Jornal do Estado de ontem
Beijar o Céu, quarto livro da coleção Iê-Iê-Iê, reúne textos do jornalista inglês Simon
Adriane Perin
Divulgação
Simon Reynolds fez fama no semanário inglês Melody Maker
Houve uma época em que o jornalismo era escrito de uma maneira mais pessoal, e a paixão pelo assunto tratado era seu Norte. Neste cenário, alguns jornalistas fizeram fama no mundo falando de música. Eles escreviam sobre o que viviam e suas impressões e investigações teórico-filosóficas replicavam mundo afora, ditando tendências. Assim, o rock, o punk e a cultura pop, como um todo, passaram a ser levados mais a sério. São estes autores essenciais para a música contemporânea que a editora Conrad lança no Brasil na coleção Iê-Iê-Iê, que tem, até agora, quatro títulos publicados.
Logo de cara, dá pra dizer que todos devem ser listados entre as leituras obrigatórias de estudantes de comunicação, fãs ou não de música. Os dois mais recentes são Criaturas Flamejantes, de Nick Tosches e Beijar o Céu, de Simon Reynolds. Pensada para apresentar aos leitores brasileiros autores que fazem uma análise da história, da cultura e da sociedade da segunda metade do século 20 até hoje, através da música pop, a coleção dá aulas de música. Os primeiros passos de estilos hoje consagrados, analisados profundamente, em textos que não ficam numa visão maniqueísta de bom ou ruim. Eles ousam, se arriscam e bem por isso se tornaram referência.
Beijar o Céu, por exemplo. Tem-se a impressão que Reynolds faz viagens pela sua própria personalidade e se coloca no divã também, quando analisa grupos que, reconhece, são essenciais em sua vida, como Joy Division e Morrissey/ Smiths, dois dos melhores momentos dos escritos desta que á primeira coletânea dele em língua portuguesa. Em comentários às vezes delirantes, ele banca análises que hoje podem até soar como nada demais, mas trazem contornos bem pessoais e também listam informações inéditas de quem acompanhou tudo de perto.O olhar teórico e filosófico desvenda ( ou tentm, pelo menos) a própria alma do artista traduzida em suas músicas, e acaba por se debruçar também sobre importantes movimentos histórico-sociais do século 20. E faz bem ver que o universo pop tem águas bem mais profundas e revoltas do que seus detratores são capazes de perceber. Livros como estes da coleção Iê-Iê-Iê ajudam a encontrar um lugar no mundo, mas também deixam um gosto amargo na boca, uma sensação de nostalgia.
Se em Criaturas Flamejantes, o norte-americano Nick Tosches é mais didático, Reynolds é mais viajante. Em Criaturas, nomes e mais nomes, datas e mais datas tornam a publicação uma referência bibliográfica para consultas constantes. Aqui, são os passos iniciais do rock, o encontro entre blues e country - que deu no que deu - e nomes dos quais nunca ouvimos falar, que desfilam. O segundo, olha para os anos 80 e 90, analisando tendências modernas. Do Hip-hop e indie rock ele vai para o divã ao lado de Morrisey em uma entrevista memorável. Do mesmo jeito que tenta compreender o transe suicida que se abateu sobre Ian Curtis e seu Joy Division e seu impacto na cena de Manchester; analisa contrastes de Nirvana e Pearl Jam; ensina como foram os primeiros passos da música eletrônica; encara Radiohead, em outro grande momento do livro. O trunfo de Reynolds é o jeito como ele se coloca diante dos criadores. Criadores e criatura, de certa forma, se enfrentando. É um jogo que parecer cruel, às vezes. Mas, é imprescindível esse olhar bem dentro dos olhos da música pop. Se ele acerta ou erra, é o menos importante. O que vale é essa valiosa bibliografia, que serve bem a entendidos e leigos no assunto.
Serviço
www.editoraconrad.com.br
A coleção está em promoção no site da editora.
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