5/27/2008

FAÇA POR VOCÊ MESMO (cena é o caralho!)



Julieta, Paulinha e Marcelo "Boralá" se fartando na Carlão Party Sound 3: ô vida drurys!



Charme Chulo botando lenha na fogueira!


Folhetim Urbano na área: os donos da bola e realizadores natos!

Marcos "Jason" Linari: esse é o cara!

Rubão e eu: Dusty de volta? sei lá, mil coisas!

Quando eu e a Adri viemos pra Curitiba, no início dos anos 90, um amigo nosso, o Felipe, soube que a gente tava fazendo um documentário de conclusão de curso sobre música paranaense, e nos disse logo: “vocês têm que conhecer o 92!”. Então, numa dessas típicas tardes de domingo de outono de Curitiba, nós adentramos em uma portinha sem qualquer identificação, que levava para uma escada, que por sua vez chegava a um porão escuro e enfumaçado, que abriu uma porta pra um novo mundo. Um mundo onde a gente não precisava mais simplesmente ficar pagando pau pros gringos, porque aquela música tava sendo feita ali, por pessoas de verdade, carne e osso, que a gente podia encontrar por aí pela cidade. Pessoas como a gente, que tinham na música uma saída pra esse mundo sem volta, que encontram nela uma forma de expressão e de redenção.
Pois bem, desde aquele dia, meu sonho e objetivo passou ser ter uma banda e tocar no 92. Isso era o máximo pra mim, porque desde que eu vi gente como o Camarão, Rodriguinho Genaro, Jahir Eleutério detonando com o Acrilírico no palco do Porão, ou a Relespública fazendo miséria no mesmo lugar, ou o Rubens e o Coelho terminando o show da July et Joe tocando baixo e guitarra deitados no show, eu sabia que era aquilo que eu queria fazer. Nem mais, nem menos.
Levou muitos anos pra que isso acontecesse, e até lá, a minha banda, o OAEOZ rodou todos os muquifos da cidade, de QG, a café Beatnik, passando por bares de metaleiros no largo da Ordem, Cafénobule, festas em chácaras, teatros como o Kraide e o Paiol, e por aí vai. De lá pra cá o 92 já abriu e fechou várias vezes, mudou de lugar e muita coisa aconteceu. Mas na essência eu continuo querendo as mesmas coisas.
Falo isso agora porque nesses três dias de festividades da terceira Carlini Sound Party and Psy Trance Experience, como era inevitável, a gente conversou muito sobre todo esse lance que envolve fazer e principalmente continuar fazendo música nesse nosso mundinho, no momento em que o mundo e em especial a indústria da música parece desabar ao seu redor, e ninguém na verdade parece saber exatamente o que vai acontecer. E aí eu me lembrei disso, e também me lembrei que do Linari falando pra mim quando a gente teve lá em Osasco em março, que o sonho dele quando começou a tocar em banda era encher um lugar com cem pessoas. E me lembrei do cara do White Stripes (banda que eu não gosto) mas que fala em entrevista da Rolling Stone desse mês dizendo que no começo da banda eles pensavam “se pudermos encontrar 100 pessoas em cada cidade pra manter a coisa em movimento” era isso que eles precisavam.
Enfim, to falando tudo isso porque vejo que as pessoas e as situações mudam, mas muitas vezes as coisas se repetem. O fato é que a maioria de nós começou nesse negócio pra se divertir e fazer boa música, juntar os amigos e ter algumas horas de alegria, e é claro, sentir que pode fazer algo relevante na vida além de se arrastar por aí de casa pro trabalho-futebol-igreja-fantástico no fim de semana. Alguma coisa que nos faça sentir vivos de verdade.
Só que as ambições que o próprio mundo infla muitas vezes faz com que, com o tempo, a gente perca essa perspectiva, e comece a pirar e a alimentar expectativas irreais, que só servem pra produzir frustrações, e atrapalhar aquilo que realmente é importante. Digo isso porque como já citei no texto abaixo e repeti pra algumas pessoas durante esses últimos dias de festa, não agüento mais esse papo de “porque a cena aquilo, porque as bandas isso” e não sei o que, enfim essa ladainha toda que as pessoas insistem em desfiar ininterruptamente, e que na minha opinião, não leva a absolutamente nada. Há muito tempo eu já senti que o que importa é você fazer o que gosta, e que “dar certo” não significa necessariamente ter uma carreira profissional como “artista”, mas sim construir um trabalho que você possa ter prazer em ouvir e orgulho de saber que foi você quem fez. Todo o resto é ilusão, fantasia, coisas que esse mundo de competitividade exacerbada colocam na nossa cabeça, e que a gente acaba acreditando, até pela tendência natural do ser humano de nunca estar satisfeito com nada. Me lembro desses dias a gente lá no Carlão, em um sábado à tarde, ensaiando com o OAEOZ, e o Camarão dizendo: “poxa, é engraçado, eu vejo hoje que se tivesse grana, fosse rico, estaria fazendo exatamente o que estou fazendo agora, ou seja, reunido no sábado a tarde com os amigos fazendo um som, tomando uma cerveja”. É EXATAMENTE ISSO! A gente ta tão acostumado a ficar pensando naquilo que a gente poderia fazer, em como o mundo seria diferente se a gente tivesse dinheiro, fosse famoso, fizesse sucesso e todas essas fantasias que enfiaram na nossa mente que muitas vezes não consegue perceber e aproveitar as coisas boas que estão acontecendo aqui e agora, bem na nossa frente. Como dizia Lennon: “A vida é o que acontece quando estamos fazendo planos”.
Pois hoje mais do que nunca eu sei e sinto que a gente é aquilo que a gente faz, que realiza, e não o que fala, que discursa, que planeja sem nunca dar o primeiro passo pra tornar realidade. E olhando pra trás, posso dizer sem nenhum medo de estar sendo arrogante ou pretensioso, que a gente fez muita coisa legal, e realizou até muito mais do que eu particularmente esperava, desde que entramos pela primeira vez no porão do 92, e saímos de lá cheio de desejos e idéias.
De lá pra cá a gente se tornou amigo e parceiro de grande parte daqueles caras que via no palco fazendo aquelas coisas maravilhosas e incríveis, e só isso pra mim já seria o suficiente pra ficar feliz. Mas mais ainda, a gente construiu um trabalho, uma obra, que se não tem relevância pro mercado ou pros “especialistas”, conta a nossa história de uma forma contundente, como ninguém mais poderia fazer. E fico ainda mais feliz que as sementes que a gente espalhou por aí germinaram e produziram frutos maravilhosos. Fico extremamente feliz, por exemplo, em ver uma banda como o Charme Chulo, que a gente conhece desde a primeira demo, e que um dia veio nos procurar querendo uma chance de tocar no Rock de Inverno, ver como eles cresceram, amadureceram e se tornaram artistas de altíssimo nível, e o que é mais importante, mantendo o pé no chão, e sem perder a clareza das coisas que são realmente importantes, a amizade e o companheirismo que no final das contas está na raiz dessa coisa toda de fazer música. Ver que eles mesmo tendo motivos de sobra pra isso, mesmo hoje sendo uma banda conhecida no País inteiro, se apresentando nos maiores festivais brasileiros (por méritos totalmente próprios, talento, e por não ficarem de conversa mole de que não tem apoio, não tem espaço, mas por terem corrido atrás e conquistado o que merecem) não perdem a chance de fazer um som na festa do Carlão, lá com os amigos, sem nenhum "glamour", muito menos preocupação que não promover alegria e se divertir. Essa é a chave de tudo, na minha opinião. Por mais que você tenha ambições nesse meio, é fundamental não perder a perspectiva das coisas, não esquecer que a essência de tudo é essa. Do contrário, você correrá o sério risco de se frustrar e acabar jogando a toalha.
E como disse, não agüento mais ver neguinho repetindo a cantinela de que “porque que a cena não dá certo”, “porque que as bandas não são conhecidas”, etc, e tal. Porra, será que os caras não perceberam que o mundo mudou, e que essa coisa de artista como um ser iluminado e acessível, isolado em um olimpo, rodeado de gueixas e andando por aí de limusine é um negócio que só existe no cinema holywoodiano, que isso não tem nada a ver com fazer música, fazer arte de verdade?

Como disse o Mário Bortolotto recentemente, sobre teatro, mas que se aplica perfeitamente a música: (...) um espetáculo "dar certo" pra mim não é se transformar num sucesso retumbante, casa lotada e bilheteria astronômica. "Dar certo" pra mim no caso, é realizar um bom trabalho, ficar satisfeito com o que assisto da platéia.”
É isso que eu penso. E que esse papo de porque a cena isso ou aquilo já deu! A cena somos nós, somos aquilo que nós fazemos de nossas vidas, somos a gente que gosta e faz música e todo mundo que ta envolvido nisso. E desde que eu vim pra cá, lá nos anos 90, nunca teve uma semana em que não tivesse um show legal de uma banda fazendo um som de qualidade na cidade pra ver. E o JR ta lá até hoje, e o Ciro Ridal ta por aí produzindo programas de rádio e de televisão, e o pessoal do BAAF ta aí com a grande garagem, lançando mais uma panelada de discos de alto nível. E um monte de gente nova surgiu no pedaço, como o pessoal do tinidos, prasbandas, ruído corporation, etc. E se os jornalistas antenados que decidem o que é bom e o que não é nos mass media não sabem disso, quem tá perdendo são eles, e aqueles que dependem só deles pra se informar e não vão atrás de outras coisas, não nós. Porque o público também tem que ter curiosidade de não ficar só consumindo prato feito e ir atrás de coisas novas diferentes. De não se contentar só com mesmice, da mesma forma como a gente, lá nos anos 80/90, quando não tinha internet nem nada, copiava as músicas em fitinhas k7 que um ia passando pro outro e assim descobria coisas que não tavam rolando na mídia.
Então parem de falar que a cena não existe, que não tem nada, que nada dá certo, porque já deu certo há muito tempo. Se você acha realmente isso então cai fora ou pára de encher o saco! Quem fala isso ta que nem aquele cara que fica na frente da tv batendo punheta vendo um filme pornô e não vê a mulher dele passando pelada na frente. Vai lá e goza porra! Pára de nhenhenhém. Para de esperar as coisas dos outros, faça você mesmo e faça POR VOCÊ MESMO.
É isso que a gente ta tentando fazer desde sempre. E que vai continuar fazendo enquanto tiver forças. Nem que for só pra se reunir com os amigos no quintal, fazer um som, e dar muita risada. Porque no final das contas, o que se leva da vida é a satisfação que se tem em vivê-la.

