4/25/2008

Falsas baladas e outras canções de estrada





Então. Semana que vem saem finalmente os dois novos discos do OAEOZ. O de estúdio "Falsas baladas e outras canções de estrada", e o "Ao vivo na Grande Garagem que Grava". Ambos serão lançados pela De Inverno Records em parceria com o Senhor F, através do Senhor F Virtual, e estarão disponíveis para download a partir de segunda. Como sempre, tudo isso só foi possível graças a ajuda dos velhos e novos parceiros e amigos, Luigi Castel, Igor Ribeiro, Giancarlo Rufatto, Fernando Rosa, Renatinho, Leonardo Vinhas, e por aí vai. Em relação ao "Falsas baladas", foram mais de dois anos de muito trabalho, idas e vindas, e tudo o que envolve uma produção independente. Sem sombra de dúvida posso afirmar que o maior responsável por esse disco se chama Carlos Zubek. Se não fosse a disposição do Carlão de enfrentar todos os perrengues que a gente viveu nesse período, provavelmente não só o disco não sairia, como provavelmente o OAEOZ já teria feito água. Por isso, faço questão de fazer esse registro, pois só eu sei tudo o que a gente passou pra terminar esse trabalho. Mas o importante mesmo é que o resultado final foi sem dúvida o melhor que a gente poderia ter tirado desse material. Ambos os discos são o testemunho sonoro de nossas vidas, nossas histórias, com tudo o que isso significa. Com o "Falsas baladas", em especial, o OAEOZ dá um passo além no sentido de assumir o controle sobre aquilo que a gente produz. O disco foi gravado lá no estúdio da casa do Carlão, agora batizado de Confraria Z, onde a gente já ensaia há anos. E mixado pelo próprio Carlão, que praticamente foi aprender a mixar pra fazer isso. Ou seja, é um disco em que a gente leva ainda mais a fundo a filosofia "do it yourself". Não é a toa, aliás, que as músicas, de certa forma, refletem esse movimento de "voltar-se pra si mesmo", que o OAEOZ, por vontade e necessidade, assumiu nos últimos anos. Não é por acaso que o disco traz uma música sobre a própria banda - "Canção para OAEOZ", sobre a vida na estrada - "Ninguém vai dormir"; e até uma canção sobre fazer uma canção para alguém que se gosta.
E o mais bacana é que nesse processo todo a gente acabou construindo as condições pra daqui pra frente ter ainda mais autonomia pra gravar e fazer a nossa música. E o que mais me anima é saber que a gente ainda pode fazer ainda mais e melhor.
Abaixo o release e um texto de nosso amigo Leo Vinhas sobre essa história toda.


OAEOZ apresenta dois novos discos de inéditas

“Falsas baladas e outras canções de estrada” sai pelo selo Senhor F Virtual e será distribuído também em formato físico em um box set exclusivo para divulgação junto com o “Ao Vivo no Grande Garagem que Grava”

A banda OAEOZ, de Curitiba faz de uma só vez neste início de 2008, o lançamento de dois novos discos de composições inéditas. Falsas baladas e outras canções de estrada é o novo trabalho de estúdio do grupo, gravado por Luigi Castel e produzido pela própria banda no estúdio Confraria Z, mantido pelo guitarrista da banda ,Carlos Zubek. Ao Vivo na Grande Garagem que Grava apresenta o registro feito com o apoio Fundação Cultural de Curitiba dentro do projeto comandado pela Chefatura Records, produtora integrada por músicos remanescentes das bandas Beijo AA Força/Maxixe Machine.
Surgido em outubro de 1997, o OAEOZ comemorou em 2007 dez anos de atividade com o lançamento de dois singles – Impossibilidades e Canção para OAEOZ, que traziam uma amostra do novo disco de estúdio. O primeiro foi selecionado para estrear o projeto Compacto.rec (http://compactorec.blogspot.com) - série de compactos virtuais lançada pelo Circuito Fora do Eixo, que reúne produtoras, selos e festivais de todo o País. “Canção para OAEOZ” saiu em outubro em formato virtual com exclusividade pelo site paulistano Scream Yell (www.screamyell.com.br), editado pelo jornalista Marcelo Costa.
Os novos trabalhos mantêm a estratégia de divulgação na internet. Tanto “Falsas baladas...” quanto o “Ao vivo na GGG” serão lançados com exclusividade no formato virtual para download gratuito a partir desta segunda-feira(28/4), em parceria com o Senhor F - um dos mais importantes sites de música independente do País, editado a partir de Brasília pelo jornalista Fernando Rosa e que está completando dez anos de atividades em 2008. Além do lançamento virtual, foi produzida uma tiragem limitada em CD de “Falsas baladas” para distribuição exclusiva para divulgação. Aproveitando o fato do novo CD de estúdio estar saindo ao mesmo tempo em que o registro ao vivo da Grande Garagem, os dois discos serão distribuídos em um box set com ambos os trabalhos em formato físico. A produção do material contou com o apoio das Livrarias Curitiba e da Tecnicópias.
O OAEOZ foi fundado em 1997 por Ivan Santos, Igor Ribeiro, Hamilton de Lócco (bateria), e Rodrigo Montanari (baixo). Com essa formação, lançou duas demos - OAEOZ (1998) e De Inverno (1999), e dois CDs - Dias (2001) e Take um (2002). Ajudou a criar o festival Rock de Inverno, que deu origem ao selo De Inverno, criado por Ivan e pela jornalista Adriane Perin. Participou das coletâneas “Novos sons fora do eixo” (2202), lançada pela De Inverno Records em parceria com o Jornal do Estado; e “Raízes da terra” (2003), pelo jornal Gazeta do Povo. Com a saída de Igor no final de 2002, o grupo incorporou André Ramiro (Índios Eletrônicos) e Carlão Zubek (Folhetim Urbano). Em 2005, lançou o CD “Às vezes céu” - com shows no teatro Paiol, em Curitiba; e em São Paulo, no clube OUTs e no Centro Cultural de SP. Recentemente, o OAEOZ também teve músicas incluídas na trilha do filme longa-metragem “Nossa Vida não Cabe num Opala”, que estreou em fevereiro no último festival de Berlim, e é baseado em texto do dramaturgo londrinense Mário Bortolotto, e dirigido por Reinaldo Pinheiro.


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Eu tinha 15 anos e sonhava em ser jornalista musical – depois que algumas aulas de contrabaixo me mostraram que eu teria “dificuldades técnicas” em seguir carreira até mesmo num “Ramones cover”. Era o começo dos anos 90, e cada descrição de um show na gringa ou mesmo na “longínqua” São Paulo (para quem morava no interior e só ia ao litoral com os pais...) valia para mim como a descrição de um épico, para dentro do qual eu era transposto graças à palavras que davam a dimensão do que eu havia perdido.
Acreditava, naquele momento, que o ofício de jornalista musical tinha a ver com saber dar aos leitores a medida exata do que eles haviam perdido, ou perdiam, não estando em determinado show, ou não escutando certo disco. E acreditava no poder transformador/catalisador/entorpecedor da música.
Hoje eu tenho o dobro dessa idade e, sendo justo comigo mesmo, continuo acreditando nesse poder da música. Mas não no jornalismo (e nem apenas no caso do musical). Cumpri meu objetivo, estive em shows, ouvi discos que ganhava de graça para resenhá-los, viajei e achei tudo isso muito frustrante e aborrecido. Conhecer os músicos era um comportamento típico da minha idealização adolescente, mas depois de certo tempo, achei melhor nem conhecer quem compunha uma canção que mexia comigo, da mesma maneira que é interessante que um fiel não conheça a vida íntima do pregador de sua fé. Os pequenos detalhes ganham demasiada importância e arruínam qualquer sonho.
A esse processo de transformação pessoal – que até aqui está restrito à música – soma-se o cinismo que parece ganhar força e tomar espaço, insidiosamente, conforme você vai abandonando a faixa dos vinte. Talvez seja uma característica de nossos tempos e nossa sociedade: começamos a trabalhar muito cedo, a dar a cara à tapa muito jovens, e a crise de meia-idade vem quando nos aproximamos do nosso suposto auge, que é a faixa dos 30 (pergunte ao seu médico, caso você já esteja freqüentando um). O fato é que quanto mais velhos, mais cínicos, e tudo parece tornar-se mais chato e menos empolgante, inclusive (e principalmente) os relacionamentos e a música. Minha geração está se sentindo velha e desesperançosa aos meros 30 anos, isso numa época em que a expectativa de vida supera os 70. Ou seja, não chegamos nem à metade de nossa existência, e já estamos rabugentos e entediados.
Aí calha que por uma série absurda de coincidências, por um ato de molecagem que parece inapropriado à sua “idade”, você faz uma viagem inesperada, cai numa cidade onde ninguém lhe conhece e você sai de lá com várias histórias para contar e até com alguns amigos. Levando ainda alguns discos debaixo do braço, passados pelos mesmos amigos.
Aí, de volta à sua casa, você escuta uma voz saindo de algum desses discos que confessa: “dizem que tenho talento para melancolia, qualquer tipo de fobia, que tenho pena de mim...” Como é que é? Eu acho que reconheço esse sentimento! Não passa muito, uma outra canção confessa que “a vida é fácil, eu é que sou complicado, sempre acabo me enroscando nesses dias tortos. A gente sempre quis ter uma vida simples, mas tudo é tão difícil quando se tenta fazer o que se quer”. Parece que todas as suas contradições adolescentes que ficaram disfarçadas sob camadas de cinismo adulto estão reveladas ali, na sua cara, prontas para ficarem reverberando até você não querer pensar mais nisso, simplesmente porque não consegue se encarar. Porém, esse mesmo disco traz uma canção sobre a estrada que, além de lhe lembrar que você nunca terá viajado o suficiente, lhe propõe que “o peso que carrego nos ombros é só bagagem”.
Foda.
Os anos passam, você passa a viajar para acompanhar aquela banda e vai vendo que, mesmo com a passagem do tempo e muitos meses de estrada, você continua cínico. Puxa, será que a música não te transformou? Será que aquilo que parecida redivivo em você foi só uma última fagulha de um brilho jovem que vai ficar permanentemente soterrado sobre essa carcaça de velho que você criou para si próprio? Live fast, die young, diziam anos atrás. Você não morreu jovem. E agora?
E agora chegam não um, mas dois discos novos dessa banda. Você nem estava esperando, mas eles chegam numa tarde rotineira, vento quente arrastando o tempo. Você tem que ir trabalhar, então coloca os discos no som do carro e nem percebe que, pela primeira vez em muito tempo, as idéias de “cinismo” e “idade” nem passam pela sua cabeça. Algumas palavras vêm lembrar que você não é mais um garoto mesmo, e daí? A esperança nunca foi privativa da juventude e, ademais, todos aqueles escritores de quem você gosta tanto, que ocupam a maior parte da sua surrada biblioteca, começaram a escrever suas melhores obras só depois dos 40. Quem é que estava preocupado com a data de nascimento mesmo?
Mas a queda do cinismo é que é mais interessante. Porque essa banda pode escrever canções a partir de uma conversa entre amigos na laje – uma canção sobre a conversa, aliás. Essa banda escreve uma canção sobre ela mesma, e a relação (não necessariamente idílica) entre seus integrantes. Caramba, essa banda escreve uma canção sobre a vontade que dá de parar com tudo e não se fazer mais o que se quer, talvez começar a fazer o que se “deve”, para evitar tantos aborrecimentos. Mas quem é que consegue viver assim? Com certeza, ninguém para quem a música importa algo conseguiria fazê-lo.
Você começa a andar com os discos na mochila (trinta e poucos anos, e ainda sai de mochila por aí?) e começa a ouvi-los quando dá tempo. Ninguém – seus “colegas” de trabalho, conhecidos, parentes – entende porque você escuta essas canções sem refrão, sem distorções óbvias ou ganchinhos saltitantes. Mas tudo bem. Eles passam suas noites de seu modo ordinário, enquanto o disco lhe recorda que “ninguém vai dormir” enquanto tivermos vontade de fazer algo mais substancial. Mesmo que estejamos de olhos fechados.
É quando você abre os olhos e vê que você mesmo está sorrindo. Sem cinismo.



Leonardo Vinhas

9 comentários:

Anônimo disse...

é isso ae, oaeoz, leo vinhas... pode crer. grande abraço a todos, afinal, estamos vivos ainda, ou não?

Anônimo disse...

tamos aí, nê Rubão.

Anônimo disse...

Segurar as rédeas da própria história. Isso é o mais importante, nénão Ivan? Tô aqui ouvindo o Beto Só e lendo o texto do Vinhas. Muito, mas muito classe mesmo. Segunda tô lá pra baixar a minha cópia. Valeu por mais esse presente, brother. Grande abraço de todos os perdidos aqui de Ós.

André Ramiro disse...

e saiu oaeoz na nova revista coquetel molotovvvvvvv....abssss

Anônimo disse...

ja falei uma vez: "pra longe" já nasce clássica.

giancarlo rufatto disse...

2 discões. tem pelo menos 5 entre todas essas canções que deveriam tocar na novela das 8. incluindo conversa na laje obviamente. enfim, tirando a capa do "falsas baladas" que eu pessoalmente odiei, (deixam qualquer fazer as capas é?)acho que ganha o meu joinha...


brincadeiras a parte, acho que são os discos que eu mais ouvi em 2008, simples assim.

Anônimo disse...

nao tinha reparado nos ovnis sobre oaeoz na capa da ggg.

Anônimo disse...

ivanzão, velho, desculpe o furo. dormi a tarde toda (bebedeira ontem). me perdoe... foi mal. vamos marcar com aquela criatura nefasta de oz? heim?

Anônimo disse...

tranquilo. certeza. vamos armar essa gig com doctor linari. abs