4/27/2010

Década dos diretores


To lendo um livro bem legal, sobre cinema. Mais especificamente sobre a geração 60, a que mudou, de verdade, o jeito de fazer filmes. Gente como Francis Ford Coppola, Warren Beatty (Bonnie and Clyde), Dennis Hopper (Sem Destino), George Lucas (o mais comportadinho!!!), Robert Altman, pra ficar entre alguns dos mais badalados. A geração que mudou o cinema e o levou pro caminho do mal, dizem e dirão alguns, com boas doses de razão. “Como a geração sexo-drogas-e-rock’n’roll salvou Hollywood", de Peter Biskind tem 502 páginas. Da 461 em diante são só notas, desde a lista de personagens, passando por filmografia dos principais diretores até a fonte de cada entrevista usada, a maioria, feitas pelo próprio autor. Incrível.
É muita, mas muita informação, reunida em um livro só. E por isso mesmo uma consulta na lista de quem é quem, volta e meia se faz necessária pra refrescar a memória. São muitos nomes de diretores, assistentes, produtores, atores, e executivos de várias empresas envolvidas e convivendo entre si, entre tapas, beijos e muita disputa de egos. Em permanente queda de braço para impor seus jeitos próprios de fazer cinema. Foi o nascimento do chamado ”cinema de diretor” ou de autor (auteur, emprestado do francês).
Poderoso Chefão, Shampoo, M*A*S*h, A ùltima Sessão, Sem Destino, Bonnie and Clyde entre vários outros marcos da produção mundial, alguns menos conhecidos, foram feitos neste período e, efetivamente, mudaram tudo dentro de um mundo que a gente que ta aqui deste lado, não tem a menor ideia.
Entre altos e baixos, foram feitos em meio disputas de poder, ego e grana, muita grana. De um lado, a “Velha Hollywood”, várias gerações de profissionais veteranos às voltas com a “Nova Hollywood” e seus (falta de) métodos, que pra espanto dos “donos” do negócio, conseguiam contra todas as projeções, ter bons resultados.
Em meio a histórias de bastidores das produções, sempre cheias de problemas, diga-se, o que se acompanha é o caminho feito pela industria rumo aos blockbuster que empesteiam os cinemas atuais, monopolizando-os e alimentando a gana neurótica de consumo desses tempos velozes.
No exato trecho da leitura em que estou, nasceu esta porcaria de sistema que coloca o mesmo filme, recheado de altas cifras, em praticamente todas as salas de praticamente todos os cinemas da cidade. Foi com o Poderoso Chefão – que Coppola só aceitou fazer pressionado para tentar salvar sua produtora a Zoetrope – que se deu a virada. Aliás, Coppola não queria de jeito nenhum fazer um filme comercial baseado em um Best seller (Mario Puzo); o produtor, Evans (não to lembrando o primeiro nome), da Paramount, não aceitava de jeito nenhum AL Pacino, como o Michael e o chefe deles não queria ouvir falar do “estrela problemática” Marlon Brandon - além do tempo de duração do "ultimo corte", um horror.... haha. E deu no que deu.
O Poderoso estreou em 316 salas de cinema e a cada semana novas 50 entravam no circuito, o que pôs abaixo a hegemonia de algumas salas que pelo “prestígio” conquistado mantinham o monopólio de exibição, em situações extremas, por até um ano. Se por um lado isso parece bom, com o acesso mais rápido pra mais gente, por outro, virou essa bola de neve que nos assola a cada grande lançamento.
Sobre Easy Rider, o livro mostra um pouco do temperamento difícil de Dennis Hopper, que na época já estava de mal com a industria e acabou fazendo sessões verdadeiramente caóticas de loucas gravações se transformarem em uma produção histórica, embebida no consumo das drogas populares naqueles anos. Mentes visionárias, porém completamente entorpecidas em entregues a uma força maior que eles, que até um ponto funcionaram a favor.

O primeiro tremor, no entanto, identifica o autor, foi em 67, com a ousadia sanguinolenta e risonha de Bonnie and Clyde, o primeiro tapa violento na cara da geração que criou o cinema. Aliás, este é um dos poucos filmes que lembro muito, mas muito da minha infância, de como gostei dele, embora com olhos chocados arregalados com aquele fim triste.
Foi ali que o poder começou a sair das mãos dos criadores do cinema. A passagem de bastão, não sem espernear, dos grandes estúdios e produtores, para os diretores e sua trupe. Com Gravações externas, como donos dos cortes finais e sem os rostinhos consagrados. Tudo virou de pernas para o ar. Ajudaram também a baixa dos lucros, claro, o que abriu a porta pra que novatos que topassem gastar pouco abrissem a porta, na virada dos anos 50 pros 60, uma explosão que pode ser vista mesmo na ultima metade daquela década.
“(...) nós queremos fazer filmes que sejam sobre coisa alguma. Como este Blow Up”, disse um executivo para um novo diretor. “Filmes independentes americanos ou filmes britânicos ou europeus de arte desgarrados, interessavam”, na ainda “velha Hollywood”.

Bom, estou no estouro de O Poderoso Chefão e não cheguei na metade do livro, ainda. Mas, passo o dia pensando na hora de ler mais um pedaço. Apesar de tantos nomes, tanta informação junta deixar meio zonza e com a sensação de que não to captando tudo, a leitura é deliciosa e toma conta. Só to dando uma parada agora pra ir ao cinema. O livro é da editora Intrínseca. Vale a pena pra quem gosta mesmo de cinema, biografias, pra gosta de ir além do que vê. (Adri)

PS: não tinha percebido até agora que a tradução é da maravilhosa Ana Maria Bahiana (tinha que ser!!!!)

3 comentários:

Panda Lemon disse...

Adri! Que propaganda, hein? Deu vontade de comprar... Como é bom saber que a gente não sabe nada e mergulhar num livro cheio de história boa né?
Grande resenha! Continue atualizado a leitura no blog... assim a gente curte a sua tradução!!

Bjo

adri disse...

daê xandinha, malas prontas, já? to curtindo mesmo esse livro. te mantenho por dentro. bjo

Flávio Jacobsen disse...

bela dica, adri, vou fuçar umas livrarias aí... bjos!