7/22/2013

imof na 4ª UV Night - imagens

O caos que tomou conta de Curitiba, com uma chuva que não parava, muito frio,árvores caídas e quedas de luz, não impediu as bandas Imof, clube las vegas e Wack de fazerem três grandes shows, na noite do último sábado, 20 de julho de 2013, no 92 Graus, em Curitiba. Lá pelas tantas, Jr avisava aos jovens presentes que tava todo mundo sem luz ao redor, só o 92 segurou firme. e assim foi. pena que não consegui registrar a última banda pois a bateria da câmera decidiu unir-se aos que já tinha parado Curitiba. rs. Algumas fotos, espero que logo algum vídeo.

7/10/2013

Tô com fome desde ontem (Ou Viva a Baixa Gastronomia!)

Não costumo escrever sobre gastronomia, mas lendo o caderno Comida, da Folha de hoje, fiquei cheia de vontades: de comer uma comidinha bem brejeira, calmante e, portanto, com sabor de "comer em casa". E também de escrever sobre o que penso disso tudo. Pra começar, seria bom se tivessemos, também aqui em Curitiba, opiniões especializadas mais críticas e não apenas essas impressões de 'release' cheias de frases de efeitos e termos estrangeiros, supostamente chiques (que eu acho de um colonialismo constrangedor, na maioria dos casos). Tá, tudo bem, como não acompanho disciplinadamente as publicações do ramo, posso estar perdendo algo e aceito de bom grado, indicações para leituras mais apuradas neste campo - embora, já confesse de antemão muito mais disposição para experimentar do que ler, neste caso. Não pretendo frequentar os chamados "espaços gourmet" de preços absurdos. Quando quero passear no outro lado, e se é pra pagar caro, tenho cá meus (velhos) endereços certos (de guerra, como o querido Old West, ao qual voltamos, eu e ivan, dia desses, depois de muitos anos. Não foi surpresa - mas sim uma imensa alegria - comprovar que eles continuam como eram nos anos 90. Prepare o bolso, mas saiba que vai provar pratos de alto nível e não enganações visuais que assustam o apetite e só apavoram o bolso. E tem ainda o ambiente - se é pra decoração ser tããão importante, que seja a luz de velas -, deliciosamente noturno, do tipo que dá vontade de chegar mais perto; e o atendimento simpático, gentil e eficiente sem ser ostensivo (odeio, quando ficam do meu lado esperando... e também odeio quando já escolhi e não aparece ninguém para anotar!). ******** Tá, mas quero mesmo é falar do dia a dia, porque ontem vivi um dia tragicômico em termos de comida, em Curitiba. E a culpa foi toda minha.***** Já faz tempo que me causa espanto a conformação das pessoas em relação aos preços abusivos cobrados por comidas absolutamente sem sabor, sem vida! Tão frias que causam um imenso desgosto ao (meu) estômago, coração e cansam a mente - sim, porque sempre fico pensando como é que pessoas inteligentes, com bom gosto como algumas que já conheci se deixam engabelar por essa falta... de tudo, né?! Eu sou mesmo é da Baixa Gastronomia. Adorei quando surgiu o termo, o blog, pois ficou evidente que era daquilo que tanto falávamos aqui em casa, gostávamos e procurávamos em Curitiba - em especial os maravilhosos PFs, que, parecia, tinham sumido do mapa para dar lugar aos tais "pratos executivos". Eu sempre lembrava é do "sortido" que servíamos no bar do 'seo' Perin láááá atrás... TEm outro detalhe, no dia a dia, eu até tento me conformar, mas em geral me recuso a pagar 9, 10 reais pela comida que tá rolando por aí - acabo preferindo lugares por peso (ok, Barcinski, hoje também concordo que é comida morrendo!) e como pouco. A não ser quando estou com muuuita fome, mas daí tenho endereço mais do que certo nestes tempos de BG: Nonna Giovana, na São Francisco, imbatível pra mim desde a segunda vez que entrei lá. E o pf da Ivete,na Mateus Leme e, principalmente, o pf dos chineses, na José Loureiro (neste, tem inclusive um 'meio-prato' com a quantidade ideal para a fome do meu tamanho. Ele me lembra o saudoso Ginjinha que, se existesse agora seria astro da BG também, alí pertinho da Gazeta). Esse virou meu triunvirato alimentar da região central de Curitiba. O único problema do