4/08/2010

Troco o mundo virtual por uma vida real

“Esses dias vi uma banda tocar. Quando saíram do palco, deixaram todo o equipamento deles lá jogado. Eles estavam abrindo para outra banda, mas sequer pensaram em tirar as coisas deles de lá. Eles vinham de um mundo onde você não cuida de seu próprio equipamento. Para mim, o processo é uma parte tão importante da arte. Ele 'é' a arte. Não é só: 'Oh, nossa, que disco bonito' ou 'esse disco soa maravilhoso', é o processo. É o fazer o disco, e o marcar os shows. Eu vejo isso como uma arte”.

Ian MacKaye (Fugazi) – no livro “Não devemos nada a você”, coletânea de entrevistas da revista Punk Planet.

Achei muito interessante esse trecho da entrevista do MacKaye, porque ele acaba abordando um ponto que pra mim tem um paralelo direto com muito dos problemas que vejo na cena independente brasileira, em geral, e na curitibana em particular hoje. É aquela coisa, todo mundo quer posar de artista, mas ninguém quer se incomodar com tudo o mais que envolve o fazer artístico, ou com tudo o que é relacionado com o antes e depois de você subir no palco. A coisa chegou num ponto em que neguinho quer ter banda, quer tocar, mas nunca tem tempo pra ensaiar, pra trabalhar aquilo, marcar show, lidar com as burocracias naturais pra, por exemplo, apresentar um projeto, buscar apoios, patrocínios. A maioria ainda parece querer que outros façam por eles o que eles deviam fazer por si mesmos. E com isso, acaba deixando de aproveitar as poucas oportunidades que existem. Pior, quer fazer música, quer tocar junto, mas não quer se relacionar, não é capaz de reservar um tempo pra tomar uma cerveja junto, conversar, bater papo, falar merda. É o mundo do "virtual", dos relacionamentos "on line", da vida higienizada e sem vida.

Como ninguém é obrigado a trabalhar de graça para os outros, e a maioria das bandas não gera renda suficiente para pagar um produtor/empresário, temos uma equação que não fecha.

Isso também se reflete em uma quase total falta de comprometimento com as iniciativas que poderiam potencializar a cena, e acabam se esvaziando já que se nem os músicos tem interesse no que está acontecendo, como esperar que o público em geral o faça. Isso me lembra também um trecho da recente entrevista do Rómulo Froes no Scream Yell:

“E eu fico puto porque nenhum cara vai ao show do outro. Ninguém foi me ver tocar até hoje. Com exceção ao Bruno, que é muito meu amigo, e tem uns caras novos que eu conheci agora. Curumin nunca foi ao meu show. Catatau nunca foi. Andréa Dias nunca foi. Leo Cavalcanti também não. Só estou falando de todos que eu fui. Porque, cara, você tem que ir! Por interesse artístico, pra ajudar a cena, pra sair de casa. Vai ver seu amigo, porque se você não for ele não vai conseguir tocar mais. Eu fico: “Moçada, tenho uma festa no CB, vamos lá, a casa paga cachê bacana, vai lá ver, vê o bar, vê que a festa é legal, depois você vai lá tocar”. Eu acho foda essa coisa de um não ver o show do outro. A galera gosta tanto que toca junto, grava disco, mas eu acho que tem que ser mais do que isso. Tem que prestigiar. Você não pode ir lá só quando for gravar o disco. Vai lá porque você gosta, e fala pros outros. Isso eu sinto falta, de neguinho não fazer a cena virar.”

O que o Rômulo fala sobre a cena de SP é um problema generalizado que acontece em todo o País, inclusive em Curitiba. Digo isso de carteirinha, porque cansei de ver bandas que iam tocar no Rock de Inverno, e que tinham entrada franqueada em todos os dias, só aparecer no dia e na hora que ia tocar, e muitas vezes, depois disso, virava as costas e ia embora. Ou seja, não se interessava sequer de prestigiar o evento do qual elas faziam parte, e conhecer as outras bandas que iam tocar no mesmo dia que ela. Acho isso uma puta duma demonstração de desinteresse, de egocentrismo explícito, e de falta de comprometimento que diz muito sobre o estado atual das coisas. Repito, se nem os músicos se interessam em conhecer e prestigiar a cena e seus pares, como esperar que o público queira? Ou a mídia, de quem tanto os artistas cobram mais atenção?

Isso sem falar nas bandas que vivem fazendo discursos empolados de “temos que nos unir”, "temos que nos organizar", "temos que ser profissionais" e tal, mas não são capazes de distribuir um cartaz ou uma filipeta para divulgar o evento em que elas próprias estarão. Aí fica fácil. Aí até eu quero ser artista.

Desde cedo percebi que se eu quisesse conquistar algum espaço com minha música, teria que eu mesmo que arregaçar as mangas e partir para a luta. Não tem gravadora, a gente cria um selo, ninguém chama a gente pra tocar, a gente produz os nossos próprios shows, ninguém dá atenção pra o que a gente faz, a gente se junta com mais gente que tem a ver e faz um festival. E mesmo que não tenhamos conseguido tudo aquilo que gostaríamos ou ingenuamente sonhávamos em algum momento, não posso reclamar, pois tudo o que a gente fez foi muito bem recebido, teve atenção, repercutiu e foi muito mais longe até do que a gente imaginava. E isso só aconteceu graças a muito trabalho, iniciativa, da amizade e parceria e esforço conjunto de um monte de gente, ao invés dos costumeiros choramingos, coitadismos e teorias conspiratórias pra justificar a inércia.

Cansei de varar noites gravando CD, imprimindo, cortando, dobrando e colando capas de discos meus e de outros. Perdi a conta dos discos de outras bandas que eu fiz cópia pra mandar pra jornalistas, produtores, etc. E fazer isso nunca foi um peso, um problema, um sacrifício. Pelo contrário, sempre fiz isso com uma baita alegria no coração de saber que eu tava fazendo parte daquilo, vivendo o meu tempo, escrevendo a minha história e a de um monte de gente que eu admirava. Pois como diz o MacKye, isso tudo pra mim era parte inestimável e inseparável do processo criativo e me dava tanta satisfação quanto estar em cima de um palco se apresentando.

Aliás, sempre disse já na época do OAEOZ que gostava mais de ensaiar do que de fazer show. Pra mim era um prazer. Música pra mim sempre foi uma atividade gregária, essa coisa de juntar os amigos e fazer um som, em primeiro lugar. De tomar umas e fazer um churras, e uma jam. Ensaiar pra mim sempre foi a melhor coisa, mesmo quando a gente tinha que ensaiar as 9 horas da manhã de uma quarta-feira, e depois sair correndo pro trabalho. Aquilo pra mim ganhava meu dia. Mais do que uma banda, a gente era uma turma de amigos que curtia estar junto fazendo aquilo, vivendo aquilo. Hoje tá todo mundo ocupado demais com os MSNs, os orkuts, os twitters da vida pra se relacionar de verdade. Alguma coisa se perdeu.

Quando você pensa no pessoal da Tropicália, por exemplo, vê a diferença de atitude, como o próprio Rômulo aborda rapidamente na entrevista. Os caras tavam sempre juntos, e sempre trabalhando em parceria. O Caetano gravava músicas do Gil, que gravava músicas do Caetano, que tinham suas músicas cantadas pela Gal, pela Bethânia, pelos Mutantes, que tocavam em shows do Caetano e do Gil, que falavam dos Mutantes nas entrevistas, etc.

Se a gente for pensar no que ficou conhecida como “Vanguarda Paulistana”, apesar de ser calcada em uma vanguarda paranaense (Arrigo e Paulo Barnabé e Itamar Assumpção, etc), a mesma coisa. Itamar tocava baixo na banda do Arrigo, que tinha o irmão na bateria, que também tocava com o Itamar, etc. Pensando no rock dos anos 80, você via a Legião tocando Plebe Rude nos shows, o Paralamas tocando musicas da Legião, e mesmo depois, já nos anos 90, o Renato Russo usando camiseta do Pato Fu nas fotos para a imprensa. Enfim.

Lembro ainda de quando conheci a cena que rolava no 92 graus, no início dos anos 90, e como havia um sentimento de “comunidade”, de todo mundo se conhecer e de pertencer aquele momento, de tocar junto e ver o show do outro, mesmo que não fosse o seu estilo preferido. O pessoal da Reles via os shows do Boi Mamão, que curtiam os do Magog, que tava lá vendo o Acrilírico. A gente mesmo, eu e a Adri, cansamos de ir ao 92 sem nem saber quem ia tocar naquele dia, e graças a isso conhecemos um monte de coisas diferentes que normalmente não iriamos ver, de Cervejas a Pinheads, e muitos outros.

Hoje parece que tudo virou um clubinho “vip” excludente, um gueto. Todo mundo fechado em seu próprio mundinho de pretensão e arrogância, e falsa autosuficiencia. Neguinho é fã de hardcore, então só vê show de hardcore, o indie só vai no bar dos indies, headbangers só se misturam com headbantgers e daí por diante. O resultado é que a cena toda se fragmentou e se enfraqueceu, se fragilizou, em pequenos grupos isolados que não se relacionam.

Enquanto as pessoas não mudarem de atitude, começando pelos próprios músicos, e se interessarem pelas coisas que estão acontecendo em volta delas, ao invés de ficar apenas lambendo o próprio umbigo, nada vai mudar. Veremos cada vez mais espaços como o 92 se fechando, bandas acabando, pessoas desistindo pelo meio do caminho.

Como disse a Adri, onde estão os novos produtores? A turma que ia fazer e acontecer e mudar tudo? Cansei de ouvir discursos vazios de gente que achava que ia reinventar a roda e na primeira pedra, caiu de boca no chão e não se levantou mais. Enquanto isso, quem ainda continua fazendo as coisas por aqui? Os mesmos “veteranos” de sempre, de gente de gerações ainda anteriores à nossa, como o pessoal da Grande Garagem/BAAF, do JR, do Ciro Ridal, ou de gente contemporânea à nossa turma, de gente que já deveria estar "superada" e substituída por uma nova geração de produtores/iniciativas. Um monte de novas iniciativas que surgiram desde então, naufragaram na primeira onda contrária. O que é uma pena. Alguma coisa está errada. Posso não saber exatamente o que, nem como mudar isso, mas não me sinto nem um pouco otimista. Fala-se tanto em internet, essa onda virtual e tal, mas em certas coisas – eu diria nas mais importantes – nada substitui a presença real, física. Porque sem ela, não há comprometimento, e sem comprometimento, tudo o que fica são discursos vazios, e sonhos frustrados, abandonados pela metade.

