7/03/2013

A minha 'Grande Avó'

O inverno chegou e com ele esse frio gelado que me deixa saudosa, não sei porquê, mas é sempre assim. Só que parece que este ano estou com minha memória afetiva do frio mais afiada. Tenho pensado muito na cidade onde nasci – que é friiiiiiiiiia!! Será que é porque acho que, depois de uma temporada meio amena, o inverno vem fervendo este ano e por isso os preciosos alertas da minha vozinha se farão ainda mais (se isso é possível) imprescindíveis? Talvez sim. A real é que me aparecem ainda mais nítidos os conselhos dela: ‘menina, olha esse pé no frio! ‘, os puxões de orelha: ‘Pé descalço nesse chão gelado, de novo?’. E os cuidados que ela tinha comigo, então? Nunca fomos uma família rica de dinheiro e eram necessários pequenos truques para que a criançada fosse pra escola bem quentinha. Começava com um café com ‘graspa’, ela chamava assim uma cachaça que colocava um pouco na minha xícara para esquentar. Puxa, eu quase posso ver a fumacinha saindo do café, parece que sinto aquele cheiro e o sabor... ah, o sabor, meio ardido: imbatível. Os pés, ganhavam primeiro uma meia, depois um pedaço de plástico os encobria para impedir que a geada derretida passasse pelo calçado e molhasse os pés. Quando eu tinha que ficar no bar logo cedo, além do café ela levava um pequeno tacho com brasa, simulando o calor de uma fogueira mansa para que eu não congelasse – mesmo com a pala. Pra dormir também lembro de alguns truques como esquentar no fogão a lenha um ou dois tijolos que enrolados em um pano eram colocados nos nossos pés, na cama, para dormir bem quentinha. Outras vezes era o ferro de passar roupas – aqueles antigos com brasa dentro, inclusive – que tomavam o lugar do tijolo. E se meu olho ficava “que nem o de peixe morto”, pequeno e caidinho, sinal de gripe ou algum mal estar qualquer, lá vinha outro cheiro indescritível da minha doce infância: chá de hortelã com um pouquinho de brasa (que também servia para afugentar as bichas, ensinava). A Vó Ina tava sempre por perto, com seu avental e saias floridas, e alguma carta na manga de sua sabedoria de mulher sábia, de Grande Avó, como, creio, diria Clarissa Pinkola Estés. Não sei se é o frio, se é a gripe (que nem acho que tá tão forte assim),mas sei que a alguns dias já, parece que quase ouço a voz dela chamando a minha atenção para tomar cuidado com o frio. Bom, não tenho a brasa, mas tenho a hortelã, que vou, como ela, pegar lá no quintal pra fazer um chá bem quentinho e correr pra baixo das cobertas para não pegar essa friagem que tá bem do outro lado da porta. Mas, vou cobrir a cabeça pra ir lá fora, porque cabelo molhado pegar sereno...já sabem, né? É cama quase certa.

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