Nonna, repito, é o tamanho dos pratos. Lá mesmo com muuiuita fome, não dá pra ir sozinha: é muita comida. e eu fico com peso na consciência por deixar comida no prato. Gosto muito também do velho amigo de guerra Mignon e do bar do Silvio, mas tenho ido pouco ao primeiro e o segundo também é muita comida para eu sozinha. É para dias com companhia. Só de pensar nesses lugares - em especial o Nonna - meu estômago já fica histérico. KKKKKKKK ************* Tudo isso para contextualizar o que significou meu dia ontem. Cometi um erro e não fui no PF por causa do horário - e porque agora que mais gente sacou o quanto é bom, sempre falta mesa nos horários de rush. Acabei, morrendo de fome, já no final da tarde, parando numa dessas franquias de grife de sanduíche. Conheço muito gente que gosta e não vou falar o nome, vou deixá-los deduzir porque é bem fácil. Tadinha da minha amiga que tava junto e do rapaz de me atendeu porque quando comecei a olhar os ingredientes já cortados na minha frente... e olha que eu fui discreta porque tô tentando ser menos bocuda! Mas, não tem jeito: como é que alguém consegue comer - e gostar - daquilo? O que pedi tinha churrasco no nome: um pedaço nojento (desculpe, mas esta é a única palavra que cabe. Me dá enjoo até agora pensar que comi aquilo. É que, de novo, to tentando ser menos intransigente e mais compreensiva com situações sem remédio para remediar. E,já que eu já sabia que não gostava, e mesmo assim decidi arriscar, eu que, ao menos, reclamasse pouco e saísse logo dali) "Aquilo" - o tal churrasco do nome - era um filezinho retangular disforme, que depois notei ser hamburguer, na verdade - nesses lugares a 'carne' é sempre hamburguer?. Carne 'vermelha' com uma cor escura mas meio esbranquiçada. Senti de longe que tava gelaaaado. Eu sei que fiz careta e foi nesta hora que pensei, de novo, desista que ainda é tempo, desista. O pão não era do dia - gente, tenho certeza disso, deu pra ver que era pão velho quando o rapaz cortou, tava borrachudo. ********* Bem feito pra mim, sei que deveria ter continuado procurando uma lanchonete para comer um belo X-Bife (hum, como o da Ivani, ali do lado do JE). Mas, enfim, o tempo me chamava e comi aquele negócio apesar da cara feia do meu estômago e do meu apetite, amuado pelo péssimo tratamento que dei a ele, exatamente quanto ele ressurgiu depois de outra temporada longe.******* Fui fazer o que tinha pra fazer e já a noitinha, bateu aquela vontade, ainda não saciada, de uma "boa porcaria" e resolvi (ah, tá bom, não sei o que me deu na cabeça ontem, tava com problema, confesso!KKKKK)encarar a batata-frita, única coisa que acho comível da mais famosa dessas franquias de fast food. Não é possível que eu esteja tão errada, mas alguma coisa está acontecendo. O brasileiro está percebendo o que empurram para ele moído no meio das fotos e propagandas alegres da turma? O clima era de total decadência, total mesmo, ali naquela lanchonetona da boca maldita. O negócio tá falindo e eu que não sabia, né? Só pode. Fiquei impressionada. salão enorme fechado, nem meia duzia de pessoas e uma meninada de funcionários toda cheia de risadinha, atrapalhada; cliente dando um toque de algo relacionado a higiene de um deles... e pra completar, até a famosa batata-frita tava uma porcaria - sabe quando não frita tudo direito e fica umas partes mais 'al dente'? Pode até ser que as outras lojas da franquia não estejam tão ruins, mas eu saí dali impressionada com o grau de ruindade que este tipo de comércio, como todo o peso de suas publicidades, foi capaz de chegar. Será que no mundo todo é tão abaixo da crítica assim? e pensei, rindo sozinha pelo calçadão em direção à Rui Barbosa para encarar a capoeira mesmo mal alimentada: viva a Baixa Gastronomia! Foi trágico, mas foi cômico. Escolhi o bom humor, depois das minhas péssimas escolhas do dia. Agora, esse papo aumentou a fome. Vou terminar meu almoço bem gostoso, bem caipira, colorido, fresquinho, quentinho e beeem brasileiro! Que eu mereço! Afinal, tenho muito trabalho pela frente e eu tô com fome desde ontem! (adri)

