock na cidade. Diga pra mim: parece ou não Curitiba – e tantas outras cenas -há alguns anos? Cover demais, respeito e cachê de menos; falta de apoio. É questão de tempo e persistência.

Por um circuito regional de shows
Maringá, Umuarama, Londrina e Paraíso do Norte, há 80 km, são as cidades de um possível roteiro de shows na região. Em Umuarama, fica tudo por conta do Nevilton, banda paranaense em ascensão. Em Londrina, tem a Branço Direito, produtora do Demo Sul. E a grande surpresa vem da agroindustrial Paraíso, com seus 12 mil habitantes. Seu prefeito, Beto Vizzotto, fez duas edições do Paraíso do Rock. Agronômo de formação, Vizzotto sempre curtiu rock. “Notava bandas independentes legais na região, só que era disperso”, conta. “Buscamos parceria junto a Associação Protetora da Maternidade e Infância (APMI) e fizemos um trabalho para acabar com a imagem negativa que ainda tem do rock. Convidei Ministério Público, Conselho Tutelar e todos ficaram maravilhados”, observa. Ele, que aposta na curadoria e em bandas autorais, conta com o festival para desmanchar preconceitos. “Só no debate tivemos mais de 140 pessoas e embaixo de chuva”, lembra ele que quer parceria na iniciativa privada. Aliás, algo que chamou a atenção: ninguém tocou no assunto leis de incentivo ou editais. Parece que não sabem dessa ferramenta. No caso do prefeito, a ideia é incluir a iniciativa privada. No caso dos produtores, ao que tudo indica, a lei municipal de Maringá, tem problemas. “Mas o pessoal do rock não quer mesmo”, diz Thiago Soares, um dos mais afiados e por dentro da cena alternativa. Estudante de jornalismo, tem fôlego para também produzir shows só de bandas que gosta. Mantém o blog Espora de Galo, que põe lenha na fogueira sem dó. Teve o programa de rádio Garagem, que levou vários “VMB local”,o Sonic Flowers, produzido por Flávio Silva. “Queria entrevistar para o Garagem algumas bandas, assim começou”, conta ele. “Tento parar de perder dinheiro, mas não consigo. Só do Charme Chulo dizer que eu fiz eles serem conhecidas na cidade, de onde são Leandro e Igor, e me darem o Cd, tá valendo”. Mas, ele bota o dedo na ferida. “Muita gente aqui reclama, mas só vai ao bar quando sua banda tá tocando. Rola um complexo de perseguição, um discurso muito manjado. Não aguentamos mais banda choramingando”, alfineta. (AP)

Em cena, bandas se garantem
Fique bem impressionada com os shows que vi. Mesmo as bandas que tocaram desfalcadas, mostraram seu valor. Começou com Nina, a garota de 13 anos, comparada por lá de Malu Magalhães. Voz e violão, embora toque vários instrumentos, mostrou que tem potencial, o que se confirmou com a audição posterior do disco. E não só isso. Também tem personalidade, no meio daquele jeito tímido. “Quero montar minha banda, mas quero músicos bons, não vou me apressar. Não quero contratar, quero pessoas que gostem de tocar comigo”, diz a estudante da 7ª série. “Sempre gostei de aparecer e pensei em ser atriz, mas sempre me senti bem cantando”. Depois veio a N.O.V.A, sonoridade mais próxima do meu gosto pessoal. O pessoal no bar falava alto demais para o som do trio, que faz música calcada em bases eletrônicas e guitarra.
Professor Astromar & Os Criadores de Lobisomen me surpreendeu também e os vocais de Renato, ex- Família Palim dá um toque todo pessoal ao trabalho. Bom humor também é uma marca da banda que deve gravar em breve, mas diz fazer um som sem pretensões. Algumas optam pelo inglês em suas canções. A Betty By Alone, uma das mais conhecidas na cidade ao que tudo indica, fechou a primeira noite, com competência e presença de palco. Três vocais, duas guitas, violão elétrico e até uma harmônica esporádica (estes últimos no disco), criam bons riffs e um clima que lembrou Teenage Funclub e Tod’s . Tiny Cables Ink também conseguiu mostrar seu potencial em canções com belas melodias, mas precisa cuidar do vocal que lembra demais a principal influência. Abriu a segunda noite que teve menos público, porém mais atento. Outra que canta em inglês, é Hospital Doors que, tanto quanto a Betty, parece pronta. Assume que mira o mercado internacional.
José Ferreira & Seus Amigos é das mais interessantes, comandada por Gabriel, que tem histórias de bastidores. E até esquecendo a letra, se sai bem. Para fechar, a mais conhecida nacionalmente, A Inimitável Fábrica de Jipes, desfalcada, mas sem baixar o nivel. Fechou em alto estilo o festival, com belo diálogo entre as guitarras.

