9/04/2008

Só não vê quem não quer

É engraçado. Tá certo que reclamar é um esporte nacional. E muitas vezes a gente reclama com razão, é claro. As coisas não são fáceis, mesmo. E em um país onde a burrocracia impera e em que a máxima: “pra que facilitar se a gente pode complicar” é regra, muitas vezes dá vontade de mandar tudo a merda.

Mas longe de mim querer contrariar o coro dos descontentes, afinal, todo mundo sabe que eu sou reclamão também. Mas é que eu também sempre gostei de ser do contra, sabe como. De ir contra o senso comum.

E a real é que se reclamar é um esporte nacional, em Curitiba, a gente elevou isso ao status de arte. Curitibano adora reclamar da cidade, até que sai daqui e vê que lá fora muitas vezes o bicho é mais feio ainda, mas aí, as vezes quando percebe isso já é tarde.

Enfim, to falando isso porque sinto que muitas vezes a gente tá tão atolado nas dificuldades e exasperações de nosso dia a dia conturbado que não percebe as coisas boas que estão acontecendo à nossa volta. As vezes até percebe, mas de uma forma fragmentada, o que impede que você tenha uma noção do todo, e de que se a gente olhar com cuidado esse todo é muito maior do que se imagina.

Se não vejamos algumas das coisas que têm rolado nos últimos tempos aqui em Curitiba nessa área da música independente, muitas daquelas registradas neste blog e/ou nas reportagens da Adri no JE reproduzidas aqui:


- O TUC foi reformado e voltou a ser reduto das bandas curitibanas, com shows todas as quintas-feiras, todos com bom público e ótimo astral. Shows baratos, em um lugar bem localizado, com boa estrutura e público interessado.

- Com o apoio do edital de bandas de garagem da FCC, duas grandes levas de discos de 25 bandas foram lançadas pelos selos Grande Garagem que Grava e Discos Voadores, que por sua vez estão fazendo os lançamentos lá no TUC.

- Outro edital semelhante está para ser lançado, o que garante mais uma leva de discos saindo provavelmente no ano que vem, e ao mesmo tempo, a ocupação do TUC pra 2009, com mais shows de bandas locais.

- Depois de um período em que parecia ter se fechado, os espaços para a música local na mídia curitibana começam novamente a se abrir. Exemplo: a Gazeta do Povo, maior jornal daqui, voltou a ter um espaço fixo semanal para a produção nativa, a coluna do Luiz Cláudio Oliveira, Acordes Locais;

- ao mesmo tempo a Mundo Livre FM lançou o projeto Acústico capitaneado pelo Helinho Pimentel, com um programa semanal e shows de lançamento. Na primeira fase estão previstas 12 bandas, mas parece que a meta é chegar até 48 até o ano que vem.

- Além da grande mídia, espaços novos têm se aberto no veículos alternativos. Vide o programa Pras Bandas e outros em rádios comunitárias.

- O Último Volume, programa já clássico do Neri e do Marco Stecz com dez anos na Lumen FM tem aberto cada vez mais espaço para bandas e artistas locais, inclusive com uma sequência de especiais de bandas daqui tocando ao vivo no estúdio. E com uma audiência no rádio de 4 a 5 mil ouvintes, fora a internet.

- Abonico Smith reformulou o Bacana, que se transformou em um portal, inclusive com a criação de um selo virtual para lançamento de discos de artistas locais.

- O Digão Duarte, que já divulgava trabalhos de bandas locais no Bonde, agora também tem uma coluna semanal na Folha de Londrina.

-Tem ainda o Trevo Digital, plataforma para comercialização de música em MP3, com ênfase nos artistas locais.

- O festival Lulapaluna, da RPC, abriu espaço para grupos locais, mesmo que ainda timidamente, e a previsão é que isso se amplie nas próximas edições do evento.

- A FCC também lançou recentemente e já está em fase de seleção dos projetos para o edital de fomento de festivais independentes. Isso significa que no ano que vem teremos quatro festivais desse segmento com recursos para fazer eventos de boa estrutura e visibilidade. Além disso, a expectativa é que esse novo tipo de edital tenha periodicidade anual daqui pra frente.

- Novos núcleos de produção têm surgido e se consolidado. Vide as festas da Ruído Corporation, quase sempre cheias, e do pessoal do Basement. Novos bares tem aberto espaço para bandas locais, como o Slainte, e outros que eu não lembro agora.

- Tem ainda o projeto “Rock em Terça Maior", do teatro Guaíra, que abriu o Guairinha pra bandas locais.

