10/26/2007

MEEEEEEEEEEEERRRRRRRRDAAAAAAAAAA!



e eu perdi isso.
e ela ainda teve a manha de começar o show simplesmente com Don´t explain, da Bilie Holiday. E o guitarra é o cara do John Spencer Blues Explosion. E o batera, é do Dirty Three.
o mundo definitivamente não é um lugar justo.

E abaixo, pra aumentar e alimentar minha frustração e raiva comigo mesmo, o texto do Jotabê Medeiros, no Estadão:


"Como se fosse uma gata em teto de zinco quente, Cat Power anda pelo palco inventando gestos, inventando desconforto acústico, inventando uma dança que conspira contra a música (uma vai para lá, outra vai para cá). Nunca ninguém terá visto alguém saudar a platéia assim, semi-inclinado, com a perna para trás, a cabeça grudada no braço e o braço estendido para cima, fazendo um aceno desajeitado de toureiro.
De sapatos brancos, jeans muito justo e camisa muito larga aberta com camiseta por baixo, ela abriu a noite com Don’t Explain, canção que Billie Holiday imortalizou. Cat Power não parece ser a dona daquela voz imensa que enche o Auditório do Ibirapuera - e ainda assim, Chan Marshall, seu nome real, reclama o tempo todo do som, colocando os ouvidos nas caixas de som de retorno, fazendo as mãos nos ouvidos em concha para escutar a ambiência do som entre o público, apontando o microfone para o técnico invisível e pedindo com o dedo para cima para ele aumentar o som. Um João Gilberto de franja e rabo-de-cavalo (e bonitaça).
Menina inquieta, palhaça, faz micagem enquanto a voz de Zuza Homem de Melo a anuncia nos alto-falantes, fingindo fazer uma dublagem do venerável critico. Sua voz falhava em algum ponto? É possível, mas sua arte de intérprete é muito maior do que qualquer gap. Tomava uns goles de um líquido estranho, apertava a garganta com os dedos em pinça - talvez só a recente passagem de Joanna Newsom pela cidade possa se igualar à experiência de ouvir essa moça inquieta.
Cat Power cantou músicas que são amplamente conhecidas, mas que ninguém reconhece de imediato porque elas as seqüestra para si, como Lost Someone (James Brown), Silver Stallion (Lee Clayton), Ramblin’ Woman (Hank Williams). Ou então, coisas do tempo em que, como ela disse, era apenas uma pirralha, como Lord Help the Poor and Needy, da obscura cantora de blues Jessie Mae Hemphill.
Os músicos vão saindo do palco um a um, primeiro o guitarrista, depois o baixista, depois o tecladista, e finalmente ela se apresenta ("Eu sou Chan") e também sai, e fica só o baterista. Volta imediatamente com a banda (que baterista, esse Jim White, da banda Dirty Three) para dois bis apressados: Lived in Bars e I’ve been Loving You (de Otis Redding). Depois, amassou uma folha de papel com o repertório do seu show e virou de costas, jogando-a para os fãs como um buquê de noiva."
(...)
"Cat Power busca sua singularidade num repertório quase extinto, injetando alguma sujeira no blues, tingindo tudo de soul com sua voz rouca (talvez só Janis Joplin tenha ido tão longe nessa ousadia)."

Um comentário:

Anônimo disse...

deve ter sido sim tudo isso. meu, me emocionou o texto. é isso que eu chamo de música, o resto... bom... vendem discos e tal...abraço, brother.