
Por uma dessas razões que razão desconhece, me veio esses dias a vontade de ouvir o disco do Sofia, que a De Inverno lançou em 2002. Pra quem não sabe, o Sofia era uma banda formada pelo vocalista e letrista Edson Ramos, o guitarrista Emerson Gus Macedo e o baixista Normando Spangler, e que no disco teve ainda Osmário Júnior (grande baterista também das lendárias CMU Down e UV Ray).
Conheci os caras antes, quando eles tinham outra banda, o Loaded, que tocou no primeiro Rock de Inverno, e que tinha as letras em inglês. Com a parada do Loaded, eles montaram o Sofia, já com repertório com letras em português, o que foi ótimo, porque o Edson escreve muito bem e isso só ficou ainda mais evidente com a mudança.
A estreia ao vivo do Sofia foi no Rock de Inverno 2, no auditório Antonio Carlos Kraide, em 2001. O primeiro e único disco “cheio” deles foi lançado pela De Inverno no ano seguinte. Lembro que o show de lançamento foi na antiga sociedade Portuguesa. A banda de abertura foi o Íris – que fez sua estreia ao vivo nessa noite.
Reouvir esse disco depois de tanto tempo é uma experiência emocionante mas também muito difícil. É inevitável se deparar com lembranças de tempos mais ingênuos e leves, em que a gente parecia ainda acreditar em alguma coisa que não sabia exatamente o que era, mas que de alguma forma nos empurrava pra frente.
“ao lembrar de mim
não ouça o que gravei
não leia o que escrevi
não procure minhas fotos
não procure saber se estou vivo
não bata à minha porta
não perca seu tempo”
Dá um orgulho danado ouvir de novo as canções desses caras e saber que a gente colaborou pra que isso pudesse ser registrado e apresentado. O CD incluía também um vídeo que o Marcelo Borges fez a partir de imagens gravadas pelo pioneiro cineasta do Paraná, Aníbal Requião, captadas em Curitiba, no final do século XIX. Coisa de gente metida a besta! (rs)
Ripei hoje o CD e fui ouvindo no ônibus. Em alguns momentos foi difícil segurar o marejar dos olhos, porque aquelas melodias são tão familiares, carregam tantos sentimentos e sensações de coisas que a gente viveu que sei lá, não tem como descrever. Quando desci descer do ônibus e começou a tocar “Tarde”, uma das minhas preferidas, não teve como segurar, parado esperando o sinal abrir, vieram as lágrimas, mal disfarçadas, sentimentos em erupção.
“não pergunte quanto tempo faz
não há tempo que dê tempo ao querer depois
não há modo, que dê forma ao não feito
não há sentido em fazer valer o não dito”
Desde a primeira vez que eu vi o Loaded, fiquei impressionado com a postura e a performance do Edson. No palco, aquele cara tímido e retraído se transformava em um dínamo de emoção e sentimentos à flor da pele, te hipnotizando. A seu lado, Gus desenhava melodias e fraseados sutis, mas perfeitos dentro do que as canções pediam. A mudança para o português com o Sofia só potencializou ainda mais o impacto emocional das apresentações dos caras.

Há muito tempo não vejo o Edson. Acho que a ultima vez foi no Rock de Inverno 5, em 2004, ou seja, longos seis anos. Gus nos deixou no ano passado. Mas ouvi-los traz uma sensação de conforto e familiaridade que parece que a gente continuou tão próximo quanto antes. Saudade desses caras. E mais ainda, saudade de um tempo em que a gente parecia menos “conectado” com o mundo, e mais perto de nós mesmos e dos que sonhavam (e viviam) o mesmo sonho que a gente.
“ao lembrar de mim
não deixe de olhar o sossego dos cães e gatos
não deixe de sorrir como criança
caminhe sob a chuva
olhe para as nuvens
beba sua bebida preferida...”
valeu Edson, gus, normando, jr pelas grandes canções e momentos juntos (mesmo distantes). e vocês tem razão. "não há sentido em fazer valer o não dito". e não há sentido em deixar pra depois, o que deveria ser dito enquanto a gente pode. enquanto as pessoas que a gente gosta e admira estão aqui. porque não há segunda chance, não há volta, "não há tempo que dê tempo ao querer depois".
pra quem quiser baixar o disco dos caras
ele tá todo aqui na trama virtual