2/28/2007

Charme Chulo: vivendo e aprendendo

Jonas Oliveira
Jornal do Estado

A banda curitibana, nascida em 2003, é uma das mais prestigiadas neste começo de ano, em que a cena local vive outro bom momento


Adriane Perin
A banda curitibana Charme Chulo que lança seu primeiro disco ainda em março começou o ano conquistando o aval da revista Bizz

Já está pronto e ainda este mês os fãs poderão desfrutar do primeiro álbum propriamente dito, da banda curitibana Charme Chulo, formada em 2003 por Igor Filus e Leandro Delmônico. Hoje acrescida de Rony Jimenez e Peterson Rosário é uma das formações mais prestigiadas da cidade no circuito alternativo nacional, com uma proposta pop de qualidade, com referências que vão do rock inglê a música caipira brasileira. Entre as mais recentes boas repercussões, foi citada na edição de janeiro da revista Bizz, entre as “bandas que a gente gostaria que dessem certo em 2007”. Não é acaso. Desde o começo, quando a dupla original começou a ir nos shows de outros grupos locais, a Charme Chulo soube fazer tudo certinho, sem arrogâncias e com estratégia – a começar pelo ótimo nome.
“A gente foi se enfiando na cena”, conta Leandro, lembrando que um empurrava o outro para chegar junto dos mais experientes e de produtores de festivais. “Lia o que você escrevia das bandas daqui, tinha o Rock de Inverno e decidimos procurar “essas pessoas”. Era engraçado porque víamos você e o Ivan (NR. Ivan Santos da banda OAEOZ e também produtor do festival Rock de Inverno, no qual o Charme tocou em 2004 e foi um dos destaques) e um dizia pro outro ir falar. A cena autoral curitibana nos inspirou, sim”, diz Leandro, e emenda. “Quando fui no Rock de Inverno e quando ouvi a Pipodélica foram momentos em que pensei: no underground tem bandas melhores que no mainstream e isso mudou minha cabeça”, conta.
Porém, não se pense que eles querem ficar em algum nicho alternativo eternamente. A Charme Chulo sabe onde quer chegar. E pode, acredite, chegar lá. “Los Hermanos não precisa ir num Faustão para ter um público fiel. Conquistamos fãs e mídia, mas ainda temos muito a fazer, não passamos por uma MTV. Não que com o disco queiramos chegar ao Faustão, mas queremos ir o mais longe possível. Não quero que soe arrogante, mas queremos, no mínimo, ser reconhecidos na história da música curitibana, paranaense ou brasileira.”, diz Leandro. A Pipodélica citada pelo Leandro é a banda catarinense de Eduardo Xuxu, que assina a produção do álbum que está prestes a sair pelo selo Volumeone, de São Paulo. Ele foi escolhido, conta Igor, porque gostou da banda a ponto de se oferecer para produzir. Os rapazes chegaram a conversar com Philipe Seabra, mas acabaram optando pelas afinidades mais evidentes. “Nosso EP foi produzido pela gente com pitacos de amigos. Era importante ter alguém de fora. Somos uma banda pop mas com uma sonoridade diferente, então o produtor tem que querer mesmo”, comentam os dois, se completando nas razões.
Para o amadurecimento notado na Charme Chulo, a quantidade de shows, especialmente ano passado, foi decisiva e o resultado se mostra no amadurecimento de Igor, vocaista, das letras, da sonoridade e da performance, cada dia mais segura nos palcos – onde eles já vêm, desde ano passado, mostrando músicas novas. “Antes a gente tinha medo de falar com o público. Ainda temos, mas já melhorou”, conta, entre risos, o guitarrista Leandro, que também usa muito bem uma viola. O álbum vai ter apoio de selo, mas Igor e Leandro sabem muito bem que a trabalheira vai só aumentar. “Selo é complicado, porque são pessoas com boa vontade mas sem grana e nem muito tempo. Disco se vende em show. O que o selo vai ajudar é pagar as contas da prensagem”, explica o guitarrista, cuja banda optou por não assinar com a distribuidora Trattore. “Encarece muito. Do que adianta ter disco caro em todo lugar do Brasil e não ser conhecido? E quem vai pagar R$30 por disco de banda independente?”. Igor completa: “Tudo está correndo dentro do planejado. Fazemos música por música e esse foi o momento do disco chegar, amadurecida a idéia de banda. Foi demorado? Pois é, essa é nossa realidade”. Sobre a citação da Bizz, Igor e Leandro avaliam com a corriqueira humildade.
O legal é que foi tudo natural. Eles não são amigos de jornalistas, nem têm um assessor de imprensa ligando para os tais. É outro bom momento da cena curitibana que neste começo de ano tem pelo menos outros dois grupos em destaque – Terminal Guadalupe e Faichecleres, que daqui a pouco estará na revista Outra Coisa. Para Igor isso é, óbviamente, resultado do trabalho de muitas bandas. “As pessoas falam em se unir, mas não dá pra forjar um movimento, como alguns gostariam. Cena é consequência de cada um trabalhando, sem picuinhas, sem dor de cotovelo”, diz.

2/23/2007

Jornal do Estado

André Ramiro, João XXIII, Pill e Felipe Luiz e Giva estão de volta para a terceira edição da festa Ruído Corporation

Adriane Perin

Divulgação

Esta é a Ludovic, banda paulistana que tem feito fama no undergroun brasileiro por conta de performance fortes e boas letras



André Ramiro, João XXIII, Pill e Felipe Luiz e Giva estão de volta para a terceira edição da festa Ruído Corporation. Hoje a banda deles, a ruído/mm, recebe mais visitas ilustres no Korova Bar para outra noite regada à energia vital do rock. A convidada desta sexta é a a paulistana Ludovic, comanda pelo incendiário Jair, banda que divulga seu segundo álbum e já é conhecida dos curitibanos de outras performances. Ano passado, tocou junto com a Charme Chulo no Porão Rock Clube, mostrando mais uma vez porque é considerada uma das revelações dos porões brasileiros.
Mas, seu debu na cidade foi há mais tempo. Há uns três anos, a então desconhecida Ludovic tocou no extinto Rephinaria, “apresentada” por outra conterrânea igualmente visceral, a La Carne. Naquela noite, o então trio, deixou as pessoas boquiabertas diante do modo ensandecido com que o vocalista – na época também baixista – se movimentava no palco, parecendo mesmo possuído por um espírito forte do (pós) punk rock – e olha que fazer frente ao La Carne não é fácil. Agora a banda está um pouco diferente, com Jair dividindo as responsabilidades e podendo se dedicar ainda mais aos seus vocais carregados, no melhor sentido. Tem sido assim que eles superam as dificuldades inerentes ao underground brasileiro e conquistados seus fãs. O primeiro registro do grupo foi o EP homônimo de 2001, ao qual se seguiu Servil, em 2004. Ano passado chegou o mais recente, Idioma Morto, via Travolta Discos. Com Servil, aliás, a banda ganhou pelo voto popular, o Prêmio Dynamite de Música Independente 2005 na categoria “melhor disco de indie rock”. Além das performances intensas e contagiosas no palco, o disco novo, como os outros, traz letras impactantes que fazem a diferença, tratando de temas pesados da vida adulta sem meios termos, nem passar a mão na cabeça, acertando direto no estômago, várias vezes. Desde o nascimento em 2000, foram várias as formações, que agora se firmou com Jair Naves (voz), Eduardo Praça (guitarra), Ezekiel Underwood (guitarra), Fábio Sant’anna (baixo) e Júlio Santos (bateria). A fama arregimentada em shows se espalhou e os levou aos principais festivais independentes do país, como o Goiânia Noise Festival (GO), Calango (MT) e Campari Rock (SP), onde dividiram o palco com nomes de peso como Supergrass, Nação Zumbi e o trio norte-americano Mission of Burma, influência confessa da banda (ao lado de Sonic Youth, Patti Smith, Joy Division e Fellini).
“Em uma época com tantos subgêneros dentro do rock, é até de se estranhar que a melhor definição para dar à banda seja simplesmente rock! Cru, intenso, furioso”, diz o jornalista Cleiton Sotte sobre a banda. Jair, também compositor, escreve muito bem e não parece disposto a fazer concessões pop. Não é acaso que o trabalho do grupo tem sido saudado com comentários do tipo: “A banda e o disco que ainda vão salvar o seu dia (...); Servil é um dos LPs mais bem sacados gravados no Brasil nos últimos 15 anos”; “Se você ainda não viu um show do Ludovic, arrependa-se enquanto há tempo”. Ou ainda, “As sutilezas melódicas só são sentidas no CD porque ao vivo o Ludovic pratica o caos. Já vi shows do Ludovic e nunca sobra pedra sobre pedra”, de Gastão Moreira; ou as palaavras de Lúcio Ribeiro: “O show mais perigoso do rock nacional”
Curitibana - Na Ruído mm também é evidente a evolução musical – e não só. Com a proposta de construir sua música a partir de muitas guitarras, efeitos, grunhidos e tudo mais encapados pelo mais puro noise, o grupo curitibano vem construindo sua fama pedra a pedra, e deu um passo diferente ao decidir virar, também, produtor, com esta propósta de shows em diferente endereços sempre com convidados especiais. O bom gosto tem dado o tom também das escolhas que ainda prometem muitas boas noitadas por aqui.
A próxima aliás, já está marcada, dia 10, no Porão Rock Clube, com a osasquense La Carne (aquela que nos apresentou a Ludovic) e o retorno da curitibana OAEOZ aos palcos, depois de um 2006 completamente parado em termos de shows – para abrir o ano em que vai comemora uma década de atividade e lançar novos trabalhos. Outros nomes estão acertados, entre eles: Constantina (MG), SOL (POA), La carne (SP), Hierofante Púrpura (SP), e outros em negociação, como input output (POA), supercordas (RJ). Quem conhece sabe, só coisa fina.
Um caldeirão experimental que possibilita a integração de diversos domínios artísticos como música, quadrinhos, artes plásticas, arte de rua, poesia, enfim, qualquer tipo de manifestação artística que não queira ser aplainada. De modo mais simples, nada mais é que um coletivo de produção artística, com o intuito de promover o cenário artístico local.
As festas da Ruído contam também com a participação dos artistas do Interlux Arte Livre, criando verdadeiros happenings - utilizando artes plásticas, vídeos, performances e arte de rua. Os cartazes também são um show, que fazem parte do conceito. O artista plástico e quadrinista DW está criando os 12 cartazes que, ao final, comporão uma obra de HQ. O primeiro deles, realizado em janeiro com o concerto da banda Colorir, foi a capa da revista. A partir do cartaz de fevereiro, o público poderá contemplar o início da trama e, no decorrer do ano, a história se completando. “É uma forma que achamos de dar mais brilho e simpatia às artes de cartazes, muitas vezes deixadas de lado pelas bandas brasileiras”, diz André Ramiro.

SERVIÇO
Ludovic e e ruído/mm. Dia 23. R$6. Korova bar (Av Batel, 906).

"Cativeiro", do Folhetim Urbano

Do Scream Yell

por Leonardo Vinhas

Os irmãos Carlos (voz e guitarra) e Renato Zubek (baixo cheio de variantes, caminhos tortuosos e inspirações jazzísticas), mais o baterista Marcelo Tchychy (agora substituído por Lucas Baumer), estão juntos desde 2005 e já vem dessa época a peleja para registrar em estúdio as cinco faixas que compõem o EP Cativeiro, lançado de forma independente.
"Guerrilha" havia sido disponibilizada em versão demo no TramaVirtual, quando o grupo ainda atendia por Sabadá e já chamava a atenção pelos grooves solapados de baixo e pela guitarra que rockeava para caminhos desconhecidos a partir de inspirações setentistas. O vocal agudo do convidado Linari (La Carne) trazia a urgência e a convocação aos versos cínicos, fosse na ponte que diz que aqui "só tem índio" ou no refrão que prometia que "quem matar mais americano, mais medalha no peito".
Essa faixa ganhou produção mais pesada e o sax dissonante de Paulinho Branco e abre o CD no susto, seguindo sem descanso até o último suspiro do sax. "Avon", dedicada ao controverso avô dos irmãos Zubek, prova que música não é só profissionalismo - ela ainda requer grande dose de entrega e abandono, sem que isso signifique autodestruição. Só ouvindo para entender como os versos "não feche os olhos pra sonhar / não pare para descansar / a vida segue / e procura o fim / sozinha" perdem a aura ingênua para virar declaração de vida sem qualquer afetação. A guitarra contribui muito para tanto, mas o xeque está no vocal, que ainda entoa o precioso verso "ainda ouço o teu sorriso".
Versos mais densos estão em "Frases, Fases e Tempestades", uma canção cortante, conduzida com menos urgência, mas sem significar descanso. "São os dias engolindo as idéias / tempestade que não passa mais / Ontem eu vi alguém que se ama / Isso é raro e já não toca mais". Internet, pressões profissionais, ditadura estética, a TV exercendo a função de canção de ninar adulta, a rotina para pagar as contas e a diversão para esquecer das dívidas, ansiolíticos e pílulas para todos os males, até os que não são maus; tudo isso levando o Homem numa enxurrada e fazendo-o soterrar-se na nulidade de sua própria rotina.
"F de Todos Nós" traz mais um La Carne, agora Jorge Jordão, para correr com sua guitarra sobre tudo enquanto a independência social declarada pelo crime, representado por Fernandinho Beira-Mar, ganha ares de vingança contra a sociedade que exclui os que nasceram do lado errado da calçada. "Sabadá" era para ser canção-tema dos primórdios, mas é um hard-rock que passa batido frente aos quatro outros monolitos saltenhos que já te envolveram.
Só isso. Só cinco faixas. No máximo, pode-se dizer que algo está iniciando aí. Uma combinação de circunstâncias e emoções banhada por inspiração. As cinco músicas podem ser baixadas gratuitamente no site oficial do grupo, linkado logo abaixo. Fique atento: nem tudo é mercado.

