11/30/2009

Melhores da década por mim mesmo ou quem liga pra listas

Nunca gostei de listas. Pra falar a verdade, tenho uma relação de amor-ódio com elas (mais ódio que amor). Sempre achei que arte em geral, música em particular, não é competição esportiva. Não cabe nesse tipo de classificação porque uma coisa não exclui a outra. O fato de eu gostar de Beatles não me impede de ouvir Stones. E não faz sentido nenhum querer comparar coisas diferentes, dando a elas um valor intrínseco melhor-pior. Tudo depende como aquilo bate em você, dentro de um contexto muito pessoal, que é praticamente é impossível mensurar de forma objetiva.
Mas nos últimos anos, tenho sido convidado pelo Scream Yell pra participar das votações de melhores do ano. E por gostar muito do SY e ter um carinho especial pelo Mac, que considero um dos poucos jornalistas especializados em música da atual geração no País que realmente gosta de música, e não quer só fazer pose de antenado, fiz questão de participar, mesmo não me achando gabaritado para julgar o que quer que seja. Até porque, não sou crítico musical, não ouço todos os discos que estão sendo lançados de uma forma sistemática. Aliás nem quero. Portanto, nem teria condições de julgar se isso é melhor que aquilo outro, etc, querendo dar a isso algum caráter de verdade.
Pois bem, esse fim de semana fechei a lista de melhores da década que o Mac pediu, sobre os anos 2000-2009. E como das outras vezes, mais do que uma lista com critérios objetivos, a minha é muito mais uma relação baseada em afinidades pessoais, de memória afetiva. Não tenho a pretensão – de jeito nenhum – de que dizer que esses foram os melhores discos lançados no período, obviamente. Mas posso dizer com absoluta convicção de que esses foram alguns dos discos que mais me tocaram pessoalmente, que mais frequentaram o aparelho de som da minha casa, que mais me emocionaram e me fizeram cantar junto, ficaram rodando na minha cabeça, de ter vontade de ter feito essas músicas. De querer conhecer mais e ver essas bandas tocando. No caso específico das bandas nacionais, não por acaso, boa parte delas a gente teve a oportunidade e o privilégio de trazer pra tocar em Curitiba. E conhecê-las pessoalmente só aumentou a nossa admiração pelo trabalho delas.
Dito isso, publico abaixo a minha lista de melhores da década. Como digo, totalmente pessoal e intransferível. É claro que tem muitos outros discos/artistas e bandas que eu poderia ter relacionado, e isso é uma das coisas que me deixa incomodado com listas, porque sempre fica coisa legal de fora. Mas enfim, foi a síntese a que eu consegui chegar, meio no susto, porque como sempre deixei pra última hora e tive que tentar puxar pela memória, sem ficar de grandes elocubrações. O mais legal é perceber que ouvir esses discos continua sendo uma experiência única e emocionante pra mim. E confirmar que essas músicas fazem parte – de forma inequívoca – da trilha sonora da minha vida.

Melhores discos nacionais

Astromato - Melodias de uma estrela falsa (2000)
Íris – Bizri (2004)
Deus e o Diabo – Também morrem os verões (2004)
Blanched - Blanched toca Angelopoulos (2004)
La Carne – Desconhece o rumo mais se vai (2003)
Cascadura – Vivendo em grande estilo (2004)
Gianoukas Papoulas – Gianoukas Papoulas (2003)
Pipodélica – Simetria radial (2003)
Beto Só – Dias mais tranquilos
Charme Chulo – Charme Chulo (2007)

Melhores discos internacionais

Spiritualized – Let It Come Down (2001)
Mojave 3 – Excuses for travelers (2000)
Nick Cave – No more shall we part (2001)
Cowboy Junkies – One soul now (2004)
Mercury Rev – All is a dream
Beth Gibbons & Rustin Man – Out of season (2002)
Tindersticks - Waiting for the moon (2003)
Cat Power – The Greatest
Morphine – The night (2000)