- Idem em relação à TV Transamerica. Esses dias vi o Charme Chulo por lá.

- E tem o Projeto Tubo de Ensaio, que vocês viram recentemente aqui, criado pela Destilaria do Audio Visual coloca bandas em performances acústicas em lugares inesperados como em cima de uma laje. Videos superlegais, com ótima qualidade tanto de imagem quanto de som. Coisa de primeira linha.


Enfim, eu poderia ficar aqui o dia inteiro citando exemplos como esses (mas não dá porque tenho que trabalhar). E olha que são só exemplos de coisas que aconteceram ou surgiram este ano, não falei de coisas que já existem e continuam por aí há mais tempo, como o Ciclojam, do Ciro Ridal na TV Lúmen.

Nada disso significa que nós estamos no paraíso ou que amanhã as bandas curitibanas estarão tocando cheias da grana e tocando no faustão (até porque, no segundo caso, a maioria acho que nem quer mais isso). Mas sim que as pedras continuam rolando, e se nem tudo é uma maravilha, também não dá pra dizer, à luz dos fatos, que nada está acontecendo, ou que tudo é uma merda. Antes de falar é preciso ter perspectiva.

E o fato é que muita coisa boa tem acontecido, muitos novos espaços têm sido abertos, um público novo vem demonstrando cada vez mais interesse na produção local e essa produção continua se diversificando e se qualificando. Nunca houve tanta oportunidade para quem faz música faze com que ela seja ouvida. Só não vê quem não quer.

Se isso vai dar em alguma coisa maior lá pra frente não sei. E nem é a minha preocupação agora. Acho que o mais importante é aproveitar o momento e potencializar as coisas boas pra que elas cresçam e dêem novos e melhores frutos.

Me interessa quem faz, quem tem iniciativa e corre atrás, não fica perdendo tempo com choramingos inúteis. Quem faz por merecer, acredita e busca tornar os seus sonhos em realidade. Ou como diria o poeta: “só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder”.

O resto, é conversa pra indie onanista dormir.

8 comentários:

Anônimo disse...

vc esqueceu de dizer que eu finalmente saí de ctba. é uma coisa boa, né não? hahahahahahaha. abraço, brother.

Túlio disse...

pois é, é preciso sair da cidade para saber a que altura estão as torres. reclamar é uma ótima terapia, mas que não sirva para cegar as pessoas!

Anônimo disse...

é verdade. o rubens tá enchendo os maluco de sampa agora. hehehe ivan vamo ve se dá certo aquela "violada" no fim de semana.

giancarlo rufatto disse...

nunca se lançou tanto disco neste estado e discos bons alias.

Anônimo disse...

puxa vida, muitas vezes, mesmo entre alguns amigos, me sinto um ET e até fico quieta. me pergunto se sou eu que sou "muito fácil de agradar", porque não é possível que as pessoas não vejam certas coisas que caminhar pra frente. eu sei que tem muita gente boa aqui se ferrando. mas, também, vejo isso tudo que o ivan falou o tempo todo, há uns 15 anos, desde que botei o pé no 92 Graus. não vê quem não quer. tem fases de baixas, claro que sim, mas mesmo nessas fases, um monte de gente tá fazendo coisas legais.
Odeio a mania de só reclamar e não fazer nada pra merlhora. A FCC não tá legal? vai lá, meu irmão, olha nos olhos dos caras, à rigor, e diz o qe vc acha. mas com (bons) argumentos. é assim que se faz.
até porque se todo mundo for embora... aí é que estaremos ferrados e eu não quero ficar serm meus amigos, então vou continuar fazendo minha parte. eu sei que a gente cansa, eu também canso, tenho meus (muitos, aliás) dias de deprê. me sinto sozinha tentando fazer algo que tenha alguma importância. Talvez não seja assim tão eficiente quanto gostaria, mas pelo menos as informações tão aí... enfim... é preciso estar atento e interessado. e ocupar espaços.

André Ramiro disse...

éééééé rock na cabeça! e outros estilos musicais também, claro. ahhaha. bem, acho que é isso. isso é que é, acho.

André Ramiro disse...

e o importante são as festinhas pra animar o povo....hahaha

Anônimo disse...

vamos esvaziar curitiba, camaradas! vamos transformá-la numa cidade fantasma...porra, mas ela já não é? hehehehehe. brincadeira, viu, dona perin. eu realmente tenho muita vontade de ficar ae e tocar... quando eu estiver com uns 90 anos, acho, hehehehe. bjo.