4/10/2008

O que foi é blá blá blá...


Depois do Beto Só, o Myspace Brasil traz a partir de hoje como destaque outra das nossas bandas prediletas, o Pipodélica, de Floripa, que apesar de ter encerrado as atividades em março último, tá lançando disco novo, gravado e produzido antes do fim do grupo. Conheço e sou fã do trabalho desses guris deste a primeira demo, "Tudo isso", de 2001, quando eles ainda tinham uma garota como vocalista. E já nesse primeiro trabalho dava pra perceber claramente a qualidade da música, das composições do Xuxu, a riqueza dos arranjos da banda, a excelência do instrumental da banda, todos eles grandes instrumentistas. Desde o início, dava pra ver que eles tinham uma identidade própria, que foi se aprimorando ao longo do tempo, e se afirmando, desde o EP seguinte, "Enquanto o sono não vem", que trazia a hoje clássica "Blá blá blá", e depois, no primeiro disco, "Simetria Radial", de 2003, lançado pela Baratons Afins, e que eu considero um dos melhores discos desta geração de bandas brasileiras, a que, modestamente, nós do OAEOZ, temos a satisfação de fazer parte, mesmo que do nosso jeito mais acabrunhado e curitibano.
Não por acaso, foi o Pipodélica o responsável pelo primeiro show do OAEOZ fora de Curitiba, no saudoso Underground Rock Bar, literalmente nas margens da Lagoa da Conceição. Foi a nossa primeira viagem pra tocar fora. Lembro da casa que a gente ficou lá em Jurerê Internacional, das brincadeiras à beira da piscina, enfim, aquelas coisas típicas de viagem de banda. Em 2002, trouxemos eles pra tocar a primeira vez aqui, no Rock de Inverno 3. E depois, novamente pra lançar o "Simetria Radial", no também finado Camorra.
Aliás, vocês notaram como as palavras "finado" e "saudoso" se repetem nesse texto. Vendo a notícia do fim do Pipodélica confesso me bateu uma certa e incômoda sensação estranha de nostalgia. O tempo passou e muitos daqueles que tavam aí como a gente fazendo um som por esse independente brasileiro pararam ou foram fazer outras coisas. Isso faz bater um misto de saudade dos tempos em que a gente ainda alimentava certas ilusões de que isso pudesse nos levar a algum lugar, sei lá, que a gente mesmo não sabia qual seria. E ao mesmo tempo de orgulho, sim porque não, pois por mais que muitos não tenham tomado conhecimento ou não dêem valor a tudo o que aconteceu de lá pra cá, e independente de fatores mercadológicos, o que a gente vê hoje é que essa geração, se não cumpriu todas as expectativas - muitas delas irreais - que alguns e até nós mesmos podíamos ter, construiu uma obra, uma história, que não pode ser ignorada, que estabeleceu sim paradigmas, e que tem um valor inegável.
Lembro que quando a gente começou a estabelecer contatos com as bandas de outros estados que estavam aparecendo no final dos anos 90, início dos 00. O que mais me chamava a atenção é que ao contrário de em outras épocas, em que sempre existiam determinados estilos ou gêneros que prevaleciam e se tornavam predominantes - como o indie guitar shoegazer, ou o hardcore psicobilly, ou as bandas que faziam fusões de rock com música brasileira e ritmos regionais, comuns na primeira metáde da última década do século XX - naquele momento estava surgindo uma série de bandas em vários pontos do País que se identificavam não por fazerem um som parecido ou partirem das mesmas matrizes, mas por buscarem uma identidade musical própria indepentende do que tava rolando, do que seria "cool", ou então comercialmente esperado pelo mercado. Bandas como o próprio Pipodélica em SC, o Momento 68, de Sampa, o Mopho, de Maceió, o Phonopop de Brasília, o 4-Track Valsa, depois Casino, do RJ, e por aí vai. Cada uma com um som completamente diferente da outra, mas todas unidas pelo sonho de fazer boa música, sem rótulos ou fórmulas pré-concebidas. E conhecer essas bandas foi muito importante, pois fez a gente perceber que não tava sozinho, que havia um caminho, e que a gente tava nele também, do nosso jeito, tentando criar um trabalho que fosse nosso, que tivesse qualidade e que pudesse emocionar, tocar as pessoas de verdade.
Até hoje, quando a gente coloca um disco como o Simetria Radial pra tocar fica impressionado com a qualidade das canções e como elas marcaram um tempo em nossas incertas e atribuladas vidas. Como elas ficaram gravadas lá no fundo da nossa mente e impressas em nossos coraçõezinhos perdidos. Saudade de tempos ingênuos e espontâneos que ficaram no tempo.

Mas no final é isso o que conta, as canções que se tornaram a trilha sonora particular de nossas vidas e contam as nossas histórias. Pra mim pelo menos, a certeza que fica é que o Pipodélia e muitas outras bandas podem ter acabado, virado outras, se transformado em outros projetos. Mas as músicas que marcaram nossas vidas vão continuar reverberando por aí por muito tempo, pelo menos para aqueles que tiverem ouvidos e sensibilidade pra ouvir e se deixar emocionar por elas.

Deixo abaixo um texto do Bianchini que fala um pouco sobre isso e sobre o último trabalho do Pipodélica.

"Quando esse texto foi encomendado pela primeira vez, era para contar uma história diferente. Era mostrar como, após um ano de problemas pessoais e a crise que resultou na mudança de formação, a primeira desde 2003, Não Esperem por Nós (segundo “disco cheio”, o bom e velho elepê do grupo) representava não apenas a sobrevivência, mas a continuidade refortalecida do Pipodélica. Acabou que as coisas não saem sempre como o planejado e, em vez disso, veio o fim da banda, anunciado no último dia 2 de março. Triste, mas é isso.

E aí, depois que se sabe o fim da história, é fácil vê-lo como lógico, inevitável e anunciado. É fácil ouvir Não Esperem por Nós, desde o título, como uma carta de despedida. Para quem quiser achar “evidências” de que o Pipodélica caminhava para a
extinção inexorável, há letras com histórias de cansaço e decepção própria e alheia, refrões como “ando tão enrolado, ando tão ocupado e não tenho tempo de viver pra mim” (“Dedos”) ou a busca de auto-afirmação de “sim, eu acho que eu tô certo” (“Hora H”), o encerramento do disco com uma faixa chamada “Crianças Velhas” e outra chamada “Mofado” com o verso “o meu tempo é passado”.

Ou ainda o modo como há um pouco de tudo o que o Pipodélica mostrou que sabe fazer ao longo de pouco menos de uma década de carreira. A simplicidade da balada “Ela Foi…” convive com as sobreposições vocais, mudanças e cordas de “Crianças Velhas” o rockão “As Minhas Cores”, gravado em take único, a delicadeza de “Dedos”, o diálogo de guitarras de “Superlativo” e o discreto embalo rhythm’n’blues de “Mil e Um Canalhas”.

Mas, como eles mesmos dizem em “Essa História” (pop embaladinho com sotaque country), “fale o que quiser, mas deixe valer a verdade”. O problema de levar a coisa para esse lado é a possibilidade de assim roubar do ouvinte um tiquinho da pluralidade e das múltiplas interpretações permitidas por uma obra de arte, que se sustenta por si só como tal, não como crônica de apenas uma história em particular.

Até porque nada daquilo é novidade para o Pipodélica.
A determinação de envelhecer com dignidade e, por isso, necessariamente encarar a maturidade e suas conseqüências é permantente para a banda e remete a seus primórdios, assim como o cuidado nos arranjos. O fato deles estarem ainda melhores, mais texturizados, com filigranas quase imperceptíveis ou a introdução de baixo de “Já Não Mais”, do que em todos os discos anteriores é bastante lógico. E cabe a previsão: poderia ser ainda melhor num eventual futuro diferente, que acabou não sendo possível.

Em vez de lamentar o que não será, os quatro agora tratam de preparar o futuro com seus projetos, individuais ou que envolvam outros integrantes. A vantagem do fim de uma relação dessas é que deixa muitas possibilidades em aberto. E é por sempre haverem gostado de explorar possibilidades que o Pipodélica fará falta."

Florianópolis, março de 2008.

Fabio Bianchini

8 comentários:

André Ramiro disse...

Afinal o lance é amoço ou janta poooooo? hehe

Anônimo disse...

jalmoço. antar.

Túlio disse...

É incrível mesmo quando as coisas mudam. Os locais de shows por exemplo estão mudando a todo momento. Não sei se é uma maldição das bandas que participei, mas acho que todos lugares que tocamos em Curitiba fecharam... Camorra, Poemia, Bar do Salim, Rephinaria, Cine, Diretoria e por aí vai...

Anônimo disse...

é Tulio. o tempo passa, o tempo voa, e a poupança Bamerindus já foi pro saco faz tempo. ahaha

André Ramiro disse...

hahahahahaha
e o banestado foi junto...
NÃO HÁ MAIS LUGAR PRA TOCAR!!!

Anônimo disse...

ramiro, vamos invadir aquela porra da tua montanha. levaremos "montanhas" de equipamentos que irão ensurdecer os grilos... sacou?

André Ramiro disse...

fechou rubeira, os grilos entram com alguns zumbidos!!!!!!
e Adri e Ivan, caralho, peixe foda.
Abssss pra vcs brothers!!!

Anônimo disse...

oi adri e ivan! também senti tudo isso que tá escrito aqui e mais um pouco. rolou quase uma lágrima! hahaha... mas a verdade é que olhando pra trás, depois do orgulho, até dá um tiquinho de emoção. tem também o agradecimento, que não poderia deixar de existir... e confesso, que quando estava escrevendo o tal anúncio e agradecendo aos que tocaram conosco e aos amigos que fizemos, me veio à cabeça, direto, a mesma cena da piscina oaeoz/pipodélica na casa de jurerê.
coisas da vida. lindas e assim vou guardar. obrigado por tudo que passou. mas vem mais por aí pq afinal, era só uma banda. abs e beijos a vcs. XuXu