5/16/2006

Histórias da vida de um rapaz em forma de belas canções

foto: Rafael Dabul

Jornal do Estado de hoje

Adriane Perin

O disco começa com um jazz bem intimista, com os primeiros acordes de trumpetes que começam bem baixinho e vão gradativamente ocupando os espaços em companhia de outros instrumentos, para já no meio da música formar um conjunto jazzístico do qual o trumpete segue sendo a estrela máxima. É quase uma vinheta, o jazz que abre o disco Insomnica, do curitibano Igor Ribeiro. O que vem depois é uma chapuletada atrás da outra em um repertório de 15 canções que foram buriladas por quase três anos. Insomnica começou a ser gerado como o segundo disco da banda Iris, uma das que Ribeiro integra. Mas, na verdade foi produzido na quase solidão completa do estúdio caseiro do músico, com participações de Rubens K, Rodrigo Lemos, Mariele Loyola e Marco Mackoy. É mesmo a viagem bem pessoal do compositor e, portanto, o primeiro disco solo desse rapaz que é um dos artistas mais talentosos do circuito local, com direito a figurar como tal também no âmbito nacional. A carga emocional deste trabalho transborda desde a primeira faixa. Tem nas entrelinhas de canções carregadas de sentimentos, as cores de relações intensas, em escritos confessionais, que soam como acertos e erros de um romance que está no caminho para o fim, mas não sem deixar marcas fundas. Pianos, violões, trumpetes, teclados, guitarras, barulhos. Nada de mais, aparentemente, mas vai ouvir o resultado... Se nota ali algumas influências/referências de Ribeiro. Embora as letras sejam um dos pontos altos do trabalho, não é só elas que calam fundo, provocando até uma zonzeira pela força que mostram. As combinações instrumentais escolhidas por ele captam a tristeza das letras. Ao longo da existência de sua banda, Ribeiro construiu uma sonoridade peculiar na qual é possível identificar claramente o “som da Íris” - e é também a marca do Igor Ribeiro, que, no entanto, consegue em outros projetos se misturar mais aos parceiros. Na Íris, no entanto, parece estar a essência do artista inquieto que nunca fica satisfeito com o que fez. São timbres, arranjos instrumentais e vocais de cores sentimentais que servem de cama para letras pessoais e formam um conjunto de fazer doer o coração, äs vezes, de fazer pensar na vida, de fazer lembrar e sentir tudo de novo.Solidão, saudade, tristeza, busca, tentativa de (se) compreender, um tumulto de sensações que ficam entre o querer largar e não conseguir. Sentimentos que escapam desse álbum, lançado independente. Não é um disco fácil - é de uma beleza doída. Tem seus momentos pop, mas a densidade e tensões musicais dão o tom das 15 faixas.A primeira parte é a mais soturna do disco, com passagens intensas pelos machucados provocados pela vida, como “Meia Noite” (“Se Você acha que a gente deve seguir nossos destinos separados/ é melhor então deixar as lembranças de lado/ é melhor então deixar alguns sentimentos de lado/ Te reencontrei num quarto chorando sozinha/ num quarto escuro meia noite”).Ou “Tuas Mentiras” (“Eu te dei meu coração/você me disse não vale a pena/ Eu te dei meu coração/você me deu os teus problemas. Eu te dei meu coração/ você me disse não gosto de você/ como você gosta de mim/O Amor sempre tem fim”).Cortando as faixas com letra, estão outras igualmente belas, instrumentais. O disco de Ribeiro, que também toca na ESS, tem momentos pinkfloydianos, tem elementos eletrônicos e até uma desconstrução a la Gengivas Negras, mas na maior parte do tempo é Íris/Igor Ribeiro, até a medula. A partir de “O que é que Você vai Fazer”, parceria com Rubens K (Íris e Terminal Guadalupe) Insomnica parece a janela aberta em um dia bonito, para o até então clima sombrio predominante no disco. A partir daí, o álbum tem um som mais aberto, com cores mais pop que o deixam menos introspectivo. Entre estas, duas versões de “Certas Manhãs”, com vocal do Poléxia Rodrigo Lemos (“Lembra de certas manhãs, em que a vida, você eu/ ficavamos leves/ Depois no final da noite a gente se abraçava e tentava descobrir novas maneiras de ser feliz/A gente quase consegui/ foi por um triz”).

Um comentário:

Anônimo disse...

puta disco....grande Igor, sempre foda!!!! sempre.....e maneiro o texto Adri....excelente!!!!