11/10/2009

Tinha que ser hoje

Fiquei muito triste hoje. Acordei bem, achei que já tinha superado mais uma mudança no trampo, mas quando vi não consegui manter o bom humor: eu preciso descobrir um jeito de não me deixar afetar por essas rasteiras, que não são em mim, mas na cultura e na arte. Mais uma vez, o caderno diminuiu por contenção de gastos... tá eu sei, entendo isso e também que preciso me concentrar no que é importante e fazer o que é possível, mas, o jornalismo cultural por aqui tá cada vez mais difícil de se (tentar) fazer. Converso com pessoas tão legais, tão interessantes que parecem valorizar meu trabalho – como foi o caso recente do pintor curitibano Domício Pedroso, um senhor de 79 anos, que gostou de conversar comigo por conta do mínimo que sei de história da arte paranaense - e fico pensando que é meu nome que tá ali, fico lembrando de como as pessoas gostam de malhar os jornalistas de cultura de hoje, porque já não são táo bons quanto os de antes, não vão a shows, porque têm uma vida particular que não se resume a fazer o que alguns artistas esperam, porque não escrevem sobre tudo, porque não tem senso crítico - e me dá uma indignação tão grande tão incontrolável... me sinto tão impotente e com uma vontade tão grande sumir (afinal acham que eu não faço jornalismo mais aprofundado porque não quero?) e largar tudo, já que é assim... só que eu não consigo. E como eu queria conseguir, em certos dias.
Tá, ok, isso é só mum desabafo, daqui a pouco passa.

Aí, vou limpar emails e acho um que chegou durante minhas férias, do Fabrício da banda Radiare, a comentada derradeira da coluna Piracema, se não me engano. E daí, o gosto salgado de um chorinho teimoso que insiste em borrar minha cara, se mistura a um riso de satisfação, de alegria, que me faz lembrar porque eu não consigo desistir:

“ Resgatando minhas lembranças depois de responder sua mensagem eu passei na net e encontrei seu blog, editado por você e o Ivan (do OAEOZ, certo? Grande banda, tenho um Cd do qual gosto muito). Li seus textos sobre o disco, sua descobertas e experiências, críticas, comentários....
Me lembro que quando eu era adolescente não cansava de ouvir certos discos e k7s. Ouvia até o disco gastar, várias vezes, mas um de cada vez. E, aos poucos, ia compartilhando sentimentos e me identificando com o artista. Pensava que hoje em dia, com myspaces, ipods, discos baixados a rodo, isso não acontecia mais.

Confesso que fiquei bem tocado pelo que você escreveu. Algumas das músicas desse disco são antigas, outras novas, mas o fato é que durante todos esses anos levando a vida e as minhas bandas esses pensamentos que motivavam as letras e as melodias eu sempre dividi só comigo mesmo, com os caras da banda ou pessoas muito próximas. Muitas vezes a motivação de um artista é solitária e incompreensível. Você escreveu algumas coisas ali que me deixaram satisfeito por ser tão teimoso, sempre.

Num mundo tão rápido, instantâneo, superficial e cheio de intenções mascaradas, é muito raro mesmo alguém que "perca tempo" prestando atenção numa obra, seja ela uma música, uma poesia ou uma pintura. Até rolar uma identificação pode ser exigido um tempinho a mais de atenção. A quantidade de obras (um pouco daquilo que o John Ulhoa disse no texto que você postou) que chega até nós é tão grande que hoje fracionamos o nosso tempo de modo a muitas vezes não dedicarmos a um artista o tempo que é necessário à sua compreensão. Em 20 segundos de myspace condenamos, enterramos ou consagramos um artista. Me parece injusto, em qualquer sentido.

Obrigado pela chance, por nos dedicar seu tempo, por prestar atenção, por ouvir, por gostar de música e entender e sentir a arte como ela eventualmente pede.”

É evidente que ele se refere também ao que o Ivan escreveu sobre o impacto desse maravilhoso disco nas nossas vidas...
Nnca dependi do jornalismo pra encontrar pessoas como o Fabrício – e suas bandas, Astromato e Radiare. Estas, eu é que trouxe para o jornalismo que, no geral, as esnoba, as desconhece. Agora, preciso fazer o trabalho do dia e pra conseguir vou outra vez por Radiare no ouvido e no coração, porque eu sei que pode até me dar uma vontadinha de chorar e sumir, mas sei também que é daí que vem a vontade de acordar mais um dia.

Valeu, Fabrício, tinha que ser hoje, o dia pra eu ler teu email. (Adri Perin)

12 comentários:

Ivan disse...

bacana.

jornalismo pra mim é e sempre foi um exercício de frustração diária.

mas essas pequenas grandes conquistas acabam fazendo a diferença.

e você sabe muito bem que já colecionou e continua angariando uma bela porção delas.

tem todo o direito de se sentir frustrada com certas situações.

mas não deve nunca esquecer que as conquistas são muito maiores que elas.

bjs

Carlos Remontti disse...

"...Obrigado pela chance, por nos dedicar seu tempo, por prestar atenção, por ouvir, por gostar de música e entender e sentir a arte como ela eventualmente pede...” Yesss! Disse tudo! Um brinde queridos!

Anônimo disse...

cultura em ctba? como assim? sério?hehehehe. vem pra sampa vc tb! bjo, dna perin.

marceloborges disse...

que sampa que nada. agora que ta de ferias vem pra ca que tem um quarto pra vcs. beijos adri do meu coracao.

André Ramiro disse...

Adri, você é unânime, não esqueça disso. Bjoka

igor disse...

adri, muito legal esse post!
e rrrrubens, nao cuspa no prato que comeu!

Anônimo disse...

prato que eu comi, igor? até onde me lembro, e quero apagar esta parte da minha história, eu tava era passando fome nesta bosta ae... adri, vc é a "the best" e sempre será. se um dia teve alguém preocupado com a cultura nesta terra de vcs ae, foi vc. o resto é só o resto. eu avaliaria a possibilidade de mudanças radicais. nada é por acaso nesta vida e o mundo é muito grande pra gente pensar pequeno, hehehehe. borges, chantagista barato! aquinão é loindres, mas tb tem um cantinho pros brothers, hehehehe. bjo enorme, adri.

Anônimo disse...

O mundo é sujo e cruel com gente como nós, Adri.
Mas não vá se precipitar: você é paixão e entrega em tudo o que faz. Qualidade rara hoje em dia. Pessoalmente, sinto amor e desalento quando penso no pouco espaço à cultura e às artes na minha pequenina Osasco. Mas não desisto de esmurrar a faca, pois se eu for o fim...
Estou com Ivan: "essas pequenas grandes conquistas acabam fazendo a diferença."
Um forte abraço Adri, e obrigado por tudo o que vc fez (e pelo que ainda fará) em pro so jornalismo cultural BRASILEIRO.

Linari

giancarlo rufatto disse...

se ha duas pessoas que merecem o trofeu joinha pelos serviços prestados a essa raça coitada que é o artista brasileiro são vcs.

não desanima, não que amanha tem mais!

Unknown disse...

Quando você me mandou o email dando a notícia, não acreditei. Tanto é que liguei na hora pra ti. Mas guria 'vamô embora', bola pra frente. Você é o meu exemplo.. beijo.

Leo Vinhas disse...

Eu ia escrever umas coisas mas o Linari disse tudo e melhor do que eu teria dito.

Iz. S.O disse...

linda , bom ver-te na exposição da SACRO OFICIO.com em ctba - a gilce passou o contato do teu blog e aqui estou p gente seguir contando coisas boas . o trab agora continua firme e forte em barcelona onde vivo agora . tdo de bom e sem dúvida vc é super profissional...Iz
p.s.na próxima semana reinicio as postagens do blog dá uma passadinha lá e depois me conta ...inté+
http://sacro-oficio.blogspot.com/