12/06/2018

CriÂnsia!


Entre a criança e o adulto, o que sobrou de nós?




fotos de Karla Vizone

 A brincadeira começa fora do teatro. É bichinho de pelúcia pra todo canto, gritos, correria... somos crianças brincando no pátio da escola, se quisermos nos permitir, e o astral é de algazarra. Dentro, o clima também pode ficar tenso, embora comece com um convite para continuar brincando! Em “CriÂnsia”, peça que a Processo Multiartes remontou depois de 15 anos e apresenta em temporada gratuita no Teatro Experimental da UFPR, o TEUNI,  a plateia é convidada a participar de brincadeiras e a lembrar um pouco dos bons momentos da infância. De forma tranquila - e quem preferir não participar terá os lugares para sentar-se.

Eu topei, claro, afinal brincar é sempre bom! Em cima de um imenso quebra-cabeças que é o palco, pequenos grupos se formam, a convite dos atores, para compartilhar diferentes brincadeiras. Até que toca o sinal e logo a gente lembra  do 'nosso tempo' de escola ao mesmo tempo em que se dá conta que os tempos são outros. Mulheres e crianças atrás dos homens e uma série de ordens da diretora, ao som de um hino, começam a por tudo no lugar (ou seria fora do lugar?). Fila, dar distância, pare de brincar,  comporte-se, dá esse brinquedo aqui! Acabou a brincadeira!

Não vou estragar as surpresas para quem quer assistir ao espetáculo que segue em cartaz até dia 16 de dezembro – e que mexeu muito comigo, talvez por ver ali encenadas algumas situações que, infelizmente, espelham o momento intolerante em que vivemos. Adriano Esturilho se mostra cada vez mais fera em criar uns climas cênicos reais e conta com aliados importantíssimos para atingir seus objetivos. Cenário, figurino, intervenções, movimentações, elenco e equipe de apoio, um conjunto harmônico, e que me pareceu impecável, brinca com ironia e graça em meio a algumas desgraças. E o lugar escolhido se mostra perfeito!

O som ao vivo, desta feita com tambores que criam um clima meio ritualístico, em alguns momentos, é peça-chave. Entre o esboço que vi em ensaio até a apresentação da semana passada, um espetáculo (hummm, não, essa palavra não tá caindo bem para o que vi) que se constrói com referências dos anos 80 e 90 para falar de agora, quando estão vivendo os adultos que ‘fomos’ adolescentes lá. 




Tem programa de auditório e letras de músicas infantis inacreditáveis (e o pior é saber que a bizarrice nem é sempre exagerada), tem ‘nave espacial’, tem referências atuais diretas, tem texto e cenas que doem na gente – e o que pega mesmo é o que expõe sobre as pessoas, entregando o que elas pensam. É aí, que Criânsia nos põe no chão – ou foi aí que Criânsia me pôs no chão!
Em uma cena, a turminha oprime violentamente um colega; na outra é o coleguinha que dá o troco... me vi pensando no mundo lá fora, no que estamos nos transformando, no que as pessoas desejam para o outro e o que pode acontecer com elas, já que não se dão conta de estão caminhando para um abismo moral...




Pra mim, que não passo de alguém da plateia que quer experimentar o que a obra propõe,  esta remontagem de Criânsia é um dos grandes trabalhos do teatro brasileiro de 2018. Usa de forma bela a simplicidade, nos coloca dentro de um clima lúdico e lá dentro estraçalha e convida quem tá na plateia a a dividir suas histórias e confidências, também, se quiser. Sempre se quiser! A equipe conta que ouviu depoimentos de chorar, mesmo. Tem momentos de gargalhadas que cedem a um riso nervoso, a postura fica incômoda. E tem momentos em que o silêncio é tão a única coisa que nos resta que, sim, dá um imensa vontade de chorar! E tem o momentos em que o lúdico toma conta da gente, como a grande ciranda que se forma, com direito a quem quiser puxar uma cantoria! 
Vá ver e quem sabe conversamos mais sobre isso tudo que está por aí, depois.

A temporada segue até 16 de dezembro, de quinta a sábado às 20h30 e ao domingos às 19h30. O TEUNI  fica na Praça Santos Andrade, s/n – Prédio Histórico da UFPR. E é preciso chegar uma hora antes para retirar a senha do ingresso.  A classificação é 16 anos.

Ficha técnica:
Texto e Direção: Adriano Esturilho
Elenco: Cleydson Nascimento, Debora Vecchi, Mariana Barros, Allan Brasileiro, Jossane Ferraz, Paulo Kabuto
Músico e Sonoplasta: Eugênio Texeira Fim
Preparador Corporal: Andrew Knoll 
Cenografia : Guenia Lemos 
Cenotécnico: Willian Batista 
Figurinos:  Eduardo Giacommini      
Aderecista: Katia Horn          
Iluminação: Lucas Amado    
Técnico Responsavel  : Julio machado
Produtora Executiva Judy Fiorese
Diretora de Produção Bella Souza
Assistente de Produção Nathalie Rocha
Contrarregra Paulo Silva
Assessoria de Imprensa De Inverno Comunicação
Assessoria de Comunicação Kadije Akl
Designer Gráfico e Fotógrafa Karla Vizone
Realização: Processo MultiArtes



Nenhum comentário: