10/15/2007

“Só o amor vai fazer você melhor”


OAEOZ e Rubens K - Meg & John


Giacarlo Rufatto - Venha comigo

E o show dos dez anos do OAEOZ veio e se foi. Tanta coisa passou pela minha cabeça pra dizer sobre isso nos últimos dias, desde a quinta-feira a noite, mas agora deu branco. Como disse a Adri aí embaixo, ficou só um imenso vazio, uma sensação de que tudo se dissolveu, desceu pelo ralo, escorreu até o bueiro mais próximo e desapareceu. Como se o show tivesse sido uma espécie de expiação, de exorcismo, de acerto de contas comigo mesmo. E agora, passado isso, não há mais nada pra dizer. Queria eu ter o talento de um Leonardo Vinhas (grande Leo) pra exprimir tudo o que senti nesses dias desde os primeiros ensaios até o show e depois o churras no feriado. Mas não tenho e não sei se tenho também força e vontade de fazer isso.
Me lembrei do show do Nirvana no holywood Rock, no RJ, em 1994, que eu revi esses das em dvd, e no qual, depois de tocar durante inacreditáveis 2 horas e 20 minutos de um show inacreditavelmente intenso, o Kurt Cobain simplesmente se abaixa, coloca a guitarra no show e sai engatinhando do palco, sem dizer boa noite, tchau ou qualquer coisa. Como se dissesse "taí, tudo o que eu podia fazer, mostrar, entregar, minha alma e meus sentimentos mais profundos, taí, não tem mais nada pra dizer", só resta se arrastar de quatro pra fora do palco em busca de um pouco mais...

Enfim, no momento, o que me ocorre é só dizer o óbvio, que o show em si foi ótimo, correu como a gente planejava, com exceção da participação do André que não rolou por que ele não conseguiu retornar à tempo da viagem, mas tudo bem. E da mesa de gravação de áudio que deu pau e não gravou nada. Nada que comprometesse a apresentação em si.
O fato de ter tido pouca gente (cerca de 50/60 pessoas) também é o de menos. Como eu comentei, há muito tempo eu deixei de alimentar qualquer tipo de expectativa, ou esperar qualquer coisa do público de Curitiba. Até porque mesmo assim ele sempre consegue me surpreender negativamente. Mas quem importa, os nossos amigos, estavam lá. E no final, é isso que fica, a música e os amigos que a gente faz pelo caminho.
Mas voltando ao show, foi muito legal revisitar todas aquelas canções – quatorze no total – e mais uma vez confirmar a força que elas têm de dizer e contar as nossas histórias. Até hoje me emociono, por exemplo, quando ouço ou toco o refrão de Contato: “a cidade dorme pra ela poder dançar/ no meio da rua/ como uma onda movida pelo vento/ como uma brisa que faz/ a onda se quebrar”. Tenho o maior orgulho de ter feito parte disso. E fico feliz, sim, muito feliz de saber que um cara como o Igor, que estava há um bom tempo afastado dos palcos, voltou a eles novamente pra tocar com OAEOZ.
E também fico muito feliz de tocar uma música como Meg & John, que nasceu lá nas nossas despretensiosas lisergic brainstorms do apto no edifício Tijucas, enquanto lá fora rolava o coral do antigo Bamerindus. E de colocar o Rubão pra cantar ela com a gente. E ver a satisfação dele em estar ali com a gente, a ponto de ter feito o terminal desmarcar um show em Londrina só pra estar lá com o OAEOZ. Valeu Rubão, você sabe, não preciso falar nada.
E ver o Leo Vinhas se abalar junto com a namorada lá de Foz do Iguaçu, só pra estar com a gente nesse show é algo que faz tudo o mais sem sentido, menor, desimportante. Ver ele deitado no chão do porão enquanto a gente tocava Dizem. É como o Gian comentou, "mas vocês têm um cara que vem de Foz pra cá só pra ver oaeoz”. E é real. Total real. Com o OAEOZ sempre foi assim. Não tem meio termo. É “ame-o ou deixe-o”. Não tem tapinha nas costas, nem mãozinha na cabeça. Não gostou, sai fora. Vai procurar tua turma. De gente medíocre eu quero distância. Como diria o Kerouac, para mim, interessa mesmo “são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício”.
A verdade é que apesar de todo o cansaço, desgaste, vontade de “jogar tudo pro alto, abandonar, fugir, me esconder, desistir”, não existir, dez anos depois daquela fatídica tarde de sábado, 11 de outubro de 1997, quando eu o Igor e o Camarão nos reunimos a primeira vez na casa verde do campina do siqueira, acho que nunca senti tanto prazer e toquei com tanta consciência quanto nesses últimos dias de ensaio e no show dos dez anos propriamente dito. Consciência de como aquelas canções são importantes pra mim, fazem parte da minha vida, estão impregnadas no meu corpo, no meu suor, na minha respiração. Afinal, além da Adri, da minha mãe, minha irmã, e meus amigos, elas são tudo o que eu tenho na vida. E no dia em que eu não estiver mais aqui, quando alguém quiser lembrar de mim, é só colocar uma delas pra rolar. Sei que pouca gente ta interessa nelas. Em um mundo em que a música virou um arquivo sem rosto, sem cara, muitas vezes até sem nome, há pouco ou nenhum espaço para uma música tão pessoal e passional como a do OAEOZ. E isso não é uma reclamação, não, longe disso. É apenas uma constatação óbvia. E por mais que possa parecer o contrário, isso já não importa mais. Porque nada nem ninguém pode me tirar o prazer e a satisfação de saber que eu ajudei a criá-las, a coloca-las no mundo. O prazer de tocar e ouvir uma canção que te emociona e traz de volta sentimentos que estão ali aprisionados como numa caixinha de música. E a satisfação de que mesmo que apenas para muito poucos, essas canções fizeram algum sentido, e ajudaram de alguma forma algumas dessas pessoas a sentirem melhor, mais vivas, com vontade de chorar e estar com quem se ama, de ligar praquele amigo que há muito tempo você não vê. “Voltar pra casa e se desculpar/olhar nos olhos/sentir vontade/de abraçar forte”. É isso na verdade o que importa. O que fica, as canções e os amigos que a gente conquistou nesse tempo todo. As risadas, as viagens malucas, os amanheceres embriagados, as luzes da estrada, “a chuva que cai fazendo a noite um pouco mais vazia”, como diz o Gian. Porque um dia, tudo vai acabar. Como já dizia o antigo compositor baiano hoje ministro: “o sonho acabou/quem não durmiu no slepping bag nem sequer sonhou”.
Nós do OAEOZ, ousamos sonhar, e bancar esse sonho. Até o fim. Até o limite das forças. Até não ter mais nada pra dizer, como nesse texto longo e sem sentido. Vomitado. Esvaído. Porque desde o começo, só e tudo o que eu queria mesmo "era fazer uma canção pra você".





O set list final

De inverno
Recado
Contato
Me apaixonei por uma burguesa
Monumentos sem cabeça
Disco riscado
Meg & John
Talvez
Waking up
3h30
Dias tortos
Canção para oaeoz
Dizem
Lembranças (não valem nada)

e agora, é descansar um pouco, terminar o disco de estúdio, o ao vivo no Grande Garagem. e dia 30, pra fechar o ano, a gente toca no National Garage, no novo 92. Nos vemos lá.

10 comentários:

Anônimo disse...

é muito foda isso tudo... sinto minha vida pulsando em cada canção e talvez por isso, depois de cada uma das que fazem a trilha desse meus dias, eu me sinta assim... já é segunda, já trabalhei ontem e hoje e continuo me sentindo assim. nem música to querendo ouvir por hora. tá difícil. quero mesmo esses pássaros que cantando forte atrás de casa, nem parece que cantam em plena curitiba, cidade grande.

Anônimo disse...

mas meu dia teve uma conversa legal, com um cara que mostra sempre que é impossível parar: Chacal, o poeta carioca, que me chama de Drix, que diz que sou guerreira como o mundo precisa de um jeito tão sossegado, voz baixa, no meio da entrevista.logo ele, que é o tipo que olha nos olhos , diz isso e me deixa até sem graça... e quando vejo to especulando sobre se seria muito caro traze-lo pra Curitiba lançar seus novos livros. "Só a passagem", diz tão simplesmente e já me fazendo sonhar (e acordada,como ele ensina, que é pra não ficar só no sonho, né Chacal?). Só a passagem... e é um poeta com 50 e tantos anos, com uma linda história de bem antes da gente botar os pés na terra. Ele não desiste. E eu já fico sonhando de novo... só a passagem... só a passagem...

Anônimo disse...

é, dona Adri, só a passagem... ainda tem gente assim no mundo. seguinte: eu tava indo pra maringá qudo vc ligou. não sei se vc recebeu o recado de volta. pena não ter podido ir ao churrs, mas alguém tem que trabalhar aqui em casa... hehehe. vida longa aos "oaeozs" e os "de invernos"!!!!!

Anônimo disse...

fotos da noitada, pela gabi, http://www.flickr.com/photos/gabeewee

giancarlo rufatto disse...

merda pareço o renato russo.

giancarlo rufatto disse...

mandei meu texto sobre o show que vai para o bacana #43.

Túlio disse...

Caramba! vcs tocaram "me apaixonei por uma burguesa"!!! amo essa música! parabéns pelo show e pelos 10 anos!

Anônimo disse...

legal as fotos da gabi, rubens.gosto da sua "pupila". só não deixei comentário porque fiquei com preguiça de fazer mais um cadastro em algo da internet. não cuido nem do que tenho. mas diz pra ela que ficaram lindas. pede pra ela mandar umas pra mim. abços.

Anônimo disse...

po deixei um comments aqui, mas nao postou, sei la,

Anônimo disse...

manda de novo igor.