5/30/2007

Onde você procura as informações que quer?

Jornal do Estado de ontem

Site do selo carioca Midssumer Madness disponibiliza fitas-demo de bandas

Adriane Perin

Outro dia, quando um som tosco invadiu a sala, tive um sobressalto. É 4Track Valsa, a banda carioca de Cecília Gianetti. Parece até aquela fitinha cassete dos anos 90, pensei....e não é que era mesmo a tal, da época em que as bandas usavam fitas-demo, um tempo nem tão distante assim, mas que parece já ter ficado na lembrança nesses dias de internet. É exatamente a rede mundial de computadores que, mais uma vez, contribui para que momentos importantes de nossa história musical contemporânea não fiquem só na lembrança. É no site do pioneiro selo independente Midssumer Madness, ou MMRecords, do jornalista Rodrigo Lariú, que esta e outras preciosidades estão. A idéia, explica ele, é reavivar o selo lançando novos artistas e disponibilizando o acervo em MP3.

O selo começou em 89 e a primeira fita foi em 92 - ou seja é um acervo de preciosos 15 anos, exatamente o percurso no qual se fortaleceu o independente brasileiro. “Não tem nem um quinto do que temos. Aos poucos vamos disponibilizando e a idéia é que as mais baixadas sejam depois lançadas em Cd, como eram essa fitas que faziam o papel de singles”, explica. O projeto “Demo é o cassete!” começou em maio. Mas, a coletânea Fim do Século Vol I, com hits de 30 bandas brasileiras antes lançadas em cassete nasceu este ano. Surgiu quando o músico Gabriel Thomaz contou que tinha feita uma coletânea de suas demos preferidas.

Quem entrou no site no Dia do Trabalho pode baixar a tal fitinha da 4Track Valsa, Altas Horas. A 4Track, depois transformada em Casino, deixou suas marcas em shows deliciosamente embriagados em Curitiba e a voz ronronante de Cecília Gianetti (que oficialmente não tem mais banda, está em Berlim por conta de um livro que foi convidada para escrever em projeto da Cias. das Letras e é colunista do jornal Folha de São Paulo), estou certa, ainda consegue derreter blocos de gelo.

A demo desta semana, Fim do Século Vol I, no entanto, tem uma história diferente. A coletânea reunindo os hits de 30 bandas brasileiras, não nasceu no passado. É um lançamento de 2007 que surgiu quando Gabriel Thomaz, um colecionador, comentou com Lariú que tinha feito uma seleção com as preferidas das demos que tinha em casa, pois está digitalizando seu acervo. Foi intimado na hora. “Vamos colocar já no Midssumer”. Alguns dos grupos presentes já viveram seus momentos de glória, como Raimundos; outras o vivem ainda, como Pato Fú e vários músicos seguiram com outros grupos como o próprio organizador Thomaz, que esteve semana passada tocando na cidade com seu Autoramas. Um texto de Lariú situa o momento fonográfico brasileiro, com o predomínio do axé e sertanejo, internet incipiente, entressafra dos grandes nomes da música brasileira e muitas, muitas bandas ensaiando nas garagens. Thomaz também comenta faixa a faixa e, juntos, eles dão aula de história da música independente brasileira que, não poderia ser diferente, tem três grupos curitibanos importantes pra ajudar a contar: Missionários, Cervejas e Pinheads.

Serviço
Vale conferir: www.mmrecords.com.br


Bandas locais aparecem também em vídeo — O site do MMRecords virou um referencial da música independente brasileira – ou, pelo menos, de um determinado recorte desta produção. Além de comercializar os discos de seu catálogo, que tem, por exemplo, a cultuada Fellini, tem um e-zine, as fitas cassetes e os links – e, de quebra, ensina a transformar as demo tape em mp3.
Fim do Século Vol I tem momentos históricos como a versão de Eddie para “Quando a Maré Encher”, transformada em sucesso pela Nação Zumbi. Missionários, Cervejas e Pinheads, que estão na coletanea de Thomaz, aparecem também, em performances intensas, tentando se movimentar no palco cheio de gente do Juntatribo2, histórico festival campineiro no qual as bandas curitibanas foram destaque. Foi a maior delegação do festival, superior até ao número de grupos paulistas.
O tempo todo tem uma moçada pulando do palco para a galera, em shows nervosos, no melhor sentido. Não foi por acaso que a Resist Control, outra curitibana que fez um show matador na mostra, quebrou o palco. E a Magog, por alguma razão, acabou tocando duas vezes. A Relespública também estava lá, tentando seguir adiante depois da morte do vocalista Daniel.

Olhos nos olhos da música pop mundial

Jornal do Estado de ontem

Beijar o Céu, quarto livro da coleção Iê-Iê-Iê, reúne textos do jornalista inglês Simon

Adriane Perin

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Simon Reynolds fez fama no semanário inglês Melody Maker

Houve uma época em que o jornalismo era escrito de uma maneira mais pessoal, e a paixão pelo assunto tratado era seu Norte. Neste cenário, alguns jornalistas fizeram fama no mundo falando de música. Eles escreviam sobre o que viviam e suas impressões e investigações teórico-filosóficas replicavam mundo afora, ditando tendências. Assim, o rock, o punk e a cultura pop, como um todo, passaram a ser levados mais a sério. São estes autores essenciais para a música contemporânea que a editora Conrad lança no Brasil na coleção Iê-Iê-Iê, que tem, até agora, quatro títulos publicados.

Logo de cara, dá pra dizer que todos devem ser listados entre as leituras obrigatórias de estudantes de comunicação, fãs ou não de música. Os dois mais recentes são Criaturas Flamejantes, de Nick Tosches e Beijar o Céu, de Simon Reynolds. Pensada para apresentar aos leitores brasileiros autores que fazem uma análise da história, da cultura e da sociedade da segunda metade do século 20 até hoje, através da música pop, a coleção dá aulas de música. Os primeiros passos de estilos hoje consagrados, analisados profundamente, em textos que não ficam numa visão maniqueísta de bom ou ruim. Eles ousam, se arriscam e bem por isso se tornaram referência.

Beijar o Céu, por exemplo. Tem-se a impressão que Reynolds faz viagens pela sua própria personalidade e se coloca no divã também, quando analisa grupos que, reconhece, são essenciais em sua vida, como Joy Division e Morrissey/ Smiths, dois dos melhores momentos dos escritos desta que á primeira coletânea dele em língua portuguesa. Em comentários às vezes delirantes, ele banca análises que hoje podem até soar como nada demais, mas trazem contornos bem pessoais e também listam informações inéditas de quem acompanhou tudo de perto.O olhar teórico e filosófico desvenda ( ou tentm, pelo menos) a própria alma do artista traduzida em suas músicas, e acaba por se debruçar também sobre importantes movimentos histórico-sociais do século 20. E faz bem ver que o universo pop tem águas bem mais profundas e revoltas do que seus detratores são capazes de perceber. Livros como estes da coleção Iê-Iê-Iê ajudam a encontrar um lugar no mundo, mas também deixam um gosto amargo na boca, uma sensação de nostalgia.

Se em Criaturas Flamejantes, o norte-americano Nick Tosches é mais didático, Reynolds é mais viajante. Em Criaturas, nomes e mais nomes, datas e mais datas tornam a publicação uma referência bibliográfica para consultas constantes. Aqui, são os passos iniciais do rock, o encontro entre blues e country - que deu no que deu - e nomes dos quais nunca ouvimos falar, que desfilam. O segundo, olha para os anos 80 e 90, analisando tendências modernas. Do Hip-hop e indie rock ele vai para o divã ao lado de Morrisey em uma entrevista memorável. Do mesmo jeito que tenta compreender o transe suicida que se abateu sobre Ian Curtis e seu Joy Division e seu impacto na cena de Manchester; analisa contrastes de Nirvana e Pearl Jam; ensina como foram os primeiros passos da música eletrônica; encara Radiohead, em outro grande momento do livro. O trunfo de Reynolds é o jeito como ele se coloca diante dos criadores. Criadores e criatura, de certa forma, se enfrentando. É um jogo que parecer cruel, às vezes. Mas, é imprescindível esse olhar bem dentro dos olhos da música pop. Se ele acerta ou erra, é o menos importante. O que vale é essa valiosa bibliografia, que serve bem a entendidos e leigos no assunto.

