As folhas secas pelo inverno no chão do quintal tingem o dia de um vermelho que quase não se vê, perdido nas manchas rubras que o tempo carrega sobre elas. O dia de sol abre o céu no prédio de vidro azul e a grama cortada, e molhada, se agarra em minhas pernas
Mas, teu rosto reflete a mesma aflição que vê no meu. E eu fico sem palavras sempre que chego em casa. Quando a porta se abre antes mesmo do rodar da chave, ganho meu melhor momento do dia. Só quero um abraço.
Nunca busquei a proteção, mas encontrar aquele olhar no fim do dia é o máximo que quero querer hoje. E é quase mais do que posso suportar quando a saudade bate na porta anunciando que a madrugada chegou,
Irreprimível e imbatível, entardecer após entardecer
Trazendo nos ombros o peso de outro dia que escorregou da palma das mãos abertas, e sujas da terra remexida que se mistura com a pintura azul escura da unha descascada na ponta.
Não, não pinto minhas unhas de vermelho há muito tempo. Não se espante.
Até que o alvorecer receba os carros e, quem sabe, tinja aquele pedaço de céu com os vários tons que o vermelho traz em si, passeando em alaranjados brincalhões que fazem meu peito quase parar naquela curva
Só pra se iludir que o tempo é meu e que podemos fazer o que quiser com ele. E podemos. Não é? Mas, nem sempre quero. Ou nem sempre sei que podemos. Às vezes, tudo é meio escuro mesmo em dias como os de anteontem. Noutros, o cinza que cobre o céu abre no sorriso a tranqüilidade de quem sabe quem tem ao lado. E encontra a felicidade logo depois daquele portão.
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