5/26/2008

Entre mortos e feridos...













Então. A terceira Carlão Party Sound foi um sucesso absoluto. Clima perfeito, som legal, novos e antigos amigos, shows excelentes (teve até uma jam de electro “ui” rock no final com participação do mestre Linari nos vocais ahahahha), Charme Chulo dando uma aula de musicalidade e alegria (tiveram a manha de tocar uma versão ótima de “Moreninha linda” que transformou definitivamente a festa no arraiá do Carlão), comidinhas de primeira (aquele cuzcuz feito pela Julieta tava o bicho) e muita, muita risada. Ainda estou me recuperando, e tinha um monte de coisa que gostaria de falar, mas enquanto isso, coloco aqui algumas imagens do negócio, feitas pela Gabi. E repetindo aquilo que a gente conversou durante a festa: pra mim não tem coisa melhor que isso, juntar os amigos e fazer um som sem nenhum compromisso que não a diversão e o companheirismo.
Como eu disse lá pra várias pessoas, não venha me falar de cena isso, cena aquilo. A cena somos nós, e nós somos aquilo que fazemos das nossas vidas. O resto é conversa fiada pra criticuzinho de blog onanista passar o tempo. E eu definitivamente tô fora dessa.

5/23/2008

Morphiris



em homenagem ao mestre Linari, que ta poa aí nos visitando de novo, e misses Julieta. Íris tocando Morphine no dia 11 de julho de 2005, com Paulinho Branco, no antigo Korova. Clássico!

5/21/2008

Argumentos Ao Vivo da Crise

Dopropriobolso

OAEOZ Ao vivo na Grande Garagem que Grava - 1 de setembro de 2007

Faixas: Deserto / Desculpas (Não quero saber) / Conversa na laje / Meg & John / Flores Mortas

Tamanha é a mediocridade que você despreza a sensibilidade, a postura e plástico de promoção é o que viramos. Não conheço banda com pinta de mártir, talvez o Lila seja o oráculo que minha filha adolescente consulte via fones de ouvido, no caso d’O AEOZ, essa apresentação impagável é atravessada pelo fantasma de Ziggy Stardust.

Nesta canção apropriadamente chamada de Deserto, o tempo passa bem devagar em meio às palavras vazias – náufragos da criatividade? A letra é acentuada pela música até o fim das palavras vazias num hipnótico jogo lúdico de palavra e som até o fim...

Desculpas (Não quero saber) : são leves desarranjos salpicados de súplicas: “mas um dia é só uma desculpa pra continuar

/ mas um dia é só uma desculpa pra continuar”.

Conversa na laje foi escrita a partir de uma conversa de amigos: 'é tão fácil julgar / o difícil é esperar / tirei a sorte grande / te levei pra bem longe / meu coração não se cansa de...' o monódico canto de ‘eu vou sobreviver / não vou mais querer sofrer' é acasalado por uma extraordinária linha de baixo e uma fantasmagórica guitarra com precisos bends nem é preciso registrar a avassalante caminhada da bateria em ápice e constante harmonia com o crooner. A melhor coisa nesta apresentação do OAEOZ é o impecável controle da situação tanto ao vivo quanto em estúdio.

Eles se valem de canções autobiográficas mesmo escritas por amigos como Meg & John de Rubens K., que registra o vital convívio-experiência com os grandes poetas...

Apropriadamente a última faixa, Flores mortas não lembra nada; nada antes “que sentimento é esse?”. Do abandono da solidão do tempo em quando éramos menos cínicos menos cúmplices e mais audazes? Nós somos as flores mortas na janela? Uma nova lição, nem sempre o passado é doloroso no caso desse ao vivo renascem as perspectivas... são renovados os argumentos da crise.

Eu também queria chamar à atenção para a carta aberta em forma de press-release assinada pelo Leonardo Vinhas que também narra as nossa experiências, frustrações e por quê não sabedoria?

Mário Pacheco

5/19/2008

Falsas baladas no S&Y

"Com dez anos de estrada, o quinteto curitibano alcança a maturidade musical em um álbum que impressiona pela maneira que despe sentimentos, desejos e sonhos. "


confira lá, no Scream Yell, o texto de Marcelo Costa sobre "Falsas baladas..."

5/09/2008

Falsas baladas Remastered Deluxe Edition



DOWNLOAD DJÁ!

Dizem por aí que mixagem a gente não termina, desiste. Masterização não é muito diferente (ehehe). Essa introdução é pra dizer que demos um gás na master do “Falsas baladas e outras canções de estrada”, novo disco de estúdio do OAEOZ. Notamos que o volume tava um pouquinho a abaixo da média dos discos poraí. Nada muito grave, nem muito perceptível, mas uma diferença considerável quando se ouvia no player de MP3. De qualquer forma, enfim, quem quiser conferir essa nova versão REMASTERED DELUXE EDITION BY OURSELVES MESMOS, é só baixar lá no HOTISITE DO OAEOZ.

5/08/2008

Dopropriobolso


Há coisa de uns dez anos atrás tomei contato com o livro "Balada do Louco - do desengano em direção à vida", do jornalista Mário Pacheco, que se atreveu a escrever uma biografia do Arnaldo Baptista muito antes do revival em torno dos Mutantes. Editado de forma independente, como sóis acontece com quase tudo que se refere a cultura "não contabilizada" como relevante pelos mass media do nosso País, o livro chegou até mim através de uma cópia emprestada do amigo e batera Rolando Castelo Junior, não por acaso ex-parceiro do próprio Arnaldo na Patrulha do Estado. Fiquei desde logo impressionado com a forma passional com que o autor lidava com aquela história por si só já passional e emotiva. Ao invés da pretensa e falsa "objetividade" jornalística, o que se via nesse precioso livro era uma entrega total e absoluta de quem realmente viveu, sobreviveu, ouviu e queimou muita coisa por aí, mergulhando de cabeça na história de um dos maiores artistas contemporâneos brasileiros, e mais do que isso, na história da própria contracultura do País.
Anos depois, já quando do lançamento do "Ás vezes céu", consegui o contato do Mário e mandei pra ele o disco, sem qualquer pretensão ou esperança de retorno, afinal, não conhecia o cara, não tinha a mínima idéia de se ele ia ou não gostar ou sequer ter tempo e interesse pra ouvir. Para minha grata surpresa, dias depois recebo um telefonema em casa do próprio Mário Pacheco, querendo conversar sobre o disco. Foi com certeza a entrevista mais legal que já fizeram comigo, porque ao contrário do que normalmente acontece, as perguntas dele fugiam e muito daquele roteiro batido que a gente vê em geral nessas ocasiões. E é claro, o texto escrito por ele na época também foi um dos mais incríveis e criativos já publicados sobre o OAEOZ.
Diante desses antecedentes, com o lançmento dos novos discos, eu não poderia é claro deixar de refazer esse contato, e mandei semana passada os nossos lançamentos pro Mário, que tem um site, o apropriadamente nominado "Dopropriobolso", que andou fora do ar por uns tempos, mas está voltando. E ontem (quarta), recebi um e-mail emocionado e emocionante do Mário agradecendo os discos (como se fosse preciso).
E hoje (quinta-feira), ele me mandou alguns e-mails comentando suas primeiras impressões, que com a autorização do autor, eu reproduzo abaixo. São daquelas coisas que enchem a gente de energia renovada pra continuar nesse caminho, "mesmo que não saiba pra onde"...

O ÁLBUM BRANCO D'OAEOZ

Dúvida! Não sei se a vida inspira os phatos ou é arte?
Teu disco me recorda a resenha do último disco da Legião que li na
Bizz, o disco era "Tempestade" e o crítico foi muito feliz no
prognóstico - acho que o papel da resenha é levar a ouvir o disco
Sonoramente teu ao vivo pega gancho no Banquete dos Mendigos no
próprio AEOZ e Pink Floyd. Melâncolico ou mórbido? Mas o título é
dúbio falsas baladas e outras canções de estrada - se vc trocar os
discos de capinha tanto faz...
Rock Adulto? Entonação oitentista (Zero) Ballet Bauhaus Novo Cinema
Alemão Rock Teatral e a maior homenagem a Nei Lisboa, o disco que ele fez com outro nome - Disco da noite/dia luz/ - o tema do sol é lindo como uma banda que me esqueço o nome agora - ramo do Bauhaus mas tem aquele outro cantor australiano que morou em São Paulo vivendo o filme das tuas palavras. "Meg & John" de Rubens K. é a minha história com outros nomes - incrível nunca tive tanta saudade dos anos 80. alguns
acordes do ao vivo também me fizeram imaginar como os "headbangers" podem ignorar teu disco, ou por quê nós somos privados da oportunidade de assistir a este show? Mas esta é a máxima da arte guardar p/
descobrir a esquizofrênia em "deserto" e é certo que o AEOZ trabalha
arduamente em suas músicas e linguagens e discos.
Dois lados um ao vivo e outro de estúdio, sabiamente via dowload - boa - bootleg ao inverso - fiquei meio desapontado quando vi que o
primeiro cd era queimado e o segundo ao vivo oficalmente presnado sem contato c/ o ar - e ouvindo entendi que era um disco de downloads coisa de fã - peguei o espírito!

