5/13/2007

A hora do Lobo: é tempo de ocupar espaço

Jornal do Estado

O músico mostra o show Acústico MTV e diz que tem planos de até o final do ano relançar sua discografia também em vinil

Adriane Perin, do Jornal do Estado


Divulgação



Lobão é a atração deste sábado em Curitiba, na Hellooch
Lobão tem na ponta da língua bons argumentos para rebater críticas a seu retorno para uma gravadora major e a parceria com a MTV, para o Acústico, cujo show ele mostra neste sábado, na Hellooch, com participação de um quinteto de cordas curitibano. Nos últimos anos, o espaço na mídia tem sido mais para ele falar do que para falarem de sua música – e olha que foi um período em ele fez seus melhores discos e que estão também entre os melhores da produção do rock brasileiro. A melhor notícia dessa (re) aproximação com a Sony é que sua obra completa será relançada. Na conversa com o JE ele contou outro detalhe: os 16 discos serão apresentados também em vinil, em edição de luxo, para colecionador.

Quando o Acústico foi confirmado foi aquela gritaria com acusações de incoerente, traidor do movimento, pois ele sempre foi um crítico ferrenho do modelo engessado que serviu de muleta para o mercado fonográfico e artistas. Quando Lobão foi agredido por um fã (?) em Porto Alegre, ano passado, ele teve os tímpanos perfurados, o que obrigou a parar a turnê do disco Canções Dentro da Noite Escura, e um desânimo se abateu. “Foi um incidente terrível e entrei em depressão. AFinal, demorei quatro anos para gravar esse disco, que vendeu 20 mil cópias, muito aquém do potencial. Me dei conta que havia chegado num momento crucial”, avalia.

Toda sua história passou pela cabeça. Lobão, neste tempo em que ficou fora de majors, os últimos 15 anos, virou uma referência para os artistas independentes, defendeu regras mais claras de direitos autorais, criou um selo e uma revista que distribui Cd de bandas alternativas (a Outra Coisa), e também viu o projeto anti jabá ganhar vida própria. No meio da crise, decidiu aceitar o convite da MTV. Queria fazer o Ao Vivo, que considera o filét mignon. “Aceitei este porque pude fazer do que jeito que queria, com toda liberdade e buscando novas sonoridades. Investimos pesados em timbres de violão, pesquisamos muito, queria emular o som de violão”, conta. E é o som dos violões que tem merecido os melhores comentários sobre o álbum, já considerado de destaque entre os Acústicos.

Aí, então, choveu gravadoras, nacionais e estrangeiras, querendo estar junto. “Tava com a caneta para assinar um contrato quando o Bruno Batista, da Sony ligou e perguntou se eu tinha esquecido deles”. Imagine, só. Ele vem brigando com a gravadora há anos, tinha cinco processos, seus discos foram congelados pela empresa. Resumindo, ele constatou mudanças na nova administração da empresa, convidou Carlos Eduardo Miranda para produzir o disco e encarou a nova fase. “Eles estão interessados em tudo que aprendi nesses anos como empresário também”, comenta. Para ele, não existe incoerência alguma, já que os resultados de suas pendengas hoje servem de norte para toda classe artística. “Não tem nenhuma derrota, as gravadoras estão desmontadas, é hora de ocupar o espaço. Não posso virar as costas e ir embora. Minha presença não deixa de ser um constrangimento. Tô lavando a alma”.

“A História vai asfaltar mais esse percurso”
Agora Lobão está de volta até ao Faustão. “Porque incoerente? Ele quebrou todos os protocolos para me receber. Na semana seguinte à MTV, exigiu que eu fosse ao programa. Tem gente que não entende que sou querido, as pessoas falam comigo mesmo eu estando fora da mídia, perguntam sobre minhas músicas”, conta A oferta de sua obra completa vai ser boa também para a meninada de 16, 17 anos que lhe pergunta sobre seus trabalhos antigos. “É o final da minha novela. Os vinis terão edição super limitada”, diz. É hora de organizar a vida. “Me sinto meio fantasma, tava na hora de uma definição. No mainstream dizem que sou underground, e no indie me acham mainstream”. Mais uma vitória é o fato de que o lançamento será parceria com seu selo independente, Universo Paralelo, algo inédito na Sony. “É de executivo para executivo”. Com a imprensa ele diz estar acostumado. “Desde a saída do Vímana, a passagem pela Blitz, minha prisão, o Rock In Rio com a Mangueira (mistura que depois todo mundo fez), a saída de major para virar indie. Sempre recebi esse olhar de incautos. Eu jamais faria um disco ruim, depois de tudo que falo. Tanto é, que na hora de comentar as músicas, como agora, só leio coisas boas, inclusive nos jornais que me detonam”. Sobre o Acústico, uma dica. “Quem tiver o som 5.1 sente no meio da sala e vai se sentir no centro da orquestra. Só fiz porque pude fazer um disco muito bom, como queria. Sei que a História é que vai asfaltar mais esse percurso”, encerra.

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