11/25/2009

a sua benção, meu Vô Ino



Não lembro exatamente quando o conheci, mas sei que cresci na casa que ele construiu – pelo menos foi assim com um pedaço dela, que lembro, pois em algumas manhãs frias, pra abrir o bar, a gente tinha que passar por dentro de um pedaço da casa sem chão, em construção. Sempre soube, mas com o tempo isso ganha ainda mais força, que foi perto dele, sob sua sombra acolhedora que eu me fiz gente. Ele foi minha maior referência de vida e continua sendo. Sua alegria, sua força, sua sabedoria são sentimentos que vou carregar comigo pra sempre. E é nele que penso, e é com ele que quero conversar(e com minha mãe também, cada vez mais, sua filha guerreira) quando me sinto triste.

E hoje, meu amado Vô Ino está fazendo 80 anos. Meu, 80 anos, 8 décadas fazem desde que esse bebê aí de cima, batizado Aquaelino Perin, veio a mundo para fazer dessa nossa vida algo melhor, mais cheia dos valores que fazem a existência valer a pena, junto com seu irmão gêmeo, Avelino, que não conheci, mas muitas vezes o ouvi falando dele. Meu avô é um contador de causos, cresci ouvindo suas histórias, algumas fantásticas, de um mundo que a gente, temo, não vai ter mais. Histórias de um senhor que ficou de luto, com roupas pretas e uma barba gigante, por meses, se não engano, quando o pai dele morreu. Ele bem que tentou me levar para conhece-lo, acho que na minha primeira viagem longa. Lembro de minha avó me dando banho pra viagem e eu reclamando, a chatinha, e que passei mal na viagem (sempre tive problema de enjôo ao andar de carro). Não lembro da chegada lá, mas sei que meu bisa morreu antes de me conhecer. Tive um sonho quando era muito criança, com um senhor imponente, montado eu seu cavalo com uma daquelas capas que cobria cavalo e cavaleiro num lugar alto e plano ( meio zorro, assim, sei lá), como se olhasse a tudo de cima, atento e cuidadoso... acordei sentindo que tinha sonhado com meu bisa, que era também um pouco o meu avô, de um jeito que não cheguei a ver.

Quando eu nasci, filha de mãe solteira em pleno ano de 1970, foi ele, Vô Ino, que ficou ao lado da minha mãe e que diante da sugestão do médico de que me dessem pra ele, nem quis conversa, conta minha mãe. Ele me levou e a ela de volta a Curitibanos (nasci no meio de uma viagem da minha mãe pra fazer um concurso do Banco do Brasil, em Joaçaba, cidade que não conheço, porque 'minha cidade' é Curitibanos). Foi lá que nasci pro mundo, foi pra lá que ele se mudou, antes, para que os filhos pudessem estudar. Essa foi uma das primeiras grandes lições que cresci ouvindo. E foi de lá, que eles partiram gente feita, trazendo até madeira pra construir suas casas na Curitiba (em Colombo, acho), a cidade que primeiro acolheu meus tios e meus pais, e depois ao meu irmão, minhas primas, a mim, e onde nasceram minha irmã e meus sobrinhos lindos, Gabriel e Gica. Onde fiz minha vida ao lado do meu companheiro especial.

Conversei com ele agora, por telefone. E sua voz pareceu mais forte do que nunca, dizendo que sua parte ele fez, que está pronto pra partir, com a mesma tranqüilidade com que me fez ter forças pra deixar a primeira parte da minha história e vir embora, naquele dezembro de 1984. “Saiba de uma coisa”, disse-me, naquele começo de tarde quando fui ao bar dizer tchau, fraquejando, já cheia de dúvidas se era mesmo a decisão mais acertada: “Só estou deixando você ir porque é o melhor pra você. Senão, você não iria”. Nunca esqueci isso, e muitas vezes lembro,quando sinto as perdas se dobrando. Minha vozinha, a Vô Ina, foi sua companheira de uma vida inteira, que já partiu e espera por ele em algum lugar que não sei onde é, mas acredito de alguma forma que existe esse lugar mágico, onde os espíritos iluminados se encontram pra continuar dando forças pra gente aqui desse lado; ela, naquele dia não quis nem se despedir de mim. Lembro dela com com seu vestido florido e seu avental, com uma toalhinha secando as lágrimas... mas ela não foi ver o carro partindo.