Apesar de todo o cansaço, continuo sendo um sonhador. Acho que temos tudo pra virar o jogo, se quisermos. Acho que tem uma galera nova por aí que pode fazer isso. Mas é preciso iniciativa. Do contrário, nos tornaremos todos pessoas distantes e amarguradas. Uma geração sem vontade. Incapaz de dar o primeiro passo e sair da casca.

4/06/2010

92 Graus em situação de emergência

Juliana Girardi

Gazeta de hoje

“Tudo o que dependeu de mim neste tempo todo, fiz com todas as minhas forças e com tudo o que tinha e o que não tinha, porém sem resultados positivos, só balada mesmo, e isto não muda em nada a postura e o futuro de nossa arte, que está à deriva, ainda mais com a nova onda dos covers e pistas de dança que invadem a cidade.”

Essas são apenas algumas linhas da mensagem de desabafo que o músico e produtor JR Ferreira, proprietário da histórica casa de shows independentes 92 Graus, enviou há duas semanas a alguns amigos. Após 18 anos de serviços prestados ao underground curitibano e nacional, o 92 Graus parece dar seus últimos suspiros neste mês. “Estou cansado, pensando mesmo em dar um tempo. Venho tentando encontrar formas de manter o bar aberto de uma ma­­neira financeiramente viável, mas está difícil. Acho que dessa vez, não vai ter jeito”, lamenta o músico, visivelmente triste.

Além das razões citadas no primeiro parágrafo do texto, o desânimo de JR deve-se a uma combinação de acontecimentos infelizes, que vêm dificultando sua vida de empreendedor independente. A primeira e mais preocupante delas é a renovação do contrato do imóvel que hoje abriga o 92 Graus, no bairro São Francisco. A imobiliária pretende dobrar o valor da locação, o que tornaria o funcionamento do bar impraticável. “Apresentamos uma contraproposta e teremos um retorno nas próximas semanas”, explica.

Fora o impasse imobiliário, um pequeno incêndio em um dos banheiros do bar, há duas semanas, complicou ainda mais as coisas, gerando gastos imprevistos. Para completar, JR teve as senhas violadas de suas contas no Orkut e no Gmail, impossibilitando a divulgação dos shows e o contato com as bandas, já que sua lista de e-mails foi totalmente excluída. O prazo de validade do domínio do site do bar (www.92graus.com) também venceu e não foi renovado devido à incerteza se o local continuará aberto ou não. “Tudo o que podia acontecer de ruim veio ao mesmo tempo”, diz.

Como possíveis soluções, JR vem buscando parceiros que possam investir no bar, mas a ideia de “passar o ponto” adiante, por enquanto, lhe parece a alternativa mais provável. “Estou analisando tudo como um negócio mesmo. Penso em vender a marca 92 Graus, que inclui o equipamento para shows e o alvará para bandas ao vivo”, revela.

Segundo o músico, até o dia 27 de abril o bar ainda irá contar com uma programação de festas e shows, que serão divulgados nos próximos dias, marcando a despedida do espaço e, quem sabe, o mantendo “respirando” por mais algumas semanas. Enquanto isso, JR está aceitando ideias e propostas que possam garantir o funcionamento do espaço. Basta entrar em contato pelo e-mail 92graus@bol.com.br.

3/24/2010

"Outra Vez 'De Inverno' Apresenta: A Cena Independente"

"A coletânea, 'Rock de Inverno 7' é um carnaval memorável de máscaras e ritmos posso exergar as batidas de Pete de Freitas, as guitarras liverpoolianas de Echo and The Bunnymen, as gaitas de Culture Club e The Cure (eles tocavam gaitas?) há influências desde Duane Eddy às influências psicodélicas de Ronnie Von e um material choroso digno do cancioneiro de Altermar Dutra a Waldick Soriano! E inferninhos de beira de estrada."

Mário Pacheco - Do próprio bolso

confira a íntegra aqui

3/22/2010

Quando eu menos esperava a vida não falhou em surpreender


Faz dias que não pego o fone e ao ligar o aparelho é Jair Naves que ta tocando. O EP Araguari. Essas canções me acompanharam ao Uberaba, em ônibus lotados na ida, e vazios, na volta. Na ida, me distraíram das freadas e da algazarra da piazada; na volta, nada existia ao redor e pude até rabiscar apressada no primeiro pedaço de papel que apareceu na mão.
A força devastadora da música do Jair Naves já conhecia do Ludovic. Agora, ele joga na minha cara esse disco solo. Não pensei que seria possível, mas é ainda mais devastador que o punk raivoso que ele destilava sob a ‘proteção’ da banda. Aqui, o tipo de força que arrasta é outro. Também confessional, mas de um jeito diferente. A primeira palavra que vem a mente é mais calmo, mas não é isso não. É muito mais pessoal. As letras tocadas pelo Ludovic já traziam os seus (nossos) medos, confissões, estampados a ferro quente em cada braçada, em cada soco que ele desferia, na gente e nele mesmo, se debatendo em sua própria música, em suas próprias confissões, questionamentos e revoltas. Possuído por sua própria música que também nos possuía.
Mas lá, havia mais raiva primal. Aqui, há outros sentimentos. Cansaço, talvez. Uma pausa. Um acerto de contas – ele não ta cuspindo na cara de ninguém as verdades, ofensas merecidas. Agora ele se recolheu. Está cara a cara com ele mesmo – com o que ele viu em algum espelho que só ele vislumbra. Mais sutil, uma casca um tanto mais envelhecida – com aquilo de bom que o passar do tempo traz e também com suas marcas, bem a fundo. Como se passada a ansiedade, a euforia, a excitação e a certeza juvenis, que fervem a gente, sobrassem agora alguns escombros pra mostrar “que a vida passou e eu caí em nostalgia, mesmo de coisas que eu mal vivi, que dizer da inocência que eu deixei (...)” pela vida, no que foi feito dela.
Se antes ele estava em cima do palco com uma puta de uma banda de companheira, agora ele tá sozinho: num fim de noite sentado na beira de uma calçada, resto de cerveja quente dentro de um daqueles instantes cheio de uma certa sobriedade que só na bebida encontramos a coragem - e não se trata de uma escolha - pra ver.
Sei lá... To falando dele, de mim ou de nós? Vai saber..
Não sei para ele, mas pra mim isso lembra outra década chegando – e enfrentando a que acaba! Cara a cara com o que restou dela.

“E agora? O que é este disco?”, rabisquei no pedaço de papel de pão. Mais um acerto de contas com a vida como o são alguns discos? (Ou parecem ser). Um (outro) desabafo de solidão. Um doloroso e saudoso olhar pra trás a sentir saudade até do que não viveu. (Ah, mas eu vivi muito, e bem. Então o que é este disco?).
Um confronto, inevitável, com o que viveu. E o ver no espelho essa outra pessoa que (invariavelmente?) viramos.
Esses anos depois... um voltar pra dentro dos silêncios novos que largamos no caminho. E que nos habitam pra sempre, mesmo que os esqueçamos por alguns dias, instantes, anos, meses. No final dá tudo no mesmo, quando eles voltam.
E às vezes mostram suas mãos apertando a garganta
Por um fio
Bagunçados pelos amores que vemos chegar ao fim
(amores desperdiçados e inconfessos) guardados em diários de letras tão debilmente infantis
Araguari, curitibanos, paranavaí, irati, curitiba ou coronel vivida (não importa)
Com seus desbravadores meninos (e meninas)
Certos de suas certezas, e com seus céus que ficaram perdendo a gente, enquanto nós nos encontrávamos e nos perdíamos por nossas próprias contas.
Mais um disco que não consigo ouvir impunemente.

Começa assim: com uma reza de santa Maria, vozes de palavras duras. Um filme. Simplicidade musical para deixar as palavras se mostrarem em toda sua força.

(adri)

confira abaixo as letras de "Araguari I" - disco solo de Jair Naves.

Araguari I
“As lembranças que eu guardo de Araguari resumem-se ao dia em que fugi,
Caçado de perto por uma multidão, decidida a fazer justiça com as próprias mãos.
Ecoavam sermões pelas ruas dormentes, ninguém nada
tudo impunemente
O abandono é a pior traição, no fim das contas hoje eu te dou razão
Em minha defesa eu apelo ao obvio eu era novo e sem temor, eu tinha o mundo ao meu dispor
Só que a vida passou e eu caí em nostalgia mesmo de coisas que eu mal vivi, que dizer da inocência que eu deixei em Araguari.
Araguari o que foi que aconteceu, fui eu que te pedi ou você que me perdeu?
Foge a minha compreensão, foge a minha contenção mas eu te dou razão
O fato é que eu não sou mais quem eu era antes, eu voltei envelhecido e hesitante, hoje eu quem cuido dos meus pais e as crianças da nossa rua já não somos mais.
Já não somos mais.
Mas eu sinto saudade da nossa banda de cada palco em que pisei
de cada nota que eu cantei. E ainda me dá um nó na garganta pensar no sonhos que eu sonhei, na leveza dos amores que eu desperdicei
Ah, as brigas que eu comprei, meus amores inconfessos
... os sonhos que eu sonhei.”

