9/28/2006

A MÚSICA ACABOU

O título acima pode parecer exagerado e incongruente pra alguém que toca em uma banda, tem um selo independente, produz um festival e respira música mesmo quando não a está ouvindo ou fazendo. Mas é exatamente assim que eu tenho me sentido ultimamente as vezes em relação a essa coisa que a princípio eu não dava a menor importância, mas que a partir de um momento invadiu a minha vida de tal forma que ocupou praticamente todos os espaços vazios. Mas o fato é que o excesso banalizou a música de tal maneira que hoje eu as vezes me sinto enfastiado dela, e não consigo mais ter aquela relação de êxtase que antes tinha com essa coisa tão importante e tão presente no meu dia a dia. É aquele lance, hoje em dia as vezes você só quer ir num boteco sentar pra tomar uma e conversar com os amigos. Mas os caras não querem saber, tem que colocar alguma música, de preferência num volume bem alto e em um aparelho de som horrível que deixa tudo estridente e inaudível.
Além disso, esse lance de internet e mp3 e tal agravou ainda mais esse processo. É claro que por um lado isso é ótimo, pois hoje você tem acesso a coisas que de outra forma difícilmente alcançaria ou porque custaria os olhos da cara ou porque simplesmente jamais chegaria até você. Mas por outro lado, parece que nunca a gente teve acesso a tanta coisa, e nunca houve tanta desinformação e indiferença. É claro que eu também me deslumbrei e sai baixando um monte de coisa que eu queria e outras que eu nem conhecia e tal. Mas a verdade é que ninguém (ou será que sou só eu) consegue absorver tanta informação direito. Sinto saudade daquele tempo em que você ficava esperando um ou dois anos pra tua banda preferida lançar um disco novo, tinha que esperar mais um tempo praquele disco chegar nas lojas da tua cidade, economizar uma grana e ir lá pegar aquele bolachão em vinil, com aquela capa grandona e quando colocava aquilo na vitrola e a agulha começava a girar, putz, era como se um novo mundo se abrisse na tua vida. Hoje, eu tenho um monte de cds e dvds com mp3s em casa, mas na maioria das vezes quando eu realmente quero ouvir alguma coisa que eu gosto, acabo voltando nas mesmas músicas e bandas. Sim, tem muita coisa nova legal, e eu gosto de descobrir coisas novas, mas é cada vez mais raro que elas me despertem aquele sentimento forte que eu tinha e ainda tenho com determinadas coisas.
Esse ano, por exemplo, teve vários discos muito bons por aí, como o do Cascadura – perfeito em suas canções e sua produção esmerada. O do Flaming Lips, com seu freak rock spacial. O disco do Morrissey também é muito bom. Mas na verdade, por mais que eu tenha gostado desses discos, pouca coisa me tocou realmente.
Uma delas eu já comentei aqui, o disco novo da Cat Power, com aquela voz grave e “quente” de fazer derreter as calotas polares. Maravilhoso. Tô viciado.


Mas ontem, eu procurei de novo pra ouvir uma banda que eu já conhecia um pouco e tinha ouvido rapidamente o novo trabalho deles mas ainda não tinha me tocado. To falando do Monodia, de POA, que conhecemos depois de fazer contato com o pessoal do Deus e o Diabo. É a banda da violinista do DEOD, a gente boa Desiré. E porra, as músicas novas dos caras caíram como uma bigorna na minha cabeça. Me deram aquele nó no estômago que só coisas que despertam sentimentos muito fodas me fazem. Como é bom isso. Como é bom saber que apesar de toda a banalização, toda a babaquice marqueteira, toda pose inútil que assola esse meio “musical”, seja ele mainstream ou udigrudi, ainda existe gente capaz de fazer canções que te emocionam de verdade. Que te fazem lembrar porque afinal você um dia se deixou envolver por isso de tal forma que parece que não sobrou espaço pra mais nada na sua vida.
Não que o som deles seja revolucionário ou traga algum tipo de grande novidade e i nditismo. Longe disso. Eles também não são virtuoses, e a produção, apesar de bem feita, e simples. Mas é justamente essa simplicidade que faz com que o poder dessas singelas canções te atinjam ainda mais em cheio. “Não tenho mais, não tenho mais, medo do escuro/não tenho mais medo de brincar/só”, diz a aterrorizantemente simples “Só”. “Quando o silêncio fala por nós dois, é porque já não há mais nada”, cantam na assustadoramente bela “Noite”.
E o vocal, putz, o cara canta como se tivesse sussurrando uma canção de ninar no seu ouvido. Maravilhoso. Alguns momentos lembram as conterrâneas Blanched e o próprio DEOD (e isso é um elogio, porque eu adoro essas bandas), e uma outra banda que provavelmente ninguém nem eles conhecem, que eu gosto muito, chamada lesionada, do Espírito Santo, e que nem deve existir mais. Mas enfim, não é isso o importante, o importante é que ouvir essas coisas me fazem de novo ter vontade de pegar o violão e pelo menos tentar arriscar minhas cançõezinhas, mesmo que ninguém esteja interessado ou disposto a dar qualquer atenção a elas. Mesmo que hoje fazer música pra mim está cada vez mais difícil, e que por um monte de motivos, eu nunca tenha me sentido tão vazio, frustrado e perdido em relação a minha banda e aquilo que eu tanto lutei e mais desejei fazer nunca esteve tão distante e inacessível. Mesmo que as vezes que sinta que tudo o que eu fiz se desfez como um castelo de cartas.
Foi só ouvir essas canções, e todo aquele desejo de fazer música se renovou e pareceu vir ainda mais forte. Como tava comentando ontem com a Adri, a gente não aprende mesmo, não tem jeito. Pois é Desiré e monodias, eu não sei se agradeço vocês ou os amaldiçoo. Mas acho que vou ficar com a primeira opção. Pelo menos até a próxima canção terminar. Valeu mesmo.

e se alguém estiver interessado em entender o que eu to falando (pelo volume de comentários por aqui duvido, mas sempre tem um maluco desavisado - né rubens)
o ep do monodia tá disponível na trama

http://www.tramavirtual.com.br/artista.jsp?id=108

Ivan

11 comentários:

Anônimo disse...

hehehe...pode deixar. vou ver a bagaça. e se cuida ae, brother. escuta: sexta chopp no chinaski das 20:00 até as 22:00. apareça. eu e o Coelio estaremos lá. abs.

Anônimo disse...

Porra, que texto do caralho. Se fodê. Tô indo lá ouvir o som dos caras. Amanhã tem show do LC em Pinda e esse teu texto vai na bagagem...ABs rapá!

Anônimo disse...

eh ivan... me deu vontade de escrever.
sei do que fala....
manda um abraco pro chopp do chinaski.

Anônimo disse...

beleza, rubens. se tiver forças, dou uma passada lá no chinas. abs.

Anônimo disse...

daí carlinho. bom show pra vocês e dá um abraço naqueles malandro lá por mim.

Anônimo disse...

escreva, marcelo, escreva. ainda tamos esperando os relatos das tuas viagens malucas. abs

Anônimo disse...

gengivas negras pra arruinar a insatisfação no domingo, com participações...apareça pra liberar a energia gastada e renovar os ânimos!!!!!!!!! abraxxx

Anônimo disse...

será que vale a pena escrever? tem alguém ae? hehe

Anônimo disse...

eu que o diga

Anônimo disse...

Ia escrever um monte de baboseiras, mas do fundo do coração só tenho a dizer obrigado. Uma honra que nossa música tenha encontrado lugar na cabeça de pessoas que eu admiro tanto.

Anônimo disse...

valeu Desiré, nós é que temos que agradecer que ainda existam pessoas como vocês, capazes de emocionar e reavivar o nosso amor pela música. sem qualquer exagero, o disco do Monodia já virou "alta rotação" lá em casa. tenho que ouvir pelo menos uma vez por semana. e tô mostrando pra todo mundo. parabéns novamente e abração.