2/22/2007

Matema no Rock de Inverno 5



E o nosso amigo Marcelo Borges publicou mais um vídeo inédito do Rock de Inverno 5. Desta vez quem entra em cena é o inclassificável Matema, do grande figura Guilherme Glerm, responsável por um dos shows mais surpreendentes e experimentais do festival. Vale a pena dar uma conferida. E para quem ainda não viu, no post abaixo tem o link para o vídeo do Cores D Flores, na mesma edição do festival. Vão lá, comentem, divulguem.

2/21/2007

Nóis no space

Então. Aproveitei a folga do carnaval para criar uma página da De Inverno no myspace. A idéia é ir colocando lá material do selo, coisas inéditas, raras ou pouco conhecidas. As quatro primeiras músicas são "France dress", faixa gravada pelo Svetlana para o Rock de Inverno 3; o Hurtmold
tocando "Fontanka" ao vivo no mesmo festival; "Movimentos" do disco "Belas Noites" do Cores D Flores, lançado pela gente em 2001; e "Waking up", do Take um, disco ao vivo do OAEOZ. Com o tempo, a gente vai trocando essas faixas por outras. Ainda tá em fase "experimental", mas já dá pra curtir também um "slide show" com imagens, fotos, cartazes, capas de discos, etc, da nossa história. É isso. Vão lá, ouçam, comentem, divulguem.

2/06/2007

o nosso abacateiro e no susi

Acordei pensando na vida. Fui ouvir no susi. Há tempos não pegava esse cedezinho inacabado pra ouvir. E constato que, por alguma razão, algo soa diferente. Não sei explicar, direito. Vejo a essência que curti desde o começo ali, mas tem algo mais. Acho que o distanciamento do tempo clareia as sensações tratadas ali e deixa as tonalidades menos sombrias. Talvez hoje possamos ver esses temas de um jeito menos pacional. Mas, a pureza, cruel até, porém necessária, das primeiras canções, continuam vísiveis. pulsam diante de um espelho que deixa os dias ainda mais claros, agora. Mágoas guardadas, machucados lambidos e prestes a secar, quem sabe, talvez possamos ouvir esse canto fazendo rasgos menos profundos na pele. Há alguns meses ouvir esses projetos de canções era muito difícil. tanta saudade que parecia sem sentido.
No susi foi como uma daquelas tempestades que derrubam árvores sobres as casas, arrastam enganos e acertos que já deviam ter morrido e fazem boiar aquele punhado de sentimentos que a gente tentou esconder...
até consigo rir... Ainda tenho vontade de cantarolar... lembro instantes com uma sensação de quem passou por um turbilhão, mas não sinto aquela dor estranha. Já não sinto mais a mesma tristeza por ter perdido algo muito precioso... não sinto mais aquela descontrole de algo que me foi arrancado antes da hora... o que será isso? Porque será isso? Quando pego o violão me alugando com alguma melodia, só pelo prazer de me sentir entretida por algo bom, sem sequer pensar muito, sei que meus dias ficam melhores..... como será agora?

Sábado, ao abrir a porta da cozinha me deparei com um árvore imensa a meus pés.
Linda, tão poderosa na noite anterior, sob uma brilhante lua cheia que acolheu e iluminou a mim e a meu amor, e agora ali tombada, raízes a vista, deixando todo um céu azul, com poucas nuvens se abrindo sobre minha cabeça. Chorei, sim. Me senti culpada vendo seus galhos carregados de frutas condenadas... espalhadas pelo chão. Ele não machucou ninguém. Caiu a noite, depois de dividir com a gente deliciosos momentos, sem barulho, sem alarde...
depois, sozinha, quintal limpo, flores num canto, terra molhada pronta pra minha horta, veio o silêncio. Sentada no canto, fugindo do sol a pino, mas sentindo seu calor arder nos meus olhos e pele, perto das flores, sob a terra úmida, sozinha em casa, tantos pensamentos sobre a vida daquela árvore linda que ainda ontem nos acolhia numa sombra confortável e agora deixava o espaço aberto pra algo ser começado, outra vez.
Claro, que vou plantar outra árvore que possa nos dar novamente a doce acolhida de sua sombra. Mas a tristeza de ver aquele abacateiro, de folhas largas, tão belo, aos meus pés, vai caminhar comigo mais um pouco. um vazio, uma silêncio forçado pela falta do que dizer....
É melhor entender como um tempo que se abre.
Do abacateiro foi seu tempo, agora é chegado o nosso, nesse lugar. Nesse outro tempo que também vai trazer suas surpresas. Por alguma razão, nesse ano que começa me dando muita vontade de fazer coisas que gosto, me agarro a esse abacateiro caído e sua imagem imponente da noite anterior como o (re) começo e de um fim que vai chegar de novo, uma hora ou outra, O a e o Z, no susi degustando o inverno e o verão em um quintal que não se esconde mais da ardência desses dias que merecem o sol queimando os olhos, mas que também sabe dar um abraço orvalhado.... acordei pensando na vida... (adri)

1/31/2007

Quando ter uma banda é terapia de grupo

Jornal do Estado

A gaúcha Monodia está com disco novo, que não vai ser vendido em lojas mas pode ser baixado na internet gratuitamente, no site do grupo