Puxa, já se passou tanto tempo e aquele dia continua queimando em mim, como se fosse ontem.... não lembro de outro dia tão difícil como aquele. Lembro de dor parecida, mas não como aquele dia.

Ele tava certo, como sempre. Eu tinha que vir fazer a minha história aqui.

Nunca me cansei de ouvi-lo repetir as mesmas histórias de sua vida. E o que vivemos naquele bar.... minha escola de vida, ta grudado em mim como uma casca que protege. Ele não mora mais naquela casa, ela ficou grande demais depois que a Vó Iná se foi, pra todos nós. Aliás, foi só depois disso que vi nos olhos do meu avô uma sombra, um silêncio que não eram comuns nele. Ele nunca conseguiu ficar muito tempo longe dela. E quando ela se foi ( em 2001, se não me engano... prefiro não lembrar, embora isso seja impossível) eu temia era por ele, que ele não viveria sem ela porque é um amor tão lindo. “É UM AMOR TÃO LINDO”. Porque continua nos alimentando e servindo como luz no fim do tunel. Nunca convivi com outro casal como eles – que foram meus pais sem nunca, jamais, esquecer de deixar muito claro que eu tinha pai e mãe, sim. Eles sempre foram meus avós. Hoje eu sei que perdi muito do que minha vozinha podia ter me dado, me apeguei ao meu avô sem me dar conta, e deixei um pouco do que a Vó Ina benzedeira, cozinheira, companheira imprescindível na vida de um homem, podia me dar. Por conta do bar, vivi mais perto dele, mas o tempo passou e fui me dando conta, lembrando de detalhes de como é verdade que só parecia que o homem naquele tempo era quem comandava tudo. Mas, na verdade, elas, ELA, é que estava sempre ali por perto dando a força que eu tanto admirava nele. Por isso, pra mim, hoje, eles são um só. Catarina Daros Perin e Aquaelino Perin se tornaram um, do jeito mais lindo que duas pessoas podem conseguir isso. É muito difícil imaginar a vida sem os olhos azuis e as mãos grandes e abençoadas (sim, ele é a única pessoa para quem peço a benção, quase do mesmo jeito de quando era criança – quase porque gente fica besta quando cresce!) do meu avô e agora eu sei que ela ta ali junto, me dando sua benção. E enquanto ele se prepara para sua grande viagem, como sempre fala, como que me preparando para mais essa despedida, só sinto cada vez mais a presença dela nele.

Só vejo cada vez mais como o amor é a coisa mais linda e valiosa desse mundo e como é bom sentir que aprendi as coisas mais importantes que eles me ensinaram, que pode ser resumida em uma palavra: amor. É como eu disse para ele a pouco, batendo na porta dos 40: eu continuo querendo ser como ele quando crescer. Meu Vô Ino querido, queria e devia estar ai pra te dar um abraço hoje, mas até isso você entende e sempre diz quando eu ligo: “Olha, você não esqueceu a gente!”. Até parece, né, vozinho, que isso é possível. Você(s) está (ao) dentro de mim pra sempre. Eu te amo muito, muito muito muito muito... eu nunca vou conseguir dizer ou escrever direito o que sinto... então vou lembrar de uma cena linda do dia do meu aniversário de 39 anos, 24 de outubro de 2009, na pracinha ao lado da minha casa, que tem cara de casa de vó: seus olhinhos brilhando feliz vendo nossa roda de capoeira. Obrigada, mil vezes obrigada por tudo, pela minha vida. (Adri perin)

Meu avô é esse bebê à direita, o mais parrudinho.

