4/14/2008

Corsica Studios, Elephant and Castle, Londres

Esta semana nosso colaborador fala de um autêntico endereço da música independente, na capital inglesas

Marcelo Borges/Especial para o JE


The hole in the wall
O Corsica é a cruza do 92, do Hole, do Peixe-cachorro com um interminável Rock de Inverno, instalado em um barracão industrial em um bairro londrino

Conheci o Corsica Studios quando estava trabalhando no Elefest,(festival de artes de Elephant and Castle) para a Shortwave Films, a produtora que trabalho aqui como freelance. A festa de encerramento do festival foi lá. Que é uma warehouse (barracão) que fica nos arcos embaixo dos trilhos da centenária estação de trem do bairro Elephant and Castle. Nos intervalos das bandas, quando a musica não está muito alta, da pra ouvir o trem passando e sentir as vibrações dos trilhos. O casal Amanda e Adrian Moss abriram o Corsica dez anos atrás e desde então estão no circuito independente europeu promovendo festas e shows. O Corsica é a cruza do 92, do Hole (NR.bares curitibanos), do Peixe-cachorro (república que virou centro cultural improvisado também em Curitiba) com um interminável Rock de Inverno (festival independente da capital) num barracão industrial de Londres. Conversei com Amanda sobre o lugar.

Marcelo Borges — Quando decidiram ter um espaço pra musica ao vivo?

Amanda Moss — Começamos dez anos atrás com a idéia de criar um novo espaço pra musica ao vivo independente e outras formas de arte. Estabelecendo uma plataforma criativa a base de arte com regeneração de espaços vazios, e usando estes espaços com variadas formas de mídias. Nesta época, eu (artista visual) e Adrian (musico e compositor) colaborávamos em um projeto de teatro chamado The Dragon Ladies que envolvia visual arts, musica ao vivo e performances que originaram dois shows. Para nos ficou evidente que isto era uma paixão. A trilha para “The Grotesque Burlesque Revue” foi mais tarde lançada como um mini álbum pelo selo Fin de Siecle. Depois disso montamos uma casa para performances (Corsica Studios) onde poderíamos curar vários eventos, convidando artistas de várias áreas.
MB. — Qual o lugar do Corsica Studios na cena musical londrina?
Amanda — Quando mudamos pra Elephant & Castle o nosso desafio era transformar dois arcos abandonados embaixo da linha do trem em uma casa de shows. Somos uma organização independente sem apoio de investidores e tivemos que levantar uma razoável quantia de dinheiro pra fazer acontecer esta idéia de um novo tipo de casa para shows. Não tínhamos a intenção de correr atrás de apoio do governo ou empréstimos, então traçamos um plano pra levantar o capital. Começamos a fazer festas underground e para as reformas e equipamentos. Tivemos grandes festas, mais relacionadas com cena Club, que definitivamente ajudaram a construir a reputação do Corsica como um lugar Cool para festas, e assim investindo a grana para transformar o espaço no que você pode ver hoje.
Continuamos a fazer festas regulares (sextas e sábados) trabalhando com vários promotores desde o minimal techno e dubstep ate electro e house. A partir daí, criamos nossas próprias noites onde damos mais ênfase para musica ao vivo/club scene/art crossover. Sendo uma casa de arte e musica independente estamos em contato com novos promotores, o que nos da a chance de promover novos atos. Estamos próximos do que acontece em nosso bairro, e o contado com estudantes, que constantemente nos apresentam o que há de novo na musica só sedimenta nossa importância cultural. Quanto a nossa posição na cena de Londres, acho que posso dizer que o tipo de musica que programamos é Alternative/Experimental/Rock que incluem bandas como: Faust, Lydia Lunch, Silver Apples, Cobra Killer, Circle, Guapo, Pharoah Overlord, Devastations, Felix Kubin and Acid MothersTemple, só para citar algumas. O Corsica Studios nasceu pra convergência de estilos artísticos e musicais.
MB —The Electric Storm e the Baba Yaga’s Hut são duas noites curadas por vocês. Como escolhem as bandas?
Amanda — Nós sempre conversamos sobre musica, e nestas conversas sempre fazíamos nossos imaginários line-ups. Um dia falamos: vamos convidar estes caras pra tocar. Vamos convidar todos os músicos que amamos, a assim nasceu a Electric Storm uma noite que aconteceria duas ou três vezes por ano com um tema diferente. Esperaríamos até que as bandas que queríamos tivessem uma data e partiríamos daí. O Electric Storm e um evento com a nossa assinatura que tem a atmosfera de uma grande e selvagem festa. Nos programamos bandas, arte, performance, DJs, VJs, e filmes. Sempre que houver uma Electric haverá um Absinthe Parlour (absinto bar) e cakes (tortinhas mágicas). O sucesso só mostrou que mais bandas queriam tocar no Corsica e em novembro/07 lançamos a Baba Yaga’s Hut (www.youtube.com/babayagashut), uma noite regular focando musica ao vivo. Escolhemos as bandas de jeito semelhante a Electric Storm, com mais ênfase em outros elementos.
MB — O Corsica parece ter uma conexão muito forte com a cena musical de Berlim. Como isto aconteceu?
Amanda — Sempre estivemos ligados em Krautrock e na musica eletrônica que derivou desta cena (pra quem não sabe, Krautrock e a cena experimental de Berlim nos anos 60 que foi popularizada na Inglaterra graças ao DJ John Peel). Uma das nossas bandas favoritas é o Cobra Killer(www.myspace.com/cobrakiller) convidada da primeira Electric Storm. Depois de uma selvagem noite no hotel com Cobra Killer, nossa relação musical foi pra sempre sedimentada. Berlim é uma grande cidade e tantas bandas de vários lugares do mundo parecem passar um tempo por lá. Quando o Cobra Killer voltou pra Berlin a lenda do Corsica foi estabelecida.
MB — Quais são os planos pro futuro?
Amanda — O Corsica não para de crescer. Acho que o importante e mantermos as pequenas coisas que nos fazem únicos, porque existe sempre o perigo de perder a essência. Nós também temos que pensar em garantir nossa posição em Elephant & Castle que esta passando por uma revitalização. O que significa que logo teremos que mudar pra outro endereço. Queremos ficar na área em lugar onde podemos crescer. Temos ambições sociais e já trabalhamos com a comunidade que usa o nosso espaço para aulas de dança e design. Também queremos formar uma aliança com outras casas independentes do Reino Unido e da Europa, e criar um independente circuito internacional que não será ameaçado pelas grandes corporações. E finalmente queremos acima de tudo, continuar a realizar grandes eventos no Corsica que sempre deixam as pessoas com um grande sorriso na cara no final de cada noite.

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