E depois vem
“Silenciosa”
“passou, passou
Um dia eu me conformo e paro de me culpar
Passou, acabou
Sabe quando você sente que não vale mais a pena lutar, se não deu certo com a gente, acho que nunca vai dar.
Passou, passou
um dia eu me acostumo e paro de te importunar
Passou, acabou
Sabe quando você sente que não vale mais a pena lutar
Se não deu certo com a gente acho que nunca vai dar
Prometo que não demoro, quando estiver pronto eu te aviso
Se bem que eu não incomodo, pode ir agora que eu já não ligo
Só vê se não esqueceu nada e vê se não volta mais
Enquanto eu não me recobro, enquanto eu não estiver
bem
em paz
A cama ficou espaçosa, nosso quarto ficou mais frio
A casa silenciosa não me serve mais como abrigo
E foi consensual nós nem sequer discutimos
Tudo tão civilizado
Nem parecia comigo
Nossos amigos ainda questionam o que foi desta vez, qual a gota d’água, como eu consegui
afastar você de mim
Deve haver em tudo isso alguma lição, algo a ser aprendido, uma compensação pro quanto nós nos ferimos
pro quanto nós nos ferimos

Passou, passou
Um dia eu me conformo e paro de te culpar.
Passou, acabou
Sabe quando vc sente que não vale mais a pena lutar
Se não deu certo com a gente acho que nunca vai dar

E depois: De branquidão hospitalar, queimando em febre eu me apaixonei

“Num cômodo abafado, de branquidão hospitalar, via-se um mar de rostos borrados tentando te acordar. Você zombava desse empenho, da proteção que eu ofereci,
um demônio enfermo de quem eu não consigo me despedir
Delirante queimando em febre, você buscou a minha mão
A esse poder que você exerce eu nunca soube dizer não
Ela viajou como se possuída por um espírito ruim, dizendo prepare-se pra uma guerra eu não respondo mais por mim
E eu tão impressionável
me apaixonei
Eu me apaixonei
Eu me apaixonei.
O que em mim vc reconhece, eu reconheço em você
E no gosto da sua pele, as fraquezas que eu tento esconder
Quando eu menos esperava a vida não falhou em surpreender
E nada mais me entristece agora que eu encontrei você
Quando eu mesmo esperava a vida não falhou em surpreender,
nada mais me entristece agora que eu encontrei você
Não estou só.”

ouça

baixe

3/19/2010

Na mosca

"A audição repetida, valorizada, focada de um álbum que custou caro e que você levou meses para conseguir comprar, é uma experiência completamente diferente de ver um videozinho no YouTube ou baixar 1.000 canções em cinco minutos."

do blog do André Forastieri

3/18/2010

O valor da solidão


Gazeta de hoje
Mário Bortolotto retorna aos palcos com Música para Ninar Dinossauros, peça que estava em produção quando foi baleado em São Paulo

Cristiano Castilho

Foi com "um dedo só, catando milho e com uma dor violenta e constante nas costas" que Mário Bortolotto terminou de escrever o texto de Música para Ninar Dinossauros (confira o serviço da peça), peça que estreia nacionalmente hoje, no Festival de Curitiba. A montagem estava em gestação quando o dramaturgo paranaense foi ferido por tiros durante uma tentativa de assalto na Praça Roosevelt, em São Paulo, no dia 5 de dezembro.

O incidente, diz Bortolotto, não influenciou o destino da peça. “Pelo menos não diretamente”, confessa, em entrevista realizada por e-mail. “Tem sim, um tipo de melancolia brutal que tem a ver com o estado em que eu estava. Um jeito ainda mais descrente de olhar o mundo, mas a poesia sobrevive. Mesmo quando paramos de acreditar, a poesia continua lá, então a gente se permite continuar escrevendo”.

A história, encenada por seu grupo, o Cemitério de Automóveis, questiona a efemeridade das relações conjugais. Põe em xeque, por exemplo, o amor incondicional e sugere explicações várias para o fato de nos aproximarmos – também fisicamente – de outras pessoas. Em outras palavras, Bortolotto valoriza a solidão.

“Acho que as pessoas se juntam porque têm medo da solidão, de acordar no meio da noite e não ver ninguém ao seu lado. Não vejo nada de mais no fato de as pessoas agirem assim. Todos nós temos nossas muletas de sobrevivência. Mas eu gosto muito da solidão. E, quando estou cansado dela, sei onde encontrar companhia”, explica o dramaturgo de 47 anos, também autor de O Natimorto.

São três atores principais em cena, três amigos que rondam os 40 anos e, incapazes de manter relações ditas convencionais com mulheres, procuram garotas de programa. “De um jeito ou de outro, nós dependemos das mulheres pra continuar arrastando nossa velha carcaça bêbada por aí. Somos dependentes crônicos da presença delas”, comenta o autor. Estes mesmos personagens são vistos também 20 anos antes do momento presente – em meio aos anos 1960 e em todas as suas explosões sociais, políticas e culturais. A encruzilhada entre o momento estanque atual e a sensação libertária de duas décadas atrás é o mote principal do texto.

Além do retorno aos palcos e a Curitiba, onde morou por um ano, Bortolotto celebra em forma de parceria criativa sua amizade com o desenhista e escritor Lourenço Mutarelli (O Cheiro do Ralo), que praticamente estreia nos palcos como ator. “A motivação principal é que ele é meu amigo, e só trabalho com amigos. Além disso, é um ótimo ator. Para mim, é uma grande honra contar com ele no elenco”, elogia Bortolotto, que também dirige Paulo de Tharso.

Mesmo com algumas limitações físicas devido ao incidente – ainda há problemas de movimentação dos braços, por exemplo –, o dramaturgo nascido em Londrina continua trabalhando. “Eu trabalho ainda mais, mas muito mais devagar. Para um texto que eu escrevia em dez minutos, hoje estou levando uma hora”, exemplifica o autor, também integrante da banda Saco de Ratos Blues.

E, além de sua peça em cartaz no Sesc da Esquina, talvez se­­ja possível vê-lo nos palcos em outro tipo de performance. Gosto muito de vir tocar Rock-and-Roll em Curitiba. Espero que a gente consiga lançar em breve o nosso CD por aqui”.

Serviço

Música Para Ninar Dinossauros.

Teatro Sesc da Esquina (R. Visc. do Rio Branco, 969), (41) 3304-2222. Dias 18, 19 e 20, às 21h. R$ 45 e R$ 22,50.

3/12/2010



Reprodução

Homenagem de Caio Futur

do estadao

Glauco foi líder religioso amoroso, mas exigente com discípulos

Da folha online

RICARDO FELTRIN
secretário de Redação da Folha Online


"Eu vi o meu povo amarrado
Todo acorrentado por falta de amor
Minha mãezinha estava comigo
E me sustentava com seu grande amor."


(Chaveirinho, "Águia Dourada", hino nº 15, por Glauco Villas Boas)

Uma vez Glauco sonhou que a igreja que ele criou, a Céu de Maria, no Jaraguá, era invadida por pessoas que fugiam de São Paulo. No sonho, contou Glauco, as pessoas fugiam da cidade desesperadas, por causa da violência, e ele temeu não ter como ajudá-las, pois eram muitas.

Glauco relatou esse sonho durante um ritual em 2000, no dia em que recebia e celebrava a iniciação de mais um grupo em sua igreja, na chamada cerimônia de "fardamento" --quando os fieis são oficialmente iniciados na doutrina.

Glauco ganhou o título de padrinho ao fundar a igreja Céu de Maria em meados dos anos 90, mas sua origem religiosa é muito anterior a isso. Ele contava que teve a primeira epifania mística ao ler livros de Carlos Castaneda, escritor e guru de uma geração, e autor entre outras obras do clássico "A Erva do Diabo". Definia Castaneda como o grande marco em sua vida.

Antes do Daime, Glauco frequentou centros de ensino esotéricos como Rosacruz, Eubiose e teosofia. Ele tomou o daime pela primeira vez na igreja fundada pelo escritor Alex Polari, na montanhosa Visconde de Mauá, no interior do Rio de Janeiro. Logo no primeiro trabalho diz ter visto "a luz" que modificaria sua vida para sempre. Começou sua caminhada como mestre reunindo um pequeno grupo de amigos em uma casinha no Butantã (zona oeste de SP).

Era lá que todos tomavam a amarga bebida sagrada, enviada pelos pioneiros da Amazônia, bebida feita da folha de planta chacrona e do cipó de mariri, e cujo preparo é também um ritual em si, chamado "feitio", e que pode se estender por até um mês. Glauco costumava se referir ao daime como "o vinho da floresta".

Para os vizinhos do Butantã, no entanto, não havia nada de sagrado nas celebrações, e era comum os trabalhos terminarem com a presença profana da polícia. Glauco, no entanto, teve sua missão reconhecida pela igreja central do daime no país, o Céu do Mapiá, no Acre, e com a benção de suas lideranças montou a própria igreja num grande terreno adquirido próximo ao pico do Jaraguá.

Com seu próprio suor, da mulher Bia e dos filhos de ambos, a Céu de Maria cresceu e, em alguns rituais, reúne mais de 300 pessoas, vindas de várias partes do mundo. Glauco, o padrinho, era querido e amável com todos, comandava os trabalhos no centro da igreja, sentado em um banquinho, acompanhando os cânticos com seu acordeão escuro.

De seu posto central, apenas usando o olhar, era capaz de agradecer ou admoestar o daimista ou visitante que estivesse ajudando ou atrapalhando o trabalho. Da mesma forma que era um líder carinhoso, não hesitava em interromper o ritual e ralhar com toda igreja quando notava falta de concentração ou dispersão.

Além de líder religioso, Glauco também era compositor e deixa para a doutrina que abraçou dois grandes hinários de fé, um conjunto de cânticos, como o descrito nos versos publicados no alto deste texto.

Esses dois hinários, o Chaveirinho e o Chaveirão, foram cantados anteontem à noite, dia de seu aniversário de 53 anos, quase no mesmo local em que ele partiu nexta sexta, vítima da violência que ele intuiu em sonho, mas não pode evitar na realidade.

Seus dois hinários serão cantados novamente hoje, em todas as igrejas daimistas do país, e voltarão a ser cantados todos os anos nesta mesma data, em memória à partida de Padrinho Glauco.

"Mataram o Glauco. Morremos um pouco também."

Não consigo acreditar, nem elaborar o que dizer sobre essa história do Glauco. Prefiro reproduzir um texto de um blog (Querido Leitor, de Rosana Hermann) que eu nem conhecia, mas que expressa perfeitamente o turbilhão de sentimentos que me atinge diante disso:

"Não consigo acreditar, assassinaram o Glauco. O Glauco, o cartunista, o criador do Geraldão, um cara do bem, da paz. Assassinaram ele e o filho dele. Na casa deles. A família em casa.

Vontade de chorar, de xingar, de berrar: mundo de merda, país de bosta, violência filha da puta.
Filha da puta.
Não dá pra fazer por menos, expressar por menos.
Assassinos, covardes, desgraçados.

O Glauco tentou negociar. Conversar. Como é que se conversa com monstros?

Glauco tocava sanfona em sua igreja do Santo Daime. Fui lá algumas vezes. O daime é recomendado para algumas pessoas viciadas em drogas, que tentam largar o vício e procuram paz, um ritual. Fui acompanhar um conhecido.

Fui lá. Tomei o Daime.
Glauco tocava sanfona, todos entoavam hinos. Homens de um lado, mulheres de outro. Tudo tão simples, tão intenso.

O Daime é feito de raizes, uma mistura. Essa mistura teve um efeito forte em mim. De tudo, uma palavra se fixou: firmeza.

Firmeza de fé, firmeza de caráter, de alma. Firmeza. Em todos os cantos, ela volta. Firmeza.

E agora minha firmeza se abala, verga como vara ao vento. Glauco foi assassinado. O o filho. De vinte e cinco anos.

