2/06/2008

Pra quem ainda gosta de canções

O Tulio deu a dica, fui atrás, baixei e já me deslumbrei com o novo disco do Nada Surf, Lucky. Concordo com ele quando diz que eles são o tipo de banda que ao invés de se propor a reiventar a roda a cada disco, prefere se concentrar naquilo que faz de melhor: belas canções, refrões grudentos, melodias refinadas e tal. No mais discordo dele. Acho sim genial o trabalho dos caras porque o que mais me chama a atenção é justamente essa simplicidade e bom gosto tão em falta na música pop atual.
Aliás me irrita essa coisa de hoje em que muitas vezes você percebe que o “conceito” é mais importante do que a música. Um exemplo claro disso é o último disco do Radiohead. Se falou mais da estratégia de marketing e de venda pela internet dos caras do que do disco em si, das músicas. O que não deixa de ser um enorme contrasenso.
Pois da minha parte sinto falta justamente de artistas/bandas que privilegiem boas canções, melodias. Enfim, música que faça a gente se sentir melhor ou nos dê vontade de pegar o violão e tentar fazer algo tão bom. Afinal, tem horas que tudo o que você quer ouvir é uma boa canção, e não alguma mistura de funk carioca com música folclórica da mongólia ou newposacidoscambau. E boas canções não faltam para o Nada Surf.
Na verdade, com o perdão do trocadilho infame, eu não dava nada pra banda até descobrir, há uns dois anos, o “The Weight Is a Gift”, disco anterior dos caras, que a gente recebeu e quando eu ouvi foi daqueles discos que fui gostando mais a cada audição, até se tornar um dos meus preferidos dos últimos tempos. Tanto que não dei bola quando eles vieram tocar aqui na época porque ainda não tinha sido “capturado” pela beleza desse disco. Se fosse hoje com certeza eu estaria na primeira fila do show.
E acho esse Lucky tão bom ou até melhor que o anterior. A qualidade das canções e melodias continua a mesma. As belíssimas harmonias vocais, os arranjos sutis, enfim está tudo lá. Mas sinto que eles estão arriscando mais nesse disco, tentando ir além e chegando perto do sublime.
Me chama a atenção ainda o fato de que o disco não tem nenhuma música ruim. Pode ter umas melhores e outras menos, mas todas são belas. O que é muito raro hoje em dia, um disco pra se ouvir assim, do começo ao fim, sem pular nenhuma faixa. Desde a primeira, “See the bones”, com seu baixo marcadão e seu início climático, passando pelas melodias à la beatles de “Whose authority”, e “Beatiful beat” – essa última com uma daqueles refrões grudentos que fazem a alegria de qualquer amante da melodia como eu.
Pois depois desse começo incrível os caras ainda engatam uma seqüência inacreditável a partir da faixa 5, “Weightless”, que começa com um riff/levada power pop e cai em uma parte lenta, alternando dinâmicas de uma forma absolutamente orgânica para acabar em um arranjo vocal arrebatador de fazer derreter os corações mais insensíveis. Essa obra-prima é seguida de outra não menos poderosa, “Are you lightining”, que começa como uma balada com uma levada country e guitarras slide que lembram um pouco coisas como Mojave 3 e Galaxie 500, pra terminar em outra maravilhosa performance vocal e backings daqueles que dá vontade de sair e pegar a estrada ouvindo essa música até o fim dos dias. Depois ainda tem outra bela canção pop/folk, “I like what you say”, e por aí vai. E depois, quando você pensa que já ouviu o melhor do disco vem "The fox", com uma bateria quebradaçada e outro show de harmonias vocais, em um arranjo que cria uma tensão e uma atmosfera que bem poderia figurar nos clássicos "Ok Computer" ou "The Lamb Lies Down on Broadway" (último do Genesis com o Peter Gabriel, de 1974).
Enfim, outro belo disco cometido pelo Nada Surf, que fez meus dias de carnaval mais felizes. Pra quem só quer ouvir boa música, sem bula conceitual ou hypes descolados.
Essas e as outras músicas de Lucky podem ser ouvidas no My Space do Nada Surf.

4 comentários:

Túlio disse...

Acho incrível a voz do cara... nem sei explicar... é apenas melodiosa!

Anônimo disse...

Por incrença que parível, o Nada Surf tocou em Taubaté quando passaram pelo Brasil. Foi um belo show, mas o setlist não estava bem montado. Ficavam alternando baladas e pauladas... Entretanto, fecharam com "Hyperspace", que, pra mim, é uma das melhores canções dos anos 90, fácil.

O meu soulseek já está tomando providências a respeito da audição desse Lucky. =)

Grande abraço!

Anônimo disse...

Pro radiohead falar das músicas já não adianta mais...elogiar é redundância...sobra falar de mkt e publicidade...hahaha...esse disco vou baixar, não conheço muito. Fui ao show e achei a banda bem fraca, na realidade. Mas, tudo muda neste mundo, certo?
abss

Anônimo disse...

discordo André. o problema é que no Radiohead, o marketing ficou maior que a música.