OUTRAS BANDAS

Amigos de infância formam a N.O.V.A. No início, eram os experimentos. Não que hoje sejam pop, mas digamos que agora deram uma acalmada e depois de um ano em estúdio compondo, veio o resultado: A Bela Liz e as Estrela sem Luz. Muito bom.


Gabriel, vocalista e compositor da José Ferreira & Seus Amigos, é “o figura” - toda cena tem os seus. E escreve bem e tem performance de um verdadeiro frontman. Destaque da mostra.


Uma das mais conhecidas nacionalmente entre as que tocaram, a Inimitável Fábrica de Jipes, que se prepara para lançar o primeiro DVD do circuito de Maringá, mostrou o porque tem reconhecimento, mesmo desfalcada de seu baixista. Fechou o festival em alto estilo.


A Betty By Alone é uma das mais conhecidas e consideradas na cidade ,ao que tudo indica. Cantando em inglês, fechou a primeira noite, com competência e presença de palco.


Hospital Doors também canta em inglês e tanto quanto a Betty, parece pronta. Curioso, foi a única a anunciar e vender Cd no bar. Deu pra sentir que o vocalista, novo no posto, tem presença de palco


Professor Astromar & Os Criadores de Lobisomen emprestou o nome daquele figura esquisto de Roque Santeiro. No palco, põe um som meio punk, meio rockabilly cantado em português, o que lhe confere personalidade.


Com a Bandidos Molhados, novata no circuito e Brian Oblivion & Seus Rádios Catódicos (foto) o surf music entrou em cena, também de maneira competente para dar seu recado. A primeira, planejam para 2010 o primeiro album. Brian, mais experiente, tocou desfalcada, sem o baixista, e passou pelo crivo.

9/11/2009

Sem pressão, só na expressão!

Jornal do Estado/ Bem Paraná


Jards e Maria Alcina prestam sua reverência ao Kid Morangueira (foto: Divulgação)


Maria Alcina e Jards Macalé se encontram pela primeira vez no palco em Curitiba, em projeto que homenageia Moreira da Silva, no Teatro da Caixa