Eu sei, vão dizer que muita gente morre no Brasil e que só comento porque ele era famoso. Cara, não é por isso. É porque ele produzia coisas pro mundo, porque era pai, marido, amigo, porque era simples e centrado, bom e justo. Porque era da paz. Porque tinha firmeza.

Dá raiva, dá revolta, dá vontade de chorar, de ficar puta da vida. Mas é hora de ter firmeza, de dizer o que se pensa, de ter coragem.

E é isso que quero dizer agora. Temos que buscar essa firmeza.

Temos que ser firmes na hora de punir esses assassinos. Firmes para lutar contra as injustiças, a corrupção. Firmes para enfrentar a chaga da violência e combatê-la em todo lugar. Todo lugar.

Firmes.

Assassinaram um pai. E um filho. E com eles, morremos todos um pouco.

Firmeza.
Ou a gente dá um jeito, ou vamos todos pro saco."

Superguidis lança terceiro disco

Foto: Thiago Piccoli

Nosso brother e parceiro Fernando Rosa, grande "capo" do Senhor F nos envia material sobre o novo lançamento do selo. E como o Fernando aqui não pede, manda, confiram abaixo.

A banda Superguidis realiza o lançamento nacional de seu terceiro disco neste próximo dia 20 de março, com show em Santa Maria (RS), no Macondo Lugar, responsável pelo festival independente mais importante do estado. O álbum traz 11 canções assinadas por Andrio Maquenzi e Lucas Pocamacha (veja abaixo) – Superguidis é Andrio (vocal e guitarra), Lucas (guitarra e vocal), Diogo Macueidi (baixo) e Marco Pecker (bateria). O disco vem assinado pelos selos Senhor F (casa da banda desde a estréia, em 2006) e por Monstro Discos, o maior dos independentes nacionais. A produção é de Philippe Seabra, com mixagem do americano Kyle Kelso e masterização de Gustavo Dreher. A arte é de André Ramos.

O novo disco aponta para a consolidação da banda no cenário independente nacional como uma das mais criativas e produtivas entre as revelações dessa segunda metade da década que passou. Fiel e, de certa forma, parceira na construção da platafaforma independente, a banda gaúcha também tratou a internet como grande aliada. Com isso, tornou-se conhecida nacionalmente, o que abriu as portas do festivais e casas de shows, do que é exemplo a largada da turnê pelo Norte do país, com shows em Manaus, Porto Velho, Ji-Paraná e Vilhena, além de Cuiabá, Goiânia e Brasília.

Além de ter seu disco de estréia figurando em listas de melhores da década, e de ter seu show considerado um dos destaques do rock atual, a banda desenvolveu uma sólida carreira discográfica. Segundo eles, além da circulação, e do constante aprimoramento dos shows, discografia e repertório autoral são fundamentais para afirmar a banda no cenário independente nacional. O disco-bônus contendo show acústico (veja abaixo) realizado em Porto Alegre, em maio passado, é demonstração da quantidade de hits acumulados pelo quarteto. Apenas duas canções, do conterrâneos Prozak, não são de autoria da banda.

Sempre destacada por produzir "indie em português", neste terceiro disco o grupo afirma definitivamente sua linguagem particular, por meio de flashes poéticos e desencanados, identificada com uma visão de mundo do jovem suburbano desses novos tempos. Natural de Guaíba, cidade operária e dormitório de Porto Alegre, a banda traduz de forma universal o cotidiano do jovem que anda de ônibus/metrô, tem a "simplicidade de um tênis furado", faz uma faculdade pelo ProUni, mas que, mesmo com internet discada, corre atrás de informação.

O novo disco também premia as escolhas e estratégias de carreira da banda, que afirma-se no cenário nacional apostando na plataforma independente, sem afastar-se de sua realidade vivencial. A parceria dos selos Senhor F e Monstro Discos, assim como a presença de Fabrício Nobre (Macaco Bong, Black Drawing Chalks & Lucy and The Popsonics) como seu novo agente nacional, fortalecem o potencial de crescimento da banda, que conta com público em todas as regiões do país.

Baixe aqui o single: "Não fosse o bom humor"

3/10/2010

Just tell me about your life in art...

Muitas vezes cheguei em casa depois do trabalho satisfeita, com a sensação de missão cumprida, por conta de um bom papo que rendeu uma boa reportagem, ou simplesmente por conhecer uma pessoa com história de vida incrível – ou por falar com um artista importante para a cultura brasileira e pra minha própria vida. Mas, essa rotina boa sempre teve por perto o outro lado. A frustração, a confusão, a insegurança, o peso de sentir-se aquém do que gostaria. O cansaço ruim de sentir que poderia ter feito melhor ou o desgaste por ter que lutar tanto, gastar muita energia, pra argumentar sobre o que não deveria nem precisar de argumentação. Ou pior, o cansaço diante da expressão de ignorância de pessoas que não tinham o direito de exibir aquela ignorância, aquela arrogância... jornalismo cultural – uma das minhas paixões. Agora, estou em suspenso nesta área. To fora de jornal e por alguma razão não tenho sentido mesmo muita vontade de escrever sobre nada (bem, não é bem assim...). To fazendo um trabalho bem técnico.

Acordo cedo, vou pra uma sala com pessoas simpáticas, mas o assunto não provoca o menor envolvimento. Ouço, recebo instruções e faço o que pedem. Raras, muito raras, foram as vezes em que trabalhei assim....

E sabe, que pelo menos hoje, estou gostando?!!!!! Quem sabe não estava precisando mesmo dar essa descansada. Desde 1995 não ficava em casa mais de um mês, sem trabalhar, sem estar correndo pra chegar no horário para alguma coisa. E nem sei quanto tempo não chegava em casa sem esse peso – que às vezes é bom, sim – que a entrega incondicional provoca. Sempre fui do tipo que veste a camisa, que não conseguia parar de pensar no trabalho, simplesmente porque o trabalho que eu fazia era também a minha vida.

Nesse momento não é assim. Esse trabalho é um trabalho. Só isso. Acho que, finalmente, estou conseguindo refletir mais claramente sobre a minha profissão de repórter com mais distanciamento, sem ser tão passional. Depois de 3 meses sem “fazer nada” a não ser curtir meus bichos, meu amor, minha casa e a cidade.

Me sinto estranhamente calma, como se minha vida profissional estivesse mesmo em suspenso por um tempo. Não sei se vou voltar pra Cultura. O que sei é que neste momento minha ida pra algum jornal nesta editoria soa impossível. E isso não está me incomodando, tanto, embora me entristeça. Sigo aqui, ouvindo nossas canções perfeitas, enquanto reescrevo um texto frio, do jeito que querem que eu escreva. Básico do básico, sem maiores preocupações. Isso é tão raro na minha vida profissional que nem lembro quando aconteceu - se é que aconteceu.

Puxa vida, então é mesmo possível fazer jornalismo, reportar sem por a alma e o coração em cada linha? To aprendendo que sim. Se isso é bom ou ruim? Eu desconfio que não é bom, mas me parece que neste momento isso está me fazendo bem. Então vou terminar aqui, ao som da “nossa canção doce” a perfeita, My life in Art. (Adri)

3/05/2010

Hoje


Hoje me afastei da vida que sempre quis
por um pedaço de um triste afeto
eu me dei conta
de um certo olhar
certa vertigem
algum lugar

hoje despertei perto de mim
e decidi não mais sofrer
o que é o sofrer?
Não mais sentir
eu me despi da fantasia

hoje é mais um dia
hoje é mais um dia
hoje é mais um daqueles dias

2/27/2010

Hotel Avenida procura

E a Hotel Avenida está a procura de alguém pra tocar baixo com a gente. Nosso amigo e parceiro Igor Ribeiro terá que se dedicar este ano a outros projetos. Ainda esperamos contar com ele para participações sempre que sua agenda apertada de artista requisitado permitir (rs), até porque o Igor é tipo coringa, e pode tocar vários instrumentos diferentes, mas precisamos de um baixista fixo pra poder tocar as coisas pra frente com mais tranquilidade. Portanto, quem tiver interesse ou souber de alguém que tenha, é só entrar em contato pelo email deinverno2@gmail.com

2/23/2010

“Ainda é cedo amor Mal começaste a vida.....

To fazendo um frila sobre o mais novo trabalho que envolve o pessoal da GGG, Rodrigão e Ferreira, junto com o Samuel Lago. Trata-se da digitalização de entrevistas incríveis feitas pelo jornalista Aramis Millarch, aqui mesmo em Curitiba, com várias pessoas importantes da música brasileira. Ele levava os caras para casa dele e as conversas, bem naquele clima que a gente conhece, amigos tocando, batendo papo. Só que os “amigos”, os “chegados” eram Vinicius de Moraes, Toquinho, Mutinho, tem Cartola recitando; tem Paulo Leminski e Maysa falando e falando; Elis Regina idem... enfim... o que eu ouvi, não tem só valor pra história da música brasileira. Pra mim, só reafirma que o jeito de fazer é assim, valorizando o que temos por perto.
É emocionante ouvir uma gravação, como essas que a gente faz aqui em casa, com Vinicius, Toquinho, Mutinho e Azeitona cantando “nós somos os quatro mosqueteiros musicais”...
Esse Aramis Millarch era um figura, ao que tudo indica. Oferecia tudo do bom e do melhor e levava o “povo” pra casa, pra continuar o show so pra diretoria... Ah...como eu amo esses climas. Claro, guardadas as devidas proporções, isso me lembra muito o clima nas nossas casas do Campina, Casa Azul, na fase áurea da De Inverno, quando os ensaios d’OAEOZ viravam pequenas reuniões de pessoas muito especiais e passávamos horas e horas ali...
assim nasceu o Dusty (e assim que temos o original, o momento de nascimento, de Meg e John), de Pular (que, tenho fé, será agora novamente resgatada) e tantas outras que tão guardadas nas nossas fitas cassetes, presentes pra gente do Ivan, que sempre, sempre teve essa coisa de gravar tudo (agora ele pega no meu pé porque eu quero ficar gravando tudo,né???!!!!). Letras do Rubens, musicadas pelo Ivan. Escritos do Igor que fizeram também a fase inicial d’OAEOZ... até uma noite do rock de inverno... vejam só..., aconteceu lá em casa...
Quem sabe esse clima vai voltar aqui pra casa do Abranches, agora. Já tive duas tardes com o Hotel Avenida na minha “sala de jantar”... hahaha.... Muito bom.