Serviço
www.editoraconrad.com.br
A coleção está em promoção no site da editora.

5/17/2007

Para o alto e avante!

Jornal do Estado

A Poléxia está de volta e comemora hoje os primeiros cinco anos com show cheio de convidados

Adriane Perin

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Esta é nova formação da banda curitibana

Agora está tudo voltando ao eixo. Depois de oito meses sem fazer shows e da saída de Raphael Moraes, integrante fundador, a Poléxia está de volta. Comemora com show hoje os cinco anos, com direito a convidados, e a boa recepção do single Eu te amo, porra!”, que ultrapassou 10 mil downloads. Em junho toca em São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas. A banda parou quando seu vocalista, Rodrigo Lemos, mudou-se para Florianópolis para trabalhar. Na mesma época, Raphael comunicou a saída para trilhar uma carreira com outra banda. “ Foi complicado porque ele é um membro fundador e quando isso acontece é sempre um recomeçar do zero. Mas tudo bem, foi numa boa”, diz. O novo integrante é veterano. Fabrício tocou no Zeit, Cores d Flores e atualmente está na Loxoscelle. Rodrigo e Eduardo, o tecladista - da banda que se completa com Neto, na bateria -, foram conhecer o baixista da U2 Cover e quem estava no baixo era Fabrício. “Tudo conspirou a favor. Conversamos, fizemos um ensaio e agora estamos nos conhecendo musicalmente”, diz Rodrigo. A nova formação, garante o vocalista, mantém o padrão Poléxia de pegar “o jeito de cada integrante”. “Pode ser que nossa sonoridade mude um pouco”, comenta. Agora é hora de voltar aos palcos e Rodrigo garante que serão muitos shows. “Gravação vai ficar em segundo plano. Vamos trabalhar para montar um repertório completo e ano que vem lançar outro disco”, diz e emenda. “Ficar parado é necessário para organizar as idéias e não querer fazer tudo correndo”, pontua, sabiamente.

Serviço
Poléxia e convidados. Dia 17 às 21h. R$20 e R$10. Sesc da Esquina (R. Visconde do Rio Branco, 969).

Pra rir um pouco

Como se livrar do Telemarketing

Cansado dessas ligações de empresas de telemarketing? Eis aqui 10 meios de aterrorizar a pessoa que está do outro lado da linha.

1) Quando a pessoa lhe perguntar "como vai?" responda: "Estou tão feliz que você esteja me perguntando isso! Hoje em dia ninguém mais se preocupa comigo e preciso tanto conversar com alguém... Minha artrite está me matando e meu cachorro acaba de morrer. O pior, é o meu médico que me disse..."

2) Fale à pessoa para falar MUITO devagar porque você está escrevendo tudo o que ela está dizendo.

3) Quando a pessoa disser: "Bom dia, meu nome é Francisco da empresa X", peça-lhe para soletrar o nome e sobrenome, e o nome da empresa. Faça-o repetir. Pergunte o endereço, faça soletrar o nome da rua, o CEP. E faça repetir novamente. Peça-lhe o nome do chefe dele, o número do CGC, etc... Faça pausas longas como se você estivesse escrevendo tudo num papel. Continue a fazer perguntas pelo tempo que for necessário.