Adriane Perin

Nove e meia de uma sexta-feira não é lá um horário dos mais apropriados para marcar uma entrevista com um músico. A não ser que seja para falar com Jards Anet da Silva, o Jards Macalé. “Sou um trabalhador”, diz com sua voz grave. Ele tampouco vai atrasar o outro encontro que tem marcado em Curitiba, este ao vivo no Teatro da Caixa, hoje. Com ninguém menos que Maria Alcina, revivida e pronta – como sempre esteve. Eles vão prestar reverência a um conhecido de todos, Antônio Moreira da Silva, o Kid Morengueira, ou ainda Moreira da Silva, amigo de Macalé, que com Maria Alcina dividiu palco. O espetáculo itinerante “Homenagem ao Malandro” começa aqui e depois vai para São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal.
Para Macalé, amicíssimo de Moreira da Silva, é uma “junção quase que obvia, porque comecei a tocar com ele no Projeto Seis e Meia no Rio. E a Maria Alcina também fez parceria com ele em algum momento”. “É a primeira vez que estaremos junto no palco e sob as bençãos de Moreira da Silva, que uniu a gente de certa forma. Estou fazendo uma preparação com o Sergio Arara, que vai me acompanhar no violão. Temos conversado e organizado tudo com o Macalé pois teremos alguns números juntos também”, completa ela. “É uma preparação difícil porque o material do Moreira é bem incomum, muito personificado. Para eu cantar, preciso observar detalhes, arranjos, porque ele foi muito único e em sua obra, a toda hora a gente encontra abertura”, pondera a cantora que conheceu o autor de “Ghodan City” na época dos festivais da canção, nos anos 60 e 70, nos quais ambos se lançaram.
Começo — Macalé lembrou o projeto de Albino Pinheiro e Hermínio Bello de Carvalho, que convidava duplas para fazer shows especiais em um horário pouco usado do Teatro São Caetano, no Rio de Janeiro, em meados dos anos 70. “A imagem que ele tinha de mim era do menino de Gothan City, um rapaz cabeludo e barbudo, mas ali eu já estava com outra aparência. A empatia foi muito rápida”, conta Macalé, dono de uma carreira discográfica espaçada, mas que sempre que lança algo é um disco de valor. O mais recente, Macao, “ foi mais Macalé canta Moreira, pois é todo com repertório dele”, diz, sobre o lançamento da Biscoito Fino. Macalé é do tipo que faz várias coisas ao mesmo tempo. Vai compondo, “não tenho aquela pressão, só expressão”, diz. Sempre identificado como contestador por sua personalidade pouco afeita à facilidades musicais, já foi tido como maldito, termo que parece banido do vocabulário da nova geração de jornalistas, mas que já foi muito usado para definir artistas de personalidade “dispensados pelo mercadão”. Ele tem ciência do posto que lhe cabe. “Éramos contestadores até por provocação. Mas agora, digo que faço a diferença justamente por fazer a diferença diante de todas as coisas; por gostar do risco. Minha música já sai, não digo estranha, mas de uma forma em que para que ela apareça tive de me arriscar. Sempre foi assim”, pondera. Também se arriscou no cinema, teatro. “Agora por exemplo estou rodando o Cine Macalé, filme com trechos de filmes que fiz como ator ou músico – ou que assinei trilha sonora. No projeto em dvd eu interajo cantando ao vivo. O dois está saindo com novas informações, inclusive com super - 8 que fiz. Sempre gostei disso”, conta.
Ele também foi tema do documentárioJards Macalé: Um Morcego na Porta Principal, que ganhou o prêmio do juri do Festival do Rio de Janeiro. Também está circulando um curta metragem que conta a história de sua prisão em Vitória do Espirito Santo no projeto Pixinguinha, quando cantava em parceria com Moreira da Silva, aliás.
“Conto essa historia no show, espera para ouvir lá”, pede este homem de muitas linguagens que também está, como homenageado, em mostra no Centro Cultural Helio Oiticica, no Rio. “Todas essas linguagens andam muito próximas para mim. Lá está a “Macaléia”, que ele fez para mim”, conta.

