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A jornalista Ana Maria Bahiana, autora de Almanaque anos 70, é a convidada a bater um papo hoje
Adriane Perin
Foto: Reprodução
Brinquedos, novela, carros, a banda Vímana, o programa Vila Sésamo: boas lembranças
Ela não é uma mulher agarrada ao passado. Nostalgias e aquelas conversas que começam com “naquele tempo era melhor.....” não fazem a sua cabeça. Mas, ironicamente, é do passado que tratam as mais recentes em recentes empreitadas da jornalista Ana Maria Bahiana: no cinema, 1972, filme na qual divide produção, argumento e roteiro com o companheiro de longa data, o também jornalista, José Emílio Rondeau; e o livro Almanaque Anos 70. Este último é o mote da vinda dela para projeto Sempre um Papo, no Teatro da Caixa. O título faz parte de uma série da Ediouro e foi feito incrivelmente rápido, de junho a janeiro, contou ela em entrevista por telefone. Alto astral, Ana Maria é boa de conversa e parece que o papo poderia se estender tarde adentro. Mas, temos tempo limitado, então concentramos o conversê em seus projetos, inevitavelmente, passando pelo jornalismo.O trabalho no Almanaque começou junho e trouxe um mergulho no passado. “Fiquei full time nos anos 70, o que foi muito estranho porque não é da minha natureza, não sou saudosista, não penso no passado e quando começa aquela papo de ‘naquele tempo era bom’, corto imediatamente”, diz. Em agosto “se mudou” para o Arquivo da Cidade, no Rio, “graças a generosidade da diretora e com a proteção das bibliotecárias. Eu entrava às 8 e saia quando o segurança me achava”. Primeiro mandou descer tudo que diz respeito a tal década e foi fazendo uma varredura no que foi publicado entre 70 e 79. “Procurava caras, celebridades, anúncios, tendências, gíria, a minúcia - e assim nasceu o copião do livro”, conta, sobre o livro de quatrocentas e poucas páginas, um levantamento divertido dos psicodélicos anos 70. As emoções foram fortes e pararam, também, em dias tristes, cheios de lembranças de amigos que não estão mais aqui. “Foi uma geração muito sofrida, tanta gente foi embora cedo demais”. O mais incrível, diz, foi o “outro” Brasil. “Cada um vivia a sua turma, não importava a questão geográfica. Quando eu vi umas propagandas da Operação Pulso, Mobral foi fascinante porque era outro mundo, do qual a gente, na época, não queira saber mesmo. Não tomávamos conhecimento do mundo dos caretas”.
A exigência pela mediocridade
Não dá para conversar com Ana Maria Bahiana sem falar de jornalismo. A chegada da edição nacional da revista Rolling Stone - de cuja primeira versão ela foi secretária de redação - a deixou animada porque ela é do tipo que gosta de revista com texto de verdade. Mas, pondera, esta de agora é diferente da de 34 anos atrás. “Não teria sobrevivido sem mudar. A pedra rola, são outros desafios, o leitor é mais fugidio. Fazer uma revista em papel hoje é muito mais dificil”, nota. Pode não parecer, mas o mercado atual é menor, proporcionalmente falando. “A revista vendia 25 mil exemplares, que equivalem a 250 mil hoje. Eu mesmo, compro 3 revistas ao ano, antigamente eram 3 ao dia. Até me esforço, páro em frente as bancas e fico procurando, mas não acho o que me interesse”. Com isso pena também o jornalismo. “É uma tendência mundial, só que em nenhum lugar se manifesta como aqui. Olha que rodei o mundo e vejo muita celebridade, mas também encontro boas revistas de verdade. Aqui não”. A situação chegou ao ponto de uma jornalista do gabarito dela se considerar desempregada. “Estávamos até brincando - eu, Giron, Maria Lucia Rangel e Sérgio Augusto, nesse final de semana - que somos espécie em extinção. Deveríamos criar a fundação ‘mico leão dourado do jornalismo’, ter nosso corpos empalhados”, zoa ela. O jornalismo brasileiro que já foi capaz de grandes publicações - Realidade, Bondinho, Senhor, O Sol - hoje não dá espaço para a criatividade na escrita, avalia. “ Me dói ver que existe uma exigência de mediocridade. A realidade leva até o mais talentoso jornalista a baixar o nível para sobreviver. E a grande contradição é que a única maneira de sobreviver ao longo prazo é buscar a excelência”. Enquanto isso, ela vai escrevendo livros, “meu primeiro e mais antigo amor”, conta, adiantando que tem projetos até 2009. (AP)
Um filme sobre acreditar na vida e nos ideais
O filme 1972 também se passa nos anos 70 - e muito se falou que seria a história dela e Rondeau. Mas não é. Trata de um jovem casal descobrindo a vida. “É em super 35, uma geometria de imagem incomum no cinema brasileiro”, explica ela. “Os personagens são fictícios, nos conhecemos muito tempo depois, mas vivemos aquele tipo de vida”, completa. A vontade de fazer coisas que nunca fez é que a move. “Queríamos escrever um filme sobre rock nos anos 70, sobre Brasil, não tinha nada. Um dia virei pro Zé e disse ‘é mais fácil você fazer do que explicar para outro”, lembra. E assim a história foi tomando conta do casal e os personagens se tornando reais. “O mais difícil é levantar o dinheiro. Mas até nisso fomos abençoados, teve uns malucos que acreditaram, a Buena Vista, Petrobrás”, diz, sobre o filme que foi muito bem recebido.1972 não faz reverência a estética que anda dando o tom das produções brasileiras.. “Não é angustiado, nem pessimista. É sobre acreditar na vida, nos seus ideais - demodê isso, né? Também já vi críticas dizendo que é ridículo, isso faz parte. As pessoas vão a festivais esperando filmes cínicos e nós celebramos a juventude, o amor, a alegria, a esperança, mesmo com uma históri em um momento mais horroroso do Brasil. É uma fantasia rock’n’roll”, diz sobre o filme que deve chegar a Curitiba até janeiro. (AP)
Serviço: Sempre um Papo com Ana Maria Bahiana. Hoje às 19h30. Entrada franca. Teatro da Caixa (R. Conselheiro Laurindo, 280). Informações: (41) 2118-5233.
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3 comentários:
"Me dói ver que existe uma exigência de mediocridade". É bem por aí. Por isso que fui ser professor. E vi que a raiz da mediocridade está na escola...
Senhor Ivan e dona Adri, acho que dessa vez vou perder o TIM, porque quando fui comprar ingresso, não tinha mais... Ainda dá pra encontrar em algum lugar por aí?
Abraço grande!
nossa, que estranho. vou ver com a Adri, mas acho que deve ter sim. não é possível que os caras venderam tudo aqui com o tamanho da pedreira. nos falamos ainda. abs
Adri, da uma lida la no www.pinhaomusical.blogger.com.br ! e diz o que acha, to aprendendo ainda. bjo E que tal agendar uma entrevista sobre a música curitibana, o Oaeoz, as matérias.. entre você e o Ivan pra por la no blog? Hein? bjos e abraços
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