4/01/2008

London calling

E no Jornal do Estado saiu ontem o primeiro de uma série de textos que serão publicados semanalmente de nosso amigo Marcelo Borges, direto de Londres. O primeiro é sobre um show do Portishead que ele viu por lá e sobre a cidade homônima.

Portishead ao vivo em Bristol


O videomaker e fotógrafo curitibano Marcelo Borges, atualmente vivendo em Londres, conta sobre o show da banda inglesa ícone do trip-hop, que está com disco novo e raros shows agendados

Marcelo Borges/divulgação

Portishead: nada foi dito além do necessário

Marcelo Borges - Especial para o JE

A primeira vez que ouvi Portishead foi no show do Cores D Flores no primeiro Rock de Inverno no finado Circus Bar, em Curitiba. No palco, Marielle Loyola e Cassio Linhares (Zeitgeist Co.), num dueto nervoso, na versão deles de “Sour Times”. Ok, isso foi em 2000 e a musica é do disco Dummy de 1994. Demorei seis anos pra ouvir Portishead.
Em 2004, quando fiz uma viagem de bicicleta de Londres a Dublin, e já conhecia os álbuns da banda (Dummy, 1994, Portishead, 1997, Glory Times remix, e Roseland New York ao vivo 1998), decidi que terminaria a etapa inglesa da viagem em Portishead. Queria fumar um cigarro olhando pro rio Severn, queria estar na cidade natal de Geoff Barrow, o cara que colocou Portishead e o trip-hop no mapa. Acampei em Portishead ouvindo Portishead. Confesso que não gostei do lugar. Depois de uma semana pedalando pela Inglaterra, Portishead a mim pareceu morta, vazia, lugar bom pra quem ta a fim de ficar tranqüilo, bom pra deixar pra traz. Diz a lenda que a prefeitura da cidade desistiu de por placas com o nome do lugar, cansou dos roubos freqüentes, coisa de fan hardcore. No dia seguinte segui viagem para Cardiff no pais de Gales, e enquanto pedalava pensei que queria ver um dia Beth Gibbons cantando ao vivo. Parecia impossível.
Quase quatro anos depois, a banda que não lança um álbum de estúdio desde 1998, revela que o aguardado terceiro álbum está sendo mixado e três shows foram confirmados pra dezembro: Duas noites no All Tomorrow’s Parties/Nightmare Before Christmas, que é um festival de inverno, com a curadoria de 2007 a cargo do Portishead, e uma “gig” no minusculo Academy, em Bristol, cidade onde Barrow conheceu Beth Gibbons, e mais tarde, Adrian Utley e Dave MacDonald foram definitivamente integrados a banda.
Bristol e uma cidade portuaria, com tradição estaleira. Foi la, em 1843 que o primeiro navio de aço foi construído, o ss Great Britain que viajou em 1845 de Liverpool a Nova York. É também conhecida por ser a capital dos piratas ingleses. Sendo que o mais famoso, o legendário “Black Beard”, dizem os locais, ainda assombra o lugar.
Em dezembro, inverno por aqui, o frio e o vento só permitem ficar no máximo uma hora pelas ruas, o jeito e achar um Pub pra esquentar. Na frente do Bristol Academy, lugar do show, fica o The Hatched Inn , o pub mais antigo da cidade, aberto, segundo a placa na porta, por cerca de 1500. Fico ali tomando uma Guinnes, olhando pela janela do pub a modesta fila que começa se formar do outro lado da rua. Depois da terceira “pint”, fico pensando olhando pras vigas no teto do bar, teto que tem a idade do Brasil, que finalmente vou ver Portishead ao vivo, vou ver o show em Bristol. Um brinde barba negra, tenho que ir.
Team Brick abriu a noite, show de um homem só. Voz e pedaleiras. A voz de frei franciscano com muita distorção, e no meio o cara toca um sax nada saxofônico em cima dos loopings da voz em clima de capela. Gostei de Team brick, e por sorte vou filmar o cara em abril no meu trabalho semanal no Corsica Studios em Londres. Depois falo mais dele.
Blackout. Voz gravada em “português brasileiro” enquanto Portishead entra no palco: “.......O que você dá retornará pra você, esta lição você tem que aprender, você só ganha o que você merece.” No fundo os acordes suaves da nova “Wicca” seguida pela também nova, “Hunter”. Na terceira musica, “Mysterons” – opa, esta eu conheço. Caiu a ficha, que aquela mulher, bem mais madura, com até algumas ruguinhas na cara, era a Beth Gibbons dos vídeos de dez anos atraz. Reconheci o jeans e a camiseta preta. Reconheci a letra: “Dentro do seu fingimento/Crimes foram varridos à parte/Em algum lugar onde eles podem esquecer…..” Did you really want, mate? Só fiquei sabendo mais tarde, quando vi o set list , que aquela musica dedilhada no violão, que não reconheci, com a aquela voz de perda e desilusão, num crecendo hipnótico era a “outra” nova, a intensa “Mystic”. “Glory Box”, “Numb” e “Wandering Star” vieram na seqüência, olhei pros poucos gatos pingados atrás de mim e vi bocas abertas e olhos fixos na banda e nas projeções. Como foi bom ver mais um show com “visuals”, mas sem pirotecnias, loopings animados em flash e samplers de clichês cimematográ ficos. No palco somente meia dúzia de webcams fixas, a maioria em close-ups da banda, projetados em “Low-fi”. Simples e eficiente.
A industrial e minimalista “Machine Gun” foi a quarta musica nova da noite. “Over, Sour Times”, “Only You” e “Cowboys” fecharam o set. Nem uma palavra a mais foi dita. A banda deixa o palco e o pedido de More, more, moooooore....., é imediato. Retornam pras derradeiras “Roads” e a ultima da noite, a contagiante e também nova, “Peaches”. Portishead e uma banda que consegue falar de amor, perda, desilusão, desespero, solidão, deslocamento e rendição numa mesma sentença.
Nada em vão foi dito, nada além do necessário. Apenas um timido Thank you, fora do microfone, no final. O jeito foi tomar mais uma em silêncio no the Hatched Inn.


aqui vocês podem conferir um video do Marcelo desse show:


E abaixo mais vídeos do nosso show particular:

Venha Comigo


Hoje


Noites passadas



Desculpas

4 comentários:

André Ramiro disse...

puta merda, mas que puta merda!
que estamos fazendo no Brasil povo?
Uma explicação....

Anônimo disse...

hahaahha. bom, pra começar, nascemos aqui. eheh

Anônimo disse...

e se a gente sair daqui quem vai fazer o que a gente ainda teima em fazer?

André Ramiro disse...

HUAUAHAHU
é verdade...apostar no inapostável....delirar com o azarão....huhhuhuuh....é...vamos que vamos...mas que dá uma vontadinha de ir pra fora, dá....mas....mas....sussi.