Muito mais do que só o confete e a serpentina
Maria Alcina conta que a música de Moreira da Silva sempre esteve “na cabeça desde menina”. “Era meio cinema, como se fosse uma criança brincando de cantar, de fazer cinema... O Sergio Arara com elementos eletrônicos traz a chance de reproduzir esses sons”, considera. “Eu e Moreira temos um humor, que ficou claro no projeto Pixinguinha nos anos 80. Com 38 anos de carreira tenho que olhar meus arquivos. Fazendo isso, percebi que quem uniu a gente lá, já sabia que dava ritmo. E Macalé... ele é meu ídolo...”. Ela lembra ainda de um trabalho que fez com Moreira na famosa casa de shows carioca O Beco. “Não fiz nada, só cantava e ria. Tudo dava certo, eu tava com 24 anos...”.
Mineira, vem de um pai que sempre gostou de música e estimulou, os homens, da família a cantarem.“Sou filha de operários; na minha casa não tinha rádio, mas eu buscava a música na casa do vizinho”. Mas, uma moça cantando era bonito só até um ponto. Ela fez dupla com um amigo do pai, mas quando a coisa ganhou ares mais sérios... “Não teve jeito, aquilo vai te margeando, o dom vai achando seus iguais. Fiz apresentações em teatro, igreja, festivais até vir para o Rio”. Veio para a gravação de uma trilha sonora, encontrou o Antonio Adolfo, que já a tinha ouvido cantar, e ficou.
A partir daí, a dona do vozeirão grave, que destoava das vozes nem sempre macias, mas sempre agudas das principais cantoras brasileiras a partir dos anos 60 (modo que hoje soa só enfadonho), ficou conhecida. “O artista precisa ter uma marca e o diferencial foi meu timbre, o que me deu oportunidade. É isso e é o contrário também. Porque agora preciso expandir minha voz. Quanta coisa que ainda tenho para fazer”.
Seu sucesso veio de uma música que pegava também pela irreverência, pelo deboche no jeito de cantar, se portar, de brincar fazendo música séria. Assim, ela conquistou pelo menos duas gerações. Mas, sabe como é a memória do brasileiro, ela saiu da midia. E eis que um representante daquela geração se encarregou de trazê-la de volta, pelo vies de sua própria memória afetiva. Foi a banda Bojo, em especial Maurício Bussab, sempre citado por Maria Alcina, quem a trouxe a tona outra vez.
Ela não é do tipo que fica remoendo sentimentos e avalia tudo com tranquilidade. “A midia muda, não é a gente que sai dela. Nessas mudanças a comunicação necessita de outras informações, outros aparatos. A gente é um produto e quando é hora de vender outro... eles te tiram da prateleira. Tive o infortúnio de ficar quase 20 anos sem gravar, mas sou uma sobrevivente muito forte de uma coisa obscura, que nem eu sei o que tenha sido, porque muitas veze cheguei a fazer repertório para discos que paravam”, conta. Diz que nem teve tempo de pensar nisso. Saia de uma situação desagradável e buscava algo melhor. “Olhando hoje, só estou aqui porque não parei lá atrás. Sobrevivi como pude, andei como deu, comi o que tinha e não saí da profissão”. Sem tempo para lamúrias, não lhe faltou trabalho . “Sem gravar você fica fora de muita coisa, mas tive que aprender a sobreviver no palco, porque nem todos que estouram tem essa experiência”, observa ela, que pegou cancha em apresentações no picadeiro.
Novidade — Maria Alcina traz na bagagem – e vai vender depois do show – um belo disco, Maria Alcina Confete e Serpentina. Foi uma sequência de coisas boas, com o empurrão da internet que abriga tudo que gravou. Até chegar a 2003 e o projeto de Alex Antunes – que lembra aquele lá que colocou Macalé e Moreira da Silva cara a cara no anos 70 -, Com:Tradição, que promoveu o encontro de artistas de ontem e de agora. Maria Alcina fez par com o Bojo – ou foi o Bojo que fez par com Maria Alcina? Não importa, o certo é que dali em diante voltamos a ouvir falar dela. “E aí o bicho pegou”. Do show veio um Cd e a parceria com Bussab andou. É dele a produção desse disco novo no qual Maria Alciona faz o que colocou como meta: “expandir-se”. Uma Maria Alcina diferente daquela que a minha geração cravou na lembrança se mostra desde o começo. É um disco para ouvir – e Maria Alcina, na nossa lembrança, ou na minha, de criança, era para ver também. “Nos outros trabalhos têm isso também, mas é que o meu lado da alegria era muito forte. E não tive a chance de mostrar os meus outros lados. O Maurício trouxe a Maria Alcina inteira. É confete e serpentina? É. Mas no carnaval também tem gente chorando no salão”.

Serviço
Homenagem ao Malandro. Dias 11e 12 às 21h e 13 ás 19h. R$20 e R$10 Teatro da CAIXA
(Rua Conselheiro Laurindo, 280). Informações: (41) 2118-5111

9/04/2009

Em breve...



acima, a capa do provável bootleg da Hotel Avenida no Rock de Inverno 7, que como disse no post abaixo, deve sair em breve. A arte é do Gian, sobre foto de Marcelo C4 Stammer.

9/02/2009

Cancelamento

Infelizmente a Hotel Avenida não se apresentará mais na Bienal do Livro, na sexta-feira, como anunciamos aqui. Fica pra próxima. Mais exatamente no dia 30 de outubro, no Jokers, dentro do projeto Acústico Mundo Livre, e ao lado da Plêiade, no que deve ser nosso último show de 2009.