11/22/2009

Led Zeppelin - Since I've Been Loving You



To lendo a biografia do Led (Led Zeppelin – Quando os gigantes caminhavam sobre a Terra). E aproveitando pra reouvir os discos dos caras, que há muito tempo não ouvia. Lembro que na época de faculdade consegui uma cópia em VHS do filme "The Songs Remains the same" e assiste até furar a fita. Ouvir de novo os caras depois de tanto tempo faz com que eu me lembre da sensação que foi descobrir isso naquela época. Como aquilo abria todo um mundo novo. Um mundo onde a música não era simplesmente aquilo que tocava no fundo enquanto vc estava na balada. Porque aquilo exigia atenção total. Bem diferente de hoje, em que a banalização da música fez com que ela voltasse a ser apenas um acessório.
Engraçado que no livro os caras contam que o Bonham foi expulso de várias bandas por tocar alto demais. Tanto que quando ele entrou no Led achou sua turma, porque na banda, não tinha essa de baterista ter que ficar em segundo plano.

11/13/2009

Tempo

OAEOZ em 1999, na frente do antigo estúdio Áudio Beltrão, na época da gravação da segunda demo, "De Inverno": tínhamos todo o tempo do mundo.

Tempo tanto tempo qualquer tempo
possibilidades
tempo pra tudo
tudo e o nada
talvez
a mesma coisa
tudo e o nada

tudo talvez no espaço
o que existe depois do espaço
seria a galáxia do nada
seria a galáxia do nada

venha comigo e pegue
pegue sua espada
vamos para uma caminhada
vamos atrás do nada


Dia desses tava conversando com o Ramiro pelo msn (sim, parece que agora a gente só consegue conversar através dessas malditas máquinas) e a gente tava comentando como todo mundo parece não ter mais tempo pra nada, muito menos pra encontrar os amigos e jogar conversa fora, ou simplesmente fazer um som sem maiores preocupações, só por diversão. E ele citou rapidamente essa música do Igor que foi lançada na primeira demo do OAEOZ, no longínquo ano de 1998. E depois disso fiquei pensando em como essa letra, apesar de até certo ponto pueril, é tão eloquente em sua simplicidade e ainda mais atual quanto quando ela foi lançada.
É curioso porque eu lembro que os futurólogos de antigamente (ops) diziam que com a revolução tecnológica os homens teriam máquinas pra assumir as coisas chatas da vida, e a gente ia ter muito mais tempo pra lazer e outras coisas prazerosas. E o que aconteceu foi justamente o contrário. Nunca estivemos tão cercados por máquinas, e nunca tivemos tão pouco tempo pra viver de verdade, no mundo real. Estamos tão ocupados com o mundo virtual e seus blogs, orkuts, facebooks, emails e o caralho a quatro, que não temos tempo mais pra um simples abraço, uma cerveja com os amigos ou simplesmente sentar na calçada e ver o tempo passar.
Não se trata de nenhuma reclamação, mas de uma constatação. Como já comentei aqui, estamos cada vez mais “conectados” com a realidade virtual, e cada vez mais alienados da realidade “real” (rs). O que outrora era facilidade, virou escravidão. O mais triste é pensar que quando acordarmos desse “sonho cibernético”, a vida real terá passado, e aí será tarde demais pra recuperar o tempo perdido desperdiçado na frente dessa telinha. “vamos atrás do nada...”

pra ouvir e baixar "tempo" aqui

11/12/2009

Melhores amigos

O ator Mickey Rourke, que retomou a carreira artística recentemente após um período como lutador profissional e em produções B, disse que os cachorros salvaram a sua vida. “Meus cachorros realmente me ajudaram a sair dos tempos difíceis. Perdi tudo ao mesmo tempo: minha mulher, minha carreira, minha casa, minha credibilidade”, afirmou ao jornal “Daily Mail”. “Muitas pessoas que você conhece viram as costas quando você está por baixo, mas os cachorros não.”

ontem, na FSP.

