1/31/2007

Quando ter uma banda é terapia de grupo

Jornal do Estado

A gaúcha Monodia está com disco novo, que não vai ser vendido em lojas mas pode ser baixado na internet gratuitamente, no site do grupo

Adriane Perin

Divulgação/Fabio Alt

Na internet estão disponíveis oito faixas, mas o segundo disco da banda gaúcha Monodia, que não está nas lojas do ramo, vem com 12 faixas. É um álbum de 2006. E não é um disco qualquer. Porém, praticamente ninguém se deu conta do “lançamento” de Esquerdo, que tende a ser uma daquelas pérolas pouco conhecidas, do independente brasileiro. Nele as coisas são meio assim: se o artista não está no circuito mainstream (sic) do alternativo, nem é do tipo que se ufana, acaba despercebido. Trata-se de um álbum – ou EP, se preferir, afinal não foi prensado, nem tem esquema de distribuição – terminado em casa. Mas, tem nos créditos nomes fortes da produção independente, o também gaúcho, Thomas Dreher.
A primeira vez que ouvi Monodia foi quando Desirée Marantes veio para tocar no festival Rock de Inverno 5, com a Deus e o Diabo, da qual é violinista. Na Monodia, ela é “mulher de frente”, no sentido, também, de quem corre atrás nos bastidores. Naquele primeiro disco de 2003, havia uma força latente em melodias de jeito meio sombrio - na mesma praia sonora da DeoD e Blanched, conterrâneas que também não trafegam pelas sonoridades do rock gaúcho clássico. Com Esquerdo, ainda em Mp3, fiquei meio zonza. Puxa vida, pensei! Como ninguém ainda descobriu esse disco? Compositora da maioria das faixas, Desirée também canta. Divinamente, como que sussurrando segredos que só quer dividir com a gente. Esquerdo tem um astral introspectivo, é como se ela falasse pra ela mesma se conhecer mais. E quando a gente ouve, são letras que provocam um gelo no coração, com suas melodias de uma beleza um pouco melancólica – mas esta palavra pode enganar, porque não é aquela coisa cool de bandas que fazem da melancolia um status. Não, Monodia, não tem essa melancolia plástica e não é exatamente triste. Soa despida de vaidades (“Um dia/ espero/ que você/ aceite/ que eu sou assim/ sem nada demais”). É dificil saber o que cria essa relação mágica, que faz o corpo tremer quando se ouve uma canção, “sem nada demais”. Monodia também tem seus momentos Mercury Rev da primeira fase, dos experimentais de Beck e John Frusciante. Também conversa com DeoD, Blanched, OAEOZ.
Alternativas — A rotina da Monodia é aquela de bandas cujos integrantes fazem música por pura possessão, porque parecem não ter o livre arbítrio de sair fora, por maiores que sejam os percalços. “É a sina de qualquer banda independente sem grandes pretensões pop. Trabalhar e ganhar dinheiro tendo uma vida “normal” para sustentar o vicio da música (se bem que prefiro dizer terapia)”, nas palavras de Desirée. Entre um show e outro, sem atrapalhar estudos/trabalho, Ernani Fração , Claus Pupp e Carlos Wolff concentram energias em “compor mais para ter um repertório legal, evoluir como banda, fazer bastante ensaios (que é onde a gente se diverte) para, quem sabe, fazer outro disco em 2007”, completa. Gravar Esquerdo foi um desafio, em 2005, ano dedicado a composição e ensaio para chegar tinindo nas gravações ao vivo, em dois dias de fevereiro passado. “O Thomas é o cara que se você falar pra por o microfone no cano do ventilador para pegar o barulho, os olhos dele brilham”, conta.Com o Monodia, ficou assim: “O baixo foi gravado sem amplificador, em um canal em linha e outro numas caixinhas de computador microfonadas ”, conta Desirée, sobre como foi resolvido o “mau contato do baixo”. “Então foi guitarras com amplificadores valvulados e baixo na caxinha do computador microfonada”, comenta, entre risos. Gravação de vocais, violinos e mixagem foram feitas na casa dela. “Improviso II” foi composta durante a gravação. “Considero um exemplo de como estávamos inspirados. Acho que o conjunto das músicas ficou bonito e simples, fora que eu, pessimista como sempre, nunca acreditei que seríamos capazes de fazer um *disco*”, confidenciou, por email. “Deve ser coisa de quem acha que disco de verdade são os álbuns conceituais do Pink Floyd. Acho que escutei o Wish you were here demais”, diz, sobre o álbum que foi também um pouco escola para eles.

Serviço
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Um comentário:

Anônimo disse...

ivan , nao sei se to descobrindo tarde, mas acabo de baixar o "aystelum" do ed motta. john coltrane ficaria orgulhoso. porra, um puta disco. vale conferir. tem no emule. abraço