Adriane Perin

Divulgação/Fabio Alt

Na internet estão disponíveis oito faixas, mas o segundo disco da banda gaúcha Monodia, que não está nas lojas do ramo, vem com 12 faixas. É um álbum de 2006. E não é um disco qualquer. Porém, praticamente ninguém se deu conta do “lançamento” de Esquerdo, que tende a ser uma daquelas pérolas pouco conhecidas, do independente brasileiro. Nele as coisas são meio assim: se o artista não está no circuito mainstream (sic) do alternativo, nem é do tipo que se ufana, acaba despercebido. Trata-se de um álbum – ou EP, se preferir, afinal não foi prensado, nem tem esquema de distribuição – terminado em casa. Mas, tem nos créditos nomes fortes da produção independente, o também gaúcho, Thomas Dreher.
A primeira vez que ouvi Monodia foi quando Desirée Marantes veio para tocar no festival Rock de Inverno 5, com a Deus e o Diabo, da qual é violinista. Na Monodia, ela é “mulher de frente”, no sentido, também, de quem corre atrás nos bastidores. Naquele primeiro disco de 2003, havia uma força latente em melodias de jeito meio sombrio - na mesma praia sonora da DeoD e Blanched, conterrâneas que também não trafegam pelas sonoridades do rock gaúcho clássico. Com Esquerdo, ainda em Mp3, fiquei meio zonza. Puxa vida, pensei! Como ninguém ainda descobriu esse disco? Compositora da maioria das faixas, Desirée também canta. Divinamente, como que sussurrando segredos que só quer dividir com a gente. Esquerdo tem um astral introspectivo, é como se ela falasse pra ela mesma se conhecer mais. E quando a gente ouve, são letras que provocam um gelo no coração, com suas melodias de uma beleza um pouco melancólica – mas esta palavra pode enganar, porque não é aquela coisa cool de bandas que fazem da melancolia um status. Não, Monodia, não tem essa melancolia plástica e não é exatamente triste. Soa despida de vaidades (“Um dia/ espero/ que você/ aceite/ que eu sou assim/ sem nada demais”). É dificil saber o que cria essa relação mágica, que faz o corpo tremer quando se ouve uma canção, “sem nada demais”. Monodia também tem seus momentos Mercury Rev da primeira fase, dos experimentais de Beck e John Frusciante. Também conversa com DeoD, Blanched, OAEOZ.
Alternativas — A rotina da Monodia é aquela de bandas cujos integrantes fazem música por pura possessão, porque parecem não ter o livre arbítrio de sair fora, por maiores que sejam os percalços. “É a sina de qualquer banda independente sem grandes pretensões pop. Trabalhar e ganhar dinheiro tendo uma vida “normal” para sustentar o vicio da música (se bem que prefiro dizer terapia)”, nas palavras de Desirée. Entre um show e outro, sem atrapalhar estudos/trabalho, Ernani Fração , Claus Pupp e Carlos Wolff concentram energias em “compor mais para ter um repertório legal, evoluir como banda, fazer bastante ensaios (que é onde a gente se diverte) para, quem sabe, fazer outro disco em 2007”, completa. Gravar Esquerdo foi um desafio, em 2005, ano dedicado a composição e ensaio para chegar tinindo nas gravações ao vivo, em dois dias de fevereiro passado. “O Thomas é o cara que se você falar pra por o microfone no cano do ventilador para pegar o barulho, os olhos dele brilham”, conta.Com o Monodia, ficou assim: “O baixo foi gravado sem amplificador, em um canal em linha e outro numas caixinhas de computador microfonadas ”, conta Desirée, sobre como foi resolvido o “mau contato do baixo”. “Então foi guitarras com amplificadores valvulados e baixo na caxinha do computador microfonada”, comenta, entre risos. Gravação de vocais, violinos e mixagem foram feitas na casa dela. “Improviso II” foi composta durante a gravação. “Considero um exemplo de como estávamos inspirados. Acho que o conjunto das músicas ficou bonito e simples, fora que eu, pessimista como sempre, nunca acreditei que seríamos capazes de fazer um *disco*”, confidenciou, por email. “Deve ser coisa de quem acha que disco de verdade são os álbuns conceituais do Pink Floyd. Acho que escutei o Wish you were here demais”, diz, sobre o álbum que foi também um pouco escola para eles.

Serviço
ouça
baixe o disco na íntegra

Fazer “música chiclê” não é interessante

segunda parte

Desiré Marantes sabe onde o sapato aperta e neste caso é na divulgação. “Incompetência para se divulgar é pouco. Mas, também não vejo interesse nas pessoas em conhecer uma banda como a nossa. Como não tenho paciência pra ficar falando que tenho banda e tal... o disco só vai chegar mesmo em quem se interessar”, diz e emenda sobre o que mais curte nessa história toda. “Ensaiar é o que mais gostamos de fazer. Fazer um som, o que para mim é uma terapia de grupo”. Estilo ela prefere não definir, mas se é para ter nome, opta pelo pós-rock. Embora, o Monodia não seja um som dificil, também não pode ser considerado pop. “Tenho um ranço com o pop, e é consciente. Eu sei fazer aquela coisinha certinha, bonita, para ficar aquela coisa chiclê, mas não me parece interessante. Queremos progredir mas não com objetos comerciais”, comenta.

1/29/2007

Quer saber o que é Punk? O Botinada mostra


O DVD de Gastão Moreira é um precioso documento sobre o nascimento do movimento no Brasil, lançamento da ST2

Adriane Perin

Divulgação
Parte da turma de São Paulo que, em plena ditadura militar, deu os primeiros passos do punk brasileiro


Fotografias, entrevistas, flyers, imagens raríssimas de shows, aglomerações e histórias, muitas e boas, histórias fazem do DVD Botinada um marco na História da Música Brasileira. Assinado pelo jornalista Gastão Moreira, o documentário conta os primeiros passos do punk em território brasileiro, centrado na cena paulista, mas mostrando um pouco também das movimentações gaúcha, carioca e brasiliense que divide com São Paulo o crédito oficial da maternidade. Curitiba não aparece, desta vez, porque a empreitada exige escolhas difíceis e acaba prevalescendo o que teve maior impacto. Mesmo assim, uma pergunta era inevitável: e o Carne Podre, que nasceu em 76 em Curitiba? “Tive que me concentrar nos que mais repercutiram. Até o pessoal de Brasília ficou meio chateado”, conta Gastão. Ao saber de que há um documentário do Punk curitibano, ele ficou de cara. “Se isso soubesse, teria incluído”, lamentou. Dá pra imaginar o jornalista debruçado nas mais de 90 entrevistas – 77 usadas - e no material que conseguiu com muito esforço encontrar nos escombros da memória de uma turma que escreveu sua própria história, contra tudo e contra todos. Foram 4 anos de pesquisa, na cola de pistas. Gastão achou que teria farto material, mas não foi bem assim. “Ouvi muito sobre caixas e baús jogados quando os caras casaram”, conta. Mesmo assim, foram muitas as “escolhas de sofia” na hora de editar. Gastão é um apaixonado pelo punk, mas ao trabalhar com Clemente, dos Inocentes, que era produtor do Musikaos, na TV Cultura, a brasinha foi assoprada com mais energia. “Ele sempre contava histórias muito boas e eu pensava: caramba, ninguém sabe disso”. Clemente é um dos entrevistados, ao lado de representantes de muitas bandas, mais ou menos conhecidas, todas muito importantes: Garotos Podres, Olho Seco, Condutores de Cadáveres, AI-5, Restos de Nada e mais uma penca. Ao lado deles, jornalistas como Silvio Essinger, Fábio Massari, Regina Echeverria, Antonio Bivar.
Leia mais:

1/25/2007

No rumo certo da primeira divisão do rock independente

Jornal do Estado

Terminal Guadalupe, negociando o lançamento do disco gravado na Toca do Bandido, faz o primeiro show do ano, com Zigurate


Adriane Perin



Divulgação/Fernando Souza

A banda Terminal Guadalupe faz o primeiro show do ano no Jokers, junto com a Zigurate