(...)

tô curtindo muito o disco elétrico - conhecendo os ensaios e os
outtakes do álbum branco a gente enxerga uma similaridade até nas
coisas mais cruas - Mariana é uma música muito bonita e este
desprendimento dos arranjos da duração das faixas e ecos com Joy
division - Renato Russo - ainda não analisei o lado lírico - mas eu
gosto como vc dá as notas no vocal e o arranjo vai atrás - o
convencimento da forma - a guitarra é muito bem tocada, muito bem
dosado - minimal - os arranjos são mais sofisticados tem um piano
bonito - uma introdução diferente - parece produção da gravadora
Stilleto - por isso eu ACHO oitentista - pega o Varsóvia - pega as
nossas releituras de Rimbaud

INTRAUTERINO CAFONA SENTIMENTAL OTIMISTA ESPERANÇOSO APAIXONADO -
SOLITÁRIO - NOSTÁLGICO mas NUNCA OMISSO QUANTO ÀS RELAÇÕES É O TIPO DE
DISCO QUE A GENTE PROCURA OUVIR
Vc sabe, que eu não conheço muito de Você e o disco leva a essa
procura em saber quem é vc- então o disco é perfeito
a expresão do it yourself - explica tudinho era isso que eu queria
ouvir - apesar de eu usar bootleg com o mesmo significado.
Receber este disco já velu a pena recolocar o site no ar e é o que
estamos fazendo divulgando a música doprópriobolso.

Mário Pacheco

5/07/2008

Volkana: com a mesma raça , peso e fúria



Jornal do Estado/Bemparaná

A banda “de mulheres” fez história como pioneira no mundo masculino no thrash metal

Adriane Perin

– Quero que cantem nosso som, refrão e tudo mais.
– Pode deixar, vão cantar.
– Peso vai ser inevitável (risos).
– Vamor tentar fazer algo que nunca fizemos.
– Com a mesma raça, peso e fúria.
– Hoje o lance é postura no palco, nem tanto agitar.
– Postura sempre foi tudo.
– Nós já temos moral, Marielle. Só falta voltar.

O diálogo acima é um pedaço de conversa no msn entre a curitibana Marielle Loyola, cantora e compositora e Mila Menezes, gerente de loja de instrumentos. Marielle é conhecida aqui pelos dez anos com a banda Cores d Flores, que está com disco novinho, Paixão. Mila foi a baixista da brasiliense Volkana, quarta formação musical de Marielle, que deixou seu nome cravado na música brasileira como pioneira do thrash metal feito por mulheres, no Brasil. É verdade que tinha um homem entre elas, o baterista Sérgio Facci, mas foi como “uma banda de garotas” chegadas num som pesado que elas ficaram conhecidas.
A razão do encontro on line é uma boa notícia: está confirmadíssima a volta com a formação considerada clássica – as duas e Renata (guiarra), Sérgio Facci (bateria) e Karla Carneiro (guitarra). Dia 19 é o primeiro ensaio. O repertório deve ter músicas dos dois discos – First, de 1991 pela Eldorado, com Marielle, e Mind Trips, com outra vocal). Na conversa on line Mila pergunta se Marielle cantaria o segundo disco, com vocais bem diferentes dos seus. “Eu canto, pode deixar”, foi a pronta resposta bem ao estilo dela. “Mas temos que inicialmente voltar muito más (risos). E depois vamos nos adequando ao mercado... que está a nossa espera”, completou a curitibana, quem sabe lembrando a sensação de ver do palco, a marmanjada silenciada diante da potência sonora que as minas-thrash, inesperadamente pra eles, produziam.
Ela ficou cinco anos na Volkana e tem no currículo também Arte no Escuro (lançou vinil homônimo em 1988 pela EMI) e Escola de Escândalo (gravou coletânea Rumores), ambas da fase de “nova geração” do rock de Brasília - aquela que veio logo depois que a turma da Colina trouxe outras texturas e densidades ao rock brasileiro.
É neste clima empolgado que estão, e ja com uma produtora, a Magma, marcando shows. Marielle adianta que embora ainda não esteja confirmadíssimo, “vai ser no festival Porão do Rock a nossa volta. Tem que ser somos de Brasília”. Esse retorno, conta a baixista, tem tudo a ver com os fãs. “No Orkut chovem pedidos”. Daí veio o convite para o Virada Cultural em Sampa. Era o que faltava, mas elas não querem nada às pressas. “Quando todos toparam resolvemos deixar a coisa maior e melhor”, diz Mila, completando que tudo rolou nos últimos dois meses. Até então, cada um estava tocando sua vida. “Mas essa mesma vida nos leva a voltar a batalhar pelo nosso sonho, que foi o Volkana”, assegura a baixista. Nesse tempo, Renata e Sergio seguiram tocando de forma paralela aos trabalhos formais. Mila e Karla se mantiveram perto da música. “Resolvi me refazer, cuidar do meu filho, me reconstruir como pessoa”, diz Mila.
História — Mariele esteve no Volkana por quase cinco anos. Com a banda saiu de Brasília, junto com Mila, Karla e Débora. Débora acabou cedendo lugar para vários bateristas “legais, mas sem a pressão dela”. “Lançamos a Roberta, que a Claydermam, dos Titãs Branco Mello e Sérgio Brito, levaram quando a viram em nosso ensaio”, lembra Mariele.
Até que surgiu Serginho, da banda Vodu. “Ele tava sempre por perto, pedimos pra fazer uns shows com a gente e ele foi ficando. Virou peça importante”, lembra a curitibana, não dispensando a chance de pagar uma. “No começo o pessoal achava que era uma guria também. Ele ficava puto da cara, mas a gente se divertia”. Ela lembra ainda a Volkana Selminha, guitarra -solo “roubada” pelo guitarrista do Creator.
O último show de Marielle foi no Aeroanta em 94 depois de shows por todo o pais e pouco antes dela voltar a Curitiba e criar, junto com o então marido, Marco Mackoy, o Cores. Casamento, filha, irmão doente cansaço e o desejo de cantar em português. Tudo isso contribuiu para ela querer dar um tempo.
E o Cores como fica, em pleno lançamento de disco? “Bom, Cores é minha alma. Volkana é meu lado ‘sangue no zoio’”, explica e emenda, empolgada. “Sempre fui uma metaleira completa”, diz ela que vai botar lenha pra sua ex- ex-banda assumir a língua pátria também.

O ano misterioso que não quer sair de cena

Jornal do Estado/Bemparaná

Zuenir Ventura revê, 20 anos depois,os personagens de seu mais importante livro

Adriane Perin

Quando o trabalho deu os primeiros estalidos, a idéia era uma edição atualizada do livro 1968 – O Ano que não Terminou. Mas logo que o jornalista Zuenir Ventura, o autor, se debruçou novamente sobre aqueles personagens, outra história tomou forma. Ele ficou com vontade de descobrir o que foi feito daquelas pessoas, sonhos, desejos e ambições que marcaram o “ano que virou personagem”. A vontade acabou desagüando nos jovens de hoje, cujos dilemas e solidão preocupam o jornalista de 76 anos. “Tanto Cidade Partida (Cia. das Letras) quanto 1968 são sobre jovens excluídos, socialmente , aqueles, e politicamente, estes. Os dois trabalhos convergiram para essa investigação, que acabou sendo também sobre jovens. Quis saber se houve continuidade, quais foram as rupturas. Encontrei jovens de 68 espalhados em vários setores, no governo, na oposição, na sociedade em geral”.

A ânsia em encontrar as respostas conduziu a 1968 – O que fizemos de nós, livro lançado em caixa comemorativa pela editora Planeta, junto com o clássico que chegou ao mercado há 20 anos, tratando da pesada experiência brasileira com a ditadura militar. “A herança deixada é plural”. Sua maior surpresa, conta, foi encontrar rastros de 68 em uma rave, que é, diz, parecidíssima com Woodstock. “O livro foi desenvolvendo dessa maneira, fazendo ponte, criando diálogo. È uma investigação sobre coisas que eu queria fuçar, precisava saber, perguntar”, diz Ventura.

Na conversa por telefone, ficou clara uma certa aflição sobre o futuro e a crença de que é preciso entender as gerações de agora. A expectativa de vida está aumentando, mas não se sabe se o planeta vai suportar, pondera ele. “O pessoal das gerações mais velhas costuma apontar que os meninos de hoje não têm um projeto, mas o que deixamos para eles é muito incerto. Vem daí o apego ao presente”, observa. Uma urgência que o impressionou, e que ele reconhece como uma “busca pelo paroxismo”. “Essa busca agônica deles, vertiginosa; o transe do risco, que notei na rave. A geração 68 fazia a mesma coisa”, observa. “Aprendi muito nessa pesquisa e com um personagem dela em especial, o psicanalista João Batista Ferreira, que foi um importante padre, deixou a batina e é psicanalista de jovens. Ele foi quem me disse que tem um 68 dentro de 2008. Fiquei com aquilo na cabeça. Completei com o que Caetano falou: para ser parecido com aquilo que vivemos tem que ser completamente diferente. Essas frases que me impressionaram muito”.

Na primeira parte do livro Zuenir busca o caminho percorrido por 68 nestes 40 anos, e vai descobrindo traços dele. Encontra remanescentes dos Meia-Oito no governo e na oposição, enquanto trata de mudanças comportamentais, conquistas e novos inimigos a serem enfrentados, valendo-se de pesquisas e estudos. Na segunda parte estão entrevistas com Heloísa Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Fernando Gabeira, Franklin Martins, Fernando Henrique Cardoso e José Dirceu. “Não julgo meu entrevistados, seria antipático. Apenas coloco o que disseram e meus questionamentos diante das pessoas”, diz o jornalista. A seguir trechos da entrevista:

Jornal do Estado — Em duas décadas, desde o livro, e quatro desde os fatos que o geraram, passamos das “utopias socias para as corporais”; da crença na força do coletivo para um individualismo cada vez mais extremo. Como você se sente nesse turbilhão?
Zuenir Ventura — Acho que falta a gente entender essa geração; nós é que temos que entender, o pai tem que entender o filho. É preciso uma autocrítica. Eles têm razão de não querer saber de política, afinal que modelos temos a oferecer? Porque ninguém nem pensa em ser um Senador da República entre eles? Por outro lado, ninguém mais entende a revolução tecnológica do que eles. Não podemos querer que se pareçam com a gente. Não são iguais e não são piores por isso. Tive um pouco de humildade e aprendi nessa pesquisa a ter um olhar mais generoso e compreensivo, menos intolerante e arrogante. Porque quanto mais viramos as costas pra eles, mais sem saída eles se sentem. A geração 68 era mais folgada, arrogantezinha. Se a geração anterior a ela não queria saber dela, ela respondia: “Não confie em ninguém com mais de 30”. A de hoje não tem essa agressividade, fica na dela. Pensa: “não quer conversar comigo, não quer me entender, tudo bem vou pro computador conversar com minha patota”.

JE — Você consegue identificar a principal herança meia-oito no Brasil? Movimento estudantil, engajamento político; liberação sexual, direitos femininos...
Ventura — A herança ruim foi as drogas. Havia uma ilusão ingênua em relação aos efeitos desse consumo, no sentido de abrir a mente e isso virou um instrumento de morte. Hoje existem verdadeiras multinacionais do crime, da morte, da degradação física. E o pior é que a gente não sabe como lidar com isso, sequer discute claramente e combate de uma maneira absolutamente equivocada, desastrosa e ineficaz. É a mazela do mundo. Pra Aids daqui a pouco vai se achar a vacina. Já com as drogas vamos ter que achar um ponto de equilibrio entre a repressão absoluta e o liberalização total.

Avanços comportamentais são maiores que políticos

JE — E a boa herança seria no comportamento feminina? Afinal, bem pouco tempo atrás mulher sequer podia ir sozinha a um bar....
Zuenir — São várias pegadas positivas. Você cita a condição feminana e tem razão. Na entrevista com Caetano e (Fernando) Gabeira eles apontam isso como o maior ganho. Tem também as três avós, do primeiro texto. Elas se separaram, mas como atitude de fazer na prática o que pregavam. Experimentaram a liberdade, indepedência. Mas, hoje em dia, casar e descasar virou algo muito banal. Mesmo assim, acho que no plano do comportamento, em geral, realmente houve mais avanço que no plano da política.

JE — E o jornalismo ...
Ventura — Aí rende outra entrevista (risos). Foi profundamente alterado pela tecnologia, pela informação em tempo real. Em 1961 eu pedia uma ligação um dia antes para conseguir fazer entrevista. Mesmo por avião, as correspondências levavam dias. Esta é uma revolução que afetou muito os jornalistas e não sabemos o que vai ser. Isso tem o lado bom e também o ruim, pois já fui até morto na internet, por exemnplo. Minha família ficou procurando. Então, me parece claro que temos muito a discutir sobre os limites que devem existir e como colocar esses limites. Essa é a grande incógnita. Tem muita coisa pra ser resolvida.

JE — Você acha que agora esse ano vai acabar?

Ventura — Olha, pelo número de entrevistas que estou dando e de edições especiais que está gerando, posso dizer que pelo menos o interesse nele, não acabou. Acho bom desde que se tenha olhar crítico. Não pode fazer apologia de 68 como se fosse maravilhoso. Foi um ano misterioso; não é ano, é personagem, não quer sair de cena.

5/05/2008

'Nossa vida não cabe num Opala' é o grande vencedor do Cine-PE 2008







O Globo Online

RIO - "Nossa vida não cabe num Opala", de Reinaldo Pinheiro, conquistou na noite de domingo o troféu Calunga de melhor longa-metragem da 12ª edição do Cine PE - Festival Audiovisual do Recife, um dos principais festivais de cinema do país e que reúne o maior público em uma mesma sessão: mais de três mil pessoas.
Realizado no Centro de Convenções de Pernambuco, o Cine PE exibiu, desde o dia 28 de abril, 58 filmes nacionais, entre curtas e longas-metragens. De produção paulista, a ficção "Nossa vida não cabe num Opala" ainda recebeu os troféus Calunga de melhor roteiro (Di Moretti), melhor atriz (Maria Luiza Mendonça), melhor direção de arte (Mônica Palazzo) e melhor trilha sonora (Maestro Amalfi e Mário Botolotto).
A Calunga de melhor roteiro para Moretti coloca ainda mais fogo na polêmica que circula nos bastidores junto ao dramaturgo Mário Botolotto. O longa-metragem é baseado na peça "Nossa vida não vale um Chevrolet", de autoria de Bortolotto. Na edição de sexta-feira de O Globo, o repórter André Miranda contou que o autor não gostou do roteiro do filme dirigido por Reinaldo Pinheiro e resolveu deixar isso bem claro num texto publicado em seu blog, cujo sugestivo nome é "Atire no dramaturgo": "O cara escreveu um roteiro sofrível a partir do meu texto (...). Eu tenho vergonha de ler o roteiro dele".
O filme "Bodas de papel" (ficção/SP), de André Sturm, além de receber o Prêmio Especial do Júri Popular, levou os troféus Calunga de melhor atriz coadjuvante (Cleide Yácones) e de melhor edição de som (Fernando Hanna e Simone Alves). Já a produção do Distrito Federal "Simples mortais" (ficção) ficou com as Calungas de melhor ator (Chico Santana) e melhor ator coadjuvante (Eduardo Moraes), que interpretam pai e filho no filme.
O troféu Calunga de melhor direção foi entregue a Rodolfo Nanni, de "O retorno" (SP). O documentário também foi premiado com a Calunga de melhor fotografia, para Roberto Santos Filho. Outro documentário da Mostra Competitiva de Longas do Cine PE 2008, "Brizola: Tempos de luta", de Tabajara Ruas, ganhou o troféu Calunga de melhor montagem (Ligia Walper). Um documentário pernambucano, "Guia Prático, Histórico e Sentimental da Cidade do Recife", de Leo Falcão, recebeu o Troféu Gilberto Freyre, prêmio destinado a produções que valorizam a identidade nacional.
O troféu de melhor curta-metragem em 35mm foi para o mineiro "Os filmes que não fiz", de Gilberto Scarpa. O filme também foi premiado com o Calunga de melhor direção de arte. Esmir Filho ganhou a Calunga de melhor direção com "Saliva" (ficção/SP), filme que também conquistou a Calunga de melhor montagem (Caroline Leone). Outro curta em 35mm premiado com dois troféus Calunga foi "Dossiê Rê Bordosa" (animação/SP), de César Cabral: melhor roteiro (Leandro Maciel e César Cabral) e melhor trilha sonora (Cláudio Augusto Ferreira).
Ainda na categoria de curtas-metragens em 35mm, o prêmio de melhor fotografia foi para Lula Carvalho, em "Trópico de Cabras", de Fernando Coimbra. Já os prêmios de melhor ator e de melhor atriz foram conquistados por Jonathan Haagesen, que protagoniza o filme "Comprometendo a atuação" (ficção/MT), e Helena Albergaria, que atua em "Um Ramo" (ficção/SP). A Calunga de melhor edição de som foi recebida por Aurélio Dias e Leonardo Sette, do filme "Ocidente" (documentário/PE).
Dois curtas-metragens digitais paraibanos se destacaram no Cine-PE 2008: "Amanda e Monick", de André da Costa Pinto, que recebeu o troféu Calunga de melhor filme, e "O Guardador", de Diego Benevides, que ganhou o Prêmio Especial do Júri Oficial, o Prêmio Especial da Crítica e o Prêmio Aquisição do Canal Brasil. O gaúcho "Porcos não olham para o céu" levou os troféus Calunga de melhor direção (Daniel Marvel) e de melhor roteiro (Everson Klein). A Calunga de melhor montagem foi para Érico Rassi, de "Um pra um" (SP). Já o Prêmio Especial do Júri Popular foi dado ao vídeo pernambucano "Até onde a vista alcança", de Felipe Peres Calheiros.
Na Mostra Pernambuco, pela primeira vez realizada no Cine PE, o vencedor do troféu Calunga de melhor filme foi "Amigos de Risco" (ficção), de Daniel Bandeira. Após as premiações, o público presente ao cine-teatro Guararapes pôde assistir ao filme "Chega de saudade", de Laís Bodanzky. Outra novidade do festival este ano foi a Mostra Paralela de Porto de Galinhas, onde foram exibidos os filmes "Saneamento Básico", de Jorge Furtado; "O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburger; "Tapete Vermelho", de Luiz Alberto Pereira; e "O Mundo Em Duas Voltas", de David Schürmann. Dirigido por Alfredo Bertini e Sandra Bertini, o Cine PE 2008 homenageou o produtor e fotógrafo Luis Carlos Barreto, o ator Nelson Xavier e a atriz Lucélia Santos.


NR: Pra quem não sabe ou não se lembra, a trilha do "Nossa vida não cabe num Opala", feita pelo Marião e o maestro Amalfi, inclui músicas do OAEOZ, Íris, La Carne, Patife Band, Cascadura, Bêbados Habilidosos, entre outras pérolas do cancioneiro nacional. A gente fica muito feliz pelo Mário, pelo filme, e por termos a honra de fazermos parte dessa história.

Trost: histórias de amor e perda em três línguas

Jornal do Estado/Bemparaná

The hole in the wall

Conheça a nova empreitada de Anicca Line Trost, musicista que foi da banda berlinense Cobra killer


Marcelo Borges/Especial para o JE


Annica Line Trost é mais conhecida como a outra metade da banda “eletropunkcabare” Cobra Killer de Berlim. Ela começou com o piano clássico aos dez anos, e aos treze, depois de descobrir punk music, trocou o piano pela bateria. Passou por varias bandas do underground berlinense nos anos 90, e aos vinte trocou a batera por um sampler.
Depois de uma carreira de sucesso com o Cobra Killer que alem de muitas outras bandas, ja abriu shows para o Sonic Youth, Atari Teenage Riot e Shizuo, Annica em 2004 partiu pra carreira solo. Não que tenha abandonado o Cobra Killer, a banda continua na ativa e tive a sorte de filmar um dos shows da turnee de 2007 no Corsica Studios. Só que o Cobra Killer, eletropunk no melhor sentido da palavra não é a minha praia, é ruidera total, com algumas referências pop retrô. Vale é a performance de Annica e Gina V. D`Orio com o mais que famoso banho de vinho que rola em todos os shows. E vale a pena conferir tambem o disco Cobra Killer & Kapajkos Des Mandolineorchester que mistura o medievalismo da instrumentação (o Kapajkos é formado por três bandolins) com o avant-garde das composições de Annica e Gina.
O primeiro disco solo de Annica, o homônino Trost de 2004 ainda tem fortes referencias ao trabalho do Cobra Killer, tão lá os samplers e as ruideras, só que agora, com uma atenção maior nas letras autobiograficas de Annica. “Tatoo My Name On Your Ass” pede ela como prova do amor verdadeiro. “Born to Porn” e “Bulletproffed” são duas boas canções ainda na praia dos samplers. Em “I See Cathedrals” e “Crying in the Sink” dava pra ter uma idéia do que estaria por vir no segundo álbum Trust Me de 2006. Este sim um bom disco, onde os samplers são deixados de lado e Annica aposta de novo em músicos na formação clássica: baixo, guitarra e bateria, alem do trombone e teclados.
Filmei um dos shows do Trost na turnee de lançamento do disco Trust Me e fiquei impressionado com a banda e o talento de Annica de cantar totalmente travada de vinho. Em vários momentos ela tropeçou nas garrafas no palco e teve que ser escorada, ou pelo guitarrista ou pelo baixista, ambos mais do que acostumados em manter um olho no instrumento e outro na vocalista.
Trust Me foi gravado na Austrália e finalizado em Berlim. Pra este disco Annica convidou seus músicos predilhetos, EffJott Kruger (Ideal) and Thomas Wydler (Nick Cave And The Bad Seeds) alem dos Devastations Tom Carlyion and Conrad Standish. Todas as musicas contam histórias pessoais de amor e perda em tres línguas: alemão, inglês e francêes. O disco é uma mistura de garage sounds com rock e punk ingredients temperados com boogie e jazz do jeito que só alemaes sabem fazer. Destaque pra “Cowboy”, “I Was Wrong”, “Guy le Super Hero e “Man on the Box”.

4/30/2008

SOM NA CAIXA Rock adulto e sofisticado

Folha de Londrina

Banda curitibana OAEOZ chega à maturidade sonora com novo álbum ‘Falsas Baladas e Outras Canções de Estrada’


Mesmo que em seus onze anos de existência a banda curitibana OAEOZ tenha zelado pela imagem de uma banda bastante adulta, é com o novo álbum ''Falsas Baladas e Outras Canções de Estrada'' que eles chegam, de fato, à maturidade sonora. Ao mesmo tempo em que as novas músicas estão mais ricas em arranjos, o grupo limou alguns excessos do passado, principalmente em relação aos vocais, que estão mais contidos (antes, quando o vocalista era mais expansivo, a melodia se perdia).
Nas oito canções do novo trabalho, o que se ouve é rock adulto, sofisticado, de músicas geralmente lentas, mas que também tem seus momentos agitados, com inspiração nos alternativos paulistas dos anos 80, como Ira! e Fellini. É música feita por gente normal, que você encontra pela rua diariamente, sem uma produção visual, seja no palco ou fora dele.
O confronto de músicas mostram uma banda versátil. Enquanto ''Ninguém Vai Dormir'' esbanja adrenalina rock'n'roll, ''Distância'' destaca-se como a mais introspectiva do disco. Em ''Negativa'' os arranjos são minimalistas, enquanto ''Impossibilidades'' é generosa em recursos e elementos. Esta última foi lançada como single no ano passado, assim como o folk rock auto-referente ''Uma canção Para OAEOZ''.
Este lançamento pode ser considerado de luxo, pois vem acompanhado de um outro CD, ''Ao Vivo Na Grande Garagem Que Grava'', acomodados em um elegante box de papel cartão. No disco ao vivo, a banda apresenta cinco faixas inéditas. E apesar da gravação ao vivo ser crua, em relação à de estúdio, as músicas mantêm uma alta dose de sofisticação.

SERVIÇO

O álbum pode ser adquirido pelo site www.myspace.com/oaeoz

Rodrigo Juste Duarte
Equipe da Folha

4/25/2008

Falsas baladas e outras canções de estrada





Então. Semana que vem saem finalmente os dois novos discos do OAEOZ. O de estúdio "Falsas baladas e outras canções de estrada", e o "Ao vivo na Grande Garagem que Grava". Ambos serão lançados pela De Inverno Records em parceria com o Senhor F, através do Senhor F Virtual, e estarão disponíveis para download a partir de segunda. Como sempre, tudo isso só foi possível graças a ajuda dos velhos e novos parceiros e amigos, Luigi Castel, Igor Ribeiro, Giancarlo Rufatto, Fernando Rosa, Renatinho, Leonardo Vinhas, e por aí vai. Em relação ao "Falsas baladas", foram mais de dois anos de muito trabalho, idas e vindas, e tudo o que envolve uma produção independente. Sem sombra de dúvida posso afirmar que o maior responsável por esse disco se chama Carlos Zubek. Se não fosse a disposição do Carlão de enfrentar todos os perrengues que a gente viveu nesse período, provavelmente não só o disco não sairia, como provavelmente o OAEOZ já teria feito água. Por isso, faço questão de fazer esse registro, pois só eu sei tudo o que a gente passou pra terminar esse trabalho. Mas o importante mesmo é que o resultado final foi sem dúvida o melhor que a gente poderia ter tirado desse material. Ambos os discos são o testemunho sonoro de nossas vidas, nossas histórias, com tudo o que isso significa. Com o "Falsas baladas", em especial, o OAEOZ dá um passo além no sentido de assumir o controle sobre aquilo que a gente produz. O disco foi gravado lá no estúdio da casa do Carlão, agora batizado de Confraria Z, onde a gente já ensaia há anos. E mixado pelo próprio Carlão, que praticamente foi aprender a mixar pra fazer isso. Ou seja, é um disco em que a gente leva ainda mais a fundo a filosofia "do it yourself". Não é a toa, aliás, que as músicas, de certa forma, refletem esse movimento de "voltar-se pra si mesmo", que o OAEOZ, por vontade e necessidade, assumiu nos últimos anos. Não é por acaso que o disco traz uma música sobre a própria banda - "Canção para OAEOZ", sobre a vida na estrada - "Ninguém vai dormir"; e até uma canção sobre fazer uma canção para alguém que se gosta.
E o mais bacana é que nesse processo todo a gente acabou construindo as condições pra daqui pra frente ter ainda mais autonomia pra gravar e fazer a nossa música. E o que mais me anima é saber que a gente ainda pode fazer ainda mais e melhor.
Abaixo o release e um texto de nosso amigo Leo Vinhas sobre essa história toda.


OAEOZ apresenta dois novos discos de inéditas

“Falsas baladas e outras canções de estrada” sai pelo selo Senhor F Virtual e será distribuído também em formato físico em um box set exclusivo para divulgação junto com o “Ao Vivo no Grande Garagem que Grava”

A banda OAEOZ, de Curitiba faz de uma só vez neste início de 2008, o lançamento de dois novos discos de composições inéditas. Falsas baladas e outras canções de estrada é o novo trabalho de estúdio do grupo, gravado por Luigi Castel e produzido pela própria banda no estúdio Confraria Z, mantido pelo guitarrista da banda ,Carlos Zubek. Ao Vivo na Grande Garagem que Grava apresenta o registro feito com o apoio Fundação Cultural de Curitiba dentro do projeto comandado pela Chefatura Records, produtora integrada por músicos remanescentes das bandas Beijo AA Força/Maxixe Machine.
Surgido em outubro de 1997, o OAEOZ comemorou em 2007 dez anos de atividade com o lançamento de dois singles – Impossibilidades e Canção para OAEOZ, que traziam uma amostra do novo disco de estúdio. O primeiro foi selecionado para estrear o projeto Compacto.rec (http://compactorec.blogspot.com) - série de compactos virtuais lançada pelo Circuito Fora do Eixo, que reúne produtoras, selos e festivais de todo o País. “Canção para OAEOZ” saiu em outubro em formato virtual com exclusividade pelo site paulistano Scream Yell (www.screamyell.com.br), editado pelo jornalista Marcelo Costa.
Os novos trabalhos mantêm a estratégia de divulgação na internet. Tanto “Falsas baladas...” quanto o “Ao vivo na GGG” serão lançados com exclusividade no formato virtual para download gratuito a partir desta segunda-feira(28/4), em parceria com o Senhor F - um dos mais importantes sites de música independente do País, editado a partir de Brasília pelo jornalista Fernando Rosa e que está completando dez anos de atividades em 2008. Além do lançamento virtual, foi produzida uma tiragem limitada em CD de “Falsas baladas” para distribuição exclusiva para divulgação. Aproveitando o fato do novo CD de estúdio estar saindo ao mesmo tempo em que o registro ao vivo da Grande Garagem, os dois discos serão distribuídos em um box set com ambos os trabalhos em formato físico. A produção do material contou com o apoio das Livrarias Curitiba e da Tecnicópias.
O OAEOZ foi fundado em 1997 por Ivan Santos, Igor Ribeiro, Hamilton de Lócco (bateria), e Rodrigo Montanari (baixo). Com essa formação, lançou duas demos - OAEOZ (1998) e De Inverno (1999), e dois CDs - Dias (2001) e Take um (2002). Ajudou a criar o festival Rock de Inverno, que deu origem ao selo De Inverno, criado por Ivan e pela jornalista Adriane Perin. Participou das coletâneas “Novos sons fora do eixo” (2202), lançada pela De Inverno Records em parceria com o Jornal do Estado; e “Raízes da terra” (2003), pelo jornal Gazeta do Povo. Com a saída de Igor no final de 2002, o grupo incorporou André Ramiro (Índios Eletrônicos) e Carlão Zubek (Folhetim Urbano). Em 2005, lançou o CD “Às vezes céu” - com shows no teatro Paiol, em Curitiba; e em São Paulo, no clube OUTs e no Centro Cultural de SP. Recentemente, o OAEOZ também teve músicas incluídas na trilha do filme longa-metragem “Nossa Vida não Cabe num Opala”, que estreou em fevereiro no último festival de Berlim, e é baseado em texto do dramaturgo londrinense Mário Bortolotto, e dirigido por Reinaldo Pinheiro.


