10/11/2006

Onde é que está meu rock n roll (será que eu vou virar bolor?)

Como dizia aquela antiga propaganda, o tempo passa, o tempo voa... (e a poupança Bamerindus foi pra puta que pariu). Se fosse uma pessoa, o OAEOZ estaria hoje quase saindo da fase criança para entrar na pré-adolescência. Estamos completando nesta quarta-feira nada menos do que nove anos desde os primeiros passos da banda. Talvez isso explique a fase complicada que a gente vive hoje, já que é ao chegar a pré-adolescência/adolescência que em geral a vida parece ficar de ponta cabeça, e todos os complexos e incertezas da vida te atingem em cheio como um raio.
Foi lá no agora distante 11 de outubro de 1997, um sábado, que eu, o Igor e o Camarão nos reunimos pela primeira vez, na casa verde do Campina do Siqueira para a qual eu e a Adri havíamos na época acabado de nos mudar. Lembro que os primeiros ensaios foram no quartinho do meio da parte de baixo da casa. Mais tarde, iríamos passar a ensaiar no sótão, bem mais amplo e arejado.
Vista da parte da frente do quintal da casa do Campina do Siqueira, onde o OAEOZ "nasceu": tempos de ensaios longos, jams e ambiente bucólico.
No começo, como não tínhamos bateria, emprestávamos a batera do Rodriguinho (ex-Acrilírico, hoje no Gruvox). Nesse início também não tínhamos baixista, nem sequer nome para a banda, tanto que as fitas em que eu gravei os primeiros ensaios eram identificadas como “ICI” - ou seja, as iniciais de Igor, Camarão e Ivan. O nome só viria depois, escolhido de uma lista feita às pressas por mim e pelo Igor às vésperas do primeiro show, na lendária república da família peixe-cachorro. Lembro que entre as opções dessa lista tinha ainda “Os Arnaldos” (óbvia homenagem ao Arnaldo Baptista; depois fiquei sabendo que tem uma banda com esse nome em Porto Alegre).
O quartinho do meio da casa do campina, onde fizemos os primeiros ensaios do "ICI", depois OAEOZ: notem a sofisticação do colchoado pendurado em frente à janela para abafar o barulho.

Nessa primeira fase também tivemos por um período um violinista, o Eduardo, amigo do Igor, que saiu depois da gravação da segunda demo: De Inverno, de 1999. O Rodrigo Zóio entrou no início de 1998, e rapidamente se incorporou a banda e à nossa turma com seu jeito desencanado. Lembro ainda do primeiro ensaio com ele. No início, achei que não ia rolar, mas logo o cara foi se soltando e a coisa se encaixou perfeitamente.
O sótão da casa do campina visto de fora: espaço e ensaios embalados pelo vento e pela chuva. Também foi aí que a gente gravou o Dias (2001).
Foram bons tempos em que a gente tinha muito mais facilidade pra se encontrar e fazer música. Chegávamos a ensaiar três vezes por semana, e a fazer uma média de dois shows por mês, tocando em tudo quanto é moquifo ou lugar de Curitiba que abrisse espaço pra som próprio. (James, Café Beatnik, Café Curaçao, Cafénobule, QG Bar, Bills, e por aí vai). Fora que os ensaios de sábado eram verdadeiras jams que duravam até quatro horas.
Como eu disse, o primeiro show foi na casa da família peixe-cachorro. Aliás os dois primeiros foram lá, um deles abrindo para os Magnéticoss. Também fomos a primeira banda a tocar no James, quando o bar ainda tinha sido recém-aberto.

Os primeiros dois shows do OAEOZ foram na república da Família Peixe Cachorro: aí do lado uma coletânea de fotos de um deles, com direito a fogueira, malabares e tudo o mais.
Outra coisa que ficou na minha mente era a forma como o público reagia à música do OAEOZ nas apresentações ao vivo. Em uma época em que o underground de Curitiba era monopolizado por bandas de som “indie-guitar”, ou harcore, e psicobilly, a gente apareceu com um vocalista tocando violão e cantando “pra dentro”, geralmente sentado e também tocando teclado (heresia para os roqueiros mais “radicais”); um guitarrista esquizofrênico, um violino, um baterista que não tocava como um baterista convencional. Quando quase todo mundo cantava em inglês, nosso repertório era majoritariamente de letras em português falando de amores complicados, romances sem futuro, questões existenciais: nada de política, nada de “crítica social”, nada de lições de moral ou pose de fodão. Baladas melancólicas, que explodiam em longos trechos instrumentais e improvisos. Shows de mais de duas horas de duração. Também não tínhamos nada a ver com aquele lance que rolava muito na época de “fusão de ritmos regionais” na cola do mangue beat, raimundos, ou o funk-hardcore de Planet Hemp e Charlie Brown em voga então. Ou seja, tinha tudo ao contrário do receituário, tanto do underground quanto do mainstream.
Não à toa, a reação geralmente das pessoas nos shows era de um misto de incompreensão e perplexidade, quando não de desprezo puro e simples. Nunca esqueço de um show no QG – lugar que na época abrigava praticamente só bandas de hardcore e psicobilly. Até a quarta ou quinta música ficou quase todo mundo quieto de braços cruzados olhando a gente com uma cara tipo “qualé a desses caras”. Você terminava a música e era aquele silêncio constrangedor. Só então, em uma determinada música sei lá porque alguém aplaudiu e eu não tive como segurar um comentário: “vocês são um público bem curitibano mesmo, heim?”, brinquei.
Estúdio Luna, onde o OAEOZ gravou sua primeira demo, lançada em 1998: à direita, Eduardo, violinista que tocou com a gente no início.

Mas o legal é que apesar dessa frieza da maioria, sempre tinha um maluco desavisado que vinha conversar com a gente depois do show e comentar que tinha gostado, achado diferente e tal. E assim a gente foi seguindo, meio aos trancos e barrancos, um passo de cada vez, as vezes mais rápido, as vezes quase parando, mas sempre em frente.
Olhando para trás, eu sinto que o mais importante foi que independente de qualquer coisa (reconhecimento, espaço, sei lá), a gente conseguiu construir um trabalho que se não foi tudo o que sonhava ou idealizava, traz as marcas indeléveis de um período inesquecível das nossas vidas.
Foto tirada em frente à antigo estúdio Áudio Beltrão, onde gravamos a segunda demo, De Inverno, lançada em 1999: dá pra ver que era inverno mesmo.
Nossas histórias estão lá, contadas nessas dezenas de canções, que bem ou mal, são um retrato do que a gente é e do que a gente viveu. E mesmo que a gente não consiga nunca mais fazer mais nada pelo menos 43 delas estão lá registradas, gravadas e hoje disponibilizadas para quem quiser ouvir (www.tramavirtual.com.br/oaeoz) – além das duas versões ainda inéditas em disco que estão no my space (www.myspace.com/oaeoz). Fora o material inédito em áudio e vídeo, que eu ainda sonho em editar e lançar um dia, quem sabe quando a gente tiver completando uma década de banda.
2006 tem sido um ano difícil pro OAEOZ. Os compromissos de trabalho, vida pessoal, e o próprio desgaste natural de todo esse tempo fez com que a coisa travasse. Na verdade essa situação já vem desde o segundo semestre do ano passado, quando os ensaios foram ficando cada vez mais escassos, até pararem de vez esse ano. Com isso também, as gravações das novas músicas, iniciadas em novembro e que eu esperava lançar até meados deste ano, ficaram paralisadas e só recentemente a gente conseguiu retomá-las, mesmo assim em um ritmo muito, mas muito lento.
Não tenho como esconder minha imensa frustração com isso. Parece que tudo aquilo pelo qual eu sonhei, lutei e dediquei todas as minhas forças nesses anos todos não adiantou nada, não foi suficiente para fazer com que eu pudesse simplesmente continuar fazendo aquilo que eu mais quero, que é música. Mas como “não há mal que sempre dure”, ainda alimento esperanças de que as coisas possam mudar daqui pra frente. E mesmo que isso não aconteça, de um jeito ou de outro ainda vou continuar fazendo minhas musiquinhas, mesmo que seja pra ficar tocando sozinho no quarto.
Só posso deixar aqui meu abraço e agradecimento a todos os que nos ajudaram nessa estrada. A começar pelos comparsas Igor Ribeiro, Hamilton “Camarão” de Lócco, Rodrigo “Zóio” Montanari, Eduardo, André Ramiro, Carlão Zubek, que aguentaram meu mau humor, minha ansiedade, minha total e absoluta falta de tato; aos “sócios” e irmãos Rubens K e Marcelo Borges, parceiros eternos; e é claro, à minha musa, Adriane, a quem eu dedico esses nove anos ou 3285 dias de som e fúria.

Ivan
Curitiba, 11 de outubro de 2006.

3 comentários:

Anônimo disse...

...é cara, tá foda pra todos os lados, acredite nisso...quando as coisas voltarem ao normal a sensação de felicidade vai atravessar esta de frustração em questões de segundos...1 minuto de loucura pra 60 segundos de alegria...abraxxx

Anônimo disse...

caramba, lendo esses textos e vendo essas fotos eu fui longe .... uma porrada de lembranças muito bacanas... longa vida ao oaeoz ! grande abraço

Anônimo disse...

pois é, lembranças que ainda valem algo. valeu André, Igor. e vamos tomar umas hoje no porão pra comemorar. abs