2/28/2007

Charme Chulo: vivendo e aprendendo

Jonas Oliveira
Jornal do Estado

A banda curitibana, nascida em 2003, é uma das mais prestigiadas neste começo de ano, em que a cena local vive outro bom momento


Adriane Perin
A banda curitibana Charme Chulo que lança seu primeiro disco ainda em março começou o ano conquistando o aval da revista Bizz

Já está pronto e ainda este mês os fãs poderão desfrutar do primeiro álbum propriamente dito, da banda curitibana Charme Chulo, formada em 2003 por Igor Filus e Leandro Delmônico. Hoje acrescida de Rony Jimenez e Peterson Rosário é uma das formações mais prestigiadas da cidade no circuito alternativo nacional, com uma proposta pop de qualidade, com referências que vão do rock inglê a música caipira brasileira. Entre as mais recentes boas repercussões, foi citada na edição de janeiro da revista Bizz, entre as “bandas que a gente gostaria que dessem certo em 2007”. Não é acaso. Desde o começo, quando a dupla original começou a ir nos shows de outros grupos locais, a Charme Chulo soube fazer tudo certinho, sem arrogâncias e com estratégia – a começar pelo ótimo nome.
“A gente foi se enfiando na cena”, conta Leandro, lembrando que um empurrava o outro para chegar junto dos mais experientes e de produtores de festivais. “Lia o que você escrevia das bandas daqui, tinha o Rock de Inverno e decidimos procurar “essas pessoas”. Era engraçado porque víamos você e o Ivan (NR. Ivan Santos da banda OAEOZ e também produtor do festival Rock de Inverno, no qual o Charme tocou em 2004 e foi um dos destaques) e um dizia pro outro ir falar. A cena autoral curitibana nos inspirou, sim”, diz Leandro, e emenda. “Quando fui no Rock de Inverno e quando ouvi a Pipodélica foram momentos em que pensei: no underground tem bandas melhores que no mainstream e isso mudou minha cabeça”, conta.
Porém, não se pense que eles querem ficar em algum nicho alternativo eternamente. A Charme Chulo sabe onde quer chegar. E pode, acredite, chegar lá. “Los Hermanos não precisa ir num Faustão para ter um público fiel. Conquistamos fãs e mídia, mas ainda temos muito a fazer, não passamos por uma MTV. Não que com o disco queiramos chegar ao Faustão, mas queremos ir o mais longe possível. Não quero que soe arrogante, mas queremos, no mínimo, ser reconhecidos na história da música curitibana, paranaense ou brasileira.”, diz Leandro. A Pipodélica citada pelo Leandro é a banda catarinense de Eduardo Xuxu, que assina a produção do álbum que está prestes a sair pelo selo Volumeone, de São Paulo. Ele foi escolhido, conta Igor, porque gostou da banda a ponto de se oferecer para produzir. Os rapazes chegaram a conversar com Philipe Seabra, mas acabaram optando pelas afinidades mais evidentes. “Nosso EP foi produzido pela gente com pitacos de amigos. Era importante ter alguém de fora. Somos uma banda pop mas com uma sonoridade diferente, então o produtor tem que querer mesmo”, comentam os dois, se completando nas razões.
Para o amadurecimento notado na Charme Chulo, a quantidade de shows, especialmente ano passado, foi decisiva e o resultado se mostra no amadurecimento de Igor, vocaista, das letras, da sonoridade e da performance, cada dia mais segura nos palcos – onde eles já vêm, desde ano passado, mostrando músicas novas. “Antes a gente tinha medo de falar com o público. Ainda temos, mas já melhorou”, conta, entre risos, o guitarrista Leandro, que também usa muito bem uma viola. O álbum vai ter apoio de selo, mas Igor e Leandro sabem muito bem que a trabalheira vai só aumentar. “Selo é complicado, porque são pessoas com boa vontade mas sem grana e nem muito tempo. Disco se vende em show. O que o selo vai ajudar é pagar as contas da prensagem”, explica o guitarrista, cuja banda optou por não assinar com a distribuidora Trattore. “Encarece muito. Do que adianta ter disco caro em todo lugar do Brasil e não ser conhecido? E quem vai pagar R$30 por disco de banda independente?”. Igor completa: “Tudo está correndo dentro do planejado. Fazemos música por música e esse foi o momento do disco chegar, amadurecida a idéia de banda. Foi demorado? Pois é, essa é nossa realidade”. Sobre a citação da Bizz, Igor e Leandro avaliam com a corriqueira humildade.
O legal é que foi tudo natural. Eles não são amigos de jornalistas, nem têm um assessor de imprensa ligando para os tais. É outro bom momento da cena curitibana que neste começo de ano tem pelo menos outros dois grupos em destaque – Terminal Guadalupe e Faichecleres, que daqui a pouco estará na revista Outra Coisa. Para Igor isso é, óbviamente, resultado do trabalho de muitas bandas. “As pessoas falam em se unir, mas não dá pra forjar um movimento, como alguns gostariam. Cena é consequência de cada um trabalhando, sem picuinhas, sem dor de cotovelo”, diz.

5 comentários:

Anônimo disse...

tb acho, sem picuinhas e com respeito as pessoas e as bandas, que de alguma forma auxiliam ou auxiliaram nesse caminho. o resto que se foda.

Anônimo disse...

muito boa a matéria. é o que mais me impressiona no charme (olha a intimidade), além do talento e da música, é a maturidade precoce. muito boa a declaração final do Igor. sempre pensei assim. esse papo de "precisamos todos nos unir" é caô. as pessoas se aproximam por afinidade, por interesses mútuos e identificação. quem quer realmente fazer as coisas não precisa ficar com discurso, demagogia. vai lá e faz. o charme é um exemplo disso, o ruído (e sua corporation) outro. e muitos outros. e vamo em frente. e continua a campanha: "adriane, escreva mais aqui no blog". alguém adere?

Túlio disse...

de longe uma das bandas mais simpáticas de curitiba, quiçá do brasil.

Anônimo disse...

De fato, o raciocínio do Ígor - reforçado por Ivan - é correto. Tentei participar de algumas iniciativas locais em busca da tal unidade e... Lhufas! Sobre o Charme Chulo, além do talento, algo que somou foi a orientação musical e midiática dos jornalistas Abonico R. Smith e Christian Schwarz (é assim que se escreve?). Ambos foram muito importantes em várias fases do grupo, a exemplo do baixista Rubens K. Já disse antes e vou repetir: Leandro Delmônico é um dos melhores guitarristas de sua geração. Sou fã dele.

Anônimo disse...

Acho que o Charme Chulo ainda vai dar o que falar no Brasil. E concordo com o Dary que o Leandro é o melhor guitarrista dessa geração do rock independente!