10/29/2007

Noite de detalhes e intensas interpretações

Nem a garganta arranhando e a tosse diminuiram a força especial da performance de Cat Power

Adriane Perin/Jornal do Estado

“I’m Chan”, disse simplesmente a moça conhecida artisticamente como Cat Power, quase ao final de seu primeiro show no Tim Festival, quinta-feira, no Auditório Ibirapuera, depois de apresentar sua banda, a Dirty Delta Blues. Foi a segunda atração do evento que acontece em Curitiba dia 31, depois de passar por Rio de Janeiro e Vitória, mas com programação enxuta, e sem a poderosa gata. A noite, que teve também Antony and the Johnsons, foi de detalhes instrumentais e interpretações intensas. O Auditório meio vazio viu Toni Platão fazer bonito, mostrando o repertório de Negro Amor. Ele não dispensou o hit “Pros que Estão em Casa”, mas o ponto alto foi a impressionante versão de “Loiras Geladas”, do RPM. Mas, a platéia queria mesmo ver Chan Marshall, a guria que apareceu de jeans e cabelo preso em um rabo de cavalo, e que bem poderia estar sentada ao lado na platéia, tão “comum” parece ser. Jeito de menina moleca entrou sem alarde no palco e foi logo tirando onda, dublando Zuza Homem de Mello, que a apresentava.

Cat Power apareceu enquanto os jornalistas eram colocados no lado de lá da fita adesiva que delimitava o espaço para registro de duas músicas. Depois, não se podia atrapalhar as verdadeiras estrelas: a platéia. A reverência ao público marcou o começo do Tim. Ela tentou o tempo todo estabelecer algum tipo de contato visual com aqueles seres além da luz que a cegava, ávidos por ouví-la, por acreditar que era pra cada um deles que ela cantava. E isso aconteceu. Cat Power estava ali pra cantar pra 800 sortudos que em um silêncio extasiado, acompanhavam cada dancinha sem jeito, cada tique, que denunciavam uma sensação de deslocamento. Como se ela acreditasse mesmo que não merecia os aplausos, como disse ao final, depois de reclamar de questões técnicas. Pra platéia, no entanto, o som foi quase perfeito. Houveram instantes estranhos, mas nada que diminuísse a magia de estar ali ouvindo seu canto ronronado. Nem a garganta que arranhava, provocando tosse e exigindo uma bebida à base de limão, tiraram a beleza daquela curtíssima hora. A camista de brim amassada, o cinco azul, a boca torta ao cantar, a compulsividade do puxar o calça todo instante... desajustamento que cativa e nunca vai sair da memória.

O show não veio completo, não tem o clima soul que impregna o disco; ela não toca piano. Foi mais rock, cru. O que não é problema, afinal, olha as companhias da moça: o batera do Dirty Threee, Jim White; o guitarra do John Spencer Blues Explosion, Judah Bauer. No final, a boa notícia. Por desistência de Feist, paulitanos e cariocas ganharam a sorte grande: shows extra da diva moleca.

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