4) Quando a pessoa se apresentar (ex: "eu sou Júlia"), dê um grito: "Júlia? Oh meu Deus! É você mesma? Faz tanto tempo que não tenho notícias suas! Como é que você foi na faculdade? Você não lembra de mim?"

5) Se uma empresa de telefonia ligar para lhe oferecer descontos nos interurbanos, responda com voz sinistra: 'Não tenho amigos. Ninguém quer ser meu amigo. Ninguém quer falar comigo. Você quer ser meu amigo? Eu poderia ligar para você... Qual é teu número?"

6) Se uma administradora de cartão de crédito ligar para lhe oferecer um cartão, responda que esta oferta caiu do céu, você acabou de pedir concordata e está com um monte de dívidas, seu cheque especial foi cortado e que finalmente você vai poder fazer as compras de supermercado.

7) Diga que você está em liberdade condicional, num programa de reabilitação social para detentos violentos e que você precisa pedir à assistente social a autorização dela.

8) Depois de ter ouvido tudo o que a pessoa tem a dizer, peça-a em casamento, porque você só dá seu número de cartão de crédito a sua esposa.

9) Diga à pessoa: "Nem tente, André, eu já reconheci tua voz! Essa brincadeira é boa, mas agora não tem mais graça. E como vai a tia Joana?". Não importa o que a pessoa lhe disser, repita: "Pára com isso, André, você não percebeu que eu já te reconheci?"

10) Diga à pessoa que você está muito ocupado no momento, mas que lhe dê seu número particular que você irá ligar mais tarde. A pessoa evidentemente não vai querer lhe dar o número. Responda então: "Eu imagino que você não queira ser importunado na sua casa". Eu também não!

5/13/2007

Índios Eletrônicos - Lobisomem tubarão - Marcelo Borges

A hora do Lobo: é tempo de ocupar espaço

Jornal do Estado

O músico mostra o show Acústico MTV e diz que tem planos de até o final do ano relançar sua discografia também em vinil

Adriane Perin, do Jornal do Estado


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Lobão é a atração deste sábado em Curitiba, na Hellooch
Lobão tem na ponta da língua bons argumentos para rebater críticas a seu retorno para uma gravadora major e a parceria com a MTV, para o Acústico, cujo show ele mostra neste sábado, na Hellooch, com participação de um quinteto de cordas curitibano. Nos últimos anos, o espaço na mídia tem sido mais para ele falar do que para falarem de sua música – e olha que foi um período em ele fez seus melhores discos e que estão também entre os melhores da produção do rock brasileiro. A melhor notícia dessa (re) aproximação com a Sony é que sua obra completa será relançada. Na conversa com o JE ele contou outro detalhe: os 16 discos serão apresentados também em vinil, em edição de luxo, para colecionador.

Quando o Acústico foi confirmado foi aquela gritaria com acusações de incoerente, traidor do movimento, pois ele sempre foi um crítico ferrenho do modelo engessado que serviu de muleta para o mercado fonográfico e artistas. Quando Lobão foi agredido por um fã (?) em Porto Alegre, ano passado, ele teve os tímpanos perfurados, o que obrigou a parar a turnê do disco Canções Dentro da Noite Escura, e um desânimo se abateu. “Foi um incidente terrível e entrei em depressão. AFinal, demorei quatro anos para gravar esse disco, que vendeu 20 mil cópias, muito aquém do potencial. Me dei conta que havia chegado num momento crucial”, avalia.

Toda sua história passou pela cabeça. Lobão, neste tempo em que ficou fora de majors, os últimos 15 anos, virou uma referência para os artistas independentes, defendeu regras mais claras de direitos autorais, criou um selo e uma revista que distribui Cd de bandas alternativas (a Outra Coisa), e também viu o projeto anti jabá ganhar vida própria. No meio da crise, decidiu aceitar o convite da MTV. Queria fazer o Ao Vivo, que considera o filét mignon. “Aceitei este porque pude fazer do que jeito que queria, com toda liberdade e buscando novas sonoridades. Investimos pesados em timbres de violão, pesquisamos muito, queria emular o som de violão”, conta. E é o som dos violões que tem merecido os melhores comentários sobre o álbum, já considerado de destaque entre os Acústicos.