A banda Terminal Guadalupe abre o ano com show no Jokers hoje a noite, na lista entre das mais promissoras do pop rock nacional para o ano – situação na qual tem a companhia de outra prata da casa, Charme Chulo. Ela se apresenta junto da veterana Zigurate e no final as duas se encontram no palco para uma jam, na apresentação que marca a entrada do guitarrista Lucas Borba no TG. Quem acompanha a caminhada do grupo, decidido a “dar viabilizar a uma carreira de músico”, sabe que houveram momentos tensos. Mas, os percalços serviram para calcificar a união dos músicos usando, além da sonoridade pop com qualidade, a persistência e o empenho como parte da estratégia de trabalho. Depois de meter as caras em festivais, amealhar indicações e prêmios importantes , o momento é da mídia. Há poucas semanas, o grupo curitibano foi destaque de Sérgio Martins, na revista Veja e, mais recentemente, o ainda inédito A Marcha dos Invisíveis foi apontado pelo jornalista Marcelo Costa, na Coluna Revoluttion, do Portal IG, como o “disco certo na hora certa” .
O lançamento de A Marcha está sendo negociado por selos e uma gravadora major, mas por hora é só isso que podemos saber. Também está sendo feito um clipe da música “Pernambuco Chorou”. É a colheita das sementes plantadas e o auge desses primeiros três anos da atual formação.
O disco, que deve sair até abril, foi gravado ano passado no estúdio A Toca do Bandido, sob a tutela de Tomas Magno. O lugar é um dos mais prestigiados do Brasil, e o “cara” é top de linha. “Entreguei nosso disco no Claro que é Rock. Tomas é um engenheiro de som que está entrando com tudo na produção e tenho convicção que ele será o grande produtor do rock nacional, porque é obcecado por padrão de qualidade internacional e sabe lidar com expectativas do mercado”, avalia Dary Júnior, o vocalista. A importância dele no processo, diz, foi fazer a banda “perceber e valorizar detalhes das músicas que passavam batido”.
Dary trata com cuidado o badalo. “Não tem segredo: é degrau por degrau, com muitos sacrifícios”, pondera o jornalista que largou um bom emprego em 2001 por sua primeira banda, Lorena foi Embora. Em 2003 foi que a Terminal nasceu, efetivamente. “Ainda não atingimos o que queremos em termos de linguagem própria, mas temos conseguido (re) definir o som a cada disco”, diz ele, cuja banda tem quatro músicas do novo disco no my space, enquanto o novo site é criado. A novidade mais quentinha é o clipe, que será feito por Ricardo Spencer, ganhador do VMB, em trabalho com a Pitty. “O Tomás gostou tanto que falou da gente pro cara, que também gostou e, ao saber que somos um duros de grana, topou fazer por orçamento mínimo”, conta. A meta para 2007 é “chegar a primeira divisão do rock independente”. Tocar em pelo menos um dos grandes festivais: Porão, Abril, Mada, Tim ou Goiânia Noise. E entrar nas emissoras que exibem clipes. “Recebemos o que você chama de apostas com alegria, mas temos os pés no chão. O certo é que o novo disco não será lançado pela banda sozinha”, finaliza o vocalista, que tem ao lado Allan Yokohama, Rubens K, Fabiano Ferronato e, Lucas Borba.

Serviço: Terminal Guadalupe e Zigurate. Dia 25. Jokers (R. São Francisco, 164)

1/18/2007

Ruído Corporation no Korova e a reabertura do 92

Do Jornal do Estado

Banda curitibana vira residente no “bar do Claudião” e JR Ferreira reabre o espaço que é referência em rock alternativo brasileiro

Adriane Perin

Foto: Franklin de Freitas
A turma da banda Ruído mm, que agora é residente no Korova e começa temporada no sábado

É sempre bom ver sangue novo se organizando para contribuir com a arte local. E nessa vida do faça-você-mesmo pessoas com vontade de trabalhar são sempre bem- vindas. Por isso é uma boa notícia, ver que começa a se concretizar uma nova parceria que pretende produzir mensalmente shows alternativos, no novo Korova Bar.

E, já que o assunto é independente, outra excelente notícia se confirmou esta semana - pena que a estréia dos dois projetos será no mesmo dia, o próximo sábado, dia 20. É a reabertura do 92 Graus - espaço curitibano lendário na história da música independente brasileira que agora volta a ser palco para as bandas, depois de um ano fechado. O novo endereço é nas redondezas da Praça do Gaúcho e o “test drive” vai ser com Popelines, Dalilla, Kompressores e Claudio Evecos, a partir das 20 horas. JR Ferreira, o músico e dono do lugar, adianta que não é, ainda, a inauguração. As obras para deixar o bar do jeito que a gente gosta estão a toda e a noitada do sábado é só aquecimento.

No Korova, a empreitada é com a banda Ruído/ mm que começa neste sábado, sua residência no bar, sempre com um grupo de destaque do circuito independente brasileiro como convidado. Na estréia, os curitibanos recebem a catarinense Colorir. A lista dos sonhos dos rapazes, não é fraca não, e contempla algumas das melhores bandas brasileiras da atualidade. Vê só: La Carne, Ludovic, Blue Afternoon, Hurtmold, Grenade, Constantina (MG), Daniel Belleza, Input Output, Madeixas, Jumbo Elektro e Pí.
A turma, que tem à frente da correria André Ramiro, integrante também do duo Índios Eletrônicos, decidiu meter a mão na massa para acabar com essa história de que “são poucos os corpos que suam em favor dos bons sons” em Curitiba. “Sabemos do potencial da cidade, sabemos das novidades da noite que abrem a cada mês nos mais inóspitos pontos e sabemos das inúmeras cabeças pensantes que integram esta faminta cidade, em busca de mais arte e de algum reconhecimento”, argumenta Ramiro, apresentando a “plataforma caótica de pensamento” da recém nomeada entidade Ruído Corporation. A idéia é simples, o que vai fazer a diferença, é a continuidade.
A inspiração, assumida, são as noites na paulistana Millo Garage, da gravadora Peligro, que que costumam não se prender a sonoridades óbvias. “Todos sabem que as bandas que lá tocam são de qualidade, assim o público pode ir de olhos fechados, sabendo que bons sons ouvirão. É o que queremos fazer aqui”, conta Ramiro, lembrando que a trupe do coletivo Ainterlux Arte Livre, também vai dar as caras nas noitadas, com vídeos, performances, pinturas, colagens, enfim, arte pela arte.Outro detalhe legal, serão os cartazes. Para aumentar a atratividade foi convidado o artista plástico e músico DW para fazer os 12 cartazes das festas, que ao final, comporão uma História em Quadrinho. “As pessoas que se interessam pelo universo das artes visuais terão um prato cheio para suas coleções. Assim, também imaginamos atingir públicos em livrarias, cafés, cinemas, sebos, enfim, não serão somente cartazes postados em bares”, comenta Ramiro.

Serviço:
Ruído e Colorir. Dia 20. R$6 Korova Bar (Av. Batel, 906).
Popelines, Dalila, Kompressores. Dia 20 às 20h. R$5. 92 (R. Benvindo Valente, 280).

1/17/2007

Novassssss!

