Jornal do Estado/ Bem Paraná
O chorão Altamiro Carrilho faz o lançamento de 4 DVDs e diz que ainda tem muito show para fazer (foto: Divulgação)
Altamirro Carrilho renova seu prazer em tocar flauta e festeja os brasileiros
Adriane Perin
Oitenta e quatro anos, 70 de carreira musical. Cem discos gravados e perto de 200 composições assinadas. Estes são alguns dos numeros em torno daquele que é considerado o último dos mestres chorões que pode dividir com a gente sua experiência e prosa. Altamiro Carrilho está em Curitiba para o lançamento do projeto A Fala da Flauta, composto por 4 Dvds e um livro, organizados por Andreas Pavel, que traz os DVDs “Primeira e Segunda Noite em Niterói”, “Uma Vida na Flauta” e “Esse Sou Eu”, filme de Ana Suttor, com o making of das gravações.
Inicialmente estava cá com meus botões ansiosa sobre possíveis perguntas. Ele atrasou um tantinho a entrevista, mas chegou ao telefone acalmando minha intranquilidade e tomando as rédeas da conversa. Logo foi dizendo que gosta de tocar em Curitiba porque é um povo muito musical. “Fiz no Guairão um concerto musical popular e clássico”. Para ele, aliás, não tem essa história de música erudita ou popular. Tem é música boa. A convite do Sesi Paraná ele se apresenta ao lado de Pedro Bastos (violão 7 cordas) Mauricio Verde (cavaquinho), Éber de Freitas (bateria e percussão) e Luis Américo (violão). Carrilho contará também com as participações de Sérgio Albach (Clarinete) e Trio Catuaba Brasil, ambos residentes em Curitiba.
A seguir trechos da conversa, sob o pulso firme desse alegre senhor.
Música erudita e o choro
O indivíduo que gosta de música erudita forçosamente vai gostar de choro, porque ele é todo baseado nas sonatas de Bach, nos concertos de Tchaikovsky , Bethoven. Tudo da mais alta qualidade. Bethoven era chorão, “Pour Elise” é um choro, basta colocar pandeiro, cavaquinho, instrumentos que o choro incorporou. Até já gravei em ritmo de choro e dá a impressão que foi sempre assim. E, agora os jovens estão descobrindo o choro como opção para tocar boa música sem precisar estudar 10, 12 anos. Porque pra tocar concertos tem que ter essa experiência, o domínio de pelo menos 8 anos do instrumento.
Ritmos populares
Pouca gente tem esse dom, chamo de dom, de assimilar bem ritmos populares. Quase que 90% da nossa música se deve à dita África e foi uma mistura fantástica essa. Uns especialistas em percussão e outros especializados em harmonia e melodias bonitas. Outra coisa que interessa a todo instrumentista é saber improvisar. Quem sabe sair de um tema sem perder a linha a harmônica leva muita vantagem e o público também agradece não ser repetitivo.
Jazz e outros gêneros
Gosto de tudo, só existe um tipo de música: a música boa, de quaquer gênero. Não podemos classificar de ruim a música que não gostamos, mas milhares de pessoas gostam. Mas, também tem muito barulho com nome de música no mundo inteiro. E existem adeptos. Então, como diria o outro: o que seria do amarelo se não houvesse o mal gosto (risos).
Bom humor
Eu tento passar isso para o público nos títulos jocosos, por exemplo. No show, ninguém quer sofrer. E tenho uma convivência muito boa com quem toca comigo. Mas, para ser músico bom tem que ter boa cabeça, além de talento. Acima de tudo tem que ser um indivíduo intelectual, mesmo que não tenha cursado faculdade. A música obriga isso.
66 anos de música?
Não, são 70 anos de música, comecei aos 14 anos; e já era profissional. Dentro da minha biografia gravei com Moreira da Silva quando menino ainda e ele teve que conseguir autorização da polícia. E dali fui ficando mais conhecido, com meus discos e acompanhando os grandes mestres; os melhores cantores, Orlando Silva, Francisco Alves, Vicente Celestino, Carlos Galahardo, Isausinha, Jorge Veiga, Trio de Ouro, Dalva de Oliveira. .... é muita gente.... Elizete Cardoso, Elis, ela era um espetáculo. A meu ver a melhor de todas, porque almoçava, jantava e lanchava música.
Bom de conversa
Eu falo bastante e fui aprendendo muito com as viagens pelo exterior. Fiz quase os cinco continentes. Até em Israel eu toquei. Recebi um papel em hebraico e me disseram o som que teria em português. Levei uma semana pra decorar, mas fiz a saudação. Só que , depois de uma certa idade, a idade do condor, tive que aceitar o conselho médico e diminuir minhas travessuras. Naturalmente, hoje já não tenho tanta resistência. Na execução da flauta tenho ligeiras limitações nas músicas mais puxadas na respiração. Porém, nunca parei de estudar e exercitar.
A Fala da Flauta
São seis horas de concertos, documentário, entrevistas antigas, apresentações especais, gravações de estúdio. O público vai saber como é uma gravação lá bem junto da gente, ouvindo até as bobagens que a gente fala. Só mandei tirar um palavrão, porque plateia não tem que ouvir palavrão. Eu não parei. Só quando papai do céu chamar. Fico tão feliz quando entro no palco que parece que tô recebendo um presente. Mas, agora priorizo tocar no Brasil. Sou o contrário, gosto mais de tocar para minha minha gente. Pros gringos toco pelos dolares (risos).
SERVIÇO
Altamiro Carrilho. Dia 01 às 20h30. R$20 e R$10. Cietep ( Av. Comendador Franco, 1.341).
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3 comentários:
meu, este velhinho, além de ser o jimi hendrix da flauta, ou seja, gênio, é uma fi-gu-ra-ça... tira sarro de deus e todo mundo... maravilhoso... impagável...
sem dúvida Flávio. esse é fera! mais um pra coleção de entrevistados ilustres da adri, que já tem Johnny Alf, Nelson Gonçalves, Claudete Soares, Jards Macalé, Arnaldo Baptista. isso pra ficar só nos que me ocorrem agora. eita!
Elza Soares! Lembra? Vcs me deram a fita e arrebentou quando eu tava ouvindo... nossa, essa faz tempo...
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