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Eu tinha 15 anos e sonhava em ser jornalista musical – depois que algumas aulas de contrabaixo me mostraram que eu teria “dificuldades técnicas” em seguir carreira até mesmo num “Ramones cover”. Era o começo dos anos 90, e cada descrição de um show na gringa ou mesmo na “longínqua” São Paulo (para quem morava no interior e só ia ao litoral com os pais...) valia para mim como a descrição de um épico, para dentro do qual eu era transposto graças à palavras que davam a dimensão do que eu havia perdido.
Acreditava, naquele momento, que o ofício de jornalista musical tinha a ver com saber dar aos leitores a medida exata do que eles haviam perdido, ou perdiam, não estando em determinado show, ou não escutando certo disco. E acreditava no poder transformador/catalisador/entorpecedor da música.
Hoje eu tenho o dobro dessa idade e, sendo justo comigo mesmo, continuo acreditando nesse poder da música. Mas não no jornalismo (e nem apenas no caso do musical). Cumpri meu objetivo, estive em shows, ouvi discos que ganhava de graça para resenhá-los, viajei e achei tudo isso muito frustrante e aborrecido. Conhecer os músicos era um comportamento típico da minha idealização adolescente, mas depois de certo tempo, achei melhor nem conhecer quem compunha uma canção que mexia comigo, da mesma maneira que é interessante que um fiel não conheça a vida íntima do pregador de sua fé. Os pequenos detalhes ganham demasiada importância e arruínam qualquer sonho.
A esse processo de transformação pessoal – que até aqui está restrito à música – soma-se o cinismo que parece ganhar força e tomar espaço, insidiosamente, conforme você vai abandonando a faixa dos vinte. Talvez seja uma característica de nossos tempos e nossa sociedade: começamos a trabalhar muito cedo, a dar a cara à tapa muito jovens, e a crise de meia-idade vem quando nos aproximamos do nosso suposto auge, que é a faixa dos 30 (pergunte ao seu médico, caso você já esteja freqüentando um). O fato é que quanto mais velhos, mais cínicos, e tudo parece tornar-se mais chato e menos empolgante, inclusive (e principalmente) os relacionamentos e a música. Minha geração está se sentindo velha e desesperançosa aos meros 30 anos, isso numa época em que a expectativa de vida supera os 70. Ou seja, não chegamos nem à metade de nossa existência, e já estamos rabugentos e entediados.
Aí calha que por uma série absurda de coincidências, por um ato de molecagem que parece inapropriado à sua “idade”, você faz uma viagem inesperada, cai numa cidade onde ninguém lhe conhece e você sai de lá com várias histórias para contar e até com alguns amigos. Levando ainda alguns discos debaixo do braço, passados pelos mesmos amigos.
Aí, de volta à sua casa, você escuta uma voz saindo de algum desses discos que confessa: “dizem que tenho talento para melancolia, qualquer tipo de fobia, que tenho pena de mim...” Como é que é? Eu acho que reconheço esse sentimento! Não passa muito, uma outra canção confessa que “a vida é fácil, eu é que sou complicado, sempre acabo me enroscando nesses dias tortos. A gente sempre quis ter uma vida simples, mas tudo é tão difícil quando se tenta fazer o que se quer”. Parece que todas as suas contradições adolescentes que ficaram disfarçadas sob camadas de cinismo adulto estão reveladas ali, na sua cara, prontas para ficarem reverberando até você não querer pensar mais nisso, simplesmente porque não consegue se encarar. Porém, esse mesmo disco traz uma canção sobre a estrada que, além de lhe lembrar que você nunca terá viajado o suficiente, lhe propõe que “o peso que carrego nos ombros é só bagagem”.
Foda.
Os anos passam, você passa a viajar para acompanhar aquela banda e vai vendo que, mesmo com a passagem do tempo e muitos meses de estrada, você continua cínico. Puxa, será que a música não te transformou? Será que aquilo que parecida redivivo em você foi só uma última fagulha de um brilho jovem que vai ficar permanentemente soterrado sobre essa carcaça de velho que você criou para si próprio? Live fast, die young, diziam anos atrás. Você não morreu jovem. E agora?
E agora chegam não um, mas dois discos novos dessa banda. Você nem estava esperando, mas eles chegam numa tarde rotineira, vento quente arrastando o tempo. Você tem que ir trabalhar, então coloca os discos no som do carro e nem percebe que, pela primeira vez em muito tempo, as idéias de “cinismo” e “idade” nem passam pela sua cabeça. Algumas palavras vêm lembrar que você não é mais um garoto mesmo, e daí? A esperança nunca foi privativa da juventude e, ademais, todos aqueles escritores de quem você gosta tanto, que ocupam a maior parte da sua surrada biblioteca, começaram a escrever suas melhores obras só depois dos 40. Quem é que estava preocupado com a data de nascimento mesmo?
Mas a queda do cinismo é que é mais interessante. Porque essa banda pode escrever canções a partir de uma conversa entre amigos na laje – uma canção sobre a conversa, aliás. Essa banda escreve uma canção sobre ela mesma, e a relação (não necessariamente idílica) entre seus integrantes. Caramba, essa banda escreve uma canção sobre a vontade que dá de parar com tudo e não se fazer mais o que se quer, talvez começar a fazer o que se “deve”, para evitar tantos aborrecimentos. Mas quem é que consegue viver assim? Com certeza, ninguém para quem a música importa algo conseguiria fazê-lo.
Você começa a andar com os discos na mochila (trinta e poucos anos, e ainda sai de mochila por aí?) e começa a ouvi-los quando dá tempo. Ninguém – seus “colegas” de trabalho, conhecidos, parentes – entende porque você escuta essas canções sem refrão, sem distorções óbvias ou ganchinhos saltitantes. Mas tudo bem. Eles passam suas noites de seu modo ordinário, enquanto o disco lhe recorda que “ninguém vai dormir” enquanto tivermos vontade de fazer algo mais substancial. Mesmo que estejamos de olhos fechados.
É quando você abre os olhos e vê que você mesmo está sorrindo. Sem cinismo.



Leonardo Vinhas

4/20/2008

Millie Jackson - If Loving You Is Wrong



Depois da Sharon Jones and Dap Kings, minha mais nova descoberta no mundo do soul, a cantora Millie Jackson. O disco, Caught Up/Still Caught Up, de 74/75, um petardo de hard soul, por vezes beirando o rock e até o trip hop. No video, ela interpreta a faixa de abertura, em um show em 84. Difícil falar sobre sem cair em adjetivos espetaculares. A interpretação é o mais próximo que um ser humano pode chegar do sublime, e a banda vai no mesmo nível, quebrando a cada requebrar do corpo da mulher. Incrível. Música de gente grande e de sentimentos à flor da pele.

4/16/2008

Beto Só volta em Dias Mais Tranquilos

Bem Paraná/Jornal do Estado

Lançamento pelo selo Senhor F está marcado para meados de maio em Brasília

Adriane Perin

Daniel Madsen/Divulgação

No álbum ele é acompanhado pelos músicos Beto Cavani (bateria), Ju e Bruno Sres (guitarras), Philippe Seabra (baixo) e Felipe Portilho (teclados)

Desde que um email trouxe a notícia de que estava disponível, só pra audição no My Space, o novo disco do brasiliense Beto Só que não consigo parar de ouvi-lo – agora já com as 11 canções devidamente baixadas da mesma página do grupo no site, onde o download gratuito é possível até dia 20/04. Quem preferir o disco “físico”, basta esperar o lançamento pelo selo Senhor F Discos.

Essa audição compulsiva não é fruto da falta de opção, mas provocada por mais um episódio brilhante da música alternativa brasileira. Sinais de Fumaça, o álbum anterior do songwriter Beto Só – nome artístico do jornalista Humberto Rezende - já dizia a que o rapaz veio. Para pôr ternura e delicadeza nesse mundo musical que tantas vezes é tão cheio de pose quanto qualquer outro. O songwriter tem companhia de ilustres companheiros para transformar o que sente e pensa em música apurada que combina sofisticação a um viés pop.

Dias mais Tranqüilos, o disco, é resultado da contribuição de outras mãos e ouvidos muito bem sintonizados. O “rude plebeu” Philipe Seabra mostra mais uma vez que tem mesmo uma sintonia fina e faro aguçado para detectar coisas boas nesse mar de bandas que o circuito independente se tornou. Assina a produção.

Nos créditos deste que é o décimo lançamento do selo independente Senhor F constam também os irmãos Dreher, Thomas e Gustavo, a dupla gaúcha que onde mete o bedelho deixa um marca não só de competência (que ela sozinha não é suficiente), mas especialmente de sensibilidade pra timbres e para evidenciar o melhor daqueles com quem trabalham. É só prestar atenção nos detalhes, no som de cada instrumento para notar que esse disco é resultado de uma entrega cuidadosa em todas as etapas de feitura.
E firma, definitivamente, a marca, o ritmo, a pulsação de Beto Só. Um canto que puxa a gente, desarma primeiro, para depois derrubar, enquanto vai soltando relatos de coração machucado; diário de uma vida que se sublima em canção (“Pára de ranger os dentes/ de frear a própria vida/ entra e fica em paz/ com a gente”).
Um debulhar de sentimentos; jorros de amores - perdido, desgastado, renovado, não desejado, inescapável e, por fim, irremediável (“Não me deixa/ não me esquece/ não me larga/ não me mata/ (...) vê se me esquece, vê se não liga, vê se não volta/ vê se morre”).

