8/21/2007

Marcatti: um historiador de si mesmo

Jornal do Estado

Em entrevista exclusiva, o desenhista, que é um dos mais importantes do Brasil, fala de HQ

Adriane Perin

Divulgação

Diz que o gosto pelas Histórias em Quadrinhos veio antes mesmo de ler e escrever.

Desde pequeno, Francisco A. Marcatti recebeu estímulos da mãe para exercitar seu traço, já que bem cedo mostrou talento com o desenho. Diz que o gosto pelas Histórias em Quadrinhos veio antes mesmo de ler e escrever. Nos anos 70, com 15 anos, foi junto com um amigo se meter em reuniões de uns caras mais velhos, que já estavam na faculdade. Lá encontrou outros caras da mesma idade que faziam a revista Papagaio, como o Marcelo Fromer, o Nando Reis, o escritor Paulo Monteiro, e foi ali que publicou suas primeiras histórias. Lá se vão três décadas dessa primeiros passos, período em que ficou conhecido como o quadrinista mais escatológico entre os brasileiros, com um estilo que lhe rende inúmeras comparações à Robert Crumb, de quem ele confessa, no entanto, não ser um admirador, nem estar na lista de suas referências, embora reconheça a importância.

Marcatti parou um tempo de desenhar, mas voltou com tudo em 2000. Seu mais recente trabalho, pela editora Conrad, foi o desafio de adaptar A Relíquia, do Eça de Queiroz para os quadrinhos. Ele nunca tinha lido o autor português e adorou. Outro trabalho que mereceu a atenção dele nesses anos foi a construção de seu próprio site, um endereço muito, mas muito legal, onde ele colocou tudo sobre sua obra. “Me transformei em um historiador de mim mesmo. Sou muito sistemático, tenho tudo anotadinho, uma cópia de cada coisa”, conta. Sorte nossa que ele não desistiu diante da trabalheira que teve. “Lá tem a lista de todas as histórias e quadrinhos que fiz na vida e com dados cruzados. Ou seja, você clica na história, vê onde foi publicada e que histórias mais estavam naquela revista, por exemplo. Até o que eu mesmo imprimi está lá”, diz.

Marcatti trabalha com produção gráfica na internet – e em casa, o que acaba fazendo uma miscelânia de trabalho e vida pessoal. “Faço tudo ao mesmo tempo. Agora mesmo, estava restaurando uma vespa”. Como é? “Tô pintando uma vespa brasileira, só que com meus desenhos”, emenda empolgado, contando que tem como “atividade remunerada” a customização de guitarras. “Então meu sobrinho, dono da vespa, me deu a idéia de fazer dela uma vitrine”.

Por ser um quadrinistas que não está fazendo charges em jornais diários ou em revistas mais conhecidas – e também porque sua vervemais afiada é para a escatologia, o que não agrada a qualquer um – tem-se a impressão de que Marcatti andou fora de circulação nos últimos anos. Achar isso, pondera ele, não é desinformação. “Exatamente porque meu tipo de quadrinho é muito maldito, difícil. E só a internet mesmo tem ajudado achar mais fácil”.

Ele só ficou sem desenhar entre 93 e 2000, mas desde então voltou com tudo. A primeira publicação foi o livro Restolhada, da Opera Graphica, com edição luxuosa da seleção das melhores criações dele até aquele momento. “Desse não tenho uma cópia sequer. Mas, com certeza, a Itiban consegue”, garante, se referindo a uma das mais completa livrarias especializadas do país, que fica ali na Avenida Iguaçu.
De lá para cá saiu também a revista com o Frauzio -“O primeiro e único personagem, propriamente dito, que criei” - em mais de 300 páginas publicadas pela editora Escala em revista mensal. Em 2005, ele assinou com a Conrad, que primeiro lançou Mariposa. “De fato, meu primeiro livro de quadrinhos meus, concebido como tal”. Fazer um livro e não juntar quadrinhos soltos em um, diz ele, dá uma outra dimensão e o obriga a pensar numa abordagem diferente. “A diferença da construção de personagens e da narrativa é a mesma que existe entre criar um jingle e uma ópera: coisas bem distante”, explica.

Serviço
www.marcatti.com.br

2 comentários:

Anônimo disse...

gostei muitíssimo de conversar com o marcatti. é o tipo de figura que o papo corre em alto astral, flui com uma facilidade... gosto muito de fazer entrevistas, muito mesmo. conversar, conversar com pessoas legais. o único detalhe é que só fui escrever o texto mais de uma semana depois do papo e não posso deixar pra escrever esse tipo de matéria depois, porque o calor da conversa faz toda diferença. mas, valeu marcatti, muito legal. e valeu ivan, se não é vc.... ninguém nem sabe sobre o que eu escrevi. pelo do marcatti e pelo da claudete soares, cujo retorno, me deixou emocionada de verdade. imagine, uma cantora dessas dizendo que um comentário meu dá forças pra continuar cantando....puxa vida... naquele dia ganhei o mês.

Anônimo disse...

Marcatti é mestre. Nunca vou esquecer das primeiras histórias que li dele, na Animal e na Chiclete com Banana. Não por acaso, nos influenciou na criação dos nossos próprios fanzines já na época. A matéria ficou ótima. E não é a toa que é a primeira matéria que eu leio na imprensa paranaense sobre o cara. Se ninguém dá bola? Foda-se. Quem está perdendo são eles, não a gente, que continua tendo a felicidade de poder fazer contato e conhecer pessoas que a gente admira e nos inspiram. bjs