Enquanto isso continuamos trabalhando na edição e mixagem da gravação do show do Rock de Inverno 7, que deve estar pronta até o final do ano, ou mesmo antes. Aguardem!

9/01/2009

Alegria de tocar para sua gente

Jornal do Estado/ Bem Paraná

O chorão Altamiro Carrilho faz o lançamento de 4 DVDs e diz que ainda tem muito show para fazer (foto: Divulgação)

Altamirro Carrilho renova seu prazer em tocar flauta e festeja os brasileiros

Adriane Perin

Oitenta e quatro anos, 70 de carreira musical. Cem discos gravados e perto de 200 composições assinadas. Estes são alguns dos numeros em torno daquele que é considerado o último dos mestres chorões que pode dividir com a gente sua experiência e prosa. Altamiro Carrilho está em Curitiba para o lançamento do projeto A Fala da Flauta, composto por 4 Dvds e um livro, organizados por Andreas Pavel, que traz os DVDs “Primeira e Segunda Noite em Niterói”, “Uma Vida na Flauta” e “Esse Sou Eu”, filme de Ana Suttor, com o making of das gravações.

Inicialmente estava cá com meus botões ansiosa sobre possíveis perguntas. Ele atrasou um tantinho a entrevista, mas chegou ao telefone acalmando minha intranquilidade e tomando as rédeas da conversa. Logo foi dizendo que gosta de tocar em Curitiba porque é um povo muito musical. “Fiz no Guairão um concerto musical popular e clássico”. Para ele, aliás, não tem essa história de música erudita ou popular. Tem é música boa. A convite do Sesi Paraná ele se apresenta ao lado de Pedro Bastos (violão 7 cordas) Mauricio Verde (cavaquinho), Éber de Freitas (bateria e percussão) e Luis Américo (violão). Carrilho contará também com as participações de Sérgio Albach (Clarinete) e Trio Catuaba Brasil, ambos residentes em Curitiba.
A seguir trechos da conversa, sob o pulso firme desse alegre senhor.

Música erudita e o choro
O indivíduo que gosta de música erudita forçosamente vai gostar de choro, porque ele é todo baseado nas sonatas de Bach, nos concertos de Tchaikovsky , Bethoven. Tudo da mais alta qualidade. Bethoven era chorão, “Pour Elise” é um choro, basta colocar pandeiro, cavaquinho, instrumentos que o choro incorporou. Até já gravei em ritmo de choro e dá a impressão que foi sempre assim. E, agora os jovens estão descobrindo o choro como opção para tocar boa música sem precisar estudar 10, 12 anos. Porque pra tocar concertos tem que ter essa experiência, o domínio de pelo menos 8 anos do instrumento.

Ritmos populares
Pouca gente tem esse dom, chamo de dom, de assimilar bem ritmos populares. Quase que 90% da nossa música se deve à dita África e foi uma mistura fantástica essa. Uns especialistas em percussão e outros especializados em harmonia e melodias bonitas. Outra coisa que interessa a todo instrumentista é saber improvisar. Quem sabe sair de um tema sem perder a linha a harmônica leva muita vantagem e o público também agradece não ser repetitivo.

Jazz e outros gêneros
Gosto de tudo, só existe um tipo de música: a música boa, de quaquer gênero. Não podemos classificar de ruim a música que não gostamos, mas milhares de pessoas gostam. Mas, também tem muito barulho com nome de música no mundo inteiro. E existem adeptos. Então, como diria o outro: o que seria do amarelo se não houvesse o mal gosto (risos).

Bom humor
Eu tento passar isso para o público nos títulos jocosos, por exemplo. No show, ninguém quer sofrer. E tenho uma convivência muito boa com quem toca comigo. Mas, para ser músico bom tem que ter boa cabeça, além de talento. Acima de tudo tem que ser um indivíduo intelectual, mesmo que não tenha cursado faculdade. A música obriga isso.

