Houve uma grande discussão devido à carta do João Paraíba aqui no Scream & Yell. Em certo momento, perguntamos por que o Romulo Fróes não tocava nos festivais independentes. A resposta foi: “Ah, o Rômulo tem um perfil controverso para festival de rock”. Desde quando os festivais são de rock?
Desde quando os festivais emburreceram se fechando em uma temática “rock stoner, guitarra é legal”. Guitarra só é legal quando é bem feita. A partir de 2006, os festivais independentes emburreceram. Por que o Vanguart sumiu dos festivais? Porque não tem mais espaço. Só tem espaço para bandas que “agitam a galera” (aumenta a voz). Isso é o rock ‘n’ roll brasileiro independente atual. É som pesado. Só que o “Kind of Blue” é mais pesado que o “Artista Igual Pedreiro”. Não ataco o rock quando falo mal dele. Eu falo mal da caretice, do fechamento artístico totalmente burro que o rock faz. Um exemplo: a galera que jogou lata no Lobão quando ele subiu com a Mangueira pra tocar um som pesado e ninguém entendeu. Essa é a massa rock que me decepciona. Ainda bem que eu não estou nesse bolo porque parece que o som pesado é o que rola. Minha esperança é que daqui a cinco anos seja diferente, que o Rômulo esteja ganhando uma puta grana com as músicas dele e que eu possa estar compondo para alguém, porque hoje estamos compondo uma música que se fode porque é diferente. O Romulo é um dos artistas mais corajosos, inquietos e criativos dos últimos anos. O nosso disco novo tem coisas tão diferentes, bizarras, que resolvemos não lançar… ainda.
Por que não?
A gravadora fez uma pressão pra ter uma música forte e eu disse que não tinha uma, mas 14, que todas eram fortes, dependendo do jeito que você olha (risos). Tem uma que fala: “Eu te levei até a praia / eu me desfiz da minha esposa / eu joguei fora o meu dinheiro / e eu dei de costas para um amigo e só sonhei meu desengano”. Coisas de você ter se fodido mesmo, e eles não acharam forte. Então isso mostra que até nossa gravadora, que sempre foi incrível conosco, sempre nos entendeu, está pensando de outra maneira. Assim como eu acho que 90% das bandas brasileiras estão pensando de outra maneira. Ainda mais as bandas novas que entraram e vislumbraram um cenário de festivais independentes. “Meu, vamos viajar o Brasil inteiro curtindo? Comendo buceta? Vamos, vamos?” E quem não vai? É foda. E tudo envolve paixão porque todos estão apaixonados pelo som que estão fazendo, mas não está existindo um questionamento sobre o que se está fazendo. Falta uma sagacidade artística de “vamos fazer diferente, mesmo que seja uma bosta”. Está todo mundo só seguindo a onda. E quem está tendo essa sagacidade – como o Rômulo, a Lulina e o próprio Vanguart – está se fodendo porque não falam a língua dos festivais, que acharam muito mais cômodo pegar bandas que seguem uma onda. Funciona pra eles. O público vai rolar e a politicagem está na ponta da língua. É tudo uma questão de prioridades. Quem não está tendo a prioridade de defender a cena e tocar de graça pelo Brasil inteiro está em casa, por isso que continua fazendo coisa boa, como o Romulo Froés.
trecho da excelente entrevista de Hélio Flanders, Vanguart, no Scream Yell. Eu nem sou lá muito fã da banda, mas fiquei muito bem impressionado com a entrevista do cara, que fala altas verdades sobre a falta de consistência e de coragem do cenário musical independente brasileiro. Concordo plenamente que há uma tendência clara de mesmice e acomodação em fórmulas. O indie brasileiro hoje repete as mesmas práticas desgastadas do mainstream. Só muda o repertório.
