4/03/2009

O que o nosso tempo tem a dizer em forma de som

Bem Paraná/Jornal do Estado

Dizer que são bandas de ponta, neste caso, não é um vício de escrita

Adriane Perin

No palco do John Bull Music Hall, sábado, é dia do encontro de três bandas de ponta do circuito independente da atualidade: a curitibana Ruído/mm e as paulistas Cérebro Eletrônico e Guizado, estas duas, pela primeira vez na cidade. E preste atenção, leitor, dizer que são bandas de ponta, neste caso, não é um vício de escrita. Estas são, efetivamente, três formações em evidência pela sonoridade que colocam em cena - e o encontro mostra bem como a capital, neste quesito, está sintonizada no seu tempo – muito graças às bandas que continuam “se produzindo e se convidando” .

O Cérebro Eletrônico tempera seu som com um ironia direcionada ao egocentrismo que alimenta muito artista por aí, calcado em uma sonoridade que, primeiro de tudo, lembra Mutantes e a fase mais experimental de ícones da música brasileira. Mas, é só dar uma batida de olho nas influências para perceber que essa constatação é só a mais óbvia. O mix do disco de estreia Pareço Moderno, tem cara pop, usa levadas eletrônicas, e não dispensa o rock. Fernando Maranho, Fernando TRZ, Isidoro Cobra e Gustavo Souza são os caras que tocam junto com Tatá Aeroplano - o idealizador -, uma moçada que circula por vários projetos bem cotados. Foi do duo dele com o guitarrista Fernando, amigo de infância, que veio a banda. “Lançamos um disco todo gravado em casa e decidimos ter mais acompanhamento. Acabou virando banda mesmo, todos colocaram suas personalidades e referências”, conta Tatá, dizendo que agora o projeto é prioridade. “O disco chamou a atenção porque tem vários ingredientes que funcionam bem. Tem a ironia, mas tem também o romantismo, o lirismo, canções pop”, avalia. A moçada já está pensando em novo trabalho e deve mostrar 3 ou 4 novas composições. “É importante hoje ter uma constância na produção musical”. Importante também é circular e se articular, já que hoje em dia a banda não pode ficar numas de esperar. “Existem pessoas pensando a cena alternativa e vivemos uma realidade em que o artista tem que ser tudo e não se deslumbrar”.

Se o Cérebro tem canções e uma levada meio pop, o Guizado é experimentalismo psicodélico. Se tem gente de outros projetos, Guizado tem Lucio Maia, da Nação Zumbi e Regis Damaceno e Rian Batista, do Cidadão Instigado. Precisa mais? O trompetista Guilherme Mendonça, quem começou essa história, conta ainda com o amigo das antigas Curumim, na batera. Só a formação, na boa, neste caso concordo com o assessor de imprensa, é garantia de bom show. São todos músicos profissionais acostumados a fazer altas sonzeiras em palcos e discos. “Eu não queria que fosse Guilherme e banda, e esse nome – que é um prato de carne cozida em seus próprios liquidos, em seu caldo – virou conceito”, conta ele, que vinha alimentando a vontade de investir no trabalho autoral. “Quando começou a tomar forma, era eu e Curumim na bateria, e bem experimental. Fomos entrando num acordo, colocando baixo, guitarra e sacando como ficava. Hoje eu dou uma direção e todos criam”, completa ele que quer lançar o disco de estreia, Punx, em vinil. “Gravamos em fita de rolo, 16 polegadas, uma gravação bem analógica que ganharia em vinil”.

Mas, o tempo não pára e também eles já estão com a cabeça no novo trabalho. “Em uma eu canto, é natural que exploremos esse lado também, mas não pensamos no modelo com refrão e estrofe. Não vamos perder a pegada experimental”, assegura. E qual o futuro de uma banda com músicos tão solicitados? “O Guizado tá começando a se conectar, estão aparecendo convites com cachês melhores, a idéia é até pegar um empresário...”

Sobre a Ruído, vai tocar para moçada que já sabe do que eles são capazes, com repertório novo e na pilha dos shows recentes (muito bem) feitos em São Paulo. Não tenha dúvida, vai ser uma noite preciosa para quem gosta de boa música e mais instigante ainda, para quem gosta de conhecer o que o nosso tempo tem a dizer musicalmente. (AP)

Serviço
Cérebro Eletrônico, Guizado e ruído/mm.
Dia 04. R$20 (meia entrada válida tambémpara doadores de 1kg de alimento. John Bull Music Hall. (R. (Eng. Rebouças, 1645). Informações: (41) 3013 2700 / 3013-2707

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