11/17/2011

cadernos em bloco

Ao acordar, logo cedo, já sentiu que buscava uma história. Acordou assim, simplesmente isso. Pra não perder o ônibus deixou pra tomar o café na padaria perto do trampo e não na do lado de casa. E enquanto seguia, em pé, mochila nas costas, bolsa no ombro, sem os fones de ouvido pra sentir melhor o sol que parecia ter energia para encarar o dia nesse começo, pensava mais e mais nessa procura que não acaba nunca. O pior de tudo, pensou, é saber que ta tudo bem aqui.... Leu o jornal para gastar o tempo pouco antes da hora de bater o ponto e decidiu que, desta vez, mudaria algo, antes mesmo do fim do ano que se aproxima. Lembrou daqueles textos perdidos em pastas e cadernos e das caixas que prometeu vasculhar pra contar sobre os primeiros dias, antes da coisa toda começar. Achou que, assim, poderia só continuar algo e a inspiração viria de qualquer modo. Quando o meio do dia chegou, diante da tela percebeu seu próprio blefe. É só mais uma vontade perdida que nunca se concretiza e sempre fica esquecida nesses tais cadernos e blocos. É sempre outra história largada no meio, outro desprezo pela dedicação e a dispersão tomando corpo. Até que outro surto de luz jogue novas sombras pelas frestas e as flores cheirosas deixem as pétalas cobrir o pedaço de terra deixado pela morte da grama. Amoras, uvinhas de amanhà, salsa replantada e coentro se espalhando a seu bel prazer pelo quintal; e a açucena, linda, combinando seu verde com o tom marrom da casa. É assim que a vida vai se espraiando e passando pela vida dela, fazendo as curvas que quer e acordando quando dá na telha.

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