Aí, então, choveu gravadoras, nacionais e estrangeiras, querendo estar junto. “Tava com a caneta para assinar um contrato quando o Bruno Batista, da Sony ligou e perguntou se eu tinha esquecido deles”. Imagine, só. Ele vem brigando com a gravadora há anos, tinha cinco processos, seus discos foram congelados pela empresa. Resumindo, ele constatou mudanças na nova administração da empresa, convidou Carlos Eduardo Miranda para produzir o disco e encarou a nova fase. “Eles estão interessados em tudo que aprendi nesses anos como empresário também”, comenta. Para ele, não existe incoerência alguma, já que os resultados de suas pendengas hoje servem de norte para toda classe artística. “Não tem nenhuma derrota, as gravadoras estão desmontadas, é hora de ocupar o espaço. Não posso virar as costas e ir embora. Minha presença não deixa de ser um constrangimento. Tô lavando a alma”.

“A História vai asfaltar mais esse percurso”
Agora Lobão está de volta até ao Faustão. “Porque incoerente? Ele quebrou todos os protocolos para me receber. Na semana seguinte à MTV, exigiu que eu fosse ao programa. Tem gente que não entende que sou querido, as pessoas falam comigo mesmo eu estando fora da mídia, perguntam sobre minhas músicas”, conta A oferta de sua obra completa vai ser boa também para a meninada de 16, 17 anos que lhe pergunta sobre seus trabalhos antigos. “É o final da minha novela. Os vinis terão edição super limitada”, diz. É hora de organizar a vida. “Me sinto meio fantasma, tava na hora de uma definição. No mainstream dizem que sou underground, e no indie me acham mainstream”. Mais uma vitória é o fato de que o lançamento será parceria com seu selo independente, Universo Paralelo, algo inédito na Sony. “É de executivo para executivo”. Com a imprensa ele diz estar acostumado. “Desde a saída do Vímana, a passagem pela Blitz, minha prisão, o Rock In Rio com a Mangueira (mistura que depois todo mundo fez), a saída de major para virar indie. Sempre recebi esse olhar de incautos. Eu jamais faria um disco ruim, depois de tudo que falo. Tanto é, que na hora de comentar as músicas, como agora, só leio coisas boas, inclusive nos jornais que me detonam”. Sobre o Acústico, uma dica. “Quem tiver o som 5.1 sente no meio da sala e vai se sentir no centro da orquestra. Só fiz porque pude fazer um disco muito bom, como queria. Sei que a História é que vai asfaltar mais esse percurso”, encerra.

5/11/2007

Treze anos de pura resistência

Jornal do Estado

Grupo curitibano de hip hop, Mocambo, apresenta seu primeiro vinil, com show amanhã, no Vitrola Alternativa