Tudo começa com as letras, arrebatadoras, que (não) escondem emoções intensas em baladas que entregam um coração carregado de uma busca que não acaba nunca (“Quero estar desatento pra você chegar”). Aconchego de abraços afáveis (“O pior já passou/ você me faz ver/ eu era mesmo merecedor de dias mais felizes/ de tempos menos nublados/vem aqui me iluminar com seus olhos pequenos/ me faz rir/ e me ensina aproveitar os dias mais tranquilos”). Dias tão corriqueiros quanto preciosos (“...sentar ao balcão com gente de fé/ depois trabalhar/ ... deixa cair se é pra limpar”)
Serenidade, ternura, arrebatamento, inconformismo em forma de baladas que traduzem instantes da procura incessante por algo que de tão perto, às vezes, embaça tudo (“... quero estar desatento pra você chegar”).

Dias mais tranqüilos foi gravado no Estúdio Daybreak, em Brasília, mixagem de Gustavo e masterização de Thomas. Os responsáveis pelos belos detalhes instrumentais - que nunca cansam os ouvidos - são Beto Cavani (bateria), Ju e Bruno Sres (guitarras), Philippe Seabra (baixo) e Felipe Portilho (teclados). A capa terá imagem de Cecília Mori, artista plástica brasiliense. O lançamento oficial está previsto pra maio. Até lá, só no my space.

Serviço
www.myspace.com/betoso

4/14/2008

Corsica Studios, Elephant and Castle, Londres

Esta semana nosso colaborador fala de um autêntico endereço da música independente, na capital inglesas

Marcelo Borges/Especial para o JE


The hole in the wall
O Corsica é a cruza do 92, do Hole, do Peixe-cachorro com um interminável Rock de Inverno, instalado em um barracão industrial em um bairro londrino

Conheci o Corsica Studios quando estava trabalhando no Elefest,(festival de artes de Elephant and Castle) para a Shortwave Films, a produtora que trabalho aqui como freelance. A festa de encerramento do festival foi lá. Que é uma warehouse (barracão) que fica nos arcos embaixo dos trilhos da centenária estação de trem do bairro Elephant and Castle. Nos intervalos das bandas, quando a musica não está muito alta, da pra ouvir o trem passando e sentir as vibrações dos trilhos. O casal Amanda e Adrian Moss abriram o Corsica dez anos atrás e desde então estão no circuito independente europeu promovendo festas e shows. O Corsica é a cruza do 92, do Hole (NR.bares curitibanos), do Peixe-cachorro (república que virou centro cultural improvisado também em Curitiba) com um interminável Rock de Inverno (festival independente da capital) num barracão industrial de Londres. Conversei com Amanda sobre o lugar.

Marcelo Borges — Quando decidiram ter um espaço pra musica ao vivo?

Amanda Moss — Começamos dez anos atrás com a idéia de criar um novo espaço pra musica ao vivo independente e outras formas de arte. Estabelecendo uma plataforma criativa a base de arte com regeneração de espaços vazios, e usando estes espaços com variadas formas de mídias. Nesta época, eu (artista visual) e Adrian (musico e compositor) colaborávamos em um projeto de teatro chamado The Dragon Ladies que envolvia visual arts, musica ao vivo e performances que originaram dois shows. Para nos ficou evidente que isto era uma paixão. A trilha para “The Grotesque Burlesque Revue” foi mais tarde lançada como um mini álbum pelo selo Fin de Siecle. Depois disso montamos uma casa para performances (Corsica Studios) onde poderíamos curar vários eventos, convidando artistas de várias áreas.
MB. — Qual o lugar do Corsica Studios na cena musical londrina?
Amanda — Quando mudamos pra Elephant & Castle o nosso desafio era transformar dois arcos abandonados embaixo da linha do trem em uma casa de shows. Somos uma organização independente sem apoio de investidores e tivemos que levantar uma razoável quantia de dinheiro pra fazer acontecer esta idéia de um novo tipo de casa para shows. Não tínhamos a intenção de correr atrás de apoio do governo ou empréstimos, então traçamos um plano pra levantar o capital. Começamos a fazer festas underground e para as reformas e equipamentos. Tivemos grandes festas, mais relacionadas com cena Club, que definitivamente ajudaram a construir a reputação do Corsica como um lugar Cool para festas, e assim investindo a grana para transformar o espaço no que você pode ver hoje.
Continuamos a fazer festas regulares (sextas e sábados) trabalhando com vários promotores desde o minimal techno e dubstep ate electro e house. A partir daí, criamos nossas próprias noites onde damos mais ênfase para musica ao vivo/club scene/art crossover. Sendo uma casa de arte e musica independente estamos em contato com novos promotores, o que nos da a chance de promover novos atos. Estamos próximos do que acontece em nosso bairro, e o contado com estudantes, que constantemente nos apresentam o que há de novo na musica só sedimenta nossa importância cultural. Quanto a nossa posição na cena de Londres, acho que posso dizer que o tipo de musica que programamos é Alternative/Experimental/Rock que incluem bandas como: Faust, Lydia Lunch, Silver Apples, Cobra Killer, Circle, Guapo, Pharoah Overlord, Devastations, Felix Kubin and Acid MothersTemple, só para citar algumas. O Corsica Studios nasceu pra convergência de estilos artísticos e musicais.
MB —The Electric Storm e the Baba Yaga’s Hut são duas noites curadas por vocês. Como escolhem as bandas?
Amanda — Nós sempre conversamos sobre musica, e nestas conversas sempre fazíamos nossos imaginários line-ups. Um dia falamos: vamos convidar estes caras pra tocar. Vamos convidar todos os músicos que amamos, a assim nasceu a Electric Storm uma noite que aconteceria duas ou três vezes por ano com um tema diferente. Esperaríamos até que as bandas que queríamos tivessem uma data e partiríamos daí. O Electric Storm e um evento com a nossa assinatura que tem a atmosfera de uma grande e selvagem festa. Nos programamos bandas, arte, performance, DJs, VJs, e filmes. Sempre que houver uma Electric haverá um Absinthe Parlour (absinto bar) e cakes (tortinhas mágicas). O sucesso só mostrou que mais bandas queriam tocar no Corsica e em novembro/07 lançamos a Baba Yaga’s Hut (www.youtube.com/babayagashut), uma noite regular focando musica ao vivo. Escolhemos as bandas de jeito semelhante a Electric Storm, com mais ênfase em outros elementos.
MB — O Corsica parece ter uma conexão muito forte com a cena musical de Berlim. Como isto aconteceu?
Amanda — Sempre estivemos ligados em Krautrock e na musica eletrônica que derivou desta cena (pra quem não sabe, Krautrock e a cena experimental de Berlim nos anos 60 que foi popularizada na Inglaterra graças ao DJ John Peel). Uma das nossas bandas favoritas é o Cobra Killer(www.myspace.com/cobrakiller) convidada da primeira Electric Storm. Depois de uma selvagem noite no hotel com Cobra Killer, nossa relação musical foi pra sempre sedimentada. Berlim é uma grande cidade e tantas bandas de vários lugares do mundo parecem passar um tempo por lá. Quando o Cobra Killer voltou pra Berlin a lenda do Corsica foi estabelecida.
MB — Quais são os planos pro futuro?
Amanda — O Corsica não para de crescer. Acho que o importante e mantermos as pequenas coisas que nos fazem únicos, porque existe sempre o perigo de perder a essência. Nós também temos que pensar em garantir nossa posição em Elephant & Castle que esta passando por uma revitalização. O que significa que logo teremos que mudar pra outro endereço. Queremos ficar na área em lugar onde podemos crescer. Temos ambições sociais e já trabalhamos com a comunidade que usa o nosso espaço para aulas de dança e design. Também queremos formar uma aliança com outras casas independentes do Reino Unido e da Europa, e criar um independente circuito internacional que não será ameaçado pelas grandes corporações. E finalmente queremos acima de tudo, continuar a realizar grandes eventos no Corsica que sempre deixam as pessoas com um grande sorriso na cara no final de cada noite.

4/10/2008

O que foi é blá blá blá...


