11/26/2006

"Aquelas canções fizeram realmente a diferença"

"... E estou eu um domingo na casa da mesma namorada, deixando algumas músicas tocarem enquanto outras coisas se desenrolavam, e vem um arranjo simples e envolventemente belo me seduzir os sentidos, enquanto uma voz grave mas nada imposta murmurava: "são os dias engolindo as idéias / tempestade que não passa mais / ontem eu vi alguém que se ama / isso é raro e já não me toca mais". Aquilo pegou. Pegou como "Jukebox", do La Carne, pega - ou seja, é uma apertada firme e impiedosa no âmago, uma coisa que tortura aquele farrapo bem remendado que chamamos de alma. E que, ainda assim, enternece.

Não demora muito, uns "ooh... oo-ooh" tal como um U2 rasgado vêm me chamar a atenção para uma explosão que gente bacana já definiu como ingênua: "não feche os olhos pra sonhar / não pare para descansar / a vida segue e procura o fim / sozinha". Talvez seja ingênua mesmo, mas o que os farrapos do parágrafo acima tentam esconder é a ingenuidade de quem, mesmo não sendo tocado pela visão de "alguém que se ama", ainda se permite ver o hoje com um tesão e até uma esperança que fazem com que a palavra "futuro" possa até deixar de ser figura de linguagem. Algo poderoso, involvidável, urgente, preciso. E emocionante e necessário."

trecho do belo e tocante texto do Leo Vinhas sobre o disco do Folhetim Urbano, e do porquê da música ser tão importante pra certas pessoas, como a gente.
Lembro de um dia um amigo perguntando retoricamente: "cara, porquê será que a gente gosta tanto de som". Sei lá. acho que a música tem o poder de "aprisionar", guardar certos sentimentos, emoções que te atingem de forma indelével em determinados momentos da tua vida, como uma pequena cápsula sonora que a cada vez que você abre, te traz de novo aquelas sensações que te invadem e te jogam em uma espiral do tempo há ponto de certas canções se tornarem parte da sua vida, como se a tua vida fosse um filme e essas canções compusessem uma trilha sonora particular. Sobre a pergunta que o Leo faz: "O que é para alguém saber que, em algum lugar, alguém está pautando uma decisão baseada naquilo que aquela canção lhe trouxe? Ou mesmo saber que as emoções, sonhos e outras coisas se desenham no imaginário e no coração de quem está ouvindo algo que você compôs e gravou junto com amigos ou até desafetos?".

Não posso responder pelo Carlão e o Renatinho, mas posso dizer que se eu fosse eles estaria muito contente com o que você escreveu, Leo, como fico muito contente pela forma carinhosa a que você se refere a "Dizem". Com certeza, saber que a tua música tocou alguém dessa forma e a esse ponto é a melhor coisa que a gente poderia querer. É como se o ciclo que começa na inspiração que te vem, se concretiza na feitura e produção da música se completasse ao provocar essas emoções no ouvinte. (sei lá, não liguem se eu estou viajando demais na maionese, mas é o resultado de um fim de semana agitado pós-Kerouac do Bortolotto, churrasco na casa do Marcelo e da Paulinha, vômito na saída e um domingo tedioso de plantão no jornal). Faz valer cada segundo de perrengue, frustração, impotência e inadequação que a gente tá tão acostumada a enfrentar nesse caminho que as vezes até esquece o porque de se insistir em algo que parece muitas vezes tão sem sentido pra maioria.
Particularmente, e sem qualquer falsa modéstia, tudo o que eu queria com a minha música hoje e sempre sempre foi isso mesmo: causar nas pessoas o mesmo sentimento "quente" e avassalador que eu sentia quando ouvia as canções que me tocavam pessoalmente, como aquelas produzidas por gente que me é tão cara como Tindersticks, Arnaldo Baptista, Morphine, Mercury Rev e tantos outros. Sempre disse que o dia em que eu conseguisse isso, poderia morrer feliz. Sinceramente ainda não fiquei totalmente satisfeito com nenhuma das nossas gravações e tal (papo de músico, eu sei, mas eu não sou músico, então posso). Mas fiquei sim, muito satisfeito com a reação de certas pessoas (mesmo que não tantas assim), pessoas cuja opinião me é muito mais cara do que a da maioria dos "criticuzinhos-profissionais-descolados" que têm por aí. Porque são pessoas que eu sei, jamais falariam (ou escreveriam) certas coisas apenas para agradar (até porque não teriam nenhum motivo para isso, pois a maioria delas a gente sequer conhecia pessoalmente ou tinha uma relação de amizade próxima).

E também faço questão de dizer que hoje em dia, boa parte dessa trilha sonora emocional da minha vida é composta por canções de pessoas que eu tenho o maior orgulho não só de conhecer como partilhar da amizade e da parceria, como "Cachorro Magro" (Íris), ou "Simples" do Deus e o Diabo, várias do Blanched, e tantas outras que agora eu não lembro de cabeça agora. Por isso, sem qualquer tipo de demagogia posso dizer que hoje, entre as minhas principais "influências" (o palavrinha horrível), estão caras como Rubens K, Igor Ribeiro, Marcos Gusso Coelio, Camarão, Linari (La Carne), e por aí vai. Porque são caras que eu não só aprendi a conviver e respeitar e desfrutar da imensa generosidade, mas que principalmente, produziram canções que eu não consigo ouvir sem sentir um "travo" no peito, e uma mistura de sensações de ternura, angústia e terna melancolia, que preenchem os meus dias como uma moldura sonora, contando as nossas histórias, pra quem quiser e tiver a coragem de mergulhar nelas.
abraço Leo, e obrigado por fazer meu domingo melhor.

Leiam a íntegra do texto no blog do Leo. Vale a pena.

6 comentários:

Anônimo disse...

é, velho. estamos todos por perto e atentos. grande abraço, brother.

Anônimo disse...

Repito a frase do Leo - " A música pra mim é importante demais!" A gente sabe o que é isso!! ê lasqueira.

Anônimo disse...

caralho. escutei aquela gravaçãozinha de meg&john. aquele barulho do natal, se não me engano, de fundo. aquele teclado no sequencer que vc tinha acabado de comprar. a tosse e suspiro da adri. tá tudo ali. emocionante. eu fiquei.

Anônimo disse...

pois é Carlão. por essas e outras que a gente não larga o osso. abs

Anônimo disse...

é isso mesmo, Rubens. o coral do antigo Bamerindus ao fundo, a gente gravando no quartinho do Tijucas. muito foda. é uma daquelas "cápsulas sonoras" do tempo que vai ficar pra sempre na memória da gente, pelo menos enquanto estivermos aqui. abs.

Anônimo disse...

Então, show na sexta?? tomaremos umas aê.