Isso inclui, infelismente os festivais, que muitas vezes insistem nas mesmas bandas "pra agitar a galera", como o cara fala na entrevista, ignorando artistas e grupos com propostas diferentes e em certos casos artisticamente mais relevantes, porque não se enquadram nessa fórmula de enterteniment. No Rock de Inverno a gente sempre teve a preocupação de chamar bandas e artistas que a gente gostava, mas que via que não rolava tanto por não se adequarem a essa fórmula de "roque de roqueiro". Não entendo como grupos como o Liquespace, por exemplo, não estão tocando por aí nos festivais. Quer dizer, até entendo, mas não concordo. Ou mesmo um La Carne, que pra mim é uma das melhores bandas do País. Ou Lestics. Enfim, poderia citar muitas outras. E isso acontece muitas vezes ou porque essas bandas não fazem certas articulações políticas, ou porque o som delas não se enquadra na "fórmula indie" convencional. É aquela coisa. Se vc não faz um som com referências óbvias, se não parece com strokes, los hermanos, não imita stooges, ou queen of stone age, ou algum desses grupos de "eletro rock" da gringa, não serve. To pouco me lixando pro rock há muito tempo. Quero fazer música.
Acho fundamental levantar essa discussão estética sim, ao invés de só ficar discutindo mercado e divisão de verba, pagamento de cachê. Não que isso não seja importante. Mas não é tudo.
confira a íntegra aqui.
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7 comentários:
O Vanguard q pare de chorar. Já tiveram o hype deles e não vingou. Por que é um som diferente? Pra mim era igual a um monte de banda gringa hype da época. Apesar disso, é uma burrice da parte dos festivais ficarem enchendo de bandas pseudo covers pra tocar, qdo há várias melhores pra escolher (e que aceitem pagar pra tocar, é claro).
como eu disse, não gosto do som do Vanguart. o que não quer dizer que o cara não possa falar coisas pertinentes.
a questão aqui não é a qualidade da banda, mas as coisas que ele fala sobre o cenário, que pra mim, tem muito a ver.
Achei a entrevista do cara muito ressentida. talvez por isso mesmo, o "não ter dado certo" e aí sai atirando em todo mundo que tomou seu lugar.
Lembro do grunge, quando de repente todas as bandas de hair metal e hard rock (estourando na época) culpavam o Nirvana por ninguém mais querer ouví-los.
Acho que a entrevista do cara realmente tem bons momentos para reflexão, mas ficar posando de artista maldito, atormentado e anti-mainstream chega a ser até engraçado. Ainda mais se vermos que hoje caiu na rede um jingle que o Vanguart fez para um partido político/candidato. Antes que digam: dinheiro é bom, paga as contas e põe comida na mesa, mas não me venha com todo esse ranço de "os outros se vendem", "a gente não arregou pro sistema" e tal que ele tanto prega na entrevista depois de fazer jingle (http://www.youtube.com/watch?v=EdKjdRFC1eo).
Sei lá... my two cents sobre o assunto. ;)
Massa teu blog!
Abraço!
valeu Álcio. eu entendo o que vc quer dizer. Mas de qualquer forma acho que no balanço geral o cara levantou algumas bolas pertinentes. como aliás os próprios entrevistadores. insisto que acho saudável a gente apontar os vícios que o próprio meio independente tem, porque criticar o mainstream é fácil. todo mundo faz. agora olhar pro próprio rabo é mais difícil. principalmente em relação a essa questão estética, que muitas vezes fica em segundo plano em relação à parte política-organizacional. enfim, dá muito pano pra manga.
o cara ta lidando com o downsizing da banda dele do pior jeito, falando mal que errado são os outros, que o brasil não está pronto, por favor, né?
cara. já disse. fodase a banda dele. não gosto de vanguart. o que não impede do cara falar coisas que são reais. como o próprio lobão, que muda de opinião a cada cinco minutos, o que não impede dele levantar coisas que são pertinentes. a discussão em si me interessa, não o futuro do vanguart ou que valha. e sim a discussão sobre essa acomodação tanto de quem produz quanto de quem consome música no brasil, indies inclusos. incluiria até a mim mesmo, de certa forma.
eu gosto do Vanguart...sobretudo ao vivo
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