imof com Clube Las Vegas e Wack na 4ª UV Night

7/03/2013

A minha 'Grande Avó'

O inverno chegou e com ele esse frio gelado que me deixa saudosa, não sei porquê, mas é sempre assim. Só que parece que este ano estou com minha memória afetiva do frio mais afiada. Tenho pensado muito na cidade onde nasci – que é friiiiiiiiiia!! Será que é porque acho que, depois de uma temporada meio amena, o inverno vem fervendo este ano e por isso os preciosos alertas da minha vozinha se farão ainda mais (se isso é possível) imprescindíveis? Talvez sim. A real é que me aparecem ainda mais nítidos os conselhos dela: ‘menina, olha esse pé no frio! ‘, os puxões de orelha: ‘Pé descalço nesse chão gelado, de novo?’. E os cuidados que ela tinha comigo, então? Nunca fomos uma família rica de dinheiro e eram necessários pequenos truques para que a criançada fosse pra escola bem quentinha. Começava com um café com ‘graspa’, ela chamava assim uma cachaça que colocava um pouco na minha xícara para esquentar. Puxa, eu quase posso ver a fumacinha saindo do café, parece que sinto aquele cheiro e o sabor... ah, o sabor, meio ardido: imbatível. Os pés, ganhavam primeiro uma meia, depois um pedaço de plástico os encobria para impedir que a geada derretida passasse pelo calçado e molhasse os pés. Quando eu tinha que ficar no bar logo cedo, além do café ela levava um pequeno tacho com brasa, simulando o calor de uma fogueira mansa para que eu não congelasse – mesmo com a pala. Pra dormir também lembro de alguns truques como esquentar no fogão a lenha um ou dois tijolos que enrolados em um pano eram colocados nos nossos pés, na cama, para dormir bem quentinha. Outras vezes era o ferro de passar roupas – aqueles antigos com brasa dentro, inclusive – que tomavam o lugar do tijolo. E se meu olho ficava “que nem o de peixe morto”, pequeno e caidinho, sinal de gripe ou algum mal estar qualquer, lá vinha outro cheiro indescritível da minha doce infância: chá de hortelã com um pouquinho de brasa (que também servia para afugentar as bichas, ensinava). A Vó Ina tava sempre por perto, com seu avental e saias floridas, e alguma carta na manga de sua sabedoria de mulher sábia, de Grande Avó, como, creio, diria Clarissa Pinkola Estés. Não sei se é o frio, se é a gripe (que nem acho que tá tão forte assim),mas sei que a alguns dias já, parece que quase ouço a voz dela chamando a minha atenção para tomar cuidado com o frio. Bom, não tenho a brasa, mas tenho a hortelã, que vou, como ela, pegar lá no quintal pra fazer um chá bem quentinho e correr pra baixo das cobertas para não pegar essa friagem que tá bem do outro lado da porta. Mas, vou cobrir a cabeça pra ir lá fora, porque cabelo molhado pegar sereno...já sabem, né? É cama quase certa.