Adriane Perin

É amanhã o lançamento do primeiro vinil de hip hop paranaense, Musicografia Abstrata. Os responsáveis pela simpática e bem produzida bolacha, que ganhou a cor sverde é o Mocambo, grupo de hip hop curitibano, em flerte explícito com o ragga. O show de sábado terá participação de Agamenom (CWB) e Jay (SP).
Jean Coringa e K-Nab, este o responsável pela produção do disco, que está finalizando o vídeoclipe e o CD, contaram foi preciso fazer empréstimo. Mas não dá nada, não. Esses guris são acostumados a tocar a vida por conta própria, tendo como a versatilidade sonora. K-nab, Coringa, Dz, Vint e L-Jay não fazem um hip hop tradicional, eles gostam de passear por ritmos e influências retrabalhando referências de um jeito apurado e original. “Tem uma pegada dancehall, que é um estilo do rap, e reggae, também. Estamos com muitas influências das coisas que temos ouvido, e isso aparece também nas participações. Tem gente da Itália, Angola, Espanha, Goiânia, Rio, São Paulo”, comenta K-Nab. Essa característica os levou a não se sentirem parte de circuitos tradicionais e a livres para circular por ambientes musicais variados. Eles concordam que se fechar num gueto de estilo não é o melhor caminho para quem quer fazer a diferença. Bem por isso o Mocambo tem fãs entre os apreciadores dos mais diferentes estilos. “Não estamos limitados. Temos fãs que gostam de metal e de pagode. Sem estereotipar nenhuma cadeia social de pensar, viver ou escutar”, argumenta Coringa. É assim que o Mocambo tem escrito sua história. E o reconhecimento veio. Os parceiros espalhados por todo canto, foram encontrados na internet. E os fãs, também. Em dois dias, uma música nova foi baixada por 400 pessoas – e foram mais de 16 mil acessos em 3 meses.
O problema maior ao realizar o sonho de ter um vinil foi a escolha das músicas, já que neste formato o espaço diminui muito e foi preciso escolher apenas nove das 30 prontas. Por isso, sai também um Cd em breve, com mais participações ainda. Foi 1 ano e meio trabalhando neste lançamento. Tanto tempo é porque K-Nab é um perfeccionista. Na mesa do bar, a conversa entre eles ficou engraçada, enquanto observo. Coringa quer saber porque clipe e Cd não podem ser anunciados para os próximos dias. K-Nab, com seu jeitão simples, responde na lata: “porque eu posso fazer melhor”. Ok, então, a gente espera.
Se em alguns casos, esse papo de fazer um “som sincero e honesto”, é só conversa pra boi dormir, pois o que tem que ser bom é a música e não a intenção, no caso dos mocambos essa promessa não soa vazia, pois se traduz em um material de altíssimo nível. “Sonho em sobreviver de música feita do que jeito que a gente gosta. Com compromisso, mas de forma irreverente”, diz K-Nab. “Trabalhamos, estudamos e queremos dominar o mundo”, completa Coringa, em tom brincalhão.
O Mocambo tem propostas para tocar no exterior, em lugares onde são ouvidos, como na Argentina, Espanha, França. Mas falta verba. A música “Passa a Bola” está rolando na coletânea Sucesso da Famastar, de um programa de uma rádio londrina. “ O DJ ouviu, gostou, botou pra rolar e convidou para uma apresentação por lá”.
Com os integrantes na média de 26 anos, e 13 de “resistência”, Mocambo é uma das mais antigas formações curitibanas, em atividade ininterrupta. “Encarando todas as adversidade que a vida impõe. Esses dias tocamos em Ponta Grossa e não tinhamos dinheiro nem para ir, mas fomos e voltamos bêbados”, conta Jean.

Serviço
Mocambo.
Dia 12. R$8 e R$5 (+consumação).
Radiola Alternativa (Pça do Gaúcho, 23).

5/10/2007

"Fiquei bebendo e pensando em como as pessoas são tristes e desamparadas. Alguma espécie de Deus apenas as colocou por aqui, sem nenhum conselho, um drink grátis ou uma promessa de um cartão postal no fim do ano. Ele apenas as colocou por aqui e as pessoas dançam como se expulsassem a devastação do seu convívio diário, do seu vulcão interno. Ele não nos avisou da insegurança, das palavras ditas com irresponsabilidade na noite escura. Ele não nos falou da solidão irrefreável. Ele sequer deu o tapinha sacana nas costas. Ele foi embora sem olhar pra trás e nos deixou por aqui, irrecuperavelmente amaldiçoados."