Pois é. Chega fim de ano, ano novo, e vem as listas de “melhores”. Não sou lá muito chegado nesse lance de listas de melhores. Primeiro porque, como diz o Mário Bortolotto, pra fazer uma lista dessas à sério você teria que ouvir/assistir/ler tudo o que rolou, o que evidentemente eu não fiz, mesmo. Além disso, sempre achei que quando a gente fala de arte, uma coisa não exclui a outra. Não é porque eu gosto de Beatles que eu não posso gostar também de Stones.
Mesmo assim, a convite do Marcelo Costa, desde o ano passado tenho participado da lista dos melhores do Scream Yell. Primeiro porque gosto muito do site e do trabalho do Marcelo, que considero um dos melhores jornalistas culturais da nova geração no País. Segundo porque mesmo não tendo ouvido nem 10% do que tá rolando por aí, vejo essa votação como uma oportunidade de destacar coisas que eu gosto e que dificilmente outras pessoas vão citar. Na minha lista dos melhores discos, por exemplo, eu inclui o do Monodia (RS), o Insomniac, do Igor Ribeiro, Gianoukas Papoulas. E no dos blogs, o do Mário e o do Rubens, que aliás, entraram no “Top Seven” - o que é muito legal. E faço isso não com qualquer tipo de puxasaquismo/ufanismo ou filantropia, não. Votei porque efetivamente esses discos que eu citei estiveram entre os que eu mais ouvi e que mais me emocionaram no ano passado. E os blogs do Mário e do Rubens estão realmente entre os meus favoritos, tanto que eu leio eles quase todo o dia. Por menor que seja, gosto de pensar que estou ajudando a divulgar esses trabalhos, que pra muita gente passam despercebidos.
Também fiquei feliz de ver que o OAEOZ, mesmo tendo estado praticamente parado em 2006, acabou entrando na votação, citado pelo figura Marcelo Urânia, do Tinidos. Ele colocou a nossa apresentação no festival Tinidos como o segundo melhor show do ano, e esse blog que vocês estão lendo também na lista dos melhores blogs. Valeu mesmo Marcelão!
Mudando de assunto, o ano mal começou, mas as novas na nossa musica curitibana já estão à toda. A começar pela inauguração do novo 92 graus neste sábado. Realmente, esse JR Ferreira não desiste. Que bom!. A nova sede fica na rua Benvindo Valente, 280, há uma quadra da praça do gaúcho. O test drive, como diz o JR, vai ser com as bandas Popelines, Dalilla e Kompressores. Que seja bem vindo e muito bem sucedido nosso novo porão.
Outra novidade é que o ruído m/m se tornou residente do novo Korova. Todo mês eles vão fazer um show lá, sempre com uma banda convidada de fora. Neste sábado, eles recebem o Colorir (SC).

Outra coisa legal é que cada show terá o cartaz feito por um artista da cidade. O deste primeiro é do DW (Lonely Nerds/Constanza).

Enfim, o show não pode parar!

1/10/2007

1/07/2007

Deu na Veja

Da Veja desta semana: (o código de acesso da revista na banca para a matéria é FARO)

Música

A reação roqueira

Brasil afora, surgem novos núcleos de música independente. Contra o axé, o forró e o calipso

Sérgio Martins


Fotos Lailson Santos

Terminal Guadalupe: visual de cobrador de ônibus, letras de protesto e guitarras poderosas são as armas do grupo curitibano


Nos últimos quinze anos, Goiânia foi o grande berço da música sertaneja nacional. De lá saíram as quatro duplas mais bem-sucedidas do país – Chrystian & Ralph, Zezé di Camargo & Luciano, Leandro & Leonardo e Bruno & Marrone. Os goianos têm orgulho de seus sertanejos, e o gênero é quase uma unanimidade no estado. Quase. A existência de uma numerosa dissidência roqueira transparece em festivais como o Goiânia Noise e o Bananada (realizado no mês de maio, durante a temporada de rodeios, por aqueles que desejam "dar uma banana" para os amantes da viola). Goiânia tornou-se, efetivamente, um dos principais centros do rock brasileiro na atualidade. Só não se pode chamá-la de capital porque outras cidades, em outros estados, se mostram igualmente animadas. Bandas de rock promissoras vêm surgindo em Pernambuco, no Paraná ou no Acre – freqüentemente em reação à "hegemonia" de algum gênero popular como o axé ou o forró. E o fenômeno tem outra característica notável: juntamente com as bandas despontam selos independentes, casas de espetáculos e festivais, que fazem com que essas várias cenas roqueiras ganhem um ar duradouro e se sustentem sozinhas, sem precisar, como em outros tempos, do aval do público do Rio de Janeiro ou de São Paulo.
Roqueiro goiano em geral tem cara de mau e faz som pesado. As bandas Mechanics e MQN preenchem à risca esses requisitos. Para os adeptos do estilo punk de dança – que tem um quê de pugilismo –, assistir a uma apresentação desses grupos em Goiânia pode ser uma experiência memorável. Principalmente se for no Martim Cererê, um antigo reservatório de água que nos anos 70 teria sido usado pelos militares como centro de tortura. São dois cones de concreto com arquibancadas de madeira e um palco mambembe. Com alguns poucos intervalos, esse espaço abrigou o Goiânia Noise por uma década. No fim do ano passado, o festival foi transferido para o Centro Cultural Oscar Niemeyer, uma construção que custou 60 milhões de reais. Mas a irreverência roqueira continuou a mesma.
O contraponto mais "doce" ao estilo duro de Mechanics e MQN é oferecido pelo quinteto Valentina. Influenciado pela estética teatral e andrógina do glam rock, o Valentina é alvo de brincadeiras dos roqueiros cascas-grossas. Há dois anos, eles abriram um show da banda inglesa Placebo em Brasília. No fim da apresentação, a secretária de Brian Molko, cantor do Placebo, perguntou qual a marca de delineador que Rodrigo Feoli, vocalista do Valentina, usou nos olhos. "Foi o momento de glória do menino", dizem os músicos do MQN. Apesar das diferenças, não há hostilidade entre os grupos. Ambos lançam discos pela mesma gravadora local, a Monstro. Violins e Réu e Condenado são outros destaques do rock goiano. O primeiro segue a linha de grupos como o inglês Radiohead. Seus fãs são de uma fidelidade canina. Pouco tempo atrás, foi divulgado que eles encerrariam as atividades. Pela reação mostrada em alguns sites, parecia o fim dos Beatles – e os Violins voltaram. Formada por Daniel Drehmer e Francis Leech, a dupla Réu e Condenado satiriza o estilo sertanejo – no nome e no nonsense das letras. "Paulo Eduardo tinha tremedeiras / E não conseguia se pentear / Ah, essa vida me maltrata tanto", cantam em Vida Severina. O pai de Francis Leech é um ex-missionário americano que se envolveu com uma freira goiana – os dois, claro, foram expulsos da Igreja. "O resultado do casamento fui eu, um autêntico anticristo", brinca o músico.

Outro pólo roqueiro é Curitiba, que conta com uma centena de bandas. Uma delas está próxima de estourar. O Terminal Guadalupe é seguidor do rock político dos roqueiros dos anos 80, em especial Legião Urbana. Seus integrantes adoram renegar a fama de "cidade-modelo" ostentada por Curitiba. No palco eles se vestem como cobradores de ônibus – e o nome da banda faz menção a um terminal da cidade que à noite é reduto de punguistas, traficantes e moças de má fama. "Falam tanto do progresso de Curitiba, mas somos o quinto município brasileiro em número de favelas", dispara o vocalista e líder Dary Jr. Bandas políticas sempre correm o risco de cair na pregação, mas o grupo possui uma sonoridade à prova de chatice. Marcha dos Invisíveis, o quarto disco do Terminal Guadalupe, com lançamento previsto para março, tem aquele frescor que o roqueiro Ian McCulloch atribui ao "pop perfeito": canções com apelo comercial, mas longe da banalidade, e um som de guitarra como pouco se ouve no rock brasileiro. Já se formou até mesmo um certo folclore em torno da turma roqueira local. Toda uma família de bandas é composta dos chamados "curitibanos de Manchester" – que, segundo os detratores, teimam em acreditar que o frio de Curitiba basta para aproximá-los de grupos ingleses como Smiths e Oasis.

