9/12/2008

A história de como se forma um colapso urbano

Jornal do Estado

Entra em cartaz hoje nos cinemas da cidade, Ensaio sobre a Cegueira, adaptação da obra homônima do escritor português José Saramago, ganhador do Prêmio Nobel, dirigida pelo brasileiro Fernando Meirelles

Divulgação/Alexandre Ermel

Estrelada por Julianne Moore, a nova obra de Fernando Meirelles é uma adaptação do livro homônimo do Prêmio Nobel José Saramago, e conta sobre uma estranha epidemia de cegueira



Adriane Perin


Entre as várias estréias da semana nos cinemas da cidade, uma se destaca por várias razões. O novo filme de Fernando Meirelles, Ensaio sobre a Cegueira, diga-se logo de cara, é terrível. Não por ser ruim, ao contrário, mas por expôr com sensibilidade e uma linguagem crua, a capacidade de auto-destruição que a humanidade traz em si e costuma sacar diante das dificuldades - ou simplesmente quando se depara com algo diferente, sobre a qual não tenha controle. Para manter a própria pele a salvo, não existe hesitação diante do outro, e a crueldade domina qualquer tentativa de razão.

Estrelada por Julianne Moore, a obra, adaptada do livro homònimo do Prêmio Nobel José Saramago, conta sobre uma estranha epidemia de cegueira que destrói uma cidade. Para resolver o problema, as autoridades, enquanto podem, mandam os infectados para um sanatóriao abandonado, com cara de campo de concentração. Gradativamente, as poucas notícias vão dando conta de que o problema se espalhou, causando destruição e a chegada de cada vez mais gente à quarentena. As pessoas são simplesmente largadas lá e impedidas de se aproximar dos guardas, a base dos tiros, inclusive. A comida é largada à distância por pessoas que nunca mostram o rosto.

No grupo central estão: a protagonista, única não infectada, capaz de ver o que acontece ao redor naquele mundo a parte onde foram jogados o seu marido, um oftalmologista vivido por Mark Ruffalox, “a rapariga” (a brasileira Alice Braga), o “velho da venda” (Danny Glover) e um casal japonês (ele, o primeiro contaminado). Praticamente todo o filme se dá em um clima tenso e aterrador, com o diretor cada vez mais ambientando a opressão do homem sobre o homem. E a solidão de cada um, é coisa das entrelinhas.

A história fica centrada nas tensões entre dois grupos, o primeiro a chegar e o da ala 3, que a certa altura, assume o comando e se encarrega de tornar a situação ainda mais insuportável, a ponto de cobrar, e nada barato, pela parca comida que é jogada a eles, enquanto a sujeira vai tomando conta de tudo e de todos. Um dos pagamentos aliás, rende uma das passagens mais fortes e terríveis do filme - mesmo que tudo aconteça em uma massa de sombra e luz. A partir dali, os rumos mudam. Tem também alguns belos interlúdios, mas na maior parte é um filme difícil.

A produção estreou no Festival de Cannes e dividiu opiniões. Não li o livro e gostei do filme, que aliás aguçou a vontade de ir para a publicação. Acho temerário comparações. Tenho a clara impressão de que a maestria de Meirelles foi pegar a essência do que quis provocar Saramago e traduzi-la para o cinema. E o fez bem. Realmente não é um filme fácil e quem gosta de blockbusters palatáveis vai ficarmais desconfortável na poltrona. Mas, a vida também pode ficar bem desconfortável, e como mostra Ensaio sobre a Cegueira, o homem nem precisa de armas ou catástrofes naturais: ele é muito eficaz em transformar seu mundo num verdadeiro inferno.

3 comentários:

Anônimo disse...

me pareceu bom. quero ver enquanto ainda é tempo. hehehehe.

Túlio disse...

não vi ainda o filme todo, mas algumas cenas. Incrível como o diretor trabalha a luz e o foco ou não foco nos nas pessoas envolvidas em determinado diálogo. Nunca tinha visto isso.

Anônimo disse...

me parece bom esse seu comentário, viu seu Túlio. e dae, Túlio. tudo maravilha?