Mário Bortolotto, em mais um tiro certeiro em seu Atirenodramaturgo

Identidade

Hey, meu menino
eu estou
aqui
meias vermelhas, saia jeans
cabelos cor de cereja
hey, meu querido
o meu copo de vinho que está aqui
quase no fim
a toalha já manchou
a identidade eu já perdi
te buscando
esse sons na minha cabeça
ah, essa voz
que chama
seu nome constante e que pergunta
se você chora
sozinho
no quarto

atrás do vidro do carro
eu vejo as luzes passando
e você, ao longe
aaaaahhhhha
meu primeiro
e único amor
passei reto
não, eu não disse nem oi
fui pra casa

que triste e lindo
que triste e lindo
destino
Ah,
que triste e lindo

a minha baba no vidro
meu copo de vinho quebrado no chão, ah meu deus venha aqui
tô aqui
aahhhhhhhhh
que é que pode ver, quem é o cúmplice
não há testemunhas
estou aqui
aaaahhhhhh
os anos passaram e eu me misturei
a você
estou sem identidade
estou sem identidade
estou como o vinho misturado
na toalha
(lu raitani/nosusi)

5/09/2007

A Marcha do Terminal Guadalupe

Jornal do Estado

A banda curitibana apresenta seu novo disco, com show amanhã


A nova formação da Terminal Guadalupe que a partir de agora vai fazer menos shows em Curitiba

Adriane Perin

É amanhã o show de pré-lançamento do novo álbum da banda Terminal Guadalupe (TG), A Marcha dos Invisíveis. Depois de ser sondado por gravadoras independentes e major, o quinteto optou por seguir no circuito independente. A TG vai apostar novamente na mídia SMD - criada pelo músico Ralf, e da qual foi a primeira independente a experimentar-, com uma novidade. Vai lançar junto um SMDV, o DVD da mídia SMD. Disco e documentário formarão um kit que será vendido no site e shows, por R$13.

Este disco pode ser visto como o pulo do gato da formação criada pelo jornalista Dary Júnior, em 2003, inicialmente com a Poléxia como banda de acompanhamento. Dela, ficou em definitivo o guitarrista Allan Yokohama, cada vez mais atuante, aliás. Completam a TG, Rubens K (baixo), Lucas (guitarra, que entrou depois da gravação) e Fabiano Ferronato (bateria). “Não somos emo, nem elektro, retrô ou neo-hippie. Somos como várias bandas curitibanas que não se enquadram em definição e majors têm problemas com isso”, avalia Dary, completando que a TG “flerta com o pop, grunge e punk”. Experimentar caminhos alternativos já não é novidade para a essa curitibana, uma das mais desenvoltas no quesito divulgação, competência que colocou a fama de A Marcha dos Invisíveis na frente de seu planejamento. Antes dele nascer, suas músicas já circulavam nas mãos de jornalistas especializados, que o saúdam como um dos bons do ano.

Dary mantém o equilíbrio e diz que “O” disco da banda é o próximo. Mas, este, é um divisor de águas, pela qualidade sonora. Foi gravado no estúdio Toca do Bandido, fundado pelo produtor Tom Capone e hoje administrado por Constança Scofield (ex-Penélope Charmosa), tendo ao lado Tomás Magno. O lugar é frequentado pela fina flor do mainstream brasileiro. O “olhar estrangeiro” de Tomás é que está fazendo toda a diferença.

A Marcha dos Invisíveis é um disco com potencial para por a banda curitibana no mercado fonográfico “de gente grande”, com sua sonoridade impecável, instrumental valorizado, vocais mais trabalhados e equilibrados e boas músicas. Estão ali, as pegadas pop, as letras muitas vezes engajadas de Dary, os detalhes da guitarra de Allan e seus backings, a discrição madura de Fabiano e a pulsação do baixo de Rubens.

