Jornal do Estado/ Bem Paraná
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“A abertura do Estado brasileiro para a capoeiragem vem depois do reconhecimento já existente no exterior. É um processo importante, mas foi tardio”, diz o antropólogo Luiz Renato Vieira
A luta brasileira ganha evidência esta semana, que vai tratar da abertura de instutuições para a prática
Adriane Perin
Desde os tempos em que a capoeira era crime até junho passado quando foi reconhecida como Patrimônio Imaterial Cultural do Brasil, muito aconteceu. Mesmo com este recente reconhecimento, a luta de raízes culturais, ainda recebe olhares pesados por pré-conceitos. A começar pela mídia que não abre espaço em cadernos culturais porque a vê como esporte, e nas editorias esportivas é ignorada porque muito pouco se fala além de futebol, automobilismo e volei. A ironia é que é exatamente na combinação destas duas características que reside sua peculiaridade – e sua força. A capoeira volta à evidência neste semana em Curitiba por conta de dois eventos, com várias atividades correlatas. Nos dias 5 e 6 a Universidade Federal do Paraná (UFPR) sedia a 1 Roda de Estudos: Os Processos de Institucionalização da Capoeira. O evento, que tem entrada franca, é uma promoção da UFPR com apoio do grupo Força da Capoeira, que celebra na semana, com atividades a partir de hoje, seus 15 anos de existência. A Roda de Estudos foi proposta à Pró Reitoria de Extensão e Cultura por capoeiristas integrantes do Força que são também acadêmicos de Psicologia, Antropologia e Educação Física, estabelecendo um importante elo com a Academia. Nas mesas redondas estarão representantes da instituição, um Mestre de formação tradicional, um com formação universitária ou que trabalhe em universidades e um professor doutor com pesquisas na área.
Entre os convidados, para a mesa redonda da manhã do dia 6 está o antropólogo e Mestre de Capoeira Luiz Renato Vieira, da Universidade de Brasília. A temática será em torno das políticas públicas tanto no processo de institucionalização da luta quanto na transmissão do conhecimento. Junto na mesa estarão Lialiane Porto, do Departamento de Antropologia da Federal e Mestre Sergipe, da Velha Guarda da Capoeira do Paraná.
O processo de reconhecimento “institucional” da capoeira no século 20, principalmente a partir de sua discriminalização, é também a história da institucionalização das lutas no país. “Ao longo desse tempo a capoeira passou de uma prática cultural marginal em relação às principais instituições e sociedade para ser gradativamente assimilada. Foi um processo complexo, cheio de avanços e retrocessos”, avalia Viera, em entrevista por telefone. Começou com a incorporação apenas do aspecto de luta, muito por conta do preconceito racial e cultural. “ A memória que a sociedade tinha era do lado combativo e achou por bem vincular só o que considerava o ‘lado bom’. Nos anos 20 e 30 do século passado é que começa uma valorização cultural. Entram em cena Mestres Bimba e Pastinha e um grande processo que teve como foco a Bahia faz ressugir a capoeira a partir de suas referências culturais”. Nesta fase, tida ainda como folguedo e sem a atenção da ampla sociedade. “Embora Bimba tenha trabalho em instituições formais como quartéis, contribuindo pra dar um status de respeito. Esse é um passo muito importante reconhecer”, considera o antropólogo. Aos poucos outros processos paralelos foram acontecendo levando, por exemplo, ao reconhecimento como atividade de natureza pedagógica e física, também. Em meados da década de 80, o olhar cultural ganha mais força com a democratização, quando a sociedade passa por uma revisão de seus conceitos culturais e a cultura popular ganha valor. ‘Toda a América Latina passa por essa dinâmica que estava também em voga mundialmente. É á valorização do que não é ocidental que dá força para toda uma cultura alternativa”, lembra. No Brasil, a reafricanização, sobretudo em torno das culturas baianas, com o afro virando moda, ajuda a capoeira também. “A Bahia assume sua cara afro, que ganha a classe média e se expande pelo Brasil, um contexto bastante favorável á capoeira”, pontua.