66 anos de música?
Não, são 70 anos de música, comecei aos 14 anos; e já era profissional. Dentro da minha biografia gravei com Moreira da Silva quando menino ainda e ele teve que conseguir autorização da polícia. E dali fui ficando mais conhecido, com meus discos e acompanhando os grandes mestres; os melhores cantores, Orlando Silva, Francisco Alves, Vicente Celestino, Carlos Galahardo, Isausinha, Jorge Veiga, Trio de Ouro, Dalva de Oliveira. .... é muita gente.... Elizete Cardoso, Elis, ela era um espetáculo. A meu ver a melhor de todas, porque almoçava, jantava e lanchava música.

Bom de conversa
Eu falo bastante e fui aprendendo muito com as viagens pelo exterior. Fiz quase os cinco continentes. Até em Israel eu toquei. Recebi um papel em hebraico e me disseram o som que teria em português. Levei uma semana pra decorar, mas fiz a saudação. Só que , depois de uma certa idade, a idade do condor, tive que aceitar o conselho médico e diminuir minhas travessuras. Naturalmente, hoje já não tenho tanta resistência. Na execução da flauta tenho ligeiras limitações nas músicas mais puxadas na respiração. Porém, nunca parei de estudar e exercitar.

A Fala da Flauta
São seis horas de concertos, documentário, entrevistas antigas, apresentações especais, gravações de estúdio. O público vai saber como é uma gravação lá bem junto da gente, ouvindo até as bobagens que a gente fala. Só mandei tirar um palavrão, porque plateia não tem que ouvir palavrão. Eu não parei. Só quando papai do céu chamar. Fico tão feliz quando entro no palco que parece que tô recebendo um presente. Mas, agora priorizo tocar no Brasil. Sou o contrário, gosto mais de tocar para minha minha gente. Pros gringos toco pelos dolares (risos).

SERVIÇO
Altamiro Carrilho. Dia 01 às 20h30. R$20 e R$10. Cietep ( Av. Comendador Franco, 1.341).

Biografia ou livro de fã?

Jornal do Estado/Bem Paraná

Mesa redonda de hoje, na Bienal do Livro reúne Arnaldo Bloch e Ruy Castro,que deu uma entrevista por email. Fernando Morais teve que cancelar sua participação por questões relacionadas a seu novo trabalho

Adriane Perin

A 1.ª Bienal do Livro de Curitiba segue até dia 4 de setembro com muitas opções; nas manhãs e tardes, voltadas à educação e também conversas descontraídas no Café Literário. Os começos de noite oferecem mesas-redondas e, depois, pocket shows e . Hoje, o assunto é biografia, com participação de Arnaldo Bloch e Ruy Castro. Fernando Morais, infelizmente teve que cancelar sua participação por questões relacionadas a seu novo livro. A mesa foi batizada de “Biografias: Vida Privada, Bisbilhotice, Marketing, Exemplo, História” e começa às 19h30, em um dos anfiteatros do ExpoUnimed, que abriga os encontros e os stands da Bienal (que, infelizmente, ficaram devendo para que esperava encontrar alternativas ao que está nas livrarias).
Ruy Castro respondeu algumas perguntas por email.