Uma cena de gentileza perdida no dia

Em tempos de manifestações e tanta gente cheia de razão me peguei pensando em algumas atitudes que a gente acaba (não) tendo no dia a dia e nem se dá conta de que tem tudo a ver com aquilo mesmo que tanto criticamos. Umas coisinhas bobas no meio de tantas outras. Por exemplo, como nos portamos no trânsito em relação aos ônibus que fazem o transporte coletivo das cidades. Já repeti muitas vezes, como tantos outros, que os motoristas de ônibus são foda, que por dirigirem veículos grandes passam por cima se vc, do carro pequeno, moto, não sair da frente. E já vi essa atitude em muitos motoristas de ônibus dessa cidade. Tem que cuidar. Mas, tenho cá comigo que o comportamento dos motoristas e dos pedestres com os coletivos não ajuda em nada. Hoje vivi uma cena que me trouxe aqui. Um motorista atrasado – até porque em determinados horários motorista que tem que encarar toda a Mateus Leme só não atrasa se o veículo tiver asas – tentou várias vezes voltar para a lado próximo da calçada, já que tinha um ponto de parada logo adiante e provavelmente com alguém pra subir. Pois ele tentou por vários metros, ali perto do Parque São Lourenço, dando sinal para a direita. Eu estava bem atrás do motorista e vi que os motoristas de dois carros pequenos arrancavam e não davam o espaço. Faziam de propósito, sim! Porque o sinal estava fechado e eles estavam parados mesmo. Ficaram o mesmo tempo que o ônibus esperando. E no ponto havia uma mulher querendo subir e uma fila de carros entre o ônibus e ela. O motorista do ônibus não teve dúvidas: em frente ao ponto parou o veículo, abriu a porta da frente foi para o degrau e estendeu a mão, em um gesto de proteção como um autêntico cavalheiro, para que a senhora passasse com segurança entre os dois carros, enquanto explicava: “me desculpe, eu tentei parar ali, mas os carros não deixaram. Eu só estava no outro lado porque estamos atrasados e quero deixa-los em casa rápido, não gosto de atrasar meu horário...” Não sei se os ocupantes dos carros pequenos perceberam o tapa de luva de pelica que levaram na cara. Espero que sim, mas sinceramente acho que não. Já vi motorista parar do outro lado e nem se preocupar com o passageiro passando entre os carros – algo perigosíssimo. Talvez por isso, achei a cena tão bonita, aquele motorista estendendo a mão pra pessoa entrar em segurança. Uma cena de gentileza perdida no dia que, provavelmente, mais ninguém viu. Espero, quando voltar a dirigir, lembrar dela quando um motorista de ônibus apressado pedir a vez. Espero lembrar que ele deve ter, sim, alguma prioridade no trânsito, porque atende coletivos de pessoas e não unicamente a minha necessidade de chegar em casa ( ou onde quer que seja) 5 minutos antes.

6/16/2013

imof no 92 na Festa do UV

Dias chuvosos são convites para ficar morgando, na boa companhia de um livro e das gatas que não saem de perto por conta do friozinho gostoso que bate à porta. O inverno tá chegando, mas as fotos que achei aqui são de um belo dia de sol, sob a sombra de um abacateiro e uma jabuticabeira. Em geral, essas gurias felinas gostam de atrapalhar a leitura, porque querem toda atenção só pra elas. Mas, às vezes, elas ficam quietinhas também, só aproveitando os bons momentos com os amigos. Tigra, Lu e Adri, numa tarde de calor, na primavera de 2013, no quintal do jardim das amoras.

6/10/2013

Uma noite no Paiol da música

Eu olhava prum lado, olhava pro outro, olhava pra cima, olhava pra frente... e por todos os cantos via olhos brilhando, pessoas em uma perfeita sintonia. Um dia depois, dois dias depois! Uma nova semana cheia de tantos novos momentos para lembrar. Nem comecei a assistir o que gravei do show de sábado do Dado Villa-Lobos, Nenung & Projeto Dragão, mas as cenas já se misturam, antes, durante e depois com a vida que segue. As cenas vão e voltam – e voltam até novembro de 2011 quando finalmente vi Os The Darma Lóvers tocando em Curitiba, na Virada da Corrente Cultural. Foi ali, que este show começou a nascer. Foi depois dele, que Nenung decidiu convidar a De Inverno para fazer o show com Dado Villa-Lobos em Curitiba. A causa era nobre, mas confesso que naquele momento só ficou na minha cabeça que se abria a chance de produzir um show de Dado Villa-Lobos, o guitarrista da banda de rock brasileira que mais marcou minha existência – adolescência a gente não esquece, não adianta! Aquela que canta para mim e por mim, dos 15 até hoje, aos 43! Fotos da Duda Rocha! A gente existe para viver esses grandes momentos, tenho certeza disso. Sempre disse que não faz sentido a gente trabalhar, se arrebentar tanto se não for para viver essas catarses, que no meu caso, são na maioria sonoras. Às minhas catarses como plateia, juntam-se, há alguns anos, as de produções de shows como estes. Não tenho do que reclamar! Depois de sábado (01.06.2013), acho que tenho até menos a falar. Sentada aqui, procurando as palavras, a verdade é que só sinto vontade de ficar quietinha – talvez para não assustar essas imagens que dançam na frente dos meus olhos abertos. Foram 48 horas simplesmente indescritíveis. Desde a recepção à Dado e Nenung, na sexta, passando pela expectativa com o pocket no Galpão Thá Cultural, até chegar na tarde de sábado, 01 de junho. Eu sabia que estava tudo certo no teatro, e diante da pergunta - o que vc vai fazer lá no teatro tão cedo? - fiquei calada. Eu simplesmente tinha que ir! As cenas continuam a dançar na minha memória, mas agora são as daquele teatro paiol lotado de pessoas, todas juntas, reunidas numa pessoa só, que não me saem da cabeça. Toda a ansiedade do antes sumiu e só ficou essa sensação – que por incrível que pareça não é daquele mesmo vazio que sinto quando um projeto chega ao fim. É um gosto amargo que fica na boca quando um belo show não é compartilhado! Creio que por já ter vivido isso, é que a imagem do Paiol todo em pé, cantando junto, vivendo junto, não sai de mim! E o mais incrível: eu olhava pra frente e via Dado e Nenung cantando e tocando... dois tempos sonoros da minha vida reunidos, dois coautores da trilha sonora da minha vida ali... dois momentos da minha vida se encontrando, ali na minha frente, de um jeito que eu jamais sonhei que aconteceria. Mais de uma semana se passou e ainda sinto este efeito inebriante. Devagarzinho vou voltando à Terra! Tenho mais um disco novo para ouvir muito e outro tanto de bons momentos para alimentar as baterias por um bom tempo. Vou ouvir uma canção, vamos? vídeos dos amigos conterrâneos Rogério e Luis.

5/22/2013

Tragada pela fúria ruiva


Fui tragada, mais uma vez, por um livro. Só adiante das 400 páginas de Van Gogh – A Vida, de Steven Naifeh e Gregory White Smith, é que me deparei  com a primeira referência ao que ficaria conhecido como a marca do pintor. Logo que vi o desenho “Caminho da Praia”, um nanquim sobre papel, que restou apenas na versão de uma carta enviada a Theo, pensei: opa, aqui está o começo daquele movimento das pinceladas que provocam um turbilhão desde a primeira olhada. Logo em seguida, os biógrafos comentam: “Estando à vontade por ser ‘um rabisco informal’, Vincent captou o cenário em traços turbilhonantes de pena, aos quais faltavam apenas as pinceladas que viriam no futuro”. Fico olhando maravilhada e pensando que esta obra de arte primorosa só existe hoje como ilustração de uma carta, cheia das observações do gênio ruivo.


Observem. Pra mim, a essência já estava ali, no meio de pilhas e pilhas de frustrações, contradições, e da mais pura rebeldia à ordem, familiar, estabelecida e também toda a convicção, apesar das vicissitudes que encarou com suas escolhas sem direito a concessão alguma.  

E diante desta descrição, me pego novamente pensando na minúcia de uma boa biografia. Que trabalho magistral da dupla Naifeh e White Smith! A cada página me surpreendo com os esmiuçar das pistas vastamente deixadas por Vincent (não estou conseguindo chamar de Van Gogh, por ora, imagino que porque nesse ‘mundo’ em que estou mergulhada, vários van gohs figuram, comerciantes de artes, pastores, ‘gente de sucesso’ que execrava Vincent). Mesmo que em alguns momentos fique confusa com a profusão de informações que vão e vem no tempo, às vezes se repetem, estou gostando muito da leitura, que atiça a curiosidade. Precisaria de outra vida para que eles fizessem outro trabalho assim. Quanto tempo, quantas cartas foram lidas, documentos consultados, pessoas ouvidas... tem depoimentos de camponeses anônimos que lembram do pintor louco, filho do pastor, que assustava os camponeses ‘querendo ser um deles’ e os querendo como modelos. Se perdendo em meio as charnecas holandesas, completamente possuído pelo desenho e por suas neuroses familiares e com uma aparência maltrapilha destoando do status da família bem considerada de comerciantes de artes. A tradução de Denise Bottmann é igualmente apaixonante. Também me desperta muitas curiosidades no meio das reflexões provocadas pelo próprio artista. Tenho cá comigo que é preciso ser tão bom quanto o autor pra fazer uma tradução com tal grau poético e informativo. Até porque, mesmo sem ter lido “Cartas Para Theo”, pelos trechos usados pelos biógrafos, já fica claro que Vincent “estudou” desenho e pintura também enquanto se derramava em cartas a todos, especialmente ao irmão mais novo. A forma como ele “explica” o que quis fazer, como “devem” ser os desenhos ou pinturas é tão intensa e passional quanto sua obra – aliás, hoje em dia isso faz parte de sua obra.

1883 é o ano do “rabisco da carta a Theo” e também o ano em que ele dá uma guinada na sua vida e na “arte ocidental”, reconhecendo ao irmão mais novo que “pintar tem sido mais fácil para mim”, começando a romper assim sua devoção doentia pelo desenho. Mesmo nos desenhos que ainda faria já se nota elementos de pintura, estudos aplicados aos desenhos que ele tanto amava.

Esse é outro desenho, de 1884, que também me deixou boquiaberta: "Vidoeiros Decotados”, um dos cenários da região onde viviam os pais de Vincent e Theo, cheias dos nós criados pelas podas para fortalecê-las, nós nos quais Vincent via história e vida pulsando e davam a aparência sofrida com a qual se identificava tanto. Impressionante, não é?! Como é que ele era criticado por estes desenhos “não comerciais” é o que me espanta – já era a época do impressionismo que ele desancava pelo excesso de luz por todos os lados. Aliás, chama muito a atenção o fato de que Vincent Van Gogh ignorou por completo várias movimentações artísticas que estavam acontecendo na Europa, enquanto se debatia com a dor da rejeição que ele mesmo só fazia aumentar, desajeitado que era com a vida "em sociedade".
 A grande virada viria mesmo em outubro de 1885, diante de dois quadros, no  Rijksmuseum, em Amsterdam.
Diante da obra A noiva Judia, de Rembrandt, Vincent pasmou. O amigo que o acompanhava simplesmente percorreu o resto do museu sozinho porque não conseguiu tirá-lo da frente da pintura. Conta que voltava ao lugar e lá estava Vincent “ora sentado, ora em pé; ora unindo as mãos em devaneio, como numa prece, ora examinando atentamente o quadro a poucos centímetros de distância, ora recuando e afastando as pessoas que lhe atrapalhassem a visão”. Que descrição magnífica... ela se apodera de mim, também, e fico profundamente emocionada. De novo, lembro do meu próprio deslumbramento nas primeiras vezes que vi pinturas  que eram obras de arte de verdade. Chorei quando fiquei diante de um Monet e não conseguia, nem queria, mais sair daquele lugar. Tenho essa sensação a todo momento neste livro e acho que nesta reta final será mais ainda, pois imagino que agora o caminho que levou à pintura será todo o mote. Tenho que parar e pensar sobre o que li. Sinto vontade de ligar o computador e procurar sites com ilustrações para este texto, com links para os museus... mas é muito cedo e está bem frio, não consigo fechar a página e passo pra outra e outra...
Pouco adiante, mais um momento para parar e pensar, quando Vincent se entrega à pintura defendendo: “pinte num impulso só!”. “A única maneira ‘sadia e viril’ de aplicar a tinta na tela é, pontificou ele, “era lançá-la sem hesitação”. Sempre nas cartas ao irmão Theo e no seu tom habitual, completa e absolutamente passional.  Palavra após outra deste trecho vou fazendo conexões com o mais famoso dos beatniks e sua escrita automática.
Novamente entusiasmado pela pintura, Vincent passa então a rever seus escombros e misturando definitivamente vida e obra – e começando se imortalizar, sem saber – passa a pintar “lugares” com significados pesados de sua vida familiar, remoendo reminiscências de suas frustrações e traduzindo seus sentimentos, seus rancores, suas dores, suas frustrações e medos inconfessos, para as camadas de tintas e pinceladas que o identificariam no futuro.
E, sem meias palavras, já vai direto na ferida e pinta a igreja abandonada onde está o cemitério em que foi enterrado o pai e a bíblia que pertencera ao pai pastor e fora deixada não para ele, o primogênito incômodo da família com prestígio, mas para o mais novo, bem comportado e bem sucedido Theo, mortificando ainda mais o espírito já magoado de Vincent.
Torre da igreja Velha de Nuenen, óleo sobre tela, de junho-julho de 1885, imagem da internet. Se existe neste livro algum detalhe a lamentar, é o fato de algumas imagens estarem em preto e branco. Com certeza, por questões econômicas editoriais. Até achei algumas dessas imagens aqui no amigo Google, mas depois de ler como Vincent se sentia em relação a cores, a claro e escuro, às pinceladas e tudo mais, não posso ser leviana. Na internet, cada imagem tem um conjunto de cores completamente diferentes!!!  Uma afronta à Van Gogh.
Imagino que este seja o melhor link para conferir de verdade, por aqui, os trabalhos dele: http://www.vangoghmuseum.nl/vgm/index.jsp?page=425&lang=en Estou muuuito curiosa para acompanhar o comportamento de toda família Van Gogh, aos quais, diga-se, ele não facilitou nem um pouco a vida. Ao que tudo indica, Vincent vai, agora, pintar muito das imagens que desenhou e assim vai registrar a sua vida, porque realmente taí um cara que ele se cobriu de tinta, chafurdou em todas as suas contradições e fez um ‘diário’ em forma de arte. Atormentado sem dúvida, mas indiscutivelmente, por mais clichê que isso possa soar, um daqueles seres que colocou a arte num outro patamar também. Não é acaso a sensação de ser tragada para dentro de suas obras. Tenho cá comigo, que era isso mesmo que Vincent Van Gogh queria: nos tragar a todos para dentro da realidade que ele construiu e que encontrou na pintura sua melhor tradução. Em tempo: com exceção da imagem citada como sendo da internet, as outras são do livro Van Gogh - A Vida, de Steven Naifeh e Gregory White Smith, da Companhia das Letras.