Mas, voltando ao Aramis Millarch: acessem: http://www.millarch.org/
Lá tem parte dos 50 mil artigos escritos por ele e, especialmente,os audios restaturados de entrevistas que estavam em 2 mil fitas de rolo. Tem verdadeiras preciosidades. (adri)

2/21/2010

Hotel Avenida na Radio Microfonia

Radio Microfonia é uma radio online especializada em rock independente nacional, iniciativa muito bacana de um pessoal do RJ, e que surpreende principalmente pelo bom gosto na seleção de seu playlist. Com explica essa matéria entrevista no Senhor F, "a rádio também tem um site, onde destacam-se matérias sobre bandas independentes, um "top ten" e links para pedir e enviar músicas".

E o mais legal pra nós é que a Hotel Avenida já está na programação da rádio, com três canções, o single "Eu não sou um bom lugar", e as versões ao vivo de "Só o amor pode partir seus joelhos", e "Um centavo". Liga lá e confere porque tem muito mais coisas boas rolando na programação que vale a pena conhecer.

2/05/2010

De volta ao oeste

foto by yadayada

depois de muito tempo a gente finalmente saiu da toca ontem pra ir no show da banda Gentileza no James. E os caras fizeram uma apresentação impecável, com direito a casa lotadaça e galera cantando junto e dançando animadíssima em clima carnavalesco. Alias a lotação, o calor e a animação me lembraram os áureos tempos do antigo 92º.
Muito bom ver uma banda relativamente nova com esse domínio de palco e tocando um repertório próprio com a plateia nas mãos. Uma prova da vitalidade da cena local, apesar de todas as dificuldades e dos mau amados de sempre, afinal "sempre tem gente tentado puxar pra baixo", mas enquanto eles tão fazendo isso, quem realmente importa tá fazendo o que interessa: música boa, pra ser ouvida e apreciada, com alegria e despretensão, livre de discursos vazios, filosofias ocas e picuinhas politiqueiras.
Vejo alguns comparando o trabalho deles com Los Hermanos. Por mais que a comparação até possa ter algum fundo de verdade, acho ela raza e superficial. Afinal, ao contrário do que acredita a geração 00, não foram os losermanos que inventaram a fusão de rock com música brasileira, samba, etc. Isso é o mesmo que aquela história de querer comparar qualquer banda que tocasse rock brasileiro com letras reflexivas em portuguès e com violão a legião urbana, que acontece sempre. Além disso, os Gentileza tem uma ironia que é tipicamente curitibana, e que os cariocas barbudos não tem. e que pode ser encontrada também em outros grandes artistas da cidade, como os BAAF-Maxixe Machine, ou Carlos Careqa, ou mesmo no trabalho do Leminski. Um que de não se levar a sério se levando, mas sempre com uma capacidade de autocrítica que poucos tem.

enfim foi uma noite bem legal. mas confesso que apesar de ter me divertido bastante e ter valido a pena, cada vez me sinto mais anti-social, com menos saco pra certas coisas que implica "sair à noite". tipo ficar meia hora em uma fila do bar pra conseguir uma bebida, etc. nunca fui lá muito de boêmia. mesmo quando mais jovem e ainda solteiro já era do tipo que preferia reunir os amigos em casa do que frequentar bar. e com a idade, o casamento, etc, fiquei ainda mais caseiro e com menos vontade de "frequentar". e essa história de lei antifumo só piorou mais as coisas.
mas tem hora que vc tem que se obrigar a sair porque senão começa a ficar neurótico depressivo. e no final das contas depois que vc tá lá e encontra os amigos acaba valendo a pena. principalmente quando ainda tem a chance de ver um show tão bacada de uma banda na ponta dos cascos como os Gentileza.

e que venha o frio! ahaha

1/22/2010

Dramaturgo renasce depois do pesadelo

Estadão de hoje

Quase totalmente refeito, Bortolotto diz que levará a vida agora com 'serenidade'

Jotabê Medeiros

No dia 5 de dezembro, após a sessão noturna de sua peça Brutal, do Espaço Parlapatões, na Praça Roosevelt (corredor cênico que se tornou uma espécie de Off-Off-Broadway nacional), o dramaturgo e ator Mário Bortolotto, de 47 anos, confraternizava com colegas de palco quando se viu envolvido em kafkiana situação. Dois bandidos armados invadiram o teatro, cujas portas estavam semifechadas, e começaram a barbarizar.

Atores foram agredidos e Bortolotto (vencedor dos prêmios Shell, APCA e Mambembe), após levar uma coronhada na cabeça, partiu para cima do agressor. Levou quatro tiros, um deles no coração, e foi levado para a Santa Casa em estado grave. Praticamente desenganado, recuperou-se surpreendentemente, assombrando até seus médicos.

Anteontem, ao receber a reportagem do Estado, parecia plenamente recuperado. Já sai à rua sem problemas, recebe encomendas no elevador. E já marcou até data para voltar aos palcos: 18 de março, no Festival de Teatro de Curitiba, com o texto inédito Música para Ninar Dinossauros.

E os tiros, onde pegaram?

Cara, eu sou o menos indicado para falar dos tiros. Não sei direito. Sei que um pegou no coração. Foi o que mais deu problema, foram nove horas de cirurgia. Era para morrer, né? Os médicos mesmo falam que foi milagre eu ter sobrevivido, porque ninguém chega ao hospital vivo com um tiro no coração, morre no caminho. Em segundo lugar, ninguém sobrevive à operação. Eu consegui chegar ao hospital e sobreviver à operação. Os médicos não botam fé, dizem: "Bicho, é muito milagre."

É verdade que você ficou com duas balas no corpo?

Tem uma aqui, perto da coluna. Se pega, eu tava aleijado. E tem uma outra aqui atrás... sei lá. No raio X tem, tá ali, não sei onde é direito. Sei que tem duas balas-souvenir aí dentro.

E qual eles tiraram?

A que foi no coração.

No seu blog, muita gente pergunta o que você viu enquanto estava em coma, se viu Deus ou se viu o Diabo...

Rarararará! Cara, eu vi o Pereio (Paulo Cesar Pereio, ator).

É sério?

Sério. Eu lembro que não tive sonhos. O que tive foi... Sabe aquela brincadeira que a gente fazia quando era criança, de jogar um palito de fósforo no café e aí formava imagens? Lembra disso? A coisa do palito de fósforo no café era a coisa de formar imagens mesmo, a avó da gente sabia fazer isso. E aí tinha isso, cara: do nada começavam a se formar imagens. Eu via tudo como se fosse uma tela preta e ia se formando uma imagem de fumaça. E eu lembro nitidamente do Pereio, que depois se transformava em Stalin. Eu achava muito engraçado: o que tem a ver o Stalin comigo? O Pereio tudo bem, é meu amigo.

Ademais, você nunca teve pendores para a política...

Pois é, bicho! Apareceu o Stalin, e depois o Príncipe Valente. Sabe umas coisas assim? Meio estranho, umas referências estranhas. Eu me lembro disso dos dois dias em coma. E demorava muito para formar a imagem, era uma coisa que ia muito devagarzinho. E quando aparecia o Pereio era sempre do mesmo jeito, cabeça meio abaixada. Sempre assim.

E a sensação dos tiros? O que você sentiu?

Cara, eu me lembro do impacto. Não chegou a me jogar, porque eu segurei a onda e ainda fui para cima do cara. Levei três tiros, e um de raspão, quando o cara foi dar o tiro de misericórdia, que pegou de raspão, no pescoço. Isso me contaram, que o cara foi embora e voltou. E errou. Eu lembro do primeiro impacto, parece que você está levando um murro muito bem dado no peito. Aí eu caí. Eu estava muito bêbado, muito bêbado.

Foi tudo muito rápido, não?

Muito. A polícia veio me pedir para identificar o cara. Mas eu não lembro, como é que vou identificar? Eu achava que o cara que atirou em mim estava com camiseta branca. Aí eu fui ver na imagem da câmera interna da TV e ele estava com uma jaqueta verde. Como é que vou identificar o cara? Que espécie de testemunha confiável eu sou? Aí ficam falando que eu tô com medo de represália. Medo? Eu não tenho medo de p... nenhuma! Não tenho medo de ir para cima de um cara armado, vou ter medo de represália? Se eu soubesse quem foi o cara que atirou em mim, fazia questão de falar. E não acho que isso seja delação. Delator, o cacete! O cara atirou em mim, pô! Eu não tô me metendo na vida dos outros. Delator é para quem é de gangue, eu não sou de gangue de bandido.

Parece que é mais um estigma se formando. Assim como se diz que em peça do Zé Celso vai ter um ator querendo te beijar, dizem agora que em torno do Mário Bortolotto tá cheio de bandido...

Aliás, eu escrevo muito pouco sobre isso. Se pegar, 10% do meu trabalho é sobre marginalidade. E ficam insistindo nisso. Eu acho uma pena....

Essa nova peça sua que vai estrear em Curitiba no dia 18 de março....

Música para Ninar Dinossauros. É uma peça sobre velhos amigos, eu, o Picanha (o ator Paulo de Tharso) e o (Lourenço) Mutarelli. Não lembro se foi o Mutarelli, quando a gente estava em um bar, que sugeriu uma peça sobre nós três. Aí eu disse: vamos fazer, então. Não terminei o texto ainda, mas eu avisei o festival, eles sabem disso. Vamos começar a ensaiar depois do carnaval. Não somos só nós três em cena, tem um monte de gente na peça. São três caras que só transam com putas. É uma história da nossa geração, uma geração que foi pega no contrapé. Nós nascemos nos anos 1960, não fomos os caras que vivemos as revoluções, as mudanças. A gente nasceu ali sem saber o que estava acontecendo. E, nos anos 1970, enquanto tava todo mundo na luta armada, etc., a gente estava colecionando figurinha do Geisel. Cantando Incríveis, Eu te Amo Meu Brasil, colecionando figurinhas Brasil Pátria Amada. A gente começou a tomar pé da situação nos anos 80, quando já estava acabando. Aí ficou aquela sensação: para que a gente serve? Então a peça é sobre essa dificuldade. Mostra os três jovens, 20 anos antes, e eles também só transavam com putas. Ou seja: eles não mudaram nada.

Quando você chegou com seu teatro à Praça Roosevelt?

Foi quando os Sátiros abriram ali. A gente começou a frequentar o bar do lado, o La Barca. Onde hoje é o Sátiros 2 era o Teatro X. A gente só ficava bebendo ali e começamos a apresentar algumas peças nos Sátiros, como um grupo convidado.

Nunca teve uma ajuda do poder público ali, teve?

Que eu saiba, não. Só tinha os Sátiros. E era muito barra-pesada aquilo.

E hoje não é barra-pesada?