11/10/2009

Tinha que ser hoje

Fiquei muito triste hoje. Acordei bem, achei que já tinha superado mais uma mudança no trampo, mas quando vi não consegui manter o bom humor: eu preciso descobrir um jeito de não me deixar afetar por essas rasteiras, que não são em mim, mas na cultura e na arte. Mais uma vez, o caderno diminuiu por contenção de gastos... tá eu sei, entendo isso e também que preciso me concentrar no que é importante e fazer o que é possível, mas, o jornalismo cultural por aqui tá cada vez mais difícil de se (tentar) fazer. Converso com pessoas tão legais, tão interessantes que parecem valorizar meu trabalho – como foi o caso recente do pintor curitibano Domício Pedroso, um senhor de 79 anos, que gostou de conversar comigo por conta do mínimo que sei de história da arte paranaense - e fico pensando que é meu nome que tá ali, fico lembrando de como as pessoas gostam de malhar os jornalistas de cultura de hoje, porque já não são táo bons quanto os de antes, não vão a shows, porque têm uma vida particular que não se resume a fazer o que alguns artistas esperam, porque não escrevem sobre tudo, porque não tem senso crítico - e me dá uma indignação tão grande tão incontrolável... me sinto tão impotente e com uma vontade tão grande sumir (afinal acham que eu não faço jornalismo mais aprofundado porque não quero?) e largar tudo, já que é assim... só que eu não consigo. E como eu queria conseguir, em certos dias.
Tá, ok, isso é só mum desabafo, daqui a pouco passa.

Aí, vou limpar emails e acho um que chegou durante minhas férias, do Fabrício da banda Radiare, a comentada derradeira da coluna Piracema, se não me engano. E daí, o gosto salgado de um chorinho teimoso que insiste em borrar minha cara, se mistura a um riso de satisfação, de alegria, que me faz lembrar porque eu não consigo desistir:

“ Resgatando minhas lembranças depois de responder sua mensagem eu passei na net e encontrei seu blog, editado por você e o Ivan (do OAEOZ, certo? Grande banda, tenho um Cd do qual gosto muito). Li seus textos sobre o disco, sua descobertas e experiências, críticas, comentários....
Me lembro que quando eu era adolescente não cansava de ouvir certos discos e k7s. Ouvia até o disco gastar, várias vezes, mas um de cada vez. E, aos poucos, ia compartilhando sentimentos e me identificando com o artista. Pensava que hoje em dia, com myspaces, ipods, discos baixados a rodo, isso não acontecia mais.

Confesso que fiquei bem tocado pelo que você escreveu. Algumas das músicas desse disco são antigas, outras novas, mas o fato é que durante todos esses anos levando a vida e as minhas bandas esses pensamentos que motivavam as letras e as melodias eu sempre dividi só comigo mesmo, com os caras da banda ou pessoas muito próximas. Muitas vezes a motivação de um artista é solitária e incompreensível. Você escreveu algumas coisas ali que me deixaram satisfeito por ser tão teimoso, sempre.

Num mundo tão rápido, instantâneo, superficial e cheio de intenções mascaradas, é muito raro mesmo alguém que "perca tempo" prestando atenção numa obra, seja ela uma música, uma poesia ou uma pintura. Até rolar uma identificação pode ser exigido um tempinho a mais de atenção. A quantidade de obras (um pouco daquilo que o John Ulhoa disse no texto que você postou) que chega até nós é tão grande que hoje fracionamos o nosso tempo de modo a muitas vezes não dedicarmos a um artista o tempo que é necessário à sua compreensão. Em 20 segundos de myspace condenamos, enterramos ou consagramos um artista. Me parece injusto, em qualquer sentido.

