Jornal do Estado/ Bem Paraná
Mostra lembra os 20 anos da morte de Paulo Leminiski ocupa Itaú Cultural
Em exibição estarão preciosidades como o primeiro manuscrito de Catatau, em um caderno escolar (foto: Divulgação/ Carlos R. Zanello de Aguiar)
Adriane Perin
Não vai ser em Curitiba a exposição mais completa que já se fez sobre o poeta paranaense Paulo Leminski, morto há 20 anos. São Paulo é que vai desfrutar, a partir de hojem de um material pra lá de especial na terceira edição do projeto Ocupação do Itaú Cultural, que refaz o percurso do poeta por meio de poemas, preciosos manuscritos que revelam a gênese do anti-romance Catatau, depoimentos pessoais gravados em vídeo e shows musicais. Ocupação Leminski conta ainda uma programação de leitura de poemas, adaptações de sua obra para o teatro e o cinema, além de shows musicais com participações especiais de Moraes Moreira e Vitor Ramil (veja abaixo). Durante a ocupação, poetas e prosadores – como Elson Fróes, Nelson de Oliveira, Marcelino Freire e Ricardo Aleixo, Maria Esther Maciel, Frederico Barbosa, Paulo Scott, Izabela Leal, entre outros, escreverão os primeiros twitcais (haicais em forma de twitter) e o público será convidado a fazer o mesmo.
A ideia partiu do também poeta Ademir Assunção, que assina a curadoria, há pouco mais de um ano. Apresentou ao Itaú Cultural e recebeu o sinal verde para se debruçar sobre o acervo que a família guarda em Curitiba no intento de transformar em um acervo público. A primeira oferta foi feita ao Sesc, que vacilou e perdeu a deixa. “Ofereci aqui porque moro em são Paulo e conheço pouca gente dos órgãos oficiais de Curitiba que poderiam fazer uma exposição como esta. Nem pensei em oferecer para Curitiba, na verdade”, diz.
Assunção conviveu com Leminski quando foi estudar jornalismo em Londrina, no final dos anos 70 e a identificação, imediata, se estreitou depois em correspondências e numa convivência maior que evoluiu para uma amizade. “Ele é, sobretudo, poeta em tempo integral. Embora sua obra extrapole a poesia, tudo que fez - na prosa, tradução e ensaios - tinha como centro a poesia. Não conheci poeta mais intenso que ele”, observa. “E não tenho dúvida de que tem o lugar dele na literatura brasileira. Mesmo que ainda hoje pessoas digam que é um poeta menor – como o fez recentemente José C astello sob o argumento de que Leminski é uma figura pop, de marketing. .. Só posso pensar que isso parte de pessoas que não conhecem a obra de Leminski”, defende.
Leminiski foi – e é – pop, sim, sem que isso seja algo pejorativo. É de conhecimento público que ele tinha uma formação erudita, sem que isso se traduzisse em uma empáfia que só serve para distanciar. “Fala isso quem só conhece a superfície, porque a obra de Leminski é densa e múltipla.Ele é uma figura muito peculiar na cultura brasileira exatamente por ser ao mesmo tempo extremamente erudito e ter uma atitude rock and roll. Um poliglota, que conhecia latim e grego, e um boêmio que mantinha uma disciplina rigorosa, fruto das práticas do budismo e do judô. Estive em noitadas com ele de nos separarmos de manhã e às nove ele estar na máquina de escrever. Eu vi isso”, conta o curador-poeta. “É um tipo de artista intelectual ainda bem pouco assimilado pela inteligentsia brasileira. Mas, é essa diferença que faz com que os jovens continuem se identificando de imediato com ele”, completa.
Assunção teve contato com o material com o qual a filha de Leminski, a jornalista Aurea, está tentando criar um memorial, um lugar que possa acondicionar corretamente e também disponibilizar pra pesquisa na internet. “É muito rico e tá tudo bem guardado, mas precisa de condições apropriadas”, alerta. “ Encontrei manuscritos do Catatau. O começo de tudo, de próprio punho em um caderno escolar... quando peguei isso na mão foi... emocionante. Para um pesquisador é como ter encontrado os manuscritos de On The Road , do Jack Kerouak”, pondera sobre uma das raridades que será exibida no Itaú Cultural, numa vitrine fechada.
E alguma chance desse material vir pra Curitiba? “Se alguém dos órgãos culturais da cidade ou do Estado demonstrar interesse. A Áurea tá conversando com a Secretaria de Estado da Cultura. Sem dúvida é a maior exposição que já se fez sobre ele. E o que coroaria isso tudo, pra mim, seria o anúncio do relançamento por alguma grande editora das obras completas dele, porque os livros não estão em circulação e seria uma grande homenagem a ele traze-lo de volta pras livrarias”, diz sobre o escritor que Leminski morreu no dia 7 de julho de 1989, aos 44 anos. Seu livro Metaformose ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia, em 1995. Em 2001, o poema “Sintonia para Pressa e Presságio” foi selecionado por Ítalo Moriconi e incluído no livro Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século.
SERVIÇO
Ocupação Paulo Leminski. Até 8/11. De terça a sexta, das 10h às 21h; sábs., doms. e feriados, das 10h às 19h. Entrada franca Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149). Informações: (11) 2168-1776/1777.
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