Hoje não é, cara. Aconteceu o seguinte: enquanto os bares e os teatros estão abertos é muito tranquilo. O problema é quando eles fecham as portas. É aí que os noias (viciados em crack) descem. O que aconteceu no dia é que tem essa p... da Lei do Silêncio. Se os Parlapatões baixam as portas, vira uma arapuca, uma armadilha para quem está lá dentro. A gente baixou as portas, o ladrão entrou e baixou de novo. Quem está lá fora não sabe o que está acontecendo lá dentro. Quem está lá dentro vira refém. E é por causa da Lei do Silêncio, porque senão as portas estariam abertas até as 6 horas da manhã. Entendeu? E aí nenhum ladrão vai entrar lá com a porta toda aberta. A praça fica segura. Agora, começa a baixar porta à 1 hora da manhã, vira um lugar ermo, fica perigoso. Não fosse a Lei do Silêncio não tinha acontecido.

Você nunca foi assaltado na Roosevelt?

Eu ando até de madrugada ali, nunca fui assediado, nunca fui assaltado. Só lembro de flashes do que aconteceu. Fiquei muito puto.

Tem uma história de que você partiu primeiro para cima dos bandidos.

Tinham me dado uma coronhada, tinham batido na Guta, na Manu. Entraram lá a fim de barbarizar. "Vamos pegar esses babacas aqui." Subestimaram a gente. Pensaram: aqui vai ser fácil, um bando de atores de teatro, uma rapaziada indefesa. Se tivesse mais uns três amigos malucos meus lá, eles tinham se ferrado. Porque quase eu arranco a arma desse fdp, mesmo sozinho. Se a gente pegasse, a gente quebrava de pau esses caras. Eles levaram sorte, porque fui só eu e o Carcarah para cima deles. Tinha mandado eles para o hospital, igual me mandaram.

Tem essa coisa clichê dos sujeitos que passam por uma coisa extrema como essa e mudam radicalmente. Você não mudou nada.

Eu não mudo. Não sou borboleta. O que acho que muda em mim agora, se é que isso é mudança, é que, se eu vou ficar mais um tempo por aqui, vou fazer umas coisas que gosto de fazer. Não vou ter mais ansiedade, vou fazer com calma, olhar as coisas com serenidade. Não vou mais ter pressa de agarrar o mundo, porque já era para eu ter ido. Tudo que eu fizer agora é faixa-bônus. Tenho duas peças para fazer e mais um filme.

Qual é o filme?

Chama Nove Crônicas para Um Coração aos Berros, um filme do Gustavo Galvão, é o primeiro longa dele. É um filme simples de fazer, vou fazer como ator, são apenas duas diárias. E eu faço de muletas, ou seja, já estou caracterizado.

Houve um momento em que você teve um ponto de contato com o teatrão, quando o Raul Cortez comprou sua peça e montou no Teatro Faap. Você cedeu os direitos porque precisava da grana?

Eu sempre gostei do Raul Cortez. E quanto ao dinheiro... Não foi por estar precisando. Vou falar sério para você: de 2000 para cá eu nunca mais precisei de grana. Até 2000 eu passava fome, não tinha dinheiro para comer. Comia cachorro-quente ali, era meu almoço. Eu sempre ganhei pouco, mas vivo com pouco também. Depois que ganhei o prêmio Shell, o APCA, fiz a mostra no Centro Cultural São Paulo, a partir dali sempre pintou um trabalhinho para mim, eu consegui me manter. Comprei essa quitinete com os direitos que vendi para o Raul Cortez e os diretos de Nossa Vida Não Vale Um Chevrolet. Não gostei da montagem do Raul porque ele ficou com um pé num barco e com um pé no outro. Vem um cara que é fã dele e não gosta, vem um cara que é fã meu e não gosta. Era tudo muito bonitinho, superprodução. Tinha de fazer num teatro mais modesto, com recursos mínimos, com um diretor que obrigasse a uma interpretação visceral.

O que é uma interpretação visceral, em sua opinião?

Quando falo visceral, falo de interpretar com verdade. Eu não preciso muito disso porque já sei o que tô fazendo. Eu escrevi, eu conheço esse universo. Faço com verdade, neguinho acredita no que estou fazendo. E os atores que eu chamo é porque sei que podem trabalhar na mesma sintonia. Não é assim essa coisa de preparação de atores, de arrancar pedaço do corpo, de sair gritando, rolando no chão. Isso para mim é palhaçada, é histeria, não é ser visceral. Ser visceral é ser verdadeiro, para mim. É ir até o fundo do poço. E quando eu vou ao fundo do poço, eu não vou me cansar muito, porque eu já conheço o fundo do poço.

1/15/2010

tem um silêncio novo em casa


a casa ficou tão silenciosa de repente, tá faltando algo no chão. aquele clec clec compassado atrás de mim, nem a correria do corredor de fora, acordando a gente de manhã. olho pro lado e so tem essa grande falta. o lugar vazio ao lado. insuportável. você já sentiu o coração pesado assim? a garganta doendo. pra todo lado que olho... a falta que você faz. mas, agora, sinto o coração até mais leve, só não queria que tivesse sido daquele jeito, com a lembrança do dogui saindo de casa, virando a cabeça, a minha procura, indo naquele carro sem que eu pudesse ir junto. nesses últimos dias, meu melhor amigo definhou, não havia mais como negar que sofria e a gente jamais prolongaria isso. uma porcaria de um bicho peçonhento aproveitou a fragilidade do nosso "vovo" dogui e acelerou o processo que já sabíamos batia na porta. ontem, pulei da cama logo cedo e lá estava ele, sem se levantar, triste, acabrunhado, não vinha mais atrás de mim, não aceitava mais o remédio ( ele que sempre foi tão compreensivo com o que sabia que iria aliviar o incômodol), não comia nada. nem queria vir pra sala com a gente. insuportável ver meu amigo assim.
de ontem pra hoje foram horas horríveis porque eu ficava pensando que ele tava lá na clinica, onde o tratam como príncipe, mas sem a gente por perto. sozinho. encaramos a decisão e fomos lá hoje, eu e ivan. ele tava lá abatido,mas olhando pra gente, procurando a gente. nem foi preciso medicamento, seu coração tava tão fraco que um anestésico o fez dormir, ali do meu lado. lindo.
me sinto mais leve agora, apesar dessa tristeza que volta toda vez que eu olho pro lado e vejo que ele não tá ali. que não vai mais estar ao lado do portão me esperando chegar, nem vai ficar bem no meio da cozinha, enquanto tento nos alimentar. achei várias fotos dele lá naquele jardim da casa do campina, bonitão, no seu auge, correndo, jogando bola, se exibindo, o safado. impossível não passar um filme na minha cabeça desde aquele dia que ele chegou no bagageiro do carro do Junior, da Patrulha, vindo da casa que ele dividia com a Relespublica. Um garotão pastor alemão; lembro da tristeza dele quanto perdemos a tatu; de como sempre recebeu bem os novos moradores, desde a baby, passando pelos filhotes da manu, até chegar à molly, que dormia entre as patas dele.
Como diz a mariele, que o viu logo depois da gente, ele é um cara de mais caráter do que muitos que a gente encontra por aí.
Enfim... meu grande amigo, companheiro de tantas horas, partiu e neste final de semana não acho que vou conseguir ir para nosso belo quintal. (Adri)

1/12/2010

atualizando...



Mais uma pra começar o ano com boas notícias. O blog Move That Jukebox! compilou uma mix tape com o que considera as melhores músicas de 2009, com dez faixas internacionais e dez nacionais. Entre as nacionais, o primeiro single do Hotel Avenida - Eu não sou um bom lugar. Confira e baixe.

Em tempo: o Carlos Eduardo Lima, do RJ, publicou no final do ano uma lista de melhores em seu Blog do CEL. E inclui o EP Hotel Avenida entre os dez melhores lançamentos nacionais de 2009. E o Hotel Avenida entre as "revelações" do ano.

PS: O Gian me alertou agora há pouco. A pedido do blog Goiânia Rock News, o jornalista e editor do site Senhor F, Fernando Rosa, destacou discos e músicas que mais gostou de 2009. Rosa listou no topo de sua lista de músicas do ano o single "Eu não sou um bom lugar", da Hotel Avenida.

1/06/2010

A minha conquista do ano!


Essa gata me encarando, a de cima, é a Tigra Maria e das duas pretinhas, a de trás, é a Chanel FRajuta, junto com sua amiga Moli. Só ta faltando a Lu, depois eu coloco uma foto dela também.



Tem gente que não gosta de gato. Ouço tanto isso, junto com aqueles clichês de que são bichos traiçoeiros, que não são leais e são egoístas. Definitivamente, de nada entendem de gatos e posso afirmar com uma certeza rara nesses dias que alguns dos mais lindos momentos de minha vida foram com esses felinos. São quatro as gatas que moram com a gente, mas foram vários os que conviveram por perto, desde que a primeira delas, minha pequenina Manuela, chegou lá na casa das jabuticabeiras, depois de eu a ter notado na casa dos meus pais, mirradinha, a mais pequenininha e arisca, esconda num canto. Me apaixonei na hora. Já não lembro bem como foram os primeiros dias com ela. Em geral, estes são dias tensos, dias de conquistas, porque é preciso ganhar a confiança deles - e nisso eu digo, os gatos são mais difíceis mesmo que os cachorros (igualmente meus preciosos amigos). Mas, o que eles nos dão depois, a entrega deles pra gente, o companheirismo (sim, eles são muito companheiros, sabem quando to triste e é quando ficam mais por perto, me olhando e falando coisas com esses seus olhinhos bordados. Nunca vou esquecer o dia que a Manu teve filhote – ela ficou tão redonda! E quando eles nasceram, fui a primeira a poder chegar perto dos sete gatinhos. E lembro do jeito dela quando eu ou Ivan mostrava os bebês para alguém: alerta. Ela ficava olhando eu pegar aquelas coisinhas (e uma delas era a minha adorada Tigra Maria, até hoje com a gente, minha doce rabugentinha) que cabiam na palma da minha mão e podia ser esmagados por uma pessoa má. Pra mim, essa lembrança continua sendo uma das maiores provas de confiança que já tive. E se repetiu com outras gatas. por exemplo, a que chamava selvagem, que nem ao meu chamado atendia e vivia fora de casa, foi ter filhote. Onde se deram os primeiros sinais? No nosso quarto. Nem eu acreditei, quando a vi lá, mas me rendi outra vez ao que entendi como mais uma prova de amor e confiança.