Obrigado pela chance, por nos dedicar seu tempo, por prestar atenção, por ouvir, por gostar de música e entender e sentir a arte como ela eventualmente pede.”

É evidente que ele se refere também ao que o Ivan escreveu sobre o impacto desse maravilhoso disco nas nossas vidas...
Nnca dependi do jornalismo pra encontrar pessoas como o Fabrício – e suas bandas, Astromato e Radiare. Estas, eu é que trouxe para o jornalismo que, no geral, as esnoba, as desconhece. Agora, preciso fazer o trabalho do dia e pra conseguir vou outra vez por Radiare no ouvido e no coração, porque eu sei que pode até me dar uma vontadinha de chorar e sumir, mas sei também que é daí que vem a vontade de acordar mais um dia.

Valeu, Fabrício, tinha que ser hoje, o dia pra eu ler teu email. (Adri Perin)

11/07/2009

sobre música e "losers"

"Hoje, sei que o que o Txotxa me apresentou naquele instante foi a percepção de que a música deve ser, antes de um meio, o fim. Tocamos porque queremos fazer música boa. Esse é o objetivo."

do blog do beto só, em um ótimo texto sobre o fazer música no seculo 21

11/06/2009

Mais uma Granada do La Carne

Jornal do Estado/ Bem Paraná

La Carne apresenta o repertório de Granada, seu disco mais poderoso, até agora (foto: Divulgação/Edson Kumasawa)


Banda de Osasco mostra as novas músicas hoje no 92 Graus

Adriane Perin

A banda La Carne, de Osasco, está em Curitiba hoje para mostrar o repertório de um dos melhores discos do ano. Granada, quarto trabalho da banda, que se apresenta no Espaço Cultural 92 Graus, ao lado de Folhetim Urbano, Gruvox e Popstars Acid Killers, de São Paulo, tem um nome bem apropriado à história e à postura de Linari, Jorge, Carlos e Chicão. Granada é o sucessor de outro petardo, Desconhece o Rumo mas se Vai, e conseguiu ser ainda mais devastador - ou alentador, dependendo do olhar.

Uma história musical que iniciou em meados dos anos 90, e no começo, lembra Linari, eram os sonhos comuns a todo iniciante de fazer a vida na música, ter seu trabalho reconhecido - também por uma gravadora com força para dar suporte. Mas, o tempo passa, a realidade provoca e depende de cada um, a reação. A do La Carne foi seguir fazendo uma música como ninguém mais faz, de um vigor que namora o violento, calcado numa realidade ou situações mais fáceis ignorar. Nas músicas, Linari - um professor de História que leva pra cima do palco toda sua (ou seria nossa?) fúria, ainda que seja um cara gente boníssima - canta “cenas” que nos contam sobre um mundo que vive nas bordas. As ansiedades, as sacanagens que a vida apronta, o que lhe incomoda, ele transmuta em letras certeiras que explodem e implodem, se jogando na cara com força capaz de derrubar.

Se o compositor e cantor considera os trabalhos anteriores “manifestos”, com este Granada bate à porta uma certa maturidade. “A constante referência às letras me orgulha, claro, mas sempre tive um desejo íntimo que enxergassem no som a mesma ousadia que vejo; e isso, agora ficou muito evidente. Em comparação aos outros, desta vez repararam mais nisso também”, observa, com razão, afinal é o trio de instrumentistas feras que dá as bases tão perfeitas, com um equilíbrio tenso, para as histórias que Linari canta. Ajudou para isso, acredita o compositor, a produção de Bill Reinikova, amigo do tempo de escola e integrado ao circuito Grammy. “Grande parte do mérito deste disco é dele”, avalia, tentando se “eximir da culpa”.
Antes de mais nada, no entanto, teve a confiança de Wellington Dias, do Zine Gramophone, um seguidor da banda que motivou os rapazes. “Os anteriores foram feitos num “esquema guerrilha”, diz. Bom Dia Barbárie e Desconhece o Rumo Mas se Vai, em sua visão, são discos mais de um gueto político que artístico. “Na época não era tão evidente que as gravadoras estavam falidas, hoje é bem chique e todo mundo fala isso. Depois que gravamos o primeiro e não tivemos o retorno que imaginávamos nos perguntamos e agora?”, lembra. “Pra gente sempre foi muito mais prazeroso tocar junto do que fazer planos profissionais. E não somos virtuoses, viemos do punk rock, somos de pegar estrada junto”. Se a gravadora esperada inicialmente não veio, vieram fãs que espalharam a boa nova sobre, não uma nova “bandinha indie”, mas uma banda de verdade. Que faz música pra gente grande! Que não surfa na moda, não tem uma moçoila simpática na linha de frente, nem rapazes com seus cabelinhos bem penteados, mas tem o que ainda interessa para muita gente: música de verdade, que acerta em cheio.