Depois do Beto Só, o Myspace Brasil traz a partir de hoje como destaque outra das nossas bandas prediletas, o Pipodélica, de Floripa, que apesar de ter encerrado as atividades em março último, tá lançando disco novo, gravado e produzido antes do fim do grupo. Conheço e sou fã do trabalho desses guris deste a primeira demo, "Tudo isso", de 2001, quando eles ainda tinham uma garota como vocalista. E já nesse primeiro trabalho dava pra perceber claramente a qualidade da música, das composições do Xuxu, a riqueza dos arranjos da banda, a excelência do instrumental da banda, todos eles grandes instrumentistas. Desde o início, dava pra ver que eles tinham uma identidade própria, que foi se aprimorando ao longo do tempo, e se afirmando, desde o EP seguinte, "Enquanto o sono não vem", que trazia a hoje clássica "Blá blá blá", e depois, no primeiro disco, "Simetria Radial", de 2003, lançado pela Baratons Afins, e que eu considero um dos melhores discos desta geração de bandas brasileiras, a que, modestamente, nós do OAEOZ, temos a satisfação de fazer parte, mesmo que do nosso jeito mais acabrunhado e curitibano.
Não por acaso, foi o Pipodélica o responsável pelo primeiro show do OAEOZ fora de Curitiba, no saudoso Underground Rock Bar, literalmente nas margens da Lagoa da Conceição. Foi a nossa primeira viagem pra tocar fora. Lembro da casa que a gente ficou lá em Jurerê Internacional, das brincadeiras à beira da piscina, enfim, aquelas coisas típicas de viagem de banda. Em 2002, trouxemos eles pra tocar a primeira vez aqui, no Rock de Inverno 3. E depois, novamente pra lançar o "Simetria Radial", no também finado Camorra.
Aliás, vocês notaram como as palavras "finado" e "saudoso" se repetem nesse texto. Vendo a notícia do fim do Pipodélica confesso me bateu uma certa e incômoda sensação estranha de nostalgia. O tempo passou e muitos daqueles que tavam aí como a gente fazendo um som por esse independente brasileiro pararam ou foram fazer outras coisas. Isso faz bater um misto de saudade dos tempos em que a gente ainda alimentava certas ilusões de que isso pudesse nos levar a algum lugar, sei lá, que a gente mesmo não sabia qual seria. E ao mesmo tempo de orgulho, sim porque não, pois por mais que muitos não tenham tomado conhecimento ou não dêem valor a tudo o que aconteceu de lá pra cá, e independente de fatores mercadológicos, o que a gente vê hoje é que essa geração, se não cumpriu todas as expectativas - muitas delas irreais - que alguns e até nós mesmos podíamos ter, construiu uma obra, uma história, que não pode ser ignorada, que estabeleceu sim paradigmas, e que tem um valor inegável.
Lembro que quando a gente começou a estabelecer contatos com as bandas de outros estados que estavam aparecendo no final dos anos 90, início dos 00. O que mais me chamava a atenção é que ao contrário de em outras épocas, em que sempre existiam determinados estilos ou gêneros que prevaleciam e se tornavam predominantes - como o indie guitar shoegazer, ou o hardcore psicobilly, ou as bandas que faziam fusões de rock com música brasileira e ritmos regionais, comuns na primeira metáde da última década do século XX - naquele momento estava surgindo uma série de bandas em vários pontos do País que se identificavam não por fazerem um som parecido ou partirem das mesmas matrizes, mas por buscarem uma identidade musical própria indepentende do que tava rolando, do que seria "cool", ou então comercialmente esperado pelo mercado. Bandas como o próprio Pipodélica em SC, o Momento 68, de Sampa, o Mopho, de Maceió, o Phonopop de Brasília, o 4-Track Valsa, depois Casino, do RJ, e por aí vai. Cada uma com um som completamente diferente da outra, mas todas unidas pelo sonho de fazer boa música, sem rótulos ou fórmulas pré-concebidas. E conhecer essas bandas foi muito importante, pois fez a gente perceber que não tava sozinho, que havia um caminho, e que a gente tava nele também, do nosso jeito, tentando criar um trabalho que fosse nosso, que tivesse qualidade e que pudesse emocionar, tocar as pessoas de verdade.
Até hoje, quando a gente coloca um disco como o Simetria Radial pra tocar fica impressionado com a qualidade das canções e como elas marcaram um tempo em nossas incertas e atribuladas vidas. Como elas ficaram gravadas lá no fundo da nossa mente e impressas em nossos coraçõezinhos perdidos. Saudade de tempos ingênuos e espontâneos que ficaram no tempo.

Mas no final é isso o que conta, as canções que se tornaram a trilha sonora particular de nossas vidas e contam as nossas histórias. Pra mim pelo menos, a certeza que fica é que o Pipodélia e muitas outras bandas podem ter acabado, virado outras, se transformado em outros projetos. Mas as músicas que marcaram nossas vidas vão continuar reverberando por aí por muito tempo, pelo menos para aqueles que tiverem ouvidos e sensibilidade pra ouvir e se deixar emocionar por elas.

Deixo abaixo um texto do Bianchini que fala um pouco sobre isso e sobre o último trabalho do Pipodélica.

"Quando esse texto foi encomendado pela primeira vez, era para contar uma história diferente. Era mostrar como, após um ano de problemas pessoais e a crise que resultou na mudança de formação, a primeira desde 2003, Não Esperem por Nós (segundo “disco cheio”, o bom e velho elepê do grupo) representava não apenas a sobrevivência, mas a continuidade refortalecida do Pipodélica. Acabou que as coisas não saem sempre como o planejado e, em vez disso, veio o fim da banda, anunciado no último dia 2 de março. Triste, mas é isso.

E aí, depois que se sabe o fim da história, é fácil vê-lo como lógico, inevitável e anunciado. É fácil ouvir Não Esperem por Nós, desde o título, como uma carta de despedida. Para quem quiser achar “evidências” de que o Pipodélica caminhava para a
extinção inexorável, há letras com histórias de cansaço e decepção própria e alheia, refrões como “ando tão enrolado, ando tão ocupado e não tenho tempo de viver pra mim” (“Dedos”) ou a busca de auto-afirmação de “sim, eu acho que eu tô certo” (“Hora H”), o encerramento do disco com uma faixa chamada “Crianças Velhas” e outra chamada “Mofado” com o verso “o meu tempo é passado”.

Ou ainda o modo como há um pouco de tudo o que o Pipodélica mostrou que sabe fazer ao longo de pouco menos de uma década de carreira. A simplicidade da balada “Ela Foi…” convive com as sobreposições vocais, mudanças e cordas de “Crianças Velhas” o rockão “As Minhas Cores”, gravado em take único, a delicadeza de “Dedos”, o diálogo de guitarras de “Superlativo” e o discreto embalo rhythm’n’blues de “Mil e Um Canalhas”.

Mas, como eles mesmos dizem em “Essa História” (pop embaladinho com sotaque country), “fale o que quiser, mas deixe valer a verdade”. O problema de levar a coisa para esse lado é a possibilidade de assim roubar do ouvinte um tiquinho da pluralidade e das múltiplas interpretações permitidas por uma obra de arte, que se sustenta por si só como tal, não como crônica de apenas uma história em particular.

Até porque nada daquilo é novidade para o Pipodélica.
A determinação de envelhecer com dignidade e, por isso, necessariamente encarar a maturidade e suas conseqüências é permantente para a banda e remete a seus primórdios, assim como o cuidado nos arranjos. O fato deles estarem ainda melhores, mais texturizados, com filigranas quase imperceptíveis ou a introdução de baixo de “Já Não Mais”, do que em todos os discos anteriores é bastante lógico. E cabe a previsão: poderia ser ainda melhor num eventual futuro diferente, que acabou não sendo possível.

Em vez de lamentar o que não será, os quatro agora tratam de preparar o futuro com seus projetos, individuais ou que envolvam outros integrantes. A vantagem do fim de uma relação dessas é que deixa muitas possibilidades em aberto. E é por sempre haverem gostado de explorar possibilidades que o Pipodélica fará falta."

Florianópolis, março de 2008.

Fabio Bianchini

4/09/2008

Com leite e café



Mais um grande disco de um ano que tem nos brindando com grandes discos até aqui. To falando de "Dias mais tranquilos", do Beto Só, de Brasília, que tá saindo essa semana com exclusividade em formato virtual pelo My Space Brasil, e em seguida, em CD pelo Senhor F Discos. Já sou fã do trabalho do Beto Só desde o primeiro disco, Lançando Sinais, que é um dos mais rodados na vitrolinha aqui de casa. Gosto do jeito dele cantar, das letras singelas, dos arranjos bem resolvidos, das melodias melancólicas e ternas. Em meu mundo ideal, é o tipo de som que tocaria nas FMs e embalaria o casalzinho adolescente da novela das sete. Mas enfim, isso não vem ao caso.
O fato é que o novo disco do cara tá ainda melhor, canções fudidamente belas, arranjos perfeitos, capitaneados pelo Ju, guitarrista e irmão do Beto, que conheci quando ele veio pra cá a primeira vez tocar com o Phonopop, em um show que produzimos ali no finado Vintage, com abertura do Sofia. Deve ter sido lá por 2001/2002 isso, não sei exatamente. Mas enfim. O Beto Só faz música daquele jeito que eu gosto, ou seja, absolutamente despreocupado se o que tá rolando é newelectropósgrimesheetandfucking sei lá o que. Simplesmente boas canções, boas melodias, boas letras. Parece meio óbvio, mas é que isso me parece cada vez tão mais raro que quando se encontra é motivo de celebração. Além disso, é um disco que não deve nada em termos de qualidade de produção a qualquer disco de banda gringa ou do mainstream. E não é a toa, afinal foi gravado no estúdio do Philipe Seabra (Plebe Rude), mixado e masterizado pelos irmãos Dreher. Enfim, só fera. Tem uma resolução sonora impressionante, com guitarras e cordas te envolvendo de uma forma absolutamente irresistível.
Desde ontem, quando soube que tava saindo, não consigo parar de ouvir. Gosto em especial das baladas, a começar por "Desatento", "Abre a janela", a faixa título "Os dias mais tranquilos".

E to viciado em "Todos logo ali", onde ele fala

"Pára de ranger os dentes
De frear a própria vida
Entra e fica em paz
Com a gente"


To ouvindo de novo aqui "Abre a janela" e pensando que é um daqueles discos que me causa uma "inveja branca", do tipo "queria ter feito essa música". Maravilhoso. Mas um dia a gente chega lá (eheh). Por hora me contento em ouvir e me deliciar em coisas como "Com leite e café", desde já uma das melhores do ano, e um clássico, com seu arranjo que começa acústico minimalista e vai num crescendo incrível. Fora a letra, de uma singeleza acachapante:


Com leite e café
(Beto Só e Ju)


Dorme agora
Esquece, me ouve:
a vida de antes ficou pra trás
Ontem e hoje, nunca mais

Espera amanhã
Tão logo, bem cedo
Vamos sair pra ver o sol
Sombras e nuvens, nunca mais

Vamos brindar com leite e café
Comemorar
Sentar ao balcão com gente de fé
Depois trabalhar

E se chover
Pode deixar
Deixa cair
Se é pra limpar


Enfim, um disco pra se curtir do começo ao fim, e que mostra mais uma vez que longe dos hypes vazios e das figurinhas carimbadas de sempre, existe sim vida inteligente e música de primeira categoria feita por gente de verdade nesse Braziú!

Fiquem atentos porque o disco estará disponível para download gratuito a partir desta quinta-feira no My Space.