Esse ano duas novas gatinhas vieram morar com a gente: a carinhosa Moli que por sua tristeza diante da não acolhida das mais velhas, nos fez trazer a Chanel Frajuta, a mais arisca de todas as gatas que a gente teve.
Nos deu um olé, e cheguei mesmo a pensar que ela não vingaria com a gente, porque não tinha jeito de ganhar a confiança: eu dizia, em certo tempo, que eu era a monstra preferida dela, porque apesar de ela já saber que eu daria comida e tal, não deixava nem a mim nem o Ivan chegar perto. Nas primeiras horas na casa do abranches, ela entrou nas engrenagens de uma geladeira velha de tal jeito, que tivemos que chamar a assistência pra tirar o motor da geladeira e soltar a gatinha, porque a gente não conseguiu liberta-la. E mesmo assim, ela continuou arisca, não queria nossa aproximação.
Ela só foi ceder depois de passar um dia na clínica veterinária para uma cirurgia. Aí, se convenceu que nós somos seus amigos pra sempre. Foi incrível, voltou outra gatinha (embora ainda tivesse seus surtos de medo). Ficou minha amiga e agora é a própria “nermal” (sabe o gato fofinho, dengoso, metido e fru fru que o Garfield odeia?, pois é). Não preciso mais chamá-la, ela ta sempre por perto; voltou tagarela, e não pode ver eu ou Ivan chegando que já se enrosca nas nossas pernas, deita e rola no chão, insaciável em sua vontade de ganhar carinho na barriga. Ela só tem um defeito, essa coisinha: não gosta que eu a pegue no colo, vejam só, uma das regras básicas de ser um gato da Adri. Ok, nenhum gato gosta disso, mas é um acordo que as outras já aprenderam: pra morar comigo elas tem que tolerar um ou outro agarrão, quando baixa a Felícia. E olha, que há uns 20 anos, eu compartilhava alguns daqueles clichês que falei no começo. Até que uma gatinha foi a minha companhia em um reveilon solitário lá nos anos 90... (adri)

Vazio


Sim, eu sei
não era o que planejava
só termina quando tudo acaba em nada
e o vazio
preenche os rios
e os meus dias até o fim
até o final
até um sinal
que a gente sempre deixa escapar

se no fim
alguma coisa deu errado
mil fantasmas escaparam do passado
mas acabou
não posso mais
nem quero mais viver assim
sangrando aos poucos
matando as horas
só pra esquecer que eu sou assim
tão fraco
tão fraco...

1/04/2010

Tindersticks - Falling Down a Mountain



Tindersticks - Falling Down a Mountain

Excelente notícia pra começar 2010. ELES estão de volta com disco novo e com direito a video de apresentação no site oficial. Certas coisas não mudam nunca, ainda bem!

12/31/2009

thats all folks

e pra terminar o ano bem, um momento que define 2009 pra gente. vídeos gravados pelo nosso grande brother e parceiro Luigi Castel, na passagem de som do Rock de Inverno 7. estrelando, Liquespace, Beto Só e 3 Hombres.

Saúde, alegria e felicidade pra todos nós em 2010 e no que mais vier.





12/29/2009

A incultura de todo dia

TEIXEIRA COELHO
FOLHA DE SP (para assinantes)

A cultura cristalizada, objetivada (museu, cinema, folclore) recebe atenção no Brasil. Não muita: alguma. É antes objeto de discussão que de apoio real. Mas recebe.
A microcultura, porém, que forma as relações humanas, a cultura interiorizada, modo de pensar e viver, continua à margem. Rala, esburacada, em frangalhos. A cultura formal e a cultura cotidiana seguem rotas paralelas que deveriam ser pelo menos convergentes.
Sinal claro é o Índice de Desenvolvimento Humano do país: 75º entre 182. Atrás de Sérvia, Rússia, Romênia, México, Uruguai, Argentina, Chile, Barbados, Hong Kong, Singapura, Bahamas, Costa Rica, Líbia... Índices falham. Mas algo mostram.
Integram esse índice a alfabetização e a escolaridade: quantos sabem ler e escrever, quanto tempo passam na escola. Quando se examina o conteúdo de uma e outra, a situação aqui assusta ainda mais.
Nos últimos dados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), os estudantes brasileiros estão na 53ª posição em matemática, entre 57 países; e na 48ª, entre 56, em compreensão de texto.
Um abismo existe entre a cultura objetivada e a cultura vivida. O resultado é o autoritarismo em todas as suas formas (incluindo a corrupção) de humilhação e abuso cotidianos -do ônibus que não para junto ao meio-fio para recolher passageiros ao lixo espalhado nas ruas e às pessoas que, no metrô, querem entrar nos vagões antes que os outros desembarquem, como se os outros não existissem. A incultura faz isso: torna os outros invisíveis. Irrelevantes.
A violência crua é o modo duro da incultura. Com a ausência do Estado em uma de suas funções indelegáveis, as pessoas, desesperadas, querem proteger-se como possível. Terceirizar parece a saída. Ninguém quer saber se os contratados são capacitados. Passa-se a responsabilidade adiante e pronto. Tudo é questão de aparência. E a aparência, aqui, é violência. O Estado passa sua responsabilidade aos que já pagaram por ela e esses a repassam a terceiros, pagando de novo, sem ocupar-se do "produto". Se algo acontecer, a culpa é do terceiro. Não é. Mas todos pretendem que sim. Resultado, "o segurança" é, ele mesmo, não raro, fator de insegurança e da violência que deveria evitar.
É evidente que falo do assassinato de um jovem pelo "segurança" de uma padaria num bairro de classe média alta, ao lado de um ótimo hospital ao qual esse jovem não pôde chegar com vida. Tragicamente emblemático.
Enquanto isso, um economista diz que o Brasil logo será a quinta economia do mundo e que então terá sua autoestima.
Não terá. Sem a cultura como lastro e tecido, o país não se moverá um centímetro do horror que tentamos não ver.
Cruzar a ponte entre a cultura formal e a cultura interiorizada, que juntas sugerem, senão o amor, pelo menos o respeito pelo outro, não é o maior desafio: é o único desafio. A educação foi vista como panaceia universal. Não é. Educação sem cultura, como aqui, nada é.
Cultura tampouco é panaceia. É apenas, e não é pouco, a alavanca restante. Este texto é uma homenagem, ínfima, aos que em 2009 caíram sob o peso da incultura brasileira.

12/28/2009

Bortolotto recebe alta

da Folha Online

O dramaturgo Mario Bortolotto, atingido por tiros em uma tentativa de assalto na madrugada do último dia 5, recebeu alta hospitalar na manhã desta segunda-feira, informou o boletim divulgado pela assessoria de imprensa da Santa Casa.

mais aqui

12/23/2009

The Flaming Lips Doing The Dark Side of The Moon [2009]


É isso mesmo. Em seu novo disco, o Flaming Lips coveriza na íntegra o clássico Dark side of the moon, do Floyd. Forgado os cara.

aqui

12/22/2009

Tempo, tempo...

"Hoje, a grande maioria dos meus amigos se parece muito pouco com o que eram há quatro anos. Para o bem e para o mal, viraram gente que se resignou em um mundo que passa longe de seus sonhos - e têm pra si que não há mais nada a fazer além de maximizar o tempo livre e o dinheiro a ganhar."

do blog do Fernando Lalli.

12/17/2009

"Seja bem-vindo, Mario Bortolotto"

"Só quero dizer que o Bortolotto sobreviveu aos quatro tiros pelo mesmo motivo que a Bárbara Heliodora jamais vai entender o significado de sua obra. Ele sobreviveu porque é o Mario Bortolotto. Pelo mesmo motivo que me fez assistir a todas as peças dele, no mínimo umas vinte vezes cada uma, quero dizer que ele sobreviveu aos tiros porque é assim que acontece nos gibis que ele coleciona, ele sobreviveu para rir das piadas dos amigos, pelas noites de blues (das quais não participo), pelos tragos e pela sinuca e porque ele vem de longe e isso já faz um bom tempo, ele sobreviveu porque o Muttley e o Frankenstein de suas camisetas são à prova de bala, e porque ele reveza esses dois com Milles Davis, ele sobreviveu porque veio lá do Jardim do Sol e porque já havia sobrevivido à violência e ao amor do pai, ele sobreviveu aos quatro tiros porque nunca deixou de reagir à própria rotina e isso inclui (quem acompanha o blog dele sabe disso) levar quatro tiros no peito toda madrugada e fazer uma oração antes ou depois de ir dormir e acordar dilacerado, tanto faz sangrar na Santa Casa de Misericórdia ou na quitinete da rua Avanhandava; ele sobreviveu pelo amor de suas mulheres e pelo amor de sua filha; e porque a Fernanda D’Umbra foi mãe, mulher e filha e teve sangue frio e não esperou o Resgate chegar. Mais vinte minutos – segundo os médicos – e ele teria morrido."

(...)

"Um milagre todo ele é feito de coincidências e, às vezes, de um chiqueirinho de uma viatura policial que chega na hora certa, e é simples de entender: ele devia estar ouvindo La Carne no seu MP3 quando virou pro filhodaputa e disse “atira” e depois disse outra vez “atira, filhodaputa” e o filhodaputa descarregou a pistola, e o dramaturgo sobreviveu porque a luz que incide na poeira é exata e os seus diálogos são certeiros (quem viu as peças dele sabe o que estou falando); ele sobreviveu porque nunca precisou mais do que um sofá velho, três amigos e meia dúzia de latinhas de cerveja quente para contar suas histórias “vai lá garoto, vai fazer o que tem de ser feito” e também porque é um cavalheiro e porque é impossível um sujeito ser um cavalheiro se não for um touro também, sim, um touro que, depois de cinco dias já corcoveava na UTI, queria saber dos amigos, e escrevia seu primeiro bilhete depois do milagre “não chora filha, senão eu também vou chorar”; porque um milagre fica bem melhor com um pouco de poesia e outro tanto de prosa, por isso que ele agüentou o tranco: porque agora finalmente vai escrever o romance que eu e o Bactéria lhe cobramos faz um bom tempo, ele sobreviveu para poder voltar ao Hotel Marina no Rio de Janeiro, não aquele que acende, mas o Hotel Marina quando apaga, porque entendeu que é o mar que olha pra gente e não o contrário, ele sobreviveu porque domina a técnica de seguir na contra-mão e porque, quando levava quatro tiros no peito, ele, ao contrário do que muito filho da puta especulou, não estava brincando de representar, aliás, quando o cara tem uma 45mm apontada diuturnamente em sua direção, ele não tem alternativa diferente de dizer “atira, filhadaputa”, mas ele sobreviveu – também - porque intuitivamente sabia que a associação falsa que o jornalista almofadinha iria fazer sobre o assalto ao teatro e a “violência de suas peças” era tão mortífera quanto a 45mm que o atingiu, e ele sobreviveu para mais uma vez desmentir os canalhas, porque ele tinha de repetir que eles eram canalhas e que,embora estivesse pouco se cagando para a mentira deles (inclusive quando o ignoraram durante todos esses anos), ele não estava ali, no bar dos Parlapatões, fazendo teatrinho interativo para a distração de ninguém, ele sobreviveu porque teve a manha de assimilar golpes desleais até o último disparo e o nome disso é generosidade - ele sobreviveu porque seu anjo da guarda é casca grossa, e agora ele quer saber aonde é que foram parar seus coturnos, ele sobreviveu porque, entre muitas e iluminadas parcerias, fez dupla com o Carcarah, esse outro maluco que sabe o que é dar uma voadora na morte, Mario Bortolotto sobreviveu porque a mesma delicadeza que tira a vida de uns traz a vida de volta para outros."


Leia a íntegra do belo texto de Marcelo Mirisola no Congresso em foco

12/15/2009

Quem sabe, sabe


"Há sempre novos sons para imaginar, novas sensações para alcançar. E sempre há a necessidade de continuar purificando essas sensações e esses sons para que realmente enxerguemos o que descobrimos em seu estado puro. Para que possamos enxergar com uma clareza cada vez maior o que somos...temos de continuar limpando o espelho."

John Coltrane - extraído do livro "A Love Supreme - a criação do álbum clássico de John Coltrane - de Ashley Kahn.

"O que permanece comigo sobre o quarteto de Coltrane é a imagem deles subindo ao palco, sem falar um com o outro, pondo fogo na coisa por duas horas sem nenhuma palavra para ninguém, saindo do palco e se sentando como pessoas comuns. Nenhum entourage ou coisa do gênero em volta deles. Depois faziam tudo de novo, despretensiosamente, diretos e com absoluta honestidade. Assim era uma jornada de oito horas deles - não era entretenimento, não era diversão e brincadeiras. Ainda tento corresponder a essa imagem: faça seu trabalho, faça com intensidade, com convicção e seja honesto com a música".

De Dave Liebman, do mesmo livro.

12/11/2009



francamente. isso é tão flagrantemente bom que pela logica proibitiva do politicamente correto, deveria ser proibido. felizmente não é. benzadeus!

Moshcam



Essa semana descobri um site muito legal, Moshcam, que disponibiliza shows ao vivo completos para serem assistidos em streaming, com imagem de alta definição e som de primeira, e que tem uma lista de atrações de babar. Pra começar, só o show de janeiro deste ano do Spiritualized que tem lá já valeria a visita. Mas ainda tem Black Mountain, Mogwai, e muito mais. O legal é que dá pra assistir o show na íntegra, ou só as músicas que você quiser. Cãofiram! Acima, um pequeno exemplo, uma interpretação acachapante de "Shine a light".

12/08/2009

O preço da mediocridade

De toda essa terrível história que aconteceu com o Mário Bortolotto, o comentário que mais me chamou a atenção foi um texto do blog "Dramaticoblog´s blog", que eu achei através do blog do Ivam Cabral, do grupo Sátyros. No texto, a Márcia Abos conta que uma das coisas determinantes para a ocupação e revitalização da região da praça Roosevelt pelos grupos de teatro foi justamente a possibilidade dos bares locais manterem mesas na calçada, o que fez com que a criminalidade na região fosse reduzida durante um tempo. Ocorre que há três semanas as mesas tiveram que ser retiradas por conta de uma decisão idiota da prefeitura, resultante da reclamação de vizinhos. Na Gazeta de Hoje o Ivam Cabral conta que essa decisão foi motivada por um abaixo assinado com, pasmem, 29 assinaturas, de vizinhos que reclamavam de perturbação da ordem. O resultado foi que a região voltou a ser ocupada pela bandidagem, crackeiros e afins, os assaltos e a violência de sempre.
Isso sem falar que a própria praça em si está fechada há anos, a espera das obras de revitalização, que nunca chegam, porque os prefeitos que lá passaram ter que cortar verbas dessas obras pra poderem investir em propaganda.
Isso só comprova como as pessoas não percebem o preço que a mediocridade e a mesquinharia cobra. Ao invés da ocupação pelos artistas, prefere-se baixar proibições ridículas em nome "da ordem e do sossego". O resultado é que ao invés de uma ocupação sadia, pela arte, tem-se o esvaziamento da região central de São Paulo e de outras cidades do País, que se tornam território para a violência e a criminalidade. Quem paga por isso são aqueles que insistem em resistir, se negam a fugir, e não aceitam se esconder, como o Mário, e as outras pessoas que como ele ainda acreditam que a arte pode ser a resposta para a falta de humanidade. Enquanto na Europa e outros países, o poder público e a sociedade caminha justamente na direção contrário, ocupando o centro de suas cidades com arte, música, vida enfim, aqui a classe média se esconde atrás de seus carros blindados e condomínios fechados para não se misturar com a "ralé". Até quando a gente vai aceitar que os idiotas e medíocres continuem ditando as regras? não sei...

Reproduzo abaixo o texto, pra vocês conferirem.

Para salvar a Praça Roosevelt

Por Márcia Abos


Ao ouvir as palavras de ordem dos assaltantes que invadiram o Espaço Parlapatões na madrugada de sábado, mandando todos se deitarem no chão, Mario Bortolotto teria respondido: “Ninguém vai assaltar ninguém aqui”. Imagino a cena e me assombro com a coerência deste grande artista. O dramaturgo, diretor, ator, músico, escritor e poeta é de uma coerência rara. Jamais fez concessões em sua arte, tampouco na vida. A reação de Mario a um absurdo assalto em um teatro (alguém já ouviu falar de tiroteio em teatro?) diz muito sobre ele, que pagou um preço alto demais por ser fiel a si mesmo: foi alvejado por quatro tiros, alguns deles em órgãos vitais. Ninguém que o conhece duvida de sua recuperação. Ouve-se na praça amigos dizendo: “ele é um touro, um búfalo, vai sair dessa logo”. Vai sim, mas a tristeza e a dor que se abate sobre artistas e frequentadores da praça precisa de consolo.

Há dez anos teve início o processo de revitalização da Praça Roosevelt. Não, a praça não virou um local habitável e cheio de gente por decreto. Começou com Os Satyros que decidiram abrir um teatro no local. Mas ninguém ia até a praça, espaço na época dominado pela criminalidade. Era um lugar sinistro, que metia medo até nos artistas que iniciaram o processo. Mas eles logo entenderam que a praça poderia se transformar com uma injeção de vida. Colocaram uma mesinha com cadeiras na calçada, um convite para um bate-papo. Por muito tempo essa mesinha ficou vazia. Mas era um gesto simbólico, eles sabiam que não podiam recuar. E acertaram. O tempo provou que a praça pode ser ocupada pela paz, por muita alegria e uma ebulição artística sem igual. Demorou, mas a praça tornou-se um local digno deste nome, onde gente de todo tipo se reúne para ir ao teatro, trocar idéias, criar. A Praça Roosevelt é o que temos de similar a Ágora grega, um espaço livre e público.

Mas a tragédia que se abateu sobre a nossa praça na madrugada deste fatídico dia 5 de dezembro de 2009 é também sintoma de um retrocesso na revitalização que começou com uma mesinha na calçada. Há três semanas não existe mais nenhuma mesinha na calçada. É proibido. E a vida parece estar se esvaindo. Muita gente continua a ir aos teatros, mas terminada a peça eles se vão. Acabou o alegre burburinho antes e depois dos espetáculos, acabou a alegria de quem pode ver em uma noite duas peças diferentes e aproveitar os intervalos para filosofar.

Triste constatar, mas este é o caminho para transformar os teatros da praça em algo parecido com o que foi o vizinho Cultura Artística ou como é a elegante Sala Julio Prestes. São lugares de passagem, uma espécie de oásis das elites no meio de um entorno totalmente degradado. Quem vai à Sala Julio Prestes chega em seu carro blindado e com vidros negros, desce na porta escoltado por seguranças, evita olhar para os lados e ver os ‘nóias’ e entra para ouvir as mais lindas e bem executadas sinfonias. Acabado o espetáculo, a saída é ainda mais rápida que a chegada. O jantar, o cálice de vinho, a cerveja são consumidos bem longe dali, no Itaim, nos Jardins, na Vila Olímpia (ou qualquer outro bairro onde é impossível lembrar que existem moradores de ruas, drogados e mendigos em São Paulo).

Ninguém que conhece a Praça Roosevelt acredita que a arte que se cria ali pode sobreviver sem o oxigênio de um entorno vivo, que se alimenta e é alimentado pelo teatro. Portanto, convoco a todos a estarem na praça. Nossa presença é a única coisa que impede a sua degradação. Certo, é proibido mesinha na calçada. Juntos talvez seja mais fácil derrubar o decreto que as proíbe, este sim capaz de destruir nossa ágora. Se a revitalização da praça não aconteceu por decreto, sua degradação pode ser consequência de um decreto exdrúxulo que proíbe singelas mesinhas na calçada. E enquanto não pudermos ter mesinhas na calçada, estaremos lá, nos teatros, em pé, sentados no chão, andando de um lado para o outro…

12/04/2009

tuas mãos

não se iluda comigo
também vou embora um dia
mesmo que não saiba quando
nem porque

faça seu próprio caminho
diga o que quer
ou deixe o silêncio falar
até de manhã

a cortina azul entreaberta
na janela sempre fechada
a esperança de algum tempo
que não deu em nada

os copos jogados num canto
a roupa da velha estação
quem precisa da verdade
quanto tem tuas mãos

quem precisa da verdade
quando tem tuas mãos

12/03/2009

La Carne - Discografia



Taí uma belíssima notícia pra esse fim de ano. A melhor banda de rock do Brasil resolveu desencavar suas pérolas e fez uma nova prensagem dos seus três primeiros discos. Eu se fosse você não perdia essa oportunidade única de adquirir alguns dos melhores discos que o rock do Brasil (aquele que segundo alguns criticuzinhos por aí não presta) produziu, desde meados da década de 90. Eu tenho todos, mas já to pensando em comprar mais alguns pra dar pros amigos, ou simplesmente pra garantir, sabecomoé. Isso aí pode virar peça rara de colecionador com o tempo, nunca se sabe (eheh). Além do que a tiragem é limitada, portanto, não dá pra vacilar. Quem tiver bom gosto e for esperto, é só mandar um email pros meliante lacarne@lacarne.com.br