O que o produtor fez, observa Dary, foi valorizar a experiência de cada um, já que todos têm um currículo considerável. “Olhamos pro nosso próprio umbigo, fomos auto referentes no sentido de levar em conta a história dos integrantes. Tomás viu sonoridades distantes e construiu uma outra”, conta Dary, ressaltando que o documentário vai mostrar bem como eles eram reticentes inicialmente, pois registra momentos de resistência às palavras do produtor e a constatação de que ele tinha razão. “Só pedimos a ele que preservasse a essência.”.
Apesar de tudo, Dary insiste que o melhor está por vir. “As pessoas comentam sobre o nosso sucesso, mas não concordo. Esse disco não vai dar uma carreira. E ainda dependo do jornalismo, não sobrevivemos de música”, diz.

A primeira audição do disco todo, me deixou um pouco inquieta. Gostei sim, mas pareceu tão diferente do que eu conhecia! Dary sustenta que a diferença é que estão ali o jeito de cada um da banda – que só tem macaco velho.
O mais experiente é Rubens K, que foi da lendária, July et Joe, formação pós-punk do começo dos anos 90 em Curitiba, cujos ensaios levaram à abertura do 92 Graus, de JR Ferreira, que era o vocalista. Dary vem desde a Lorena Foi Embora, a empreitada com a qual chutou o pau, largou empregão e, para espanto de muitos, foi se dedicar exclusivamente à música.
Allan vem da Poléxia, uma das melhores bandas pop curitibanas surgidas nos anos 2000. Ferronato, não deixa por menos, vem da cult Íris, banda do introspectivo e talentoso Igor Ribeiro, autor e interprete original de “Cachorro Magro”, gravada pelo TG.
O disco tem vários momentos interessantes, com direito até a citação a Pink Floyd, na faixa que dá nome ao disco. Tem passagens mais pop, em alguns momentos lembra os deliciosos primeiros passos do “indie” brasileiro cantado em português. Também remete a goiana Violins, mas é TG. A decisão de gravar a belíssima “Cachorro Magro” foi bem corajosa, porque não é para qualquer um enfrentar a interpretação absolutamente cool (no melhor sentido) de Igor. É uma música pesada, exigente. Por isso, a suavidade da nova versão deixa em dúvida no começo. Mas isso passa. Estão lá a pulsação do baixo do Rubens e a batera de Fabiano, ambos da original. E é quase como se Dary e Allan se deixassem levar por eles. É bem diferente a versão, mais pop, cantarolável até. Mas, a partir da segunda audição – não esquecemos do original – mas este novo olhar ganha vida própria – e, o mais importante, sobrevive.
O Terminal tem nas mãos o seu mais belo disco, em todos os sentidos, e isso vai difícil alguém questionar. Um disco para tocar em qualquer lugar e fazer bonito.


Serviço
Terminal Guadalupe. Dia 10.
R$10 e R$8. Era Só o Que Faltava (Av. República Argentina, 1334).

5/05/2007

raspas e restos me interessam

As noites passadas
Em volta de uma mesa rabiscada de desejos
Deixaram meu coração ferido pelo tempo
Na sala enfumaçada
Sonhos pregados na parede do vento
O som atravessando minha mente em desespero
E agora o que digo pra mim mesmo quando acordar a noite soluçando
E minha mão procurar a tua no escuro
Será que tudo foi um grande engano
Será que esperei demais de tudo
Será que eu quis muito mais dessa vida
E agora vejo seus olhos molhados e aquele brilho perdido
Em que canto da memória a gente esqueceu a alegria de estarmos juntos
Bêbados noturnos em êxtase pela madrugada adentro
Olhando a noite e a lua
Descobrindo a dor e o abraço

Ivan (de uma página embolorada de uma agenda de novembro de 93)

5/02/2007

Invasão paulista - parte III



E a terceira parte da fantástica e mesopotâmica aventura hierofântico-la carniana em Curitiba, captada pelo Danilo, já está no ar. Cenas de decadência moral e física, flagrantes inenarráveis, assassinatos musicais, e muito mais daquilo que você nunca quis saber, mas resolveram contar assim mesmo. Veja se tiver coragem, estômago forte, ou simplesmente nada melhor pra fazer.