Granada – lançado pelo selo Senhor F – está com boa repercussão “nesse nosso pequeno mercado alternativo. Recebemos muitas palavras carinhosas”.
Já a “outra mídia”, é indiferente. “Se voce me perguntar porque, não vou te responder porque não convém a mim julgar. É evidente que no meu íntimo penso mil e uma coisas. Imagino que não vejam relevância no que fazemos”, investiga, com a tranquilidade absoluta que vem da segurança de quem sabe que é isso que quer.

Certa vez um amigo puxou papo sobre o La Carne com um desses grandes jornalistas nacionais, que já havia falado bem da banda, conta Linari. Ele disse que o tempo do La Carne passou. “Falando bem desapaixonadamente, isso tem sentido. A gente sempre foi ruim de mídia”, diz. Postura assumida no texto pessoal do encarte do disco anterior, que com suas palavras deixava às claras as intenções. La Carne não nasceu para fazer tipo. Muito menos pra frequentar. Hoje, Linari pondera. “Não sei se foi correto, mas na época havia muita pressão em cima da gente e escrevi como um manifesto de intenções. Porque é muito fácil alguém bater na testa da gente carimbos incomodos, como uma banda injustiçada e detesto isso”, diz, comentando entrevista que viu recentemente de Tom Zé, que o fez chorar. “Confesso, me identifiquei quando ele disse que ninguém tem culpa de seu ostracismo, porque ele sempre teve um pouco de vergonha de ser artista. Porque de onde ele veio, bater no peito e dizer que é artista é complicado. Talvez isso revele essa inabilidade de se vender”, pondera.

La Carne toca com velhos amigos daqui. Folhetim Urbano está em vias de terminar seu disco de estreia e Gruvox se prepara para os primeiros shows em Sampa. Flavio Jacobsen embarca naquela direção logo após o show. Ele também vai aproveitar para terminar dois clipes da Gruvox, assinados por Renato Larini, um músico curitibano que voltou a pouco de Londres e agora vivendo em São Paulo. “Onde a fome espanto” e “demasiadamente humano” foram filmados em Londres. A noite vale ainda para conhecer o som da Popstars Acid Killers.

Serviço
La Carne, Popstars Acid Killers, Folhetim Urbano e Gruvox. Dia 6. Espaço Cultural 92 Graus
(Rua Des. Benvindo Valente, 280 – S. Francisco) R$10 e R$5 (mulheres até as 23h)

11/05/2009

Granada em Curitiba



E finalmente nossos comparsas de Osasco do La Carne desembarcam em Curitiba para apresentar o show de um dos melhores discos de 2009, Granada. A festa, que acontece nesta sexta-feira, no 92 graus, terá também Popstars Acid Killers (SP), Gruvox e Folhetim Urbano. Eu e a Adri vamos colocar uns discos lá.

Nos vemos lá!