Jornal do Estado — O que você considera mais dificil para um biógrafo brasileiro. Me parece que possíveis biografados são arredios e falta compreensão de que suas histórias são também de interesse público.
Ruy Castro — Não posso falar por outros biógrafos e por seus biografados. No meu caso, nunca tive problemas no começo do trabalho - mesmo as filhas do Garrincha [com seus maridos, que eram quem mandava na história] pareciam muito contentes em saber que eu estava biografando o pai delas e, dentro do pouco que sabiam sobre ele, colaboraram bastante nas entrevistas. Depois, quando o livro estava para sair, seus advogados vieram com aquele processo. Ou seja, houve má fé deles na jogada. Mas não vejo personalidades arredias. Ao contrário, vivo recusando “encomendas” de gente famosa e importante que gostaria que eu os biografasse. Não entendem muito bem quando digo que não aceito encomendas, muito menos de vivos.
JE — Por outro lado, também tem muitas biografias servis. Nas estrangeiras o que se vê é o esmiuçar das vidas dessas personalidades de uma forma impressionante, sem a preocupação de se algo vai denegrir a “imagem” do biografado. Por exemplo, na de John Lennon, o autor diz que ele tinha tesão pela mãe. Na dos Rollings Stones, as brigas entre os integrantes são abordadas sem meios termos. Já na biografia do Renato Russo, por exemplo, publicada recentemente, o autor não trata do homossexualismo, assumido, do compositor, nem do filho que ele teve com uma pessoa de quem não se sabe nada direito. Posto isso, quais são os limites de um biógrafo? Como se relacionar com quem “guarda a imagem da pessoa pública”?
Castro — Mas a “biografia” do Renato Russo será uma biografia ou um livro de fã? Favor não confundir. Assim como a maioria das “biografias” que se publicam por aqui - é tudo livro de fã. Para um biógrafo de verdade, o único limite deve ser: Essa informação é verdadeira? E tem relevância na narrativa? Se as duas respostas forem sim, ele deve publicar.
JE — Acho que o Brasil tem muitos possíveis biografados ainda - mas proporcionalmente poucos “biógrafos profissionais”. É um nicho de mercado que ainda tem muito o que render, não achas? O consideras mais importante amadurecer neste segmento? E em relação ao público?
Castro — O biógrafo precisa ter a confiança do seu editor e algum dinheiro para trabalhar [porque é um trabalho que exige tempo integral]. Quanto ao público, precisa ser instruído sobre o que é uma biografia, um perfil ou uma memória. [Por exemplo, o belo livro da Helena Jobim sobre seu irmão Tom, O homem iluminado, não é uma biografia, mas uma memória. A de Nelsinho Motta sobre o Tim Maia, de certa maneira, também]. E os resenhistas dos jornais precisam parar de resenhar o personagem e passar a resenhar a biografia.
JE — O caso do Roberto Carlos foi emblemático, é difícil não falar dele.
Castro — O caso desse livro é um equívoco só, a começar pelo próprio livro. Antecipei para o Paulo César Araújo o que aconteceria - e, infelizmente, aconteceu. Fez um livro todo a favor e mesmo assim foi perseguido, como previsto.
JE — O que você acha que pode acontecer, legalmente falando, depois do episódio da proibição do livro?
Castro — Acho que nada vai acontecer. O livro só voltará às livrarias se o Roberto Carlos “deixar”...
JE — Qual foi a sua biografia mais difícil pra você fazer. Por quê?
Castro — Disparado o Carmen - Uma biografia. Pela dificuldade de encontrar pessoas que tivessem convivido com Carmen Miranda enquanto ela morava no Brasil. Essas pessoas precisariam ter pelo menos 19 anos em 1939, que foi o ano em que ela foi embora para os Estados Unidos. Ou seja, precisavam ter nascido até 1920.
Como tive a idéia do livro em 2000, significa que, naquele ano, seriam pessoas de 80 anos para cima. E onde eu ia encontrar tanta gente com essa idade, que tivesse conhecido a Carmen Miranda e estivesse lúcida para falar?
Pois, no decorrer de quase cinco anos, encontrei dezenas de pessoas.
JE — Como é que você faz a escolha de alguém para ser seu biografado? Já teve muito problema para ter acesso a materiais?
Castro — Escolho um biografado pela admiração que tenho por sua obra e pela curiosidade que tenho por sua vida.
Como disse, o maior problema que tive no “Carmen” foi levantar material sobre sua fabulosa fase brasileira — sua infância na Lapa, sua vida de adolescente e tudo que ela fazia antes de se tornar cantora. Nesse sentido, cada descoberta - uma frase, um fato, um endereço — era uma vitória. A parte de sua carreira internacional foi comparativamente mole de fazer.
JE — Uma coisa legal de biografia é que quase sempre o autor acaba fazendo também - e levando o leitor com ele - por um passeio também pela época do seu “personagem”. A pesquisa para o livro sobre a Carmem Miranda foi a mais dificil que teve que fazer?
Castro — Foi, com o disse. Mas, pelo menos, eram cenários que me apaixonavam e com o qual eu já tinha uma certa intimidade: o Rio dos anos 20 e 30 e Nova York e Hollywood dos anos 40 e 50.
JE — Quer continuar fazendo biografias?
Castro — Sem dúvida. Mas só voltarei a elas se me der um estalo e surgir um novo personagem que me apaixone tanto quanto os que já biografei — Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda.