2/16/2013


As  folhas secas pelo inverno no chão do quintal tingem o dia de um vermelho que quase não se vê, perdido nas manchas rubras que o tempo carrega sobre elas.  O dia de sol abre o céu no prédio de vidro azul e a grama cortada, e molhada, se agarra em minhas pernas
Mas, teu rosto reflete a mesma aflição que  vê no meu.  E eu fico sem palavras sempre que chego em casa. Quando a porta se abre antes mesmo do rodar da chave, ganho meu melhor momento do dia.  Só quero um abraço.
Nunca busquei a proteção, mas encontrar aquele olhar no fim do dia é tudo  que quero querer hoje. E  é quase mais do que posso suportar quando a saudade bate na porta anunciando que a madrugada chegou,
Irreprimível e imbatível, 
entardecer após entardecer
Trazendo nos ombros o peso de outro dia que escorregou da palma das mãos abertas, sujas da terra remexida que se mistura com a pintura azul escura da unha descascada. Não, não pinto minhas unhas de vermelho há muito tempo.  Não se espante.
Até que o alvorecer receba os carros e, quem sabe, tinja aquele pedaço de céu com os vários tons que o vermelho traz em si, passeando em alaranjados brincalhões que fazem meu peito quase parar naquela curva
Só pra se iludir que o tempo é meu e que podemos fazer o que quiser com ele. E podemos.  Não é? Mas, nem sempre quero. Ou nem sempre sei que podemos. Às vezes, tudo é meio escuro mesmo em dias como os de anteontem. Noutros, o cinza que cobre o céu abre no sorriso a tranqüilidade de quem sabe quem tem ao lado. E que encontra a felicidade logo depois  daquele portão.