Programa:

Show com as bandas

Gruvox - 23h
Popstars Acid Killers – 23h40
Folhetim Urbano – 0h20
La Carne – 1h

Sexta-feira – 06/11/09 – 21hs
Espaço Cultural 92 Graus
R. Des. Benvindo Valente, 280. Alto São Francisco.
Ingressos: R$10,00. ELAS R$5,00 ATÉ 23:00hs.
21:00hs A CASA ABRE COM PROMOÇÃO DE CERVEJA ALL NIGHT LONG!
CHEGUE CEDO, ESTACIONE NA FAIXA!!

11/03/2009

Celebration ou "um dia de cada vez"

Fotos: Felipe Gollnick



E a festa no Jokers foi muito legal. Digo festa porque mais do que um show, foi uma celebração. Por vários motivos. Primeiro por ser o nosso último show programado no ano. E segundo, uma comemoração – um pouco atrasada é verdade – dos recém aniversariantes Adri e Gian, além do lançamento do novo EP.
Mas também e principalmente porque também foi o último show com essa formação. Como diz a canção, "não me pergunte, eu não sei" exatamente o que vai acontecer daqui pra frente. Da minha parte estou em uma fase da vida que não faço planos para o futuro mais do que para a próxima semana ou o próximo mês. E de certa forma me sinto bem assim. É bom viver a vida de acordo com o que ela se apresenta, sem alimentar grandes expectativas. Porque grandes expectativas quase sempre levam a grandes frustrações. Já dizia o filósofo Jésus: “a cada dia a sua própria angústia”. Me convenço cada vez mais que o negócio é viver um dia de cada vez mesmo. Porque quanto mais a gente faz planos, mas o destino teima em nos contrariar.
Enfim, mas voltando ao show, com certeza foi o nossa apresentação mais “power”. Acho que até por todos esses fatores que eu falei acima, todo mundo tocou “com a faca entre os dentes”. Quase todas as músicas ficaram mais rápidas, pesadas e com uma pegada forte. E funcionaram, o que é mais importante.
Todo mundo estava no gás e na sintonia de tocar e se divertir. Nossa “cozinha” mandou muito bem, com Alan impressionando os bateristas amigos presentes pela desenvoltura. E o Igor também não deixou por menos, mantendo o groove em alta e o beat certeiro. Carlão com sua guitarra minimalista desenhando licks e linhas na medida. E o Gian, despirocando e pulando que nem uma criança que ganhou um doce. Eu tentei como sempre não atrapalhar muito, mas me diverti bastante. O som colaborou e quando isso acontece, tudo fica mais fácil. Quem dera fosse sempre assim.
Na verdade, pensando bem, não temos do que reclamar. Todos os seis shows que fizemos esse ano foram legais. E pra mim o de sexta entra certamente na disputa com o do Wonka (17/07) e do Expressões Oi (19/07) na briga pela primeiro lugar no top five das apresentações da Hotel Avenida em 2009. Com o do Rock de Inverno 7 (24/07) e o primeiro do James (26/02) vindo logo em seguida.
Pra quem como eu sempre teve uma relação de “amor e ódio” com shows, por tudo o que envolve esses eventos, um índice de aprovação de cinco em seis shows é um recorde. E o mais legal é que tirando o do Rock de Inverno, todos os outros shows aconteceram naturalmente, por convite, sem que a gente tivesse que ir atrás. E tiveram todos ótima recepção de quem foi ver. O que confirma a qualidade do trabalho da banda.
Agora é curtir um recesso, enquanto preparamos o lançamento do DVD do Rock de Inverno 7, esse sim o último “acontecimento” de 2009 pra Hotel Avenida, em um ano atribulado, difícil, mas muito produtivo.
Aos comparsas - Carlão, Igor, Alan, Eduardo, Rubens - o meu muito obrigado. E em especial ao Gian, por ter me dado a oportunidade de renovar a minha paixão e vontade de fazer música, de uma forma que eu mesmo nem esperava mais. 2010 ta aí. Vamos ver no que dá.