Só que, no meio disso tudo, a capoeira já vinha conquistando reconhecimento em mundo afora. “É muito importante perceber e reconhecer que a abertura do Estado brasileiro para a capoeiragem é associada a esse reconhecimento já existente no exterior. O reconhecimento aqui é um processo importante, mas foi tardio. E com ênfase no patrimônio cultural e imaterial”, diz. Sobre os resultados práticos desse reconhecimento formal, Vieira acha bom que seja até meio lento. “Porque é fundamental que em paralelo a essa abertura por parte do Estado – do que este evento é um sinal - é imprescindível que haja discussão interna na capoeira para que as políticas não resultem apenas da atuação dos gestores culturais”, defende.
“Nós é que temos que manter o Iphan informado”
Joaquim Guedes da Silva Alcoforado é o Mestre Kinkas, fundador do Grupo Força da Capoeira
Adriane Perin
Joaquim Guedes da Silva Alcoforado é o Mestre Kinkas, fundador do Grupo Força da Capoeira, que está completando 15 anos, e um integrante de Velha Guarda da Capoeira do Paraná. A cerimônia do Batizado do grupo, troca das cordas e encerramento do ano, é dia 06, às 15h no Memorial da Cidade. Antes disso, ele será um dos integrantes da mesa redonda de abertura da 1 Roda de Estudos, às 9h do dia 5, que vai tratar do contexto histórico que levou a legalização da capoeira. Nesta mesa vai estar também Mario Ricardo Szpak Furtado, o Birilo, Mestre de Kinkas, que vem de Recife. Kinkas saiu de lá para enfrentar aqui o desafio de ter sua própria trupe. Além do ensino de outras modalidades da cultura popular junto com a capoeira, o Grupo desenvolveu uma técnica de alfabetização através do ensino da capoeira. Quando chegar a Curitiba, na próxima quarta-feira para acompanhar as atividades - que começam hoje com uma Roda na Escola Rio Negro, no Sítio Cercado, onde o instrutor Cigano, do grupo, dá aulas -, Birilo vai ter uma amostra do caminho que o aluno trilhou por aqui. “Vai ser uma forma de mostrar para ele a capoeira daqui, o trabalho feito. Estou muito feliz e nervoso. Nem sei como vou começar o Batizado e essa mesa. Porque não tenho esse felling profissional de palestrante. E vai ser dificil sentar ali com meu professor e o tratar como um igual”, conta. Kinkas acredita que com o reconhecimento da capoeira como Patrimônio Cultural é preciso fazer ainda mais batizados e eventos de expressão, como este, para que se perceba que a capoeira não está parada, nem nas instituições formais, nem entre as pessoas que a carregam. “São muitos os eventos anônimos feitos pelos capoeiristas sozinhos, sem apoio, sem patrocínio, sem conseguir teatro e, ainda, com o Ecad querendo ganhar dinheiro da gente”, diz. “Temos que nos manter ativos para municiar o Iphan com informações ele possa beneficiar tanto a capoeira quanto os mestres”. As universidades, por outro lado, defende Kinkas, têm que estar alertas para não se tornarem uma coleira para quem vive da capoeira. “É preciso manter o respeito aos mestres antigos, às pessoas que trouxeram a capoeira até aqui”, diz.
Ele chama atenção ainda para outro assunto que vai estar em voga nesta semana, que é a questão da entrada da capoeira nas escolas, pelo viés da obrigatoriedade do ensino da cultura afro. Muitos detalhes estão pendente no que diz respeito á capoeira. “Não pode ficar só como ensino teórico em História do Brasil, porque vai se perder muito, já que existe muito pouco publicado”, alerta. “A prática tem que vir junto, como atividade lúdica, como música, como esporte de alto rendimento, como teatro. Capoeira reune todos esses elementos”, completa, lembrando ainda a questão da regulamentação da contratação do capoeirista como um profissional. “ São muitas as questões que envolvem essa caminhada feita e muito vem pela frente ainda pra refletirmos e fazermos”.
Serviço
Informações: kinkascapoeira@hotmail.com
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