Desde que a banda pernambucana Chico Science & Nação Zumbi fundiu guitarras de heavy metal com tambores de maracatu, no começo dos anos 90, um dos caminhos para os roqueiros brasileiros é explorar algum ritmo local. O La Pupuña, grupo de Belém, se inspira na guitarrada – uma espécie de parente distante da lambada, que dominou os salões de baile da cidade na década de 70. Wado, um catarinense radicado em Alagoas, também segue uma linha semelhante à de Chico Science. A diferença é que Wado optou pela combinação do samba com elementos eletrônicos. Esse, porém, é apenas um caminho entre outros. Nos novos pólos roqueiros, não há culpa em simplesmente aderir à "linguagem universal" do rock, sem maiores qualificações. Para grupos como Volver e Rádio de Outono, do Recife, e Karine Alexandrino, do Ceará, fazer música é uma maneira de pertencer ao mundo. "Sou roqueiro, canto em inglês e não estou nem aí para o que acontece na MPB", resume o goiano Márcio Jr., do Mechanics.

1/05/2007

Liga pra mãe - Deus e o Diabo



Nossos queridos amigos do Deus e o Diabo, banda de Porto Alegre que tocou por aqui no Rock de Inverno 5, estão com clip novo na internet. E como todo o trabalho deles, o resultado final é irrepreensível e emocionante. Fico muito feliz de ver que eles continuam na ativa e brindando a gente com seu talento e sensibilidade. E confesso que cada vez que vejo/ouço algo dos caras, me emociono, e fico orgulhoso de termos sido responsáveis pelo show deles aqui. É incrível como apesar dos nossos contatos terem sido tão rápidos - conhecemos o Deod através do pessoal do Blanched, fomos tocar lá em Poa a convite deles e depois nos reencontramos quando eles vieram tocar no RI5, e foi só - sinto uma sintonia absurda em relação a postura dos caras e é claro, à música, que me toca de um jeito tão forte, tão avassalador. Que bom que existe gente assim ainda nesse mundinho besta. Assistam e confiram!

1/04/2007

O antiprofeta













Para começar o ano, outro texto do Emil Cioran. Esse inclusive me inspirou a fazer uma música adaptando parte do texto. Essa música fazia parte do repertório do OAEOZ bem no começo da banda, mas nunca chegou a ser gravada oficialmente. Qualquer dia desses gravo ela no violão e coloco no my space, sei lá. Foda que agora tô sem internet em casa, e as coisas se complicaram. Maldita infra-estrutura brasileira que num bairro há quinze minutos do centro de Curitiba não disponibiliza banda larga. enfan...

Na adaptação que eu fiz, a letra ficou assim:

O amor — o encontro de duas salivas...
Todos os sentimentos extraem seu absoluto da miséria das glândulas.
Não há nobreza senão na negação da existência,
em um sorriso que domina paisagens aniquiladas.
(Outrora tive um "eu"; agora sou apenas um objeto...
Empanturro-me de todas as drogas da solidão;
as do mundo foram fracas demais para me fazer esquecê-lo.
Tendo matado o profeta em mim,
como terei ainda um lugar entre os homens?)
Livre do fim, de todos os fins, de meus desejos
minhas frustrações
só conservo as fórmulas.
Tendo resistido à tentação de concluir,
venci o espírito,
como venci a vida pelo horror,
a buscar-lhe uma solução
Tendo matado o profeta em mim,
como terei ainda um lugar entre os homens?

Abaixo, o texto na íntegra, retirado do site www.niilista.com.br

O Antiprofeta
por Émile Michel Cioran


Em todo homem dorme um profeta, e quando ele acorda há um pouco mais de mal no mundo... A loucura de pregar está tão enraizada em nós que emerge de profundidades desconhecidas ao instinto de conservação. Cada um espera seu momento para propor algo: não importa o quê. Tem uma voz: isto basta. Pagamos caro não ser surdos nem mudos...
Dos esfarrapados aos esnobes, todos gastam sua generosidade criminosa, todos distribuem receitas de felicidade, todos querem dirigir os passos de todos: a vida em comum torna-se intolerável e a vida consigo mesmo mais intolerável ainda: quando não se intervém nos assuntos dos outros, se está tão inquieto com os próprios que se converte o "eu" em religião ou, apóstolo às avessas, se o nega: somos vítimas do jogo universal...
A abundância de soluções para os aspectos da existência só é igualada por sua futilidade. A História: manufatura de ideais..., mitologia lunática, frenesi de hordas e de solitários..., recusa de aceitar a realidade tal qual é, sede mortal de ficções...
A fonte de nossos atos reside em uma propensão inconsciente a nos considerar o centro, a razão e o resultado do tempo. Nossos reflexos e nosso orgulho transformam em planeta a parcela de carne e de consciência que somos. Se tivéssemos o justo sentido de nossa posição no mundo, se comparar fosse inseparável de viver, a revelação de nossa ínfima presença nos esmagaria. Mas viver é estar cego em relação às suas próprias dimensões...
Se todos os nossos atos — desde a respiração até a fundação de impérios ou de sistemas metafísicos — derivam de uma ilusão sobre nossa importância, com maior razão ainda o instinto profético. Quem, com a visão exata de sua nulidade, tentaria ser eficaz e erigir-se em salvador?
Nostalgia de um mundo sem "ideal", de uma agonia sem doutrina, de uma eternidade sem vida... O Paraíso... Mas não poderíamos existir um instante sem enganar-nos: o profeta em cada um de nós é o grão de loucura que nos faz prosperar em nosso vazio.
O homem idealmente lúcido, logo idealmente normal, não deveria ter nenhum recurso além do nada que está nele... Parece que o ouço: "Livre do fim, de todos os fins, de meus desejos e de minhas amarguras só conservo as fórmulas. Tendo resistido à tentação de concluir, venci o espírito, como venci a vida pelo horror, a buscar-lhe uma solução. O espetáculo do homem — que vomitivo! O amor — um encontro de duas salivas... Todos os sentimentos extraem seu absoluto da miséria das glândulas. Não há nobreza senão na negação da existência, em um sorriso que domina paisagens aniquiladas.
(Outrora tive um "eu"; agora sou apenas um objeto... Empanturro-me de todas as drogas da solidão; as do mundo foram fracas demais para me fazer esquecê-lo. Tendo matado o profeta em mim, como terei ainda um lugar entre os homens?)

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o que mais me chamou a atenção no Cioran quando conheci o trabalho dele foi o fato de que mesmo quem como eu, não entende patavina de filosofia, ainda mais de filosofia contemporânea, que é extremamente hermética e exige um conhecimento profundo de todas as referências filosóficas clássicas e modernas, pode se interessar pelo trabalho do cara. Em alguns momentos, o texto dele parece mais um tipo de poesia em prosa do que filosofia no sentido técnico da coisa. E a força do texto é avassaladora, revelando coisas que só alguém que realmente mergulhou fundo na alma humana é capaz de enxergar e expressar. Coisas como:

"Empanturro-me de todas as drogas da solidão;
as do mundo foram fracas demais para me fazer esquecê-lo"

ou

"Mas viver é estar cego em relação às suas próprias dimensões..."

Por mais radical e extremo que possa parecer o niilismo de Cioran, ou concordando ou não com ele, o fato é que ele toca o dedo em feridas que a gente na maioria das vezes procura esquecer, ou ignorar. Taí uma coisa que eu quero fazer esse ano, e encontrar outra cópia de "Breviário da Decomposição", já que a que eu ganhei sumiu. Se alguém vir esse livro por aí em algum sebo, me avise.

12/28/2006

Ai, ai: é piada, sim: com a nossa cara

Ah, eu não resisti. O Jornal do Estado (www.bemparaná.com.br) tá bem bom de ler hoje, dá uma vontade incontrolável de rir, rir muito, da nossa própria cara e do que vem por aí em 2007 (e, infelizmente, não vai parar no 07). A parte política está “espicizi”, como diria um amigo. Vejam só: que o cara acusado de grampear gente em todo canto no Paraná, que trabalhava na sala próxima do excelentíssimo sr governador foi solto, “por engano”, numa sexta-feira que batia na porta do Natal, às 19h30 (como essa gente trabalha, não?!”). Se não fosse da nossa cara, o riso seria melhor, mas, a estas alturas do campeonato, tô optando pelo riso largo do que o choro, até porque isso não merece minhas lágrimas, então vou gargalhar da palhaçada. Em uma entrevista sobre os possíveis secretários da cultura, alguém intimou: “pô, a “classe artística” tem que se mexer, deixar de ser oportunista e se preocupar só em como garantir um pedaço do bolo”. E, olha, não fui eu que falei, não, foi um artista, uma pessoa, engajada que sabe do que tá falando muito, mas muito mais do que eu, porque tá nas mesas de bar, nas reuniões a porta fechada, nas conversas entre amigos.... o problema é que não é só os artistas, é pra todo lado essa esculhambação. O paranaense adora falar mal do Lula, mas não olha o próprio rabo, não vê o que acontece bem alí no Centro Cívico, na capital, faz vista grossa pro descalabro, pra arrogância, pro pedantismo e pro gangsterismo, porque isso que se falou no começo é crime, não é brincadeirinha, não...
Mas, vamos rir mais um pouco. A coluna Toda Política, do JE, alerta: não é piada: policiais em guarapuava colocaram cerca elétrica pra defender as sedes da polícia e a PF contratou empresa de segurança... Ah, vai dizer que não é engraçado isso? É sim, eu dei muita risada, foi bom, comecei o dia em alto astral, pensando que eu posso ficar bem sossegada: hoje tá um dia bom, 2006 tá acabando. Pode saber, tudo vai ficar piorar... por isso a Regina Casé, no Central da Periferia de sábado passado (eu gosto dela sim, e desse programa, gosto do jeito que ela mostra outras realidades, gosto mesmo!)fez bem em desejar a todos CORAGEM, MUITA CORAGEM. Faço minhas as palavras dela, porque é do que vamos precisar para ENCARAR esse nosso futuro de frente!!!!.

Ps. André, li em Parati, um belo livro do Henry Miller, ano passado.
Big Sur e as Laranjas de Hieronymus Bosch é meio briográfico, sobre um lugar lindo,próximo de penhascos, onde ele viveu. Foi o gancho dele pra falar espetacularmente bem de pessoas incríveis. gostei. agora faltam os clássicos dele...

12/26/2006

o natal já foi... agora é 2007

Terça-feira. O céu de curitiba tava tão bonito hoje de manhã, antes das 9. parecia aquele céu de um azul tranquilo de quando a gente tá chegando, cedinho, naquela praia sossegada, fora de temporada, sem tumultos. Tinha umas nuvens, mas elas compunham perfeitamente. Ônibus nem tão cheio, consegui até sentar. E a relativa tranquilidade, me fez pensar nesses dias em casa, o primeiro natal na nosso canto, brigadeiro, heineken, cigarrinhos, tigra, lu, dogui e baby... meu vô querido já foi conhecer e deu sua (imprescindìvel, pra mim) benção. Vim pensando nisso tudo, no embalo do ônibus sem correria, um solzinho já meio quente pondo lenha na fogueira......
há exatos 11 anos entrei pra ficar numa redação de jornal. Meu primeiro emprego com tudo certinho legalmente. Tava apavorada, mas decidida a agarrar minha última chance – já tinha desistido, na verdade, mas nem a mim eu obedeço.... deu nisso.
O meu natal também teve mário bortolotto. Terminei de ler as suas crônicas, Atire no Dramaturgo. A maioria eu não tinha lido no blog. O mário é engraçado, mas não o engraçado de fazer rir. Um outro tipo de engraçado, um engraçado que às vezes fica entalado na garganta, porque não dá pra rir do que ele escreve,não. Mas, de vez enquando dá pra ficar irritada... só que daí, logo adiante, ele dá outra rasteira certeira em algum tipo de lembrança coletiva (nem somos da mesma geração, hein) e bota à tona certas sensações incômodas, quase sempre, porém, comoventes. e como não abrir um sorriso, meio torto, não querendo ser, para concluir que o filho da mãe tem razão...
Esse jeito de ser ele mesmo, é de doer. Fico confusa, em algumas passagens. Com um tanto de raiva, em outras, pra logo perceber que não é raiva, não, é só ser obrigada a concordar com ele que certos tipinhos humanos tão mesmo devendo à vida. Eu não trouxe o livro comigo e,portanto, não vou citar trechos, embora vários merecessem citações. Resumidamente, acho que é a vida, toda irregular e confusa que salta das páginas de Atire no Dramaturgo, carregadas de verdades que não valem pra todos, mas que são preciosas; arranhões, cortes profundos, mentiras sinceras, verdades distorcidas, olhares cansados, vontades renovadas... é muita vida, nem sempre do jeito como a gente gostaria.
Gosto principalmente do jeito que ele não julga exatamente aquelas pessoas que seriam as "genis fáceis". Como ele entende o pai, se solidariza com a mãe. Como ele ama os amigos (errados?), como ele se declara, discreto, e meio sem jeito, à Fernanda; como ele se condena e se redime sob sua própria ótica, dolorida e dolorosa, mas sempre muito viva, muito vida. Não gosto de tudo, tudo o que o Mário escreve no blog, não. Gostei muuuuuuuiiiiiiiiito de vê-lo no palco e também gosto muito de Bagana na Chuva. Se troquei uma dúzia de palavras com ele, até hoje, foi muito. Mas,já tomamos cervejas na mesma roda de amigos – e tive(mos) o prazer de tê-lo lá em casa no primeiro churras. Até achei que não terminaria seu Atire no Dramaturgo. Pois, terminei. E gostei, gostei muito das suas palavras tão reais, tão sorrateiramente paupáveis. Agora sinto esse gosto de vida no céu da boca, nem sempre doce, nem sempre amargo. Também procuro meu silêncio, quero não falar, quero olhar. Não importa, os dias seguem. E outro ano está batendo a porta e espero sinceramente que tenhamos CORAGEM pra encará-lo de frente, olhos nos olhos, cheios de amor (e de ódio, também, sim, se preciso for).
Adri perin