11/12/2007

Dez anos de viagens solitárias

Jornal do Estado

O jornalista Luis Nachbin estréia hoje a nova temporada de Passagem Para...no canal Futura

Adriane Perin

Divulgação

Vou pré-produzido para os lugares, mas vou muito livre, me deixo guiar pela minha intuição.

O canal Futura estréia hoje a nova temporada de um dos mais legais programas da televisão brasileira da atualidade, o Passagem Para.... comandado pelo jornalista Luis Nachbin. Trata- se de um programa de vídeo-reportagens, com jeitão de diário de viagens, que tem na simplicidade e no tom coloquial seus grandes trunfos. No Futura, o programa começou em 2004, ainda com gravações antigas feitas em reportagens que foram ao ar no Esporte Espetacular, Jornais Nacional e da Globo, além de Globo Repórter. Foi com o convite de reeditar o material bruto dessas reportagens que ele chegou à Futura. “Essas viagens solitárias começaram em 97 e até agora cem programas foram ao ar no Futura”, conta ele, que também trabalhou no Muvuca, de Regina Casé e no Brasil Legal, todos da Globo. Depois dos quatro progbramas iniciais, em 2005 aquele mesmo material bruto ainda rendeu outros 30 . “Passei 2004 e 2005 plantado na terrinha, que gosto, mas sentia falta das viagens, que voltaram a acontecer em 2006, já para o Passagem”. As temporadas 06 e 07 foram exclusivamente dedicadas às Américas, por onde ele ainda não havia passado.
Nachbin usa um tom de quem divide com o expectador suas próprias descobertas, de quem sacia as curiosidades dos outros, enquanto satistaz a sua também, e um jeito de amigo contando suas histórias marcam o programa do vídeo-repórter. “É bem esse tom de descoberta que procuro dividir. O Passagem é sobre o cotidiano dos lu gares, não quero espetacularizar. Às vezes, vejo a parte mais cultural, noutras, vemos o lado econômico ou esporte. Enfim, a idéia é mostrar um pouco como as pessoas vivem e interagir com elas em seu ambiente”, diz o jornalista.
Imagina-se que umprograma assim exige uma grande equipe, pré-produção nos lugares e tal. Nada. “Vou sozinho”. No Rio de Janeiro três pessoas fazem uma pesquisa. “Às vezes sinto falta de equipe, mas isso tiraria um pouco desse proximidade que o programa passa. Vou pré-produzido, mas vou muito livre, me deixo guiar pela intuição”, diz, sobre o programa que é custeado pelo canal, mas vai procurar parceiras. Nem sempre tudo sai como esperado. em uma vez que ele confiou no seu poder de simpatia, por exemplo, ficou evidente que uma comunidade na América Central não estava gostando nada daquele estranho. E ele deixa isso claro, ao contar a história. Nachbin diz que muitos momentos tensos aconteceram nesses dez anos, mas nenhuma gravação deixou de acontecer.
O que abre a nova temporada hoje, por exemplo, no Haiti, foi um que ele chegou a temer que não rolaria. “Cheguei lá solto em um país em guerra civil. Não tinha como, eu, branco, com uma câmera de vídeo, circular. Esse ano foi disparado o mais tenso”, conta. A saída foi contar mais ainda com o apoio do Exército Brasileiro. “E me aproximei de um segurança do hotel. Foram os dois pontos seguros, equilibrava as informações dos dois lados para saber onde podia ir com segurança”.

Outro momento tenso foi na Colombia, em julho passado. Ele foi a uma região no meio da floresta, perto da fronteira com o Panamá. “É uma zona vermelha, ou seja, de alto risco. Eu sabia disso, mas foi tudo muito tranquilo. No Sirilanca também estive no auge da guerra civil e havia muitos atentatos na capital, Colombo”, diz completando que, entretanto, nunca presenciou nenhuma cena de violência. “Já aconteceram antes e depois de eu sair do lugar. Acho que meu anjo da guarda tava bem acordado”, brinca ele, que já perdeu relacionamentos por conta do ir e vir constante. Agora, com viagtens mais curtas, a família está mais feliz, garante ele. O Futura não tem dado oficial de pesquisa de público, porém o Passagem é o que mais recebe retorno .

“Nós, jornalistas, falamos demais”
Entre os 22 programa que irão ao ar a partir das 23 horas, de segunda a sexta-feira, dois são sobre o Haiti. Nachbin confessa que gosta mais do segundo. “É menos pretensioso”. O assunto é a literatura haitiana. “É muito interessante porque é um país onde 80% das pessoas não sabem ler ou escrever e que gera escritores fanáticos. Encontrei um escritor que é um herói nacional porque não saiu de lá, o que acontece muito por conta do regime”, conta.
Boas lembranças, ele guarda da Colombia, um país que, embora viva sob tensão também, lhe acolheu muito bem . “ Me marcou como um lugar muito amoroso. Tem violência, como no Rio, mas é possível ir pra lá e ser muito feliz, como no Rio também é possível ainda”.

Luis Nacbin é jornalista deste 1988. Foi primeiro para o rádio, sua paixão. “Mas, a televisão acabou me pegando”. Para ele, o veículo está pecando pela falta de renovação de linguagem. “Ter mais ousadia e valorizar a linguagem televisiva. Nós jornalistas, falamos demais. Temos que valorizar o trabalho, em geral muito bom, de nossos cinegrafistas. Reporteres falem menos, deixem a construção se dar pela via visual”, prega ele que também é professor. “Falta renovação no jornalismo em gerla, mas na televisão é mais complicado, porque ela virou umamáquina tão lucrativa e poderosa, que o medo de renovação tende a ser maior”.

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