10/24/2007

Nos tempos de hoje se pode tudo, mas falta a utopia”

Jornal do Estado

O poeta carioca chacal conversa sobre o lançamento de dois livros dos quais participa e poesia em geral


Adriane Perin



Divulgação

Chacal ganhou uma antologia e uma biografia do grupos que fez parte, o Nuvem Cigana
Ele viu na sua frente Allen Ginsberg, lá nos anos 60. Estava lá nas “Dunas do Barato” e foi um dos primeiros a usar o mimeógrafo como instrumento em favor da arte literária. Também estava junto com a Blitz quando ela mudou a rota da música brasileira, trazendo o rock pop cantado em bom português novamente para o centro das atenções. Ele é Ricardo Duarte Carvalho, conhecido como chacal, um senhor poeta de 53 anos, que teve recentemente sua antologia lançada pela Cosac & Naify e viu a história de um grupo de artistas cariocas, o Nuvem Cigana, do qual fez parte, também virar livro, Poesia e Delírio no Rio dos Anos 70, organizado por Sergio Cohn, pela Azougue Editorial - Também foi uma das mentes criadoras do evento multiáreas Free Zone, que teve duas edições em Curitiba, e é “O” cara do carioca CEP 20.000, que há 20 anos, reúne gerações de poetas. Agora, ele agora quer se dedicar à formação de platéia, estimulando a arte-educação. chacal bateu um papo com o JE sobre os riscos de um futuro sem poesia. Agora, você lê trechos da conversa.

JE — Tenho a impressão que pouca gente conhece a história do Nuvem Cigana. O livro de Sergio Cohn ajuda a diminuir a desmemória crônica do brasileiro?

chacal — O Nuvem lançou os Almanaques Biotônico Vitalidade e naquele período até ficamos mais conhecidos por pessoas ligadas, mais até fora do Rio de Janeiro. Não havia algo semelhante na época (N.R. Mal comparando, lembra um pouco as agendas da Soma ou da Tribo, mas mais autoral). Depois dos anos 70, cada um foi pro seu campo e eu mantive a mesma pegada até hoje. Sobre as pessoas não terem memória é porque o registro da memória no Brasil é muito pouco valorizado. Esse material da poesia marginal está em bibliotecas dos Estados unidos, mas não no Brasil. E a memória de um passado muito recente é mais difícil ainda. Porém, é importante que as pessoas saibam de onde vieram as lutas diárias alternativas, afinal as práticas independentes não começaram agora – e não tínhamos internet. Éramos proto-punk, já exercitávamos o do it yourself. Era: faça você mesmo do jeito que der.

JE — Sem internet e com a ditadura no cangote...
chacal — O que paradoxalmente era um estímulo maior aos alternativos do que hoje, quando é tudo liberado. Pode tudo, mas falta utopia. Não tem o vencer o inimigo, lutar junto por alguma coisa. Primeiro veio a poesia, gravar disco era muito caro. Mas, logo depois vieram dos discos também, com Antônio Adolfo, a Barca do Sol. Ainda demandavam alto custo, já o mimiógrafo era mais barato e foi isso que alastrou como epidemia pelo Brasil. Qualquer um podia escrever e publicar.

JE — Vencer a precariedade era a onda dessa geração, e como você vive com a internet?
chacal — Você vai se adaptando as novas linguagens. Pra mim, que estou com 53 anos, é um pouco mais dificil, não nasci plugado. Estou fazendo um blog, aprendendo, mas é difícil. Agora tô espalhando um monte de flyers do CEP 20.000. É uma arma poderosa, mas é como você falou antes: muita informação. Como na época da poesia: se fazia muito, porque era barato, mas pouco ficou realmente. Na era da internet vai ser a mesma coisa. É uma ferramenta, resta fazer algo de qualidade.

JE — E o mercado editorial como se modificou?
chacal — Aí houve uma oscilação do material alternativo dos anos 80. Gravadoras encamparam muita coisa, que foi descoberta pelo público jovem. O jovem passou a aparecer mais intensamente nos anos 80. Eu tive participação nisso, junto com a Blitz, estava no primeiro estouro da banda. Se tornar mais oficial tem vantagem e desvantagem: amplifica o barulhinho que faz na garagem e o trabalho do mimeógrafo. Quando vendi mais foi em 83, pela Brasiliense, com as Cantatas Literárias, junto com Leminski, Chico Alvin. Por outro lado, o produto fica com menos cara do poeta, há muito interferência da indústria. A gente perde em termos de corpo a corpo. Vai direto pras livrarias, mas o leitor não conhece o autor, que por sua vez, não tem o mesmo retorno.

JE — O blog pode ajudar na reproximação...
chacal — È um diálogo imediato, disso gosto muito. E também estou curtindo poder misturar imagens. Estou fascinado, é meu mini-canal de tevê. Um meio não é melhor que outro, são complementares.

Rápido e rasteiro

Vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar.
Aí eu paro, tiro o sapato
e danço o resto da vida


***

A vida é curta
pra ser pequena



dois poemas de chacal

2 comentários:

Anônimo disse...

Ivan, você é o mesmo do blogue da tina lopes, né? deixei uma resposta lá pra você, sobre o disco da feist. até mais! abraço!

Anônimo disse...

sou eu mesmo danilo. Vou dar mais uma chance pra Feist e ouvir esse Antony. valeu as dicas. abs