Jornal do Estado
A banda curitibana apresenta seu novo disco, com show amanhã
A nova formação da Terminal Guadalupe que a partir de agora vai fazer menos shows em Curitiba
Adriane Perin
É amanhã o show de pré-lançamento do novo álbum da banda Terminal Guadalupe (TG), A Marcha dos Invisíveis. Depois de ser sondado por gravadoras independentes e major, o quinteto optou por seguir no circuito independente. A TG vai apostar novamente na mídia SMD - criada pelo músico Ralf, e da qual foi a primeira independente a experimentar-, com uma novidade. Vai lançar junto um SMDV, o DVD da mídia SMD. Disco e documentário formarão um kit que será vendido no site e shows, por R$13.
Este disco pode ser visto como o pulo do gato da formação criada pelo jornalista Dary Júnior, em 2003, inicialmente com a Poléxia como banda de acompanhamento. Dela, ficou em definitivo o guitarrista Allan Yokohama, cada vez mais atuante, aliás. Completam a TG, Rubens K (baixo), Lucas (guitarra, que entrou depois da gravação) e Fabiano Ferronato (bateria). “Não somos emo, nem elektro, retrô ou neo-hippie. Somos como várias bandas curitibanas que não se enquadram em definição e majors têm problemas com isso”, avalia Dary, completando que a TG “flerta com o pop, grunge e punk”. Experimentar caminhos alternativos já não é novidade para a essa curitibana, uma das mais desenvoltas no quesito divulgação, competência que colocou a fama de A Marcha dos Invisíveis na frente de seu planejamento. Antes dele nascer, suas músicas já circulavam nas mãos de jornalistas especializados, que o saúdam como um dos bons do ano.
Dary mantém o equilíbrio e diz que “O” disco da banda é o próximo. Mas, este, é um divisor de águas, pela qualidade sonora. Foi gravado no estúdio Toca do Bandido, fundado pelo produtor Tom Capone e hoje administrado por Constança Scofield (ex-Penélope Charmosa), tendo ao lado Tomás Magno. O lugar é frequentado pela fina flor do mainstream brasileiro. O “olhar estrangeiro” de Tomás é que está fazendo toda a diferença.
A Marcha dos Invisíveis é um disco com potencial para por a banda curitibana no mercado fonográfico “de gente grande”, com sua sonoridade impecável, instrumental valorizado, vocais mais trabalhados e equilibrados e boas músicas. Estão ali, as pegadas pop, as letras muitas vezes engajadas de Dary, os detalhes da guitarra de Allan e seus backings, a discrição madura de Fabiano e a pulsação do baixo de Rubens.
O que o produtor fez, observa Dary, foi valorizar a experiência de cada um, já que todos têm um currículo considerável. “Olhamos pro nosso próprio umbigo, fomos auto referentes no sentido de levar em conta a história dos integrantes. Tomás viu sonoridades distantes e construiu uma outra”, conta Dary, ressaltando que o documentário vai mostrar bem como eles eram reticentes inicialmente, pois registra momentos de resistência às palavras do produtor e a constatação de que ele tinha razão. “Só pedimos a ele que preservasse a essência.”.
Apesar de tudo, Dary insiste que o melhor está por vir. “As pessoas comentam sobre o nosso sucesso, mas não concordo. Esse disco não vai dar uma carreira. E ainda dependo do jornalismo, não sobrevivemos de música”, diz.
A primeira audição do disco todo, me deixou um pouco inquieta. Gostei sim, mas pareceu tão diferente do que eu conhecia! Dary sustenta que a diferença é que estão ali o jeito de cada um da banda – que só tem macaco velho.
O mais experiente é Rubens K, que foi da lendária, July et Joe, formação pós-punk do começo dos anos 90 em Curitiba, cujos ensaios levaram à abertura do 92 Graus, de JR Ferreira, que era o vocalista. Dary vem desde a Lorena Foi Embora, a empreitada com a qual chutou o pau, largou empregão e, para espanto de muitos, foi se dedicar exclusivamente à música.
Allan vem da Poléxia, uma das melhores bandas pop curitibanas surgidas nos anos 2000. Ferronato, não deixa por menos, vem da cult Íris, banda do introspectivo e talentoso Igor Ribeiro, autor e interprete original de “Cachorro Magro”, gravada pelo TG.
O disco tem vários momentos interessantes, com direito até a citação a Pink Floyd, na faixa que dá nome ao disco. Tem passagens mais pop, em alguns momentos lembra os deliciosos primeiros passos do “indie” brasileiro cantado em português. Também remete a goiana Violins, mas é TG. A decisão de gravar a belíssima “Cachorro Magro” foi bem corajosa, porque não é para qualquer um enfrentar a interpretação absolutamente cool (no melhor sentido) de Igor. É uma música pesada, exigente. Por isso, a suavidade da nova versão deixa em dúvida no começo. Mas isso passa. Estão lá a pulsação do baixo do Rubens e a batera de Fabiano, ambos da original. E é quase como se Dary e Allan se deixassem levar por eles. É bem diferente a versão, mais pop, cantarolável até. Mas, a partir da segunda audição – não esquecemos do original – mas este novo olhar ganha vida própria – e, o mais importante, sobrevive.
O Terminal tem nas mãos o seu mais belo disco, em todos os sentidos, e isso vai difícil alguém questionar. Um disco para tocar em qualquer lugar e fazer bonito.
Serviço
Terminal Guadalupe. Dia 10.
R$10 e R$8. Era Só o Que Faltava (Av. República Argentina, 1334).
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3 comentários:
então... vão aparecer? abraço, brothers.
Boto fé no disco. Acho que é diferente dos demais porque é um disco de banda, e não só um disco com as composições do Dary. O instrumental se sobrepõe as letras dessa vez, e isso têm mais altos que baixos - e "De Turim a Acapulco" é lindíssima. Só acho que essa de apostar em majors não rola mais mesmo: o mercado se fechou tanto em "nichos", que aquilo que não é rotulável de primeira não tem espaço numa grande.
Mas acredito que o TG seguirá garantindo sua sustentabilidade. É um puta disco de banda e eles estão a fim de tocar. Eu já fiz lobby por "Atalho Clichê" nas FMs locais, mas não rolou.
É esperar para ver a repercussão, mas te digo uma coisa: não é saindo na coluna do Lucio Ribeiro que neguinho vai pra frente. Se o Terminal ficar longe desse povo, vai ser melhor pra eles.
este é o léo.... tudo legal. concordo contigo. e pelo tom da conversa do dary, acho que a banda tá tranquila com tudo isso. o negócio é ficar na boa e fazer o que gosta de fazer. como dizia meu